Damned escrita por IS Maria


Capítulo 16
O Beijo




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Seu coração de pedra tinha o sentido chegar antes que seus olhos pudessem o enxergar.

Vê-lo foi o suficiente para que se sentisse pequena dentro da própria pele.

Por quê ele estava ali?

Por quê, de repente, sentiu estar fazendo algo de errado?

Ele não iria embora, não até que ela fosse até ele. Olhou-o mais uma vez e em silêncio, suplicou para que ele não fosse visto.

Não tinha tido tempo de sentir falta daquele que não deveria mais ver, mas pensou nele.

Mentiria se dissesse que não tinha pensado.

E agora que ele tinha a visto, daquela maneira, não sozinha, ela se sentia estranha. Seu estômago embrulhava e seu corpo lhe pareceu ser ainda mais frio.

— Kate. — O calor das mãos de Seth, que percorriam seus braços, a trouxe de volta do transe que os olhos do outro havia a colocado.  — Tá tudo bem?

Será que Seth não tinha mesmo o visto?

— Claro. — Voltou-se para o lobo com um sorriso.

Os lábios dele procuraram os dela, mas o beijo havia se tornado amargo. Ela se afastou.

Ele ainda estava dentro dela.

— O que foi? — Seth pareceu preocupado.

— Eu tenho que encontrar Eleazer para continuar treinando… — Kate mal conseguia organizar seus pensamentos. Levantou-se, procurando o manter afastado do vidro. Vestiu-se mais rápido do que os olhos de Seth poderiam acompanhar.

— Eu tenho que resolver algumas coisas também...— Seth foi em direção às próprias roupas jogadas ao chão. — Hey...o que acha de jantar comigo hoje?

Olhou-o confusa.

— Eu não…

— Posso caçar algo para você...só queria que conhecesse minha família...— Ele tornou a segura-la pela cintura.

— Ah...— Ela não o merecia. — Eu...tudo bem. — Viu-o sorrir.

— Te vejo de noite então. — Ele a beijou rapidamente antes de terminar de se vestir e sair pela janela. Caius não estava mais a vista.

Estava cansada de esconder tudo de Seth. Tinha plena consciência de que ele não merecia ser traído daquela maneira.

Viu o lobo sumir por entre as árvores e teve aquilo como deixa para partir em busca do outro. Mais uma vez, ele queria que ela o buscasse.

Esperando que fosse tão óbvio quanto deduzia, procurou-o onde antes tinha o encontrado. A clareira.

— Caius?— Não tinha feito mais do que sussurrar, mas sabia que ele seria capaz de a ouvir.

Viu-o surgir das sombras.

Seus cabelos dourados e seus lábios estavam manchados de carmesim, sua camisa estava partida ao meio. Podia sentir o aroma que vinha dele. Quantos tinha matado? Dezenas? Centenas? Kate não poderia dizer.

Não tinha parecido fazer tanto tempo que não o via.

Seu corpo agia como se não o visse por um século.

— Por quê está aqui? — Kate perguntou.

— Por quê está aqui? — Ouviu-o dizer. Tinha passado mais tempo sem ouvir a voz dele, do que se lembrava.

— Eu perguntei primeiro. — Ousou dizer. Ele não disse nada. Ela não sabia o que dizer. — Você não deveria ter… — continuou. — Vindo. — Mas ele não pareceu interessado no que ela tinha a dizer.

— Quem é você para dizer o que eu devo ou não...fazer?...— Ele disse.

— Não foi isso o que...

Caius se aproximou. Seus passos, pesados o suficiente para afundar a grama sob eles. Tudo parecia o temer.

— Hienas são predadores natos. — Ele disse. — Caçam e dividem o mesmo território de caça com leões…

— Hienas? — Ela não compreendia o porquê de ele estar falando agora sobre Hienas e leões.

Ele não tinha ido até ali para falar sobre Hienas e leões.

— Mas Hienas não vão caçar ou roubar de leões! Hienas se contentam com os restos. — Ele estava perto o suficiente para que o cheiro de sangue vindo dele pudesse a penetrar.

Sentiu-se presa contra o chão, não sendo capaz de sequer se afastar.

Caius levantou a mão até que pudesse tocar as bochechas daquela que não conseguia tirar seus olhos dele.

Kate pôde sentir o cheiro de carne humana por entre seus dedos.

— Eu...— Ela tentou dizer, mas Caius cobriu seus lábios com a ponta dos dedos.

Sentiu a adrenalina lhe perfurar as veias congeladas.

— Quanto tempo vai levar...para a Hiena perceber o leão por  trás de seus olhos? — Ele sussurrou.

Seus olhos desejaram derramar lágrimas que não tinham.

Seu coração desejou bater até lhe perfurar ao peito de mármore.

Ela não o conhecia. Não o conhecia da maneira alguma, mas sentia todo o seu poder, que a ameaçava deixar de joelhos.

— Caius...— Disse.

— Leões não se apaixonam por Hienas...— Ele aproximou o rosto ao dela. O cheiro dele fazia com que seus olhos ardessem e o veneno lhe preenchesse aos lábios. — ...Katerina...— A voz dele era tudo o que conseguia ouvir.

— E se eu não for um leão?

— Então não serve para mim. — Viu-o sorrir.

Os olhos dela procuraram pelos lábios dele. Ele pôde ver o que ela procurava.

Se aquilo era um jogo, ela tinha acabado de perder.

Caius estava tão perto que seus lábios faziam cócegas aos dela, mas ele não a beijaria. Kate sabia que não.

Não queria.

Mas ela estava com tanta sede.

Ele a deixava faminta.

O procurou como se precisasse respirar e ele fosse o ar. Atacou-o, sedenta. Os lábios dele eram amargos.

Era uma guerra ganha.

Passou o braço contra sua cintura e a trouxe para perto, sentindo-a desmanchar. Caius queria a ver desmanchar. Ele a deixou, viu-a procurar por mais, impedindo-a de ter o que queria.

Os olhos dela o olharam como se tivessem cometido um crime. Passou os dedos pelos lábios.

— Por favor...não. — Sussurrou, com dificuldade. A suplica dela não era direcionada a ele. Ela suplicava a si mesma.

Kate sentia-se pegar fogo.

— Eu não fiz nada. — Os olhos dele reduziram-na a pedaços.

— Você voltou. — Fechou os olhos.

— Poderia ter escolhido ficar com ele. — Sentiu-o dizer contra suas bochechas.

Sentiu a briza ficar mais forte contra seus cabelos.

Abriu os olhos.

Ele tinha sumido.

Caius era amargo, ardia enquanto queimava. Exatamente o sabor que imagina o fogo ter. Não duvidava ter beijado o próprio diabo. Katerina podia sentir ter perdido aquela partida.

Caius havia encontrado sua fraqueza e partido para o ataque. Apunhalada pelas costas. Ele queria a destruir, pedaço por pedaço, mas ela viveria a vida que tinha escolhido.

Eram jogadores em um jogo.

E ela não pretendia perder.

 

***

 

— Elijah — Caius chamou pelo seguidor assim que seus pés pisaram em seu território. O vampiro respondeu assim que ouviu a voz de seu mestre.

Caius não precisou dizer nada. Elijah podia sentir o cheiro da garota vindo dele.

— A vampira é perigosa. — Disse, arriscando a própria cabeça.

— Por quê ela seria perigosa? — Caius olhou-o confuso.

Desabotoava os pulsos da camisa, não depositando qualquer energia à conversa.

— Porque eu nunca tinha te visto agir assim antes. — Apontou.

— Ela desmanchou sob as minhas mãos. — Era evidente que Caius encantava-se com as próprias palavras.

— E você está completamente à mercê dela. — Elijah disse.

— Pelo contrário.

— Pelo contrário?

— Eu estou a um passo de conseguir tudo o que eu quero. — Caius tirou o casaco e a camisa.

— Você já conseguiu tudo o que queria...ao menos tudo o que quando decidiu vir para esse lugar.

— O que quer dizer? — Agora, ele não mais parecia tão desinteressado.

— Você não conseguiu o que quer? Ou já não quer mais as mesmas coisas?

— A destruição dos Cullen e o sacrifício do cachorro. — O veneno se acumulava em sua boca ao se lembrar do transformador.

— Pois bem então...mestre. — Elijah o reverenciou e apanhou as peças de roupa que Caius havia jogado ao chão. — Ela é uma Cullen também. — Disse sobre o ombro, antes de o deixar sozinho.

Caius confiava nos séculos que carregava nas costas.

Confiava no que sabia.

Ainda que não devesse.

 

***

 

Kate tinha tomado um banho longo na esperança de que pudesse se livrar da memória dele. Sua pele ardia com a água a ferver, mas ainda era capaz de sentir as mãos dele contra sua cintura. Seus cabelos estavam molhados e cobriam seus ouvidos, mas ainda era capaz de o ouvir sussurrar “Katerina.”

Seus lábios ainda sentiam os dele.

O sabor ainda estava vivo.

Sabia que ele tinha a atraído para uma armadilha.

Agora podia claramente ver.

Bateu a cabeça contra a parede, estava cansada de pensar tanto. Não importava o que fazia ou como as coisas se viravam, ele sempre parecia ganhar. Estava cansada de perder, para Caius e para si mesma.

A cada vez que o via, a corda se apertava contra seu pescoço ameaçando a deixar sem ar. Não vinha ganhando respostas, mas colecionando dúvidas que pareciam longe de serem respondidas.

Talvez jogar contra o demônio não seja tão fácil quanto tinha julgado ser.

Ele tinha o poder de a fazer sentir ser leão e então, a transformava em um cordeiro indefeso. Dava-a poder para o arrancar de suas mãos em um mesmo instante.

Precisava descobrir o que ele fazia ali e porque ela o interessava daquela maneira.

Em um gesto confuso e desesperado, tinha o entregado a única coisa que poderia querer. Ele tinha visto seu dom.

E ele não fez absolutamente nada com o que ela lhe deu.

O que mais ele poderia querer? Por quê estava ali?

A resposta estava nos interesses do ditador.

Ela podia sentir.

 

***

 

Há tempos ele não ouvia música, ou deixava-se levar. Agora, dançava como se fosse um recém-criado mais uma vez. A música estava tão alta que as paredes vibravam a seu comando.

Pés descalços contra o veludo vermelho.

Ele desejava perder o controle.

Quanto tempo fazia desde que se divertiu daquela maneira? Ele mal podia se lembrar.

— Onde vai? — Elijah perguntou ao ver caminhar em direção à porta.

— Caçar. — Caius sorriu. — Sozinho.

Caius podia sentir a insanidade o preencher. Estava tão perto de chegar onde queria. Ela não fazia ideia do quão perto ele estava.

— Katerina...— Sussurrou…

O que Caius falhava em perceber era o quão envolvido estava. Bêbado com o que havia recebido, inebriado com o que havia experimentado.

Tinha a feito desmanchar.

Mas tinha perdido um pedaço de si no meio do caminho.

O que ele poderia querer afinal?

 

***

 

Kate sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha. Ouviu-o sussurrar mais uma vez.  Estava cansada de tentar se limpar de algo que não parecia querer ir embora.

Do que adiantava ser capaz de controlar mentes se a sua não estava sob seu controle?

Passou a mão contra os lábios mais uma vez. Tinham ido longe demais.

Seth…

Sentiu seu coração pesar. Agora sim ela não o merecia.

— O que? Eu não sirvo para ele? — Falou sozinha. — E quem disse que ele serve para mim?

— Eu não sabia que agora falava sozinha. — Renesmee a interrompeu. — Eleazer está lá embaixo procurando por você.

— Falar sozinha é o que me resta. — Revirou os olhos.

Pelo menos estava com raiva o suficiente para descontar no treinamento. Raiva dele. Raiva de si mesma.

Vestiu-se a caráter. Esperava que Jasper estivesse por perto para que pudessem lutar.

O dia ao menos estava com o tempo agradável. A floresta estava calma e fazia silêncio. A terra cheirava bem e a brisa era suave.

Fechava os olhos.

Ele era a única coisa que conseguia ver.

“Por favor, não.” Pensou consigo.

— Concentre-se Kate. — Ouviu Eleazer dizer, mas não era a voz dele que escutava.

Era como se Caius estivesse ali...a conduzindo. Kate sabia que precisava o mandar embora, agora de seus pensamentos.

— Foco. — Jasper a derrubou ao chão. A luta tinha começado. Eleazer e ele se juntariam contra ela. Deveria usar sua mente e seu corpo. Suspirou, silenciou-se, assumiu o controle de seu corpo.

Abriu os olhos, mandando a sombra de Caius para longe.

— Podem vir. — Sorriu antes de lançar-se contra as árvores.

 

***

 

Tinham a derrotado, mas ela tinha sido uma competidora à altura. Se divertia...até perceber que o céu havia se tornado escuro.

— Você continua progredindo bem. — Eleazer a elogiou.

— Só precisa ser mais rápida. — Jasper a provocou.

— Se não tivesse me pegado de surpresa, eu teria vencido. — Sorriu.

— Hey...nunca fique desprotegida. — Ela concordou e saiu na frente. — Onde vai?

— Jantar na casa dos Clearwater. — Ela não estava empolgada.

— Ih...— Jasper pareceu surpreso. — Boa sorte com isso.

— Vou precisar.

Antes de sair, tinha ainda algo mais a fazer.

Pensar.

Ela diria a verdade a Seth e lidava com as consequências, ou, se esquecia e entregava-se de uma vez por todas ao lobo?

Nem mesmo ela era conhecedora da verdade, mas tinha uma escolha a fazer.


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