Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 6
O fogo que alimenta.




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O dia demonstra sinais de que será bastante quente, especialmente para os que estão presos na carroça. O café da manhã é servido para as crianças na carroça mesmo: um pedaço de pão e algo parecido com chá. Nicolas percebe que o estado da carroça não era bom, com buracos e frestas entre as tábuas por onde passava luz do sol. Agora podia ver a cara de todos claramente. Gente simples como ele. O rosto de Serena lhe agrada e Lucius parece ser uma pessoa tímida. A outra garota tinha os cabelos loiros e curtos e está sentada entre dois garotos, todos com cara de que choraram a noite toda, talvez sejam realmente irmãos. E John é um magricela que só tem altura. Havia outros, mas ele decide dar mais atenção à carroça e pensar em uma maneira de sair dali. A viagem recomeça. Não havia muito que fazer. O tempo passa e a carroça sacode com mais frequência, novamente eles deixam a estrada principal e seguem por uma trilha secundária. O calor é intenso indicando que já se aproximava do meio-dia e até os garotos grandes passam a reclamar por água e comida. Um dos guardas sobe na cobertura da carroça e diz que eles sairão para almoçar assim que chegarem a Northwood.

—Northwood?

—A Floresta Northwood. - responde Lucius a pergunta de Nicolas - Ainda estamos em Devlon, mas por que ir para a floresta?

—Deve ser por causa do tal decreto real que aquele garoto falou... - deduz Serena.

—É mesmo! - diz Nicolas, que se volta para Lucius. - Parece que você conhece bem essa região.

—A Floresta Northwood fica no Condado de Oxford e é bem grande, passando por vários vilarejos. Certamente Devlon é um deles. Também é onde fica... - o garoto faz uma pausa.

—Fica o quê? - pergunta Nicolas, sem entender porque Lucius olhava para Serena.

          A sombra das árvores passando pela abertura no teto desvia a atenção deles. Todos na carroça se levantam.

—Parece que já chegamos. - alerta Serena.

—Mas nós não vamos até o interior da floresta. - diz John, se aproximando de Nicolas e dos outros. - Os guardas são espertos. Eles só vão até onde não se pode ver a carroça da estrada. E com certeza, assim que abrirem esta porta, vão nos cercar e nos vigiar até terminarmos o almoço. Não há como fugir, garoto!

          A carroça para de mexer. Eles teriam poucos minutos para decidir alguma coisa. Serena toca no ombro de Nicolas e o olha fixamente.

—Você realmente quer fugir?

—É claro que sim!

—E você? - pergunta a menina para Lucius.

—Bem, eu... - Lucius foi pego de surpresa, mas não havia tempo para pensar. – Sim! Sim! Eu também quero ir.

—Mas precisamos de alguma coisa pra distrair os guardas, senão essa fuga não vai durar muito. - diz Nicolas, vendo um sorriso crescer no rosto de Serena.

—Deixa comigo! – responde a garota, que começa a caminhar em direção ao fundo da carroça.

—Sai da frente, garota! O que é que você pretende fazer? - pergunta John, impedindo-a de prosseguir.

          O garoto está mais decidido. Diferente da noite anterior, agora os amigos dele estão do seu lado. Mas Serena o encara. Depois estende o braço esquerdo com a palma da mão aberta. John faz cara de quem não está entendendo nada e solta uma risada sem graça. Os outros atrás dele também riam.

—Ficou louca? O que é isso, garota? - pergunta John.

      Serena olha para a palma de sua mão, concentrada, e uma lembrança do passado invade sua mente...

<< Já é noite no vilarejo de Kolkingham. Em uma casa afastada do vilarejo, duas pessoas colocam mantimentos em uma carroça. Elas se preparam para deixar o local. Provavelmente permaneceram por lá até escurecer. Abigail e Serena sobem na carroça e deixam o vilarejo sob os olhares do xerife e seus capangas, que estão vigiando não para protegê-las, mas para terem certeza de que não regressariam. Elas seguem pela estrada e quando a carroça passa pelo local de execução da mãe de Serena elas observam em uma área próxima um amontoado de carvão, alguns em brasa. Inesperadamente Serena pula da carroça e corre por entre a área queimada. Assustada, Abigail corre logo atrás, pensando que ela irá voltar para o vilarejo. Mas logo ela diminui o passo ao ver para onde a menina se dirigia e a segue.

—Serena, vamos embora, não há mais nada aqui! A não ser esse cheiro horrível... Argh!

       Abigail decide levá-la, pois alguns pedaços de carvão estavam ativos e poderiam queimar os pés. Serena apanha algo no chão e volta para a senhora.

—Vamos embora, menina! O fogo ainda alimenta este lugar.

—O fogo que alimenta. - diz Serena, mostrando-lhe a mão esquerda fechada. E ao abrir lhe mostra algo, talvez um pedaço de carvão. Aquilo volta a queimar. Abigail dá um tapa na mão da menina atirando aquela coisa para longe.

—Droga! Eu avisei, eu avisei...

         Rapidamente ela vai até a carroça e traz um pedaço de pano e uma pequena algibeira contendo água. Resmungando, rasga um pedaço menor do pano enquanto caminha na direção de Serena. Mas antes que pudesse começar o curativo, ao ver a mão da menina de novo, ela se assusta e cai sentada no chão. Apavorada, vê que toda a mão esquerda da criança estava em chamas.

—Oh, meu Deus! O que é isso?

         A menina apenas a olha com uma expressão de tranquilidade...>>

—Ficou surda? Eu perguntei o que é isso, garota? - pergunta John, com uma cara nervosa e os braços cruzados.

—O fogo que alimenta! - lhe responde Serena.

          Ela lhe mostra a mão fechada. Em seguida a abre, dedos bem separados, e inexplicavelmente chamas crescem na palma de sua mão. Em questão de segundos toda sua mão e parte do antebraço estavam incandescentes.

—HÁ! QUE É ISSO? FOGO, FOGO! - grita John que procura se afastar, mas os que estão atrás dele o atrapalham.

—VIXE! ELA TÁ PEGANDO FOGO! – diz Nicolas, espantado.

—AÍ MEU DEUS! – solta Lucius, quase sem querer.

—SOCORROOO... – grita outro jovem que está no fundo.

          Logo todos estão aos berros. Os que podem se afastam de Serena, indo em direção à porta ou para o fundo da carroça. O trio de irmãos começa a chorar de novo. Os garotos maiores se espremem na parte de trás.

—PELA-AMOR-DE-DEUS! QUE QUI É ISSO? - diz Nicolas.

—SERÁ QUE O MEU DESTINO É MORRER QUEIMADO? - Lucius.

—EU VOU MORRER, EU VOU MORREEE... – grita John.

—TIRA A GENTE DAQUI! SOCORROOO... - o jovem que agora está exprimido no fundo.

—BUUÁÁÁÁ! - o trio de irmãos.

          Serena aponta para John a palma da mão aberta e caminha em direção ao fundo da carroça. Apavorados, todos ao fundo gritam e procuram se afastar o máximo dela. Vão para os lados, passando perto de Serena e depois se amontoam perto da porta. Junto com os outros, batem os punhos freneticamente pedindo que a abrissem. Serena coloca sua mão nas tábuas no fundo da carroça. Logo as chamas tomam conta de toda aquela área, subindo até a abertura no teto.

—Pronto! Isso vai chamar a atenção dos guardas.

          Com um sorriso, ela se vira na direção deles, que a olham por um instante e depois voltam a bater na porta da carroça. Serena examina sua mão esquerda, já sem as chamas, e nota que alguns dedos estavam queimados. “Droga! Isso sempre acontece.” Ela tira um pedaço de pano encardido do bolso e calmamente começa a enfaixar a mão, não prestando atenção ao desespero dos outros.


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