Hugo escrita por Rossetti


Capítulo 2
Dois


Notas iniciais do capítulo

Eu queria agradecer por todas as pessoinhas lindas que leram o primeiro capitulo e, principalmente, as que comentaram. São vocês que me animam a continuar postando!
A proposito, podem me avisar caso eu tenha deixado passar algum erra de português, para que eu possa avisar. :T



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Quando eu tinha catorze, surgiu um passeio da escola. Íamos passar três dias foras e eu estava odiando tudo aquilo. Odiava dormir sem Hugo ou passar mais que umas horas longe dele.

— Vai ser bom. – Sonia disse, enquanto arrumava minha mochila, porque se dependesse de mim mesmo, adiaria tanto aquilo que acabaria perdendo a viagem. Eu sairia do dia seguinte cedo e já era fim de tarde. – Você e seu irmão parece que nasceram colados, credo. Um dia iriam ter que aprender a dormir separados, mesmo. Quero dizer, você é quase adulto, já.

Respondi com um olhar totalmente emburrado de adolescente chato. Sonia riu e beijou meu rosto.

Nesse momento aquele pedaço de gente entrou, com o cabelo cheio de grama e a roupa suja de terra, e ficou parado olhando para nós.

— Você vai mesmo? – Hugo perguntou, meio pasmo ao ver que minhas coisas estavam sendo arrumadas. Eu dei de ombros, claramente dizendo “não é minha culpa se o universo conspira contra mim”. – Mãe, diz pro Greg que ele não pode ir!

— Amor, sou justamente a que mais quer que ele vá. – Sonia falou, tranquilamente.

— Isso é injusto! O Gregório é meu irmão e tem que ficar aqui comigo.

Sonia revirou os olhos e começou a debater com ele.

Sentei para assistir Hugo dando chilique e foi bem fofo enquanto durou. Mas logo ele teve que aceitar que, de fato, eu era uma pessoa e não uma propriedade. Então sua estratégia mudou para ficar tão grudado em mim durante o resto da noite, como se fossem as últimas horas antes do fim do mundo.

De madrugada, ele não queria dormir (muito menos me deixar dormir), então me senti tentado a sufocar seu lindo rosto com o travesseiro.

— Pelo amor de deus, Hugo. – Suspirei, empurrando ele para o lado e cobrindo a cabeça. – Dorme.

— Vamos jogar alguma coisa. – Ele pediu, me balançando. – Só uma partida.

— Hugo, eu já joguei Uno com você, já li com você, já assisti Billy e Mandy com você. E todas as vezes você prometeu que ia me deixar dormir depois. E tá me enchendo o saco ainda. – Falei, juntando toda a paciência que tinha. – Agora me deixa em paz que vou acordar cedo.

Ele ficou quieto. Tão quieto que descobri a cabeça para ter certeza que ele estava bem, dois minutos depois.

Hugo estava sentado, abraçando os joelhos, olhando para lugar nenhum, perdido nos próprios pensamentos. Parecia mais velho e sério. Não estava chorando, mas era como se estivesse se sentindo imensamente solitário. Eu tive a sensação que ele era como uma paisagem coberta de neve naquele momento; lindo de se olhar, mas insuportavelmente triste.

Quando percebeu que eu olhava para ele, abriu um sorriso sincero, o sol brilhou novamente.

— Mudou de ideia?

— Mudei. – Respondi, empurrando o cobertor para o lado. – Já chegamos até aqui, vamos jogar o resto da madrugada. Eu durmo no ônibus.

Hugo levantou os braços, comemorando. E me senti um pouco satisfeito por ser a causa daquele sorriso precioso.


Assim que o próximo ano letivo começou, Hugo foi para a mesma escola que Tati, Adassa e eu.

No nosso primeiro intervalo juntos, ele nos encontrou logo que colocamos os pés no pátio. Tinha um monte de balas e não me pergunte como conseguiu, porque ele não me contou (embora eu desconfie que ele ganhava das meninas mais velhas que achavam ele fofinho).

Hugo não pareceu nem um pouco intimidado em sentar com um grupo do ensino médio. E eu não me incomodei em nada com umas duas pessoas que olharam feio para nós, provavelmente por deixarmos que uma criança ficasse por ali. É, eles eram idiotas. Eu tinha meu Hugo encostado em mim, enquanto lia uma hq, quietinho, porque me incomodaria com uns chatos?

— Você fica cada dia mais bonitinho. – Dressa comentou, passando a mão no cabelo de Hugo, assim que o assunto do qual falavam morreu. – Se você continuar assim, juro que caso com você.

Hugo levantou os olhos do gibi que lia e sorriu, de um jeito que todas as meninas se derreteram imediatamente. Paulo revirou os olhos e foi jogar um papel no lixo. Achei engraçado ele ter ciúmes de uma criança de dez anos de idade, mas não comentei nada sobre isso, já que aparentemente só eu percebi.

Dressa e Paulo não namoravam mais, mas a questão é que... Bom, eles eram meio burros, eu acho. Se gostavam, mas tinham medo de alguma coisa que eu não podia explicar. E brigavam, eram bem imaturos sobre isso, quase sempre. Eu já tinha desistido de entender. As vezes só queria que eles ficassem bem, mesmo que eu odiasse ver eles se beijando e segurar vela; queria que estivessem felizes e fim.

— Ué, a creche chegou aqui? – Falou André, chegando no grupo.

André era um cara da minha sala, o típico babaca que acredita que está arrasando. Fazia piadinha ofendendo/humilhando as pessoas e se irritava quando não viam graça, porque achava que “humor não tem censura”. Enchia a cara nas festas, porque achava bonito passar vergonha e aparecer na escola de ressaca. Postava foto na internet com um cigarro na mão, para se sentir rebelde. Ele geralmente andava com mais um grupinho de idiotas do tipo.

O que ele disse fez meu sangue ferver de raiva; eu podia chamar Hugo de creche, podia até permitir que Tati e Adassa também chamassem, chegava até mesmo a ignorar os olhares feios dos meus colegas. Mas deixar que um cretino qualquer falasse qualquer coisa sobre Hugo, isso estava além da minha tolerância. Abri a boca para responder, mas Tati segurou minha mão com força e Adassa falou antes.

— Tá fazendo o que, aqui, André? ­– Adassa perguntou, com a voz arrastada. – Você não devia estar... Pra lá?

— Minha mulher tá aqui, é aqui que eu tenho que estar. – Ele passou o braço pelo ombro de Camilla, a namorada dele. Cami era legal, só tinha um pouco de vento na cabeça. E nesse momento ela parecia dividida entre “me perdoem por existir” e “gente, ele disse que sou a mulher dele, tô feliz demais, socorro”.

— Você comprou ela? – Hugo perguntou, sem tirar o olho do seu gibi. Todo mundo olhou para ele, em seguida uma onda de risadinhas tomou conta do grupo. – Que destino cruel, coitada.

O clima ficou imediatamente mais denso, assim que o sorriso debochado de André sumiu.

— Comprei, comprei sim. ­– André levantou um pouco a voz. – Eu tenho dinheiro para isso. Já você eu acho que nem comprado foi, né? Seus pais devem ter te roubado de algum patrão, não foi? To vendo aqui, nem o cabelo ruim você tem.

A próxima coisa que senti foi Paulo e Tati me segurando. A frustração de não poder enfiar a mão naquela cara oleosa me corroeu por dentro e eu me debati para que me soltassem. Mesmo que eu apanhasse, mesmo que levasse uma suspenção, naquele momento eu só queria ouvir que barulho o nariz de André faria, quando eu o quebrasse.

— Esquece, Greg! – Dressa falou, ajudando a me puxar para longe dali. E o cretino riu e riu e eu estava com tanta raiva!

Não sei como me tiraram dali, mas meus amigos me levaram para a cozinha, para beber agua. Lembro vagamente de Nicolas levantando com um “vê se cresce, André” e indo para o outro lado, com o resto do pessoal que não estava comigo, Camilla se virando para brigar com o babaca, e torci para que ele acabasse sozinho no mundo, sem amigos e remoendo ter sido uma pessoa tão ruim.

— Caramba, eu nunca te vi assim. – Dressa me deu um copo de agua e eu bebi num gole. Minhas mãos tremiam.

— É porque ele não é assim. – Adassa disse, em voz alta. – Você queria bater no cara, Greg?

— Eu ia levar uma surra. – Admiti.

— Que bom que você sabe. – Tati riu um pouco.

Olhei para Hugo. Ele estava tristinho, olhando para o lado. Claro que estava. Eu me sentia profundamente ofendido e sabia que Hugo se sentia da mesma forma. Assim como Tati e Adassa.

— Agora ele nunca mais vai te deixar em paz. – Paulo comentou. E eu me senti mal, com vontade de chorar. Tive medo por Hugo e pelas meninas. Foi uma situação horrorosa em cada detalhe.

E naquela noite, quando Hugo e eu estávamos deitados para dormir, ele me abraçou com força, da forma que sempre fazíamos: Ele escondia o rosto em meu peito e eu podia apoiar o queixo no alto de sua cabeça. Mas naquela noite ele me abraçou com tanta força que fiquei sem folego.

— Você é corajoso, Greg. – Hugo disse baixinho. – Mas, por favor, não faz mais isso. Se ficar com vontade de dar uma de galo de briga, espera eu crescer primeiro.

Fiquei quieto por vários minutos, sem conseguir dizer nada. E quando falei, nem mesmo tinha certeza se ele ainda estava acordado.

— Por quê? ­– Foi a única coisa que consegui dizer.

— Porque aí vou poder te ajudar. – Sua voz estava cheia de sono, mas ele soou sério.

— Fico feliz que perceba que não pode entrar numa briga com um cara mais velho. – Respondi, quase rindo.

— Não faz mais isso, Greg. A gente não vive num filme, você ia se machucar de verdade.

Esse era meu irmão mais novo, me dando lição de moral. Mas de certa forma me senti bem com isso. Gostava de quando ele agia com maturidade e calma.

— Vou te lembrar que você provocou o cara antes.

— E me sinto um cocô por isso. – Respondeu, sincero.

Senti como se estivesse com algo preso na garganta.

— Não fique mal por isso, você é criança, tem passe livre pra falar o que vier na telha.

— Eu não quero mais ser criança, Greg. – Ele suspirou. – Eu quero crescer.

— Você não pode ou precisa querer crescer depressa. Depois você vai até sentir saudade de ser criança.

— Mas eu quero. – Ele disse, com aquele tom de conversa encerrada.


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Notas finais do capítulo

Gente, comentem, comeeeeentem! Nem que seja um "continua aí crl". To falando sério, se ninguém comentar, vou explodir isso aqui!
Ok, parei de graça.
Muito obrigada a todos que estão acompanhando. Um beijinho na testa de cada um! sz