Damned escrita por IS Maria


Capítulo 26
Lua Cheia




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DIA 7

Seth sonhava com Katerina, quase todos os dias, sempre que fechava os olhos, mas, diferente de todas as outras noites, ela nunca estivera tão bela. 

Seus olhos, em seu sonho, eram castanhos e sua pele, tão quente quanto a dele. Repousava a cabeça em seu colo enquanto lia algo sobre a Grécia antiga. Sua essência de vampiro havia sumido e agora, sua pele cheira a flores frescamente apanhadas do campo. 

— Nós deveríamos ter muitos filhos. — Seth disse a ela, incansavelmente observando os traços bem desenhados de seu rosto sereno. 

— Seth...— Disse deixando o livro de lado e levantando-se. — Sabe que se precisa me ver assim… — Ela apanhou a dele e a repousou contra seu próprio peito. Seth pôde sentir seu coração batendo, forte e saudável, como qualquer outro. — Não podemos ficar juntos… eu não posso te dar filhos.

— Eu...não preciso disso…

— Precisa sim. — Ela sorriu. Levou sua mão às bochechas dele em uma delicada carícia. — E não têm nada de errado com isso. 

— Mas você…

— Eu...— Ela o interrompeu, fechando seus lábios com a ponta de seus dedos. — Preciso ir agora… mas, antes quero que saiba que eu amo você e eu sempre amarei.

Seth sabia que ela o amava, ainda que não tivesse o escolhido. 

— Precisa ir? 

— Preciso. 

E então, ele finalmente abriu os olhos, sem perceber que tinha caído no sono enquanto esperava as horas passaram. Em seu peito, sentiu um conforto distinto e a amarga sensação de paz, ainda que nenhuma delas estivesse ali antes. 

 

***

A noite viera e partira rapidamente enquanto caçavam. Tinha sido uma caça boa a ponto de os saciarem o suficiente. Porém, por mais que estivessem satisfeitos, desejavam retornar o mais rápido o possível. 

— Na próxima vez você se sairá melhor...— Emmett disse para Caius. — Cunhado. 

Caius ofereceu-lhe um meio sorriso, fazendo o outro vampiro se espantar.

— Não sabia que conseguia sorrir. — Alice comentou.

— Eu não tinha motivos para sorrir...antes. 

Finalmente puderam avistar a casa, em meio aos primeiros raios de sol do dia. Caius não pode deixar de notar o quão silenciosa parecia estar. Não pareciam haver pássaros por perto, insetos ou qualquer sinal de vento que batesse nas árvores. Tudo parecia repousar e ainda que não fosse nada além de tranquilidade, não pôde deixar de se sentir estranho. 

A casa, por dentro, parecia estar ainda mais silenciosa.

E vazia…

O primeiro lugar que procurou foi aquele onde ela estava. Tão rápido quanto pôde e tão natural que sequer precisou direcionar seus pensamentos. Procurá-la fazia, agora, parte de seu instinto, tanto quanto se alimentar quando sentisse sede. 

Mas, Katerina não estava sob a maca onde ele lembrava-se de ter a deixado. Carlisle também não parecia estar por perto. 

O primeiro pensamento que o invadiu, foi de que ela estaria bem. Não pôde conter a alegria que o invadira e ânsia por tê-la imediatamente em seus braços. Diria para ela tudo aquilo o que falhara em dizer. 

Passaria a eternidade...ou os anos que os restavam, dizendo-a tudo o que sentia. O quanto não queria uma vida sem ela ou sequer que o sol continuasse a queimar se ela não estivesse por perto. Ela era tudo o que tinha e tudo o que desejava ter. 

Saiu da sala a sua procura. Carlisle o aguardava do lado de fora. 

— Tem algo que deveria saber...— Carlisle repousou sua mão contra o peito de Caius impedindo-o de prosseguir. 

Caius o olhou nos olhos e, ao contrário do que imaginava, não encontrou nada do que esperava encontrar. 

— Não. 

— Precisa saber que…

— Não. — Os olhos dele foram de encontro ao chão. 

— Eu sinto muito. 

Carlisle viu o rosto do vampiro se petrificar em horror e em seus olhos, via-se o mundo se partir enquanto consumia-se em chamas. 

A tempestade dentro de si, enfim cessou, juntamente com qualquer outra coisa que ainda ousasse se mover. Suas pernas não foram mais capazes de o suportar e ele, por fim, caiu de joelhos ao chão. Tudo aos poucos se tornou menor e então Caius percebeu ser pequeno demais para o próprio corpo.  Lentamente, sentiu-se dividir-se em pedaços enquanto seu peito ruía mediante à sensação de ter seu coração arrancado do peito, deixando-lhe preenchido por um imenso vazio que o consumia rapidamente. 

A dor era aguda e dilacerante, impedindo-o de ficar de pé. Era a dor de toneladas sobre seus ombros, enquanto o sentido lhe era arrancado à força, deixando-o agonizar como se todos os seus ossos se partissem ao mesmo tempo e sua pele lhe fosse arrancada dos músculos. 

Era pior do que a sede.

E definitivamente, era pior do que morrer. 

Nem a ardência causada pelo fogo vivo trazido pelo veneno, ou ser perfurado por uma espada, doíam tanto quando ter a vida perdida enquanto ainda se vive. 

Já tinha perdido alguém que muito amou, mas agora, sentia ter perdido a si mesmo. 

Apegou-se a lembrança que guardava se seu rosto ainda vívido, a última vez em que ele havia a olhado sem saber  que aquela seria a última vez. 

Até que tudo fosse consumido…

E não lhe restasse mais nada…

***

Havia um lugar em especial, dentro de todos os outros, que Katerina jamais havia escondido amar. Por coincidência, naquele dia, a parte da floresta, o campo no qual costumava visitar quando precisava ficar só, nunca estivera tão florido e o sol jamais brilhara tanto naquela parte. 

Diferente do dia passado, ou daquele que viera antes dele, a tempestade havia cessado e já não havia mais qualquer sinal de cinza no céu.

 Parecia certo que a levassem até ali, por uma última vez e que a encontrassem ali, também por uma última vez. 

Descansando, serenamente, em uma caixa de vidro, cercada por flores, não havia quem não concordasse que jamais estivera tão bonita. 

Esme tinha a preparado com a ajuda de Alice e então os outros se juntaram a elas depois. 

Um a um, lentamente, deixando claro a falta de pressa que tinham em deixá-la ir. 

Renesmee e Seth eram os únicos com lágrimas para derramar, mas não eram os únicos a sentir. Cada um sentindo-a partir de um jeito diferente, sem deixar de lamentar a ausência de sua presença. 

Caius percebeu o quanto a luz a inundava. Ao se aproximar-se do corpo, arfou enquanto tocava-lhe o rosto. Os lábios e suas pálpebras redondas e pálidas, o vestido azul claro que a cobria até os pés, cercada de lírios e rosas brancas, livre enfim das veias escuras. Ela era o que ele descreveria ser perfeição, mesmo agora, depois que a cor havia a deixado. Mórbida e deslumbrantemente fúnebre paisagem, velada em tristeza por todas as criaturas que a viam. 

Vê-la daquela maneira, fazia-o ter dificuldade em aceitar que tinha a perdido. 

— Como pôde me deixar sozinho? — Perguntou. Mas, nenhuma resposta recebeu em troco. — Como espera que eu continue sem você? 

Ainda esperava que ela levantasse a qualquer momento. 

E… depois de séculos… finalmente olhou para os céus que sempre pensou estarem vazios. Desejou então que estivesse errado e que alguém pudesse o escutar. 

Em silêncio, pediu, para qualquer pessoa ou qualquer coisa que pudesse o escutar,  que a trouxesse de volta. 

E que ele não tivesse mais de suportar por um segundo aquela dor. 

Ninguém notou a noite chegar mais uma vez e a lua então se tornar a única luz que podiam ver. Enorme e avermelhada, cheia, que tanto aguardavam. A Lua estava vermelha como os olhos de Katerina. 

Mas, o dia ainda não havia terminado e ainda tinham de enfrentar mais. Algo que jamais parecia acabar e sempre parecia retornar os colocando na mesma posição de sempre. 

Porém, desta vez, ninguém estava disposto a lutar. 

Sentiam já terem perdido a batalha mais importante. 

— Carlisle...— Alice sussurrou. — Eles estão aqui. 

— Onde? — Caius a questionou antes que Carlisle pudesse a responder.

Tinha os esperado por tempo demais. 

— Estão se aproximando.

— Não podem chegar perto de Katerina. — Caius não deixaria que a vissem e desrespeitassem sua lembrança.  — Pode guiar o caminho? — Pediu-lhe da maneira mais gentil que conseguiu. 

Alice concordou. 

Ela foi a frente, seguida de Jasper e Carlisle, então Caius e por fim os outros. Katerina descansaria sozinha, por hora. 

Não demorou muito para que encontrassem as sombras, que conseguiam serem mais densas do que a própria escuridão, que vinham de longe. A floresta era mais densa ali e haviam árvores o suficiente para esconderem o que havia ficado para trás. 

Mas, o longe aos poucos se tornou perto demais. E dentro de instantes, não havia mais nada que os separassem.

— Carlisle. — Aro comprimentou-o. — Caius. 

— Aro. — Carlisle foi o único que se incomodou a responder.

— Parece que chegamos tarde...demais. — Os olhos de Aro encontraram Caius mais uma vez. 

Não haviam testemunhas com ele desta vez e não demoraram para notar que a única esposa que os acompanhava, era Athenodora, com seu manto de cabelos dourados e um amargo sorriso nos lábios. Era quase como se Aro soubesse que não chegaria a tempo para recolher seu prêmio. 

— Sinto muito ter perdido a viagem. — Carlisle não fez questão de colocar um sorriso nos lábios desta vez, ou de esconder a dor que sentia por perder a filha. 

— Ah… nem tudo se está perdido. — Aro cravou seus olhos nos de Caius. — Não é mesmo, irmão? 

— Não vou resistir a qualquer punição… irmão. — Caius não se importou de sequer levantar  a voz. 

Marcus sussurrou algo ao ouvido de Aro. 

— Impressionante. — Aro murmurou. 

— Aro, por favor, não queremos qualquer confronto. — Carlisle veio para intermediar. 

— Confronto? Longe de mim, Carlisle. Vim, somente, buscar o meu irmão e livrá-lo das tarefas de que estava encarregado por este lado, claro que eu não esperava que ele se...distraísse… desta forma. 

— Uma distração, finalmente contida. — Athenodora pôde ser ouvida. 

Aro estendeu a mão em sua direção, pedindo para que se cala-se. 

— Eu realmente sinto muito pela sua perda. — Aro continuou, mas pouca emoção partia de sua voz. 

— Então não vai colocá-lo sob julgamento? — Carlisle o questionou. 

— Não...não está nos meus planos. 

Curiosamente, não era o que Caius esperava ouvir, ou muito menos o que desejava ouvir. 

E então, finalmente, a verdade lhe atingiu.

Para ele lhe restaria uma eternidade toda. 

E Aro sabia que não haveria punição maior. 

E então, Caius finalmente entregou-se ao alívio contido na destruição, permitindo-se sentir tudo o que até então ainda lhe faltava sentir. Mais do que era capaz, ou deseja, conter. 

Como havia ousado, seu querido irmão, imaginar que ele seria capaz de conviver com a dor que sentia e que mal o deixava de pé. 

Expôs os dentes como um animal ameaçado e partiu em direção à ameaça pretendendo parti-la ao meio. 

— Dor. — Jane murmurou. 

Ele ainda não havia tido tempo de notar sua presença. 

Aquela dor, agora física, fez com que ele se contorcesse por alguns segundos, mas não o impediu de continuar, não até que o matassem. Como queria.

Félix veio ao seu encontro. Caius não tinha força o suficiente para o combater, mas nada o impediria de tentar. Não havia nada que pudesse impedir um homem cujo seu único desejo era o de morrer. 

Jane intensificou o efeito de seu poder sobre Caius. 

Nenhuma quantidade de dor física, igualava-se à que ele já sentia. 

Mas era o suficiente para que Caius enfim libertasse o grito que vinha mantendo dentro de si. 

Alec adormeceu seus sentidos e com isso, Félix enfim conseguiu apanhar sua cabeça em um doloroso gancho. Para os outros, a agonizante sensação de se ver a cabeça de outro vampiro prestes a ser partida, para ele, o fim que procurava. 

Fechou os olhos aceitando o que viria em seguida. 

Quando um profundo uivado cortou o vento, prendendo a atenção de todos aqueles que estavam ali. 

A luz da lua pareceu intensificar-se ainda mais sob a criatura que aos poucos surgia por entre as árvores. 

Com as presas de fora e um grunhido ensurdecedor, o lobo caminhava por entre os outros, enquanto suas patas pareciam flutuar sob o chão. Seu pelo, tão prateado quanto a luz da lua em qualquer outra noite, agora sendo capaz de refletir o vermelho que vinha de cima. Seus olhos, tão carmesins quanto a própria lua agora nos céus.  Avisava aqueles a sua frente. 

Félix fez breve menção de continuar o que fazia e isso foi o suficiente. 

O lobo se jogou contra a cabeça do vampiro e no próximo instante tinha a arrancado por entre os dentes. 

Letal. 

Virou-se para Alec que o observava com cautela. O vampiro, aos poucos, viu-se preso aos olhos vermelhos do animal e passou a mover-se com cuidado. Tirou a capa que o cobria e estendeu em direção à criatura, que o apanhou com a boca. 

Cobriu-se com o manto negro e todo o resto fez silêncio enquanto o lobo se contorcia sob o tecido, até tornar-se menor. Usou o tecido para se cobrir por completo e colocou-se de pé. 

Tinha deixado de ser um lobo. 

— Katerina...— Caius sussurrou, em meio à dor, ao reconhecer seu rosto. 

“Não achou que eu fosse ir embora sem me despedir.” Ela disse em seus pensamentos. Ainda não tinha usado o seu dom para fazer isso. 

— Ah...você então é a Katerina de quem tanto falam. — Aro se direcionou a ela, seus olhos cravados como o leão que vigia sua presa. — Estremamente Bello.

Grazie… — Katerina o respondeu enquanto terminava de abotoar os botões, evitando expor-se. 

— Não esperava vê-la. 

— Seria rude de minha parte não receber quem veio a minha procura, não?

— Muito bem. — Aro sorriu. — Aparentemente, Carlisle, tenho mais assuntos para resolver aqui… afinal. — Dirigia-se a Carlisle, mas seu olhos não deixavam Katerina. 

— Eu ficaria feliz se pudesse ajudar. — Katerina conseguia sentir que ainda não havia lidado com ninguém parecido. 

Odiava ter de lidar com ele primeiro antes de confortar aqueles que amava. 

— Eu tenho ouvido muito sobre suas...habilidades. — Aro pareceu intrigado.

— Gostaria de uma demonstração? 

— Por favor. — Aro lhe estendeu a mão. 

Mas, Katerina escolheu um caminho diferente. 

Olhou em direção a Jane e lembrava-se de tê-la visto usar seu dom contra Caius. A garota não parecia lhe ser muito de idade, mas o sentimento em seus olhos lhe dizia que não havia nada dentro de si que poderia ser dito inocente. Não precisou ver muito para sentir o mesmo prazer que sentia sempre que causava dor ao que quer que fosse. 

— Dor. — Katerina sussurrou em sua direção. 

Jane foi imediatamente ao chão. Seu corpo pequeno incapaz de suportar metade do que causava. Seu rosto enfim formando outra expressão a não ser a de completo desinteresse, que sempre parecia trazer, até em suas lembranças mais antigas. 

Katerina sentiu sua visão escurecer, mas estava preparada para o gêmeo. Não teria o atacado, até ser atacada. 

Felizmente, sua mente possuía ainda menos resistência do que a da irmã. 

— Eu...não consigo ver. — disse, enquanto levava as mãos aos olhos. 

— … Interessante...— Aro disse enquanto analisava, mas Katerina ainda não havia terminado. 

Voltou seus olhos lentamente em direção a ele. 

Aro aguardou pacientemente, preparando-se para usar qualquer ataque a sua vantagem. 

Mas, não conseguiu se preparar para o que viu. 

Jane parou de contorcer-se e Alec deixou que as mãos soltassem os olhos. Nenhum deles mais parecia estar sob os efeitos de Katerina. Então, os gêmeos, com a confusão estampada em seus rostos, caminharam lentamente em direção a Katerina, até que se posicionassem atrás dela. 

— O que fez com eles? — A voz de Aro era paciente, mas Katerina sentia a confusão contida. 

— Nada que não possa ser desfeito. — Katerina sorriu, docemente. 

— Jane...Alec? — Aro os chamou. 

Jane olhou para o irmão por alguns segundos e em seguida, para Katerina.

— Tudo bem querida, pode o responder. 

— Nós o conhecemos? — Jane questionou-o. 

Aro riu. Sua risada sendo o suficiente para incomodar os ouvidos de Katerina. 

— Incrível! 

Katerina procurou os olhos dele. 

Aro não parecia ser tão fácil quanto os outros. 

Não parecia ainda ser capaz de chegar ao centro de sua mente, ao invés disso, foi bombardeada com cenas distintas, das quais não poderia dizer a ordem, que lhe pareceram ser de períodos diferentes do tempo, pouco antes de ele a arrancar para fora. Não tinha sido rápida o suficiente. 

— Não é educado fazer algo assim, sem pedir permissão antes. Ainda tem muito o que aprender. 

— As coisas que pode ensinar não são o suficiente… Didyme entendeu isso. 

A menção do nome, que para Katerina não significava muito, fez com que Aro abandonasse a calmaria que até então trazia no rosto. 

— Didyme? — Marcus disse. Era a primeira vez que ouvia sua voz, ou via seu rosto expressar qualquer coisa. — Foi isso o que disse? 

— Irmão...— Aro tentou o conter. — Ela deve ter se enganado. 

— Eu não..

— Eu tenho certeza de que se enganou. — Aro não permitiu que continuasse a falar. 

Katerina então compreendeu o que o nome significava, ou o que Aro não admitiria. Ele precisava dos irmãos para continuar no poder e Caius já lhe parecia fora do cálculo. 

— Talvez eu tenha me enganado, então. 

— Assim como eu me enganei quanto ao que viemos fazer aqui. 

— Enganos acontecem. — Katerina concordou. 

— Espero não ser esquecido…— Aro voltou-se para Caius. — Pelos dois. 

— Não será. — Katerina disse algo antes que Caius não se contivesse. Por hora, aquilo deveria ser o suficiente. — E eu espero que possa contar conosco, no futuro. 

— Com certeza, minha querida. — Aro sorriu ao ouvi-la dizer. 

Para Katerina, um aliado seria melhor do que um inimigo. 

Ainda se tratavam da única família que Caius conhecia, ainda que despertassem o pior dele, eram o que tinha o mantido vivo por tanto tempo. 

— Não foi isso o que me prometeu, Aro. — Athenodora, finalmente saiu da posição em que se mantinha até então. 

— Não acredito que faça mais parte do nosso Clã...querida. — Aro sorriu antes de lhe dar as costas.

Para ele, ninguém deixava de ser descartável, depois que servia seu propósito, havia ficado claro. 

Athenodora voltou-se para Katerina. 

Katerina estava pronta para ela. 

— Katerina...— Caius se aproximou. — Por favor…

Ele pediu para ela não a machucasse? Olhou-o, confusa. Caius ainda parecia estar preso às obrigações que sentia em relação à Athenodora. Ainda que ela tivesse tentado os separar. 

Ainda sim, Katerina o ouviu. 

— Você roubou a minha vida. — Athenodora se aproximava, cuidadosamente.  — Sabe a dor de se perder alguém que ama? 

— Eu sinto muito que...— Katerina controlou-se, por Caius. 

— Sente muito? — Athenodora apertou os olhos. — Eu também sinto muito. 

— Não é algo pelo qual tem que morrer. — Katerina disse. 

— Não tem lugar para nós duas. — Athenodora sorriu. 

— Se eu morrer, não vai ter o meu lugar, Athenodora. 

— Mas você não vai poder tê-lo como tanto quer… 

— E isso vai valer a pena? Você também não o terá. 

— Não nos restava muito, depois de já se ter vivido tanto tempo…

Athenodora estava viva a tanto tempo, que as coisas que a fizeram escolher tal vida, já não faziam mais sentido e aquilo com quem tinha se importado um dia, já não existia mais. 

Para ela, não havia mais o que se ganhar ou perder e não havia nada a ser sacrificado e era exatamente o que a tornava tão perigosa. Tão perigoso quanto um homem que deseja morrer, a mulher que já não vê mais qualquer sentido. 

E então, ela veio em sua direção. 

Katerina não esperava pelo ataque e fechou os olhos por um instante, temendo o que sentiria em seguida. Mas, logo percebeu que não sentiu coisa alguma.

Abriu os olhos.

Tudo foi rápido demais. 

Cobriu a boca com as mãos para conter a surpresa que não conseguiu segurar. 

— Ela não iria parar...— Caius sussurrou, antes de derrubar a cabeça de Athenodora ao chão. 

— Eu pensei que tinha a perdido. — Carlisle foi o primeiro a alcançar, ainda que os olhos de Katerina não pudessem deixar Caius. 

— Eu também pensei que morreria… — Katerina deixou-se envolver pelo abraço, que logo se tornou maior e maior à medida que os Cullen a acolhiam. 

***

— Então isso significa que você agora é um lobo? — Emmett a perguntou. 

— Também. — Katerina respondeu. 

— E vampira? — Continuou.

— Aparentemente. 

— Legal. — O irmão mais velho lhe pareceu empolgado. 

— Como tudo isso aconteceu? 

— Mágica. — Katerina sorriu. 

Tinha demorado a compreender o que tinha a salvado. Lembrava-se distantemente de sentir dor, de um rosto que nunca tinha visto antes e de palavras que demoraram a lhe fazerem sentido. 

De fato, agora sentia-se bem. 

Sentia-se livre. 

E quem quer que tivesse salvado a sua vida, tinha respondido sua mais profunda súplica e a ela seria eternamente grata. 

Jasper finalmente desceu as escadas e parecia estar pronto. 

— Preparada para a sua primeira caça, irmãzinha?

— Suponho que esta seja a primeira mesmo. — Sorriu. 

Era hora de caçar. 

***

— Suponho que eu não precise mais dos seus serviços. — Seth procurou a bruxa por uma última vez. Entregou-a o veneno de vampiro que ainda carregava consigo. 

— Eu não teria te ajudado mesmo, lobo idiota. 

— De qualquer forma, obrigada. 

— Como a menina está? — A pergunta era completamente distinta ao que quer que conversavam. 

— Menina? — Seth demorou a compreender de quem se referia. — Kate? Como sabe…

— Suponho que esteja bem então. — O interrompeu. 

— Você…? — Seth então lembrou-se do que ela havia lhe pedido como pagamento pelo último favor. 

— Posso te ajudar com mais alguma coisa? — Percebeu então que ela não lhe diria nada além do que gostaria. 

— Meus pensamentos…

— Eles não podem a machucar agora que ela é um de vocês… mesmo que ela ainda seja um deles. É a regra. 

Seth não a questionou e sinceramente esperava que ela estivesse certa. 

Despediu-se brevemente. 

E desejava não precisar a procurar de novo. No entanto, se precisava, duvidava de que a encontraria facilmente mais uma vez. 

***

A caça tinha sido melhor do que qualquer outra que tivera enquanto recém-criada. Seus sentidos lhe pareciam mais rápidos e seu corpo também lhe parecia mover com mais facilidade. Sabia ter de descobrir aos poucos o que havia se tornado, mas o importante era que ainda se sentia a mesma, porém, mais forte. 

— Ei...— Katerina e Jasper tinham acabado de retornar, quando Esme os recebeu. 

— Ei...— Katerina respondeu, notando o estranho tom em sua voz. — Aconteceu alguma coisa? 

— Não conseguimos encontrar Caius por perto, sabe onde ele está?

Katerina sorriu, ainda que dentro de si, todos os motivos para qualquer sorriso houvessem a deixado naquele instante. Ela não o via desde a noite passada. 

— Ele vai voltar. — Murmurou. 

Ainda que a machucasse saber que ele havia a deixado, sabia precisar deixar que ele escolhesse, assim como ela havia escolhido antes.


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