Bangtan Boys - Jin

Parte III - I Need U

“Você me destrói assim

Eu vou parar, não quero mais você”

Já eram mais que quatro da tarde quando ela se olhava sem parar no espelho, naquela noite teria um festival perto da praia. Por um impulso a garota convidou Jin para acompanha-la, o garoto estranhou ela não chamar seu suposto namorado, contudo acabou por aceitar. O quê lhe deixou furiosa foi os outros dois terem se envolvido no meio e resolvido ir juntos. Sentia que não iria conseguir um momento sequer para ficar a sós com  amigo e poder conversar, queria explicar tudo o que estava sentindo naquele momento, tudo estava uma completa bagunça.

A bolsa de estudos para estudar fora, seus planos, sua família, ainda assim no meio de toda essa confusão ela ainda conseguia se sentir apaixonada por SeokJin. Como conseguia faze-lo? Nem ela mesmo sabia.

— Ahn, — a garota piscou procurando algum tipo de desculpa esfarrapada.

— Sinto que algo errado está acontecendo contigo, — Jin suspirou a encarando, queria acima de tudo que ela lhe dissesse logo o que era, odiava ficar preocupado — eu estou preocupado jagiya, o quê vem acontecendo este tempo?

Desviou o olhar, não sabia mentir para o garoto, se sentia feliz por ele ter se preocupado com ela, mas não queria lhe contar. Quase suspirou de alívio quando Ryu chamou Seokjin para conversar a sós, o amigo a encarou com o olhar que dizia “falaremos sobre mais tarde”, a garota sorriu triste, a preocupação de Jin com ela era um tanto fofinha.

Tornou a se trancar em seu quarto, a fim de tomar um banho e fazer alguma maquiagem decente, embora a garota não fosse uma expert em cosméticos de beleza. Depois de um banho morno ela vestiu um roupão e se sentou diante de uma penteadeira, lembrava-se de amar aquele quarto, quando era menor e viajava para o Japão. Sentia falta de sua infância, era uma época de despreocupações, onde não tinha que escolher algo para fazer na faculdade, não tinha preocupações exageradas com notas e não existiam hematomas. Sentia falta de ser mimada como o bebê de sua família, e não depreciada como era naquele momento.

Passou corretivo minuciosamente, procurando esconder suas olheiras por conta de todas as madrugadas que ela virara estudando para provas. Procurou fazer algo básico e não muito chamativo já que Ryu adorava comentar o quanto sua forma de se vestir era vulgar, e que moças não deveriam se vestir daquela maneira. Ryu, aquele nome lhe trazia uma onda de rancor, tentou afastar qualquer pensamento que o envolvesse plugando seu fone de ouvido no celular.

Depois de estar basicamente pronta, após uma breve camada de rímel, lápis de olho de um pouco de blush para dar vida às suas bochechas morenas pálidas, YongHee se considerou quase pronta. Como não tinha um kimono* adequado se contentou em vestir um shorts jeans e uma camiseta de manga curta cinza, com a estampa de um Pokémon. Calçou um converse preto e pegou sua bolsa com celular, dirigindo-se ao hall da casa pronta para encontrar Jin.

Uma onda de decepção a atingiu quando se deparou com uma Yui e um Ryu ao lado do garoto sorrindo e conversando, o pequeno sorriso que o rosto de YongHee transmitia se desmanchou assumindo uma expressão de indiferença.

— Você vai mesmo com esse shorts?! — Ryu se exaltou, fazendo todos ali olharem para a garota.

— Uma moça não deveria portar este tipo de vestimenta. — sua tia avó apareceu se apoiando na parede com um olhar debochado, Hee não sabia se murmurava palavrões ou se chorava de raiva. — Certamente, uma vergonha para a sua família.

Gostaria de ter mordido sua língua, poderia ter evitado tudo aquilo, apenas se conseguisse se controlar. Virou-se de costas para a mulher, sentindo um ar tenso forma-se ao seu redor.

— Porte-se adequadamente agora. — a voz ríspida da mulher fez com que ela estremecesse, era um cópia de seu pai basicamente.

Com medo de que algo sério pudesse acontecer, virou-se para sua tia avó e curvou a cabeça.

— Minhas desculpas, irei portar-me de maneira decente e vestir roupas adequadas que seja de acordo com o ideal para a família Hee. * — disse quase que num murmúrio com o rosto queimando de raiva e vergonha ao mesmo tempo.

— Eu não ouvi direito. — sua tia avó implicou.

— Me desculpe.

— Melhor irmos agora, — Yui sorriu amavelmente procurando afastar todo o clima tenso que se formara.

A garota saiu da casa de seus parentes com os olhos vermelhos, quase que a implorando para que se permitisse chorar, contudo ela apenas respirou fundo e conseguiu engolir o choro temporariamente. No fundo de sua mente a proposta de sua avó materna começava a lhe parecer uma boa alternativa, ela só queria fugir de tudo e de todos.

Enquanto andavam pelas ruas calados, refletindo sobre o que tinha acontecido no hall de entrada a garota olhou para a ponte que atravessam. O pensamento lhe veio rapidamente, quanto tempo ela demoraria para morrer caso se jogasse dali? A ideia de tudo aquilo acabar em questão de segundos lhe pareceu atraente, sentiu seu corpo se atrair para a ponte, encostando-se no suporte de madeira olhando para o lago, era só uma questão de impulso…

— Jagi? — SeokJin a chamou para a realidade, os olhos da garota se desfocaram enquanto ela processava tudo o que tinha acabado de pensar, em tudo o que ela pretendia fazer por um impulso. — Está tudo bem?

— Nessa época do ano os lagos ficam mais bonitos. —  mentiu, sentiu-se mal por contado uma mentira para Jin — Estava o observando.

Um sorriso torto surgiu no rosto do garoto, embora parte dele soubesse que ela tornava a mentir, aquilo o magoava profundamente.

— Vamos, não podemos parar no meio do caminho. — Yui os encorajou com um sorriso de orelha a orelha, quando o seu olhar se cruzou com o da ex melhor amiga seu sorriso murchou, tentava fingir que Hee unnie não existia, assim ela se sentiria melhor por não ter roubado SeokJin dela.

Jin e Yui deram as mãos timidamente e começaram a andar na frente, deixando Young-Hee e Ryu para trás, o namorado a olhou de canto e balançou a cabeça negativamente.

— Você está apaixonada por ele. — concluiu mais para si mesmo do que para a garota.

— Não sei do que você está falando. — respondeu seca sem o olhar nos olhos, o vento noturno lhe soprava o rosto, fazendo com que seus fios castanhos cobrisse sua expressão facial.

— Eu deveria saber disso, sempre esteve tão óbvio. Olhe para mim! — ele a puxou pelo pulso com força, a tempo de ver uma expressão de dor no rosto da garota — Independente de você gostar de mim ou não, sua vaga na SKY* depende desse namoro, fique esperta sua bastarda.

Soltou seu braço com força e seguiu andando na frente, a deixando para trás com os olhos arregalados e em choque.

[...]

“Você não pode fazer isso comigo

Cada palavra sua é como um tapa-olho

Escondendo a verdade e rasgando-me

Me corta, me faz louco, eu odeio tudo”

SeokJin sorria para Mei enquanto os dois tiravam uma selca juntos segurando ambos um algodão doce, o garoto virou-se para YongHee, o olhar da garota estava distante ela não parecia estar ali de verdade. Estranhou aquilo, quando tinha lhe convidado para acompanha-la sua amiga parecia estar animada, agora parecia querer não só ir embora do passeio como também embora para casa.

— Algodão doce? —  estendeu-o para ela com um sorriso meigo, a garota o encarou por alguns segundos e sorriu desviando o olhar.

— Não, não estou com fome oppa.

— Você não comeu nada a tarde inteira —  a expressão preocupada de Jin tornou a aparecer, a menina não sabia se sorria tímida ou se procurava alguma maneira qualquer de fugir do assunto.

— Tudo bem, tudo bem, eu vou comer. —  disse comendo um pouco do doce, tomando-o da mão de Jin.

— O seu queixo tá com açúcar Jagi, — o garoto disse aproximando-se com seu polegar —  deixe-me tirar.

Deslizou seu polegar lentamente pelo queixo da garota, com o olhar focado em seus lábios entreabertos.

YongHee sussurrou um breve obrigado envergonhada e desviou o olhar, de longe Yui os observava com os olhos faíscando.

— Acho que Yui o espera, pode ir lá falar com ela. — disse tentando não demonstrar que tinha ciúmes do garoto.

— Na verdade acho justo passar um tempo contigo, estou preocupado com você. — o garoto lhe acariciou o topo da cabeça de leve como se ela fosse um filhote de cachorrinho.

— Ei! —  a garota resmungou dando risada, fazendo com que Jin sorrisse, era exatamente assim que ele gostaria de ver a menina, alegre.

— Ande, vamos para algum lugar.

— Tem uma praia aqui perto —  a garota anunciou lembrando-se de como ela adorava correr pela areia da praia quando menor, a ideia de estar lá com seu melhor amigo fez com que ela sorrisse. — Vamos!

Como o festival estava acontecendo próximo a praia os dois não demoraram muito para chegar em seus destinos. Assim que chegaram lá, a garota se sentou na areia e retirou sua meia e sapatos, deixando a água gelada do mar molhar seus pés. Jin sorriu de canto e se sentou ao seu lado.

— Você vai finalmente me falar o motivo de você carregar essa máscara de indiferença? — o garoto franziu a testa enquanto falava, olhando nos olhos dela e mesmo assim, mantendo seu típico tom de preocupação.

— Não é nada demais omma. — a garota sorriu torto para Jin tentando fazer o garoto sorrir, naturalmente quando ela o chamava de omma o garoto sorria envergonhado, contanto desta vez ele permaneceu sério.

— Jagiya, por favor, não desvie do assunto. — disse a encarando fixamente. — Por favor, não minta novamente.

— Vai ficar tudo bem, — a garota sussurrou sem o olhar nos olhos —  não é nada muito preocupante.

SeokJin abaixou o olhar um tanto decepcionado, contudo arregalou os olhos ao olhar para baixo:

— O quê é isso? — ergueu o pulso da garota, sua boca estava entreaberta por conta do susto, uma enorme marca vermelha que algum tempo depois provavelmente ficaria roxa estava à mostra em sua pele morena.

— Não é nada! — a garota exclamou assustada escondendo seu pulso, seus batimentos cardíacos se aceleram para a um nível anormal, tudo o quê ela queria era sair correndo para longe dele.

— Quem fez isso com você jagi? — Jin segurou seu outro pulso delicadamente, embora procurasse manter a calma, parte dele estava indignado, prestes para avançar no animal que havia machucado ela. — Me responda por favor.

A garota apenas escondeu seu rosto com as mãos querendo evitar o choro que estava entalado em sua garganta, o amigo a abraçou forte, como se ele pudesse a proteger de tudo que ousasse a fazer mal. Um nome rapidamente apareceu em sua mente, parte de um quebra cabeça parecia finalmente ter se encaixado.

— Ryu Tae, — YongHee nunca tinha ouvido a voz dele tão sombria. — eu deveria ter percebido isto antes.

— Não faz mais diferença, — a garota disse se afastando do abraço dele, procurando manter contato visual — por favor não faça nada a respeito, foi apenas uma discussão. Agora, por favor oppa, aproveite este pouco tempo comigo.

Kim SeokJin suspirou e acabou cedendo, embora no fundo esta informação não lhe sairia de sua mente por tão cedo.

— As estrelas estão lindas hoje — comentou erguendo a cabeça para olhar para o enorme céu estrelado.

A garota apoiou sua cabeça no ombro de Jin, enquanto respirava lentamente o cheiro do garoto, como se ele fosse sumir a qualquer instante.

— A noite está muito bonita hoje, oppa. — a garota disse com um sorriso tímido.

SeokJin sorriu, finalmente em semanas conseguiu ver YongHee agir naturalmente.

— Jagiya, sorria sempre, — o garoto chamou atenção dela, fazendo com que a menina se virasse para encara-lo — eu amo seu sorriso.

Ambos sorriram.

Foi como se por um momento, ambos agiram sobre o mesmo impulso, inclinando-se um na direção do outro. Os corações batiam descompassados, fora de ritmo, era como se um sonho que ambos tiveram desejado todo aquele tempo finalmente acontecesse. Iniciou-se com um breve selar de lábios, enquanto um se inclinava na direção do outro lentamente. No momento em que seus corações batendo era a única coisa que podiam escutar, os dois apenas fecharam os olhos e deixaram-se levar por um breve momento. Alternando entre a calmaria e a ansiedade, era como se os dois estivessem esperando por aquele momento o tempo todo.

A mão de SeokJin acariciava seu rosto cuidadosamente, como se ela fosse feita de porcelana. Lentamente ela se aproximava para perto dele.

A ardência em seus corações parecia falar mais alto, fazendo com que aquele beijo se aprofundasse cada vez mais.

Ela queria muito parar, contudo a sensação dos lábios de SeokJin contra os seus fazia com que sua sanidade desaparecesse.

Ele não queria abrir os olhos, não queria que aquele momento acabasse, porque saberia que se culparia eternamente por ter deixado acontecer.

E acabou.

YoungHee se afastou assustada, como que se retomasse a consciência lentamente, analisando todas as coisas erradas que ela tinha acabado de fazer. Abriu sua boca procurando falar alguma desculpa para poder sair correndo em seguida, contanto não conseguia emitir um som sequer. SeokJin arregalou os olhos e tentou lutar contra si e levantar para ir atrás da menina, logo sentiu-se como se estivesse preso ao chão e não pudesse se levantar.

O celular de YoungHee disparou a tocar, quando a menina viu no visor quem estava ligando, pareceu querer desmaiar.

— Eu tenho que ir. — virou-se de costas para Jin e partiu em passos largos não querendo ser alcançada pelo garoto, porque sabia que não tinha forças emocionais o suficiente para lidar com aquela situação naquele momento. Era como se o caminho para a casa tivesse se tornado mais rápido, justamente porque ela não queria chegar ali por tão cedo.

Quando se deparou com o seu pai e seu habitual olhar de “você está em problemas”, sentiu que deveria ter se jogado daquela ponte que tinha passado na ida para o festival. Tudo desabava lentamente enquanto ela se aproximava do homem, seu pulso foi puxado com força, logo ela se viu jogada no chão do hall da casa de sua tia. Aquela hora da noite todos deveriam estar dormindo, e os demais demorariam para voltar, restava a ela chorar.

O primeiro tapa foi desferido em seu rosto, enquanto ouvia seu pai dize-la o quão desrespeitosa tinha sido sua atitude anteriormente para com sua tia.

— É de se esperar que você tenha feito isso, apenas um vexame para nossa família. —  ele murmurou enquanto esbofetava o rosto da garota, que procurava não sentir o cheiro forte de bebida enojada. — Acha que pode mesmo debochar de seus parentes? Na frente de seus amigos? Ande, me responda.

Suas lágrimas logo se misturaram com o sabor metálico de sangue em sua boca, fechou seus olhos, apenas esperando que a surra por fim acabasse.