Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 4
Grumetes.


Notas iniciais do capítulo

E agora que Nicolas fugiu de casa, o que ele irá fazer? O que vai acontecer com ele? Vamos descobrir nesse capítulo. Boa leitura!



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Seguindo pela estrada, Nicolas está faminto e exausto. Passou o dia andado, bebeu e se banhou nas águas do Rio Niz que corta seu vilarejo, se alimentou de algumas frutas das plantações à beira da estrada – em algumas ocasiões teve que fugir de cães e camponeses furiosos - e procurou descansar no período da tarde para continuar sua jornada à noite. Pensou em voltar, mas a imagem de um futuro negro reservado mais aqueles que ama do que a si mesmo o fez decidir continuar seu caminho até o próximo vilarejo. Seu plano é se afastar o máximo possível de Liuternan. Já é noite e uma placa na estrada lhe dá um pouco de ânimo: ‘Vilarejo de Devlon’. O garoto começa a suar frio e sentir tonteiras. Para piorar, começa a sentir câimbras. Afinal, nunca tinha andado tanto em sua vida.

De repente um barulho o faz olhar para trás. Um grupo grande, com três carroças e pelo menos quinze cavaleiros se aproxima. Três cavaleiros se separam do grupo e vão até ele. Nicolas olha ao redor procurando um refúgio. O único lugar para se esconder são algumas árvores ao longe.

—É um garoto. Vamos pegá-lo!

Os homens aceleram o galope. Nicolas sai da estrada de terra e percorre o mato baixo rumo às árvores. Ele tenta correr o mais rápido possível, mas sente as pernas pesadas e a impressão que tem é que o mato parecia crescer a cada passo. Uma pedra o desequilibra e ele cai. Ainda atordoado, apenas sente uma mão fria toca-lhe o pescoço...

****

Uma pancada na cabeça o desperta. Nicolas acorda após bater a cabeça num assoalho de madeira. Se recuperando aos poucos, percebe que está no meio de uma carroça larga, toda fechada por tábuas. Viu a frente a porta de entrada daquele baú sobre rodas e uma abertura acima de sua cabeça, com barras de ferro horizontais. Ainda é noite e o luar o ilumina. Ao ouvir um choro ao seu lado nota que há pessoas ali, sentadas. Agora, consciente, podia ver uma garota, provavelmente da sua idade bem na sua frente.

—Você está bem? – pergunta a jovem de cabelos compridos. Usava roupas simples, sujas, e Nicolas percebeu que os dedos das mãos da garota estavam enfaixados por pedaços de panos encardidos. Ao lado dela está um garoto de cabelo liso que também o encarava. O corte de cabelo dele chama sua atenção.

—Onde é que eu estou? Que lugar é esse? - Nicolas vira a cabeça de um lado para o outro e vê mais três garotos do seu lado direito e mais dois garotos e outra garota - o grupo responsável pelo choro - do seu lado esquerdo. Ele se levanta e procura ir para a parte de trás da carroça. Mas antes que pudesse chegar até lá, sente um chute em sua perna esquerda que o empurra à frente.

—Ei! Pra onde pensa que vai, seu pirralho?

—Aqui não tem lugar pra você, sai pra lá!

Nicolas vê quatro garotos bem maiores que ele já encostados no fundo da carroça. Então ele percebe que havia uma divisão naquele lugar. Os maiores ficaram com os melhores lugares ao fundo, enquanto que os outros se amontoavam no meio e perto da porta, onde qualquer buraco fazia aquela parte do veículo pular feito um coelho. Ao todo eram treze pessoas. Nicolas vai até a garota de cabelo comprido e senta ao seu lado, se encostando na porta.

—Nós estamos presos?

—Parece que esse pirralho tá mais perdido que cego no meio da guerra. - diz um dos garotos maiores, que se levanta e caminha até o meio da carroça, ficando debaixo da abertura no teto. O jovem ergue as mãos, segurando as barras no teto. Era alto e devia ter dezesseis ou dezessete anos. - Escuta aqui, moleque! Ninguém aqui é prisioneiro. Todos foram ‘convocados’ a servir ao seu país.

—Estamos indo pra guerra? - Nicolas faz uma pausa, depois volta a encará-lo - Grumetes?

—Oh! Um lampejo de inteligência nessa cabeçinha de vento, Eh! Eh! QUEREM PARAR COM ESSA CHORADEIRA, DROGA! - o jovem desvia sua atenção e grita com os garotos que estavam chorando. - Que porcaria! Desde que entraram aqui não dão sossego...

—Eles estão assustados. - diz a garota ao lado de Nicolas.

—Que assustados o que! Estão chorando porque têm família, não é? HEIN? - o jovem olha fixamente para um dos garotos que faz um sinal positivo com a cabeça. - Coitados! Não vão durar muito nos navios.

—P-Por quê? - pergunta a garota sentada entre os garotos entristecidos.

—A vida nos navios não é fácil. Você por acaso sabe o que um grumete faz? Devido à falta de pessoal, seremos usados para enganar o inimigo, dar a impressão que a tripulação dos navios é numerosa. Afinal, de longe vão achar apenas que somos baixinhos, né! Aqueles como vocês - ele faz um sinal com a mão indicando ‘menores do que eu’ - farão trabalhos domésticos: limpar, lavar... esse tipo de coisa.  

—Mar? Mas estamos muito longe do mar. Ainda nem chegamos em Devlon. – questiona Nicolas.

—Devlon já deve está bem pra trás, moleque. - O jovem volta para seu lugar - Você deve tá se referindo ao vilarejo. Por que acha que a carroça tá sacudindo tanto? Apesar do decreto real que autoriza o uso de crianças nas forças militares, muitos vilarejos não concordam com essa prática de captura de crianças, sejam elas sem-teto, vagabundos ou mendigos.

—Eu não sou mendigo, eu... - Nicolas quase fala de seu pai, mas decide permanecer calado.

—Eu não me importo pra onde estamos indo. - diz a garota de cabelo comprido ao seu lado - Não me importo com o destino, só tenho um objetivo a cumprir.

—Eu me importo com o meu destino, sim! Não quero ser grumete. - o garoto de cabelo estranho se manifesta.

—Órfãos não tem escolha, moleque! Vocês tem que aceitar e pronto.

As palavras daquele jovem fazem as suspeitas de Nicolas se concretizarem. Aquele garoto de cabelo estranho, negro e liso, em forma de cuia, provavelmente fugiu de algum orfanato, já que neste lugar todos os garotos tem o mesmo corte de cabelo.

—Então você fugiu de um orfanato? Qual? – pergunta Nicolas.

—Na verdade fui obrigado a fugir quando o orfanato de Folkland pegou fogo. Quase morri queimado...

 Nicolas se lembra dessa estória que Wendel contou. Fugir de casa já foi algo ruim, mas terminar seus dias em alto mar, arriscado a morrer numa guerra que ele nem sabe por que começou, com certeza era pior. Ele se levanta e examina a porta.

—Como é que esse negócio aqui é preso, hein? Deve ter um cadeado lá fora. A madeira já está bem gasta aqui...

—Ei! O que você tá fazendo, pirralho? - o jovem volta a se manifestar. - Volta pro seu lugar, moleque!

Os garotos que estão ao lado de Nicolas se afastam enquanto ele analisa a porta. Ao ouvir o jovem, ele para o que está fazendo e o encara.

—O meu nome é Nicolas e se me chamar de moleque de novo vai se arrepender.

 A atitude ousada de Nicolas surpreende a todos, até o trio entristecido para de choramingar.

—O meu nome é Serena. - diz a garota de cabelo comprido e dedos enfaixados.

—O meu é Lucius. - diz o garoto de cabelo estranho. Nicolas não sabe por que falaram com ele naquele momento tenso. Ele volta a examinar a porta.

—Olha só, o baixinho é invocado. Não me dê às costas, moleque! – diz o jovem arrogante, que se aproxima para intimidá-lo. - Você é muito atrevido, hein, moleque? Não tem medo de morrer, não?

Nicolas volta a encará-lo.

—Sou um grumete, não é? Então não tenho nada a perder. Quer saber? Essa conversa de destino é coisa de gente fracassada. EU faço meu próprio destino e EU quero fugir daqui. Portanto, não tente me impedir!

—O que você prefere garoto: morrer na pobreza e na miséria ou sobreviver na guerra?

—Fique com suas alternativas, eu prefiro viver livre!

 Nem o sacolejar da carroça abalava a posição de Nicolas, firme, de pé diante daquele jovem. Ambos se encaram em silêncio. Em seguida o jovem olha para o outro garoto sentado no fundo.

—E aí? Vamos dar uma lição nesse garoto?

—A cara, tô muito cansado. Amanhã a gente resolve isso.

—Ei, qual é, cara! Vai me deixar na mão? - o jovem vê os outros garotos se acomodarem dando a intenção de irem dormir.

—Vá dormir também, John! Você parece que quer brigar com todo mundo...

 O jovem vê seus companheiros não lhe dando mais atenção. Ele olha para Nicolas e lhe aponta o dedo indicador.

—Amanhã, hein, garoto! Amanhã! - John volta para o fundo e procura se ajeitar para dormir.

 Mais calmo, Nicolas também volta a sentar perto de Serena e Lucius. Parece que o sono falou mais alto no meio daquela discussão.

—Nossa! O que deu em você pra encarar esse garoto? - pergunta Serena.

—Ah, ele tava torrando a minha paciência! Não passa de um ‘Zé ninguém’. Viu como ele mudou de ‘moleque’ pra ‘garoto’ rapidinho? - Serena e Nicolas trocam um leve sorriso. Ao lado dela, ele se ajeita para dormir. - Amanhã quando tiver mais claro vai dar pra examinar melhor essa porta e o resto da carroça.

—Mas ele disse que vai te pegar amanhã. - lembra Lucius.

—Pega nada! Acha que os guardas vão deixar acontecer alguma coisa com a gente antes de chegarmos aos navios? Temos valor para eles. E se ele vier pra cima, eu grito e chamo os guardas.

—Ah! Você é meio doidinho, hein? - diz Serena, sorrindo.

—E quem não é? Boa noite... Serena, não é?

—Boa noite, Nicolas!

—Pode me chamar de Nick, se quiser.

—Tá bom, Nick.

 Lucius pensa em dizer algo, mas parecia que os dois já não estavam mais lhe dando atenção.


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Notas finais do capítulo

Finalmente os protagonistas se encontram, mas esse é apenas o começo das aventuras de Nicolas, Serena e Lucius. Muita coisa ainda está por vir então comente, dê sugestões... e até a próxima! n_n



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