Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 17
Vamos Senhor Nicolas! Qual feitiço o senhor fará?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714864/chapter/17

           Começam os testes de aptidão mágica. Apesar de ter escapado de ser o primeiro a realizá-lo, parece que agora a sorte de Nicolas acabou. Tentando expressar alguma segurança, ele se levanta e segue Victoria, a passos menos largos, em direção ao local do teste. Clara olha para a professora que se aproxima com um olhar de reprovação.

—Não se preocupe! Depois dele, voltaremos a ordem que vocês determinaram. E não quero mais ouvir nenhuma reclamação.

             Nicolas sabe que Victória quer pegá-lo de qualquer jeito. Depois dos três irmãos, é ele que com certeza ela gostaria de ver fora dali. Enquanto se dirige a mesa, ele ouve Serena torcer por ele.

—Você consegue, Nick!

—Agora eu quero ver! - diz Ricardo, com um sorriso malicioso.

       Nicolas fica com raiva de todos: dos falsos amigos que o enganaram, pelos outros que o assustam e pelo jeito esnobe que Victoria e Ricardo o tratam. Mas ele está decidido. Não iriam fazer sabe-se lá o quê com o seu corpo sem levar o troco. Com passadas firmes, ele ergue a cabeça e percorre o corredor. Ao chegar à mesa, vira-se para a platéia mostrando os punhos cerrados.

—Ótimo! Então vamos lá! É o meu sangue que vocês querem? Podem vir. - Nicolas faz uma posição de luta, virando o corpo de um lado para o outro - E então, quem vai ser o primeiro? Você, Pó de arroz! Pode vir! Venha!

—Mas o que deu nesse garoto? - pergunta Mark - Não queremos seu sangue, não somos vampiros. Criaturas desprezíveis... Há! Odeio vampiros!

—Por que ele está mostrando os punhos? Será que é um vigorífero? - diz Flora.

             Hilda se aproxima dele por trás e puxa um fio de cabelo. Nicolas se assusta, colocando uma das mãos na cabeça.

—Ei! O que pensa que está fazendo? Ah... Já sei! Quer me deixar careca, né!

—Na verdade eu só queria um fio de cabelo, mas parece que veio outra coisa junto. - se justifica a professora, esfregando as pontas dos dedos, separando o fio de cabelo de um estranho pó.

—Bem, isso aí... Sabe como é, né! Tô há alguns dias sem tomar banho... - diz o garoto, desfazendo sua postura de luta e observando curioso para o que a professora segurava.

             Ela repete o mesmo gesto feito com Munique, levando o fio de cabelo para Flora que já a aguardava com um pergaminho aberto. O processo se repete e em seguida a professora lê as informações obtidas para todos.

—Nicolas West! Idade: 13 anos. Classe: minemosine...

            Algumas crianças começam a rir. Até o professor Mark esboça um sorriso enquanto Victoria se mostra indiferente. Serena também se surpreende.

—Minemosine? Eu achava que seria outra, menos essa.

—Eu já desconfiava! - diz Lucius - Antes de encontrarmos o castelo, ele me enganou com uma ilusão. 

—Ah! Ah! Ah! Isso só pode ser piada! Esse garoto não tem inteligência para fazer qualquer tipo de previsão. - comenta Ricardo.

—Pois eu te previno que se continuar falando assim vai perder os dentes, Pó de arroz! – retruca Nicolas, lhe apontando o indicador direito.

          O fato de estar sempre sendo chamado de ‘Pó de arroz’ por Nicolas faz com que os outros esbocem risadas e alguns comentários para Ricardo. O garoto se enfurece com as palavras de Nicolas e se levanta. Victoria concorda com a opinião dele.

—Talvez Ricardo esteja certo. Você tem certeza disso, Flora?

—Você está sempre do lado dele, não é? Sua bruxa!

             Todos se calam ao ouvirem Nicolas chamar Victoria de bruxa. A professora Flora fica como uma estátua, prevendo a reação de Victoria.

—Ele a chamou de bruxa... - comenta Allison, surpreso, como a maioria.

—Psiu! Fale baixo! Você sabe que... - diz Renan, que nem precisa terminar a frase para saber o que está por vir.

           Mas o que Nicolas não sabe é que feiticeiros não gostam de serem comparados a bruxos. Primeiro porque é como se os julgassem inferiores – na verdade uma classe mística sempre se acha superior a outra – e segundo é a semelhança que os bruxos têm com as fadas, inimigas mortais dos feiticeiros e de grande parte das criaturas místicas. Atualmente alguns feiticeiros levam esse tipo de comparação de forma natural, apesar de não aceitarem. As pessoas mais próximas a professora sabem que Victoria odeia ser chamada de bruxa, era algo pessoal. Mark e Hilda também se assustam pressentindo uma reação explosiva vinda de Victoria. E ela não deixa por menos.

—Quem você pensa que é para me chamar de bruxa, seu pirralho? Por acaso sabe o que é uma bruxa? Hunf... Nem sabe por que está aqui! Sabe por acaso qual a diferença de uma bruxa para uma feiticeira?

—Vick, acalme-se... – pede Mark.

—Vamos continuar o teste, querida, o teste! - diz Hilda.

—EU SEI SIM, TÁ! - rebate o garoto - Bruxa é mulher e feiticeiro é homem e você é UMA BRUXA MUITO FEIA.

—GRRR... BRUXA FEIA? Eu vou te cozinhar no caldeirão seu... - de repente Victoria para e pensa no que Nicolas dissera. - Mas, que ideia absurda é essa que você disse?

—Está vendo, Vick! Ele não sabe o que diz, é apenas um garoto sem educação.

—Mark está certo, Vick! Vamos, vamos continuar com o teste. - insiste Hilda.

          Victoria atende ao pedido dos colegas, mas Bertha quase põem tudo a perder.

—Ei, garoto! Cale a boca e continue com esse teste pra gente ir almoçar logo.

—Cale a boca você, sua gorda! - diz Nicolas, ainda nervoso.

—O QUE? Oras, seu... Eu vou arrancar seu fígado fora. - Bertha se levanta e lhe mostra o punho.

—Arranca nada!

—Muito bem, já chega! - diz Victoria, colocando ordem no recinto. - Vamos lá, garoto! Deixe de embromação e nos mostre o seu dom natural.

               Após alguns segundos de calmaria, a atenção de todos se volta para Nicolas, que olha para Victoria como se ainda não entendesse o que ela havia falado.

—Victoria! Acho melhor ser mais detalhista no que se refere a dom natural - diz Mark - principalmente para alguém que não sabe a diferença entre bruxa e feiticeira.

—Tem razão, Mark! Dom natural, garoto, é uma característica especial que nasce com a pessoa e que, com o passar dos anos, se aprimora e se fortalece. Muitos se baseiam nos elementos da natureza; são poderes relacionados à natureza e que nos foi dado pelos deuses. E aquilo que existe num ser é inseparável dele. Nós trabalhamos com aquilo que você tem, aprimorando sua técnica, fortalecendo-o. Para ser aceito nas instituições de ensino é necessário demonstrar que tipo de magia você pode desenvolver ao longo do curso. Entendeu? - a professora nota que ele ainda está em dúvida - Por exemplo. Você é da mesma classe da Senhorita Lane, então... Faça uma previsão.

—Previsão? Bom... Eu sei quando tem gente falando de mim.

—É mesmo? Como?

—Quando as minhas orelhas ficam vermelhas.

        Não apenas a professora, mas todos fazem um gesto de desapontamento.

—Orelhas vermelhas? Tenha paciência... - reclama Victoria - Isso é pura superstição, crendice popular.

—Não, é sério! - insiste Nicolas - Minhas orelhas ficam vermelhas e quentes.

—Deve ser sujeira.  - diz Ricardo.

—Intrometido! Ninguém ti chamou na conversa, Pó de arroz!

          Dessa vez Ricardo não se contém e vai na direção de Nicolas, como se fosse acertá-lo com um soco. Mas sua mão esquerda mostrava o mesmo gesto feito quando eles discutiram e a mãe de Ricardo o interrompeu: o braço subindo lentamente com os dedos abertos e a palma da mão voltada para cima.

—Vou te ensinar a demonstrar mais respeito, Pivete! HERBARIUM!

          No exato momento em que Ricardo ergue a mão, um forte estrondo é ouvido e uma grande tora de madeira pontiaguda rompe o chão debaixo da mesa, perfurando o centro do móvel e o erguendo. Tinha a base triangular e era de um vermelho escuro que lembra madeira envernizada. Nicolas se assusta enquanto os outros que estão perto ficam admirados.         

—Nossa! É o Herbarium, o ‘chamado da terra’! - Renan.

—Olha só o tamanho do espinho que ele fez! - Allison.

—Realmente, ele tem muita magia. É alguém que não se deve provocar! - Sidney.

—Ahh... Ricardo é tão forte... - Paula e a maioria das meninas.

—Droga! Ricardo passou na minha frente, assim não vale! - reclama Clara, cruzando os braços.

          Nicolas fica impressionado. Agora ele entende o que o garoto queria dizer com ‘crucificá-lo feito um condenado’. Aquela tora, espinho, ou seja lá o que for poderia ter saído bem debaixo dos seus pés e atravessado seu corpo. Poderia ser ele pendurado ao invés da mesa. Ricardo o olha com uma expressão de satisfação, que é desfeita quando Hilda puxa um fio de seu cabelo e entrega para Flora, que já havia pegado outro pergaminho do baú, deixando o de Nicolas debaixo de um dos braços.

—Ricardo Berker Terceiro! Idade: 14 anos. Classe: Herborita.

—Parabéns, Senhor Ricardo! - diz Victoria - Vejo que já consegue produzir espinhos quase da sua altura e com base firme. Percebe-se que é um talento nato. Não esperaria menos vindo de um membro de uma das famílias mais tradicionais de nossa sociedade.

          Ricardo volta para seu lugar ao som de aplausos entusiasmados enquanto recebe os parabéns e elogios dos outros.

—Espinho? Olha o tamanho dessa coisa! - diz Nicolas.

—Isso é apenas uma amostra para aqueles que me aborrecem, garoto! - lhe diz Ricardo se acomodando no banco.

          Apesar de estar preocupada com Nicolas, Serena aproveita para prestar atenção no teste de Ricardo e principalmente nos comentários sobre sua família. Ela sente que precisa por um fim às suas dúvidas para pensar no próximo passo. Mark faz um movimento circular com a mão esquerda fazendo aquele enorme espinho desaparecer e consertando a mesa, deixando-a como se nada tivesse acontecido. Nicolas novamente se assusta. Apesar de saber que todos que estavam ali eram feiticeiros, ainda não se acostumou com todo aquele vaivém de coisas estranhas.

—E então, Senhor Nicolas? Será que agora podemos vê-lo em ação? - pergunta Victoria - Flora, qual é a subclasse dele? 

           A professora se atrapalha um pouco, mas logo lê o pergaminho do garoto novamente.

—Deixe-me ver... Há! Subclasse: ilusionista.

            A explicação da professora não o ajudou muito. Nicolas ainda não sabe o que fazer no teste. De repente ele olha para Serena, que lhe mostra as mãos juntas, como se rezasse. Ele entende o que ela queria lhe dizer. Afinal, ela e Lucius viram suas mãos brilharem na carroça. Ele olha para as mãos, depois para Serena, que lhe acena afirmativamente com a cabeça.

—Vamos Senhor Nicolas! Qual feitiço o senhor fará? - pressiona Victoria.

              Feitiço. “Então é isso que ela chama de dom natural. Aquilo que eu faço é feitiço. É claro, eu sou um feiticeiro! Puxa vida!”. O truque das mãos brilhantes é um feitiço. Mas Nicolas não sabe como invocá-lo nem as palavras mágicas que usar, como Ricardo fez no teste dele. Então ele procura se lembrar de como fazia quando estava sozinho em seu quarto, na taverna. Ele se aproxima da mesa, coloca os cotovelos nela e junta às mãos.

—Ué! Vai rezar agora? Ah! Ah! Ah! - diz Ricardo.

               Nada acontece e todos começam a rir dele.

—Calem a boca! Ele tem que se concentrar. - brada Serena, irritada.

              Victoria pede silêncio. Ele se concentra, fecha os olhos, mas as mãos não brilham. Passados alguns segundos, Victoria lhe chama a atenção.

—Ouça garoto! Por que não deixa esse feitiço de lado e mostra a todos o seu pseudocorpo?

—Pseudocorpo? - pergunta o garoto, mais confuso ainda.

               Logo as palavras de Nicolas ecoam pelo recinto. Todos fazem a mesma pergunta, olhando uns para os outros, para os lados, nos arredores da sala, procurando esse pseudocorpo visto por Victoria.

—Do que a Senhora está falando? - volta a perguntar o garoto, com um olhar que beira a súplica. E Victoria lhe responde com certa doçura na voz.

—Eu me refiro àquela imagem, igualzinho a você, encostada na parede ali no fundo. - Nicolas olha e nota que é Lucas, que lhe dá um pequeno ‘tchauzinho’ com uma das mãos - Flora disse que sua subclasse é dos ilusionistas. As pessoas que pertencem a essa subclasse são capazes de criar imagens, ilusões, como o próprio nome diz. Parabéns! Por incrível que pareça você passou no teste. ...Espero não me arrepender de ter dito isso!

            Nicolas retribui as palavras da diretora com um leve sorriso. Os outros professores também conseguem ver Lucas, diferente das crianças, que questionam o teste.

—Como assim? Ele passou? - diz Ricardo - Todos têm que ver o feitiço, Professora, e ninguém viu nada. Acho que o teste não foi válido.

—Ricardo tem razão! - apoia Renan - Como iremos nos defender se não sabemos qual o feitiço que ele usa.

—Pseudocorpo? Impossível! Só os vampiros usam pseudocorpos. - diz Mark, nervoso.

—Mark está certo, Vick! - comenta Hilda - Olhe só para a imagem, tão apagadinha, é quase transparente como uma ilusão de óptica.

          Victoria volta a olhar para Lucas que retribui o olhar mas de maneira sarcástica.

—Acho que está certa, Hilda! Não passa de uma imagem.

—Não! - responde Nicolas, com veemência - Este é Lucas, meu amigo imaginário. Ele está sempre comigo e sempre me ajuda. Acho que foi por isso que ele apareceu. Obrigado, Luquinha!

          Os professores se espantam e Ricardo não consegue esconder o riso.

—Ah! Ah! Ah! Amigo imaginário. Ah! Ah! Ah! Parece até aquelas criancinhas que ficam sozinhas e passam a inventar coisas. Que imaginação fértil desse cara! Ah! Ah! Ah!

       Nicolas se enfurece e olha para Lucas, que lhe faz um sinal apontando para Ricardo e depois bate o punho direito fechado na outra mão aberta. Ou seja, um aviso para Nicolas pegar Ricardo ‘na porrada’ e chamar ele para ir junto, é claro. Nicolas ri e Lucas devolve o sorriso, desaparecendo.

—Ricardo tem razão, Nicolas! Você não pode se apegar a uma imagem, chega a ser até estranho. Você até deu um nome pra ela. Não se pode tocar...

—O nome dele é Lucas e ele não é uma imagem. - discorda Nicolas, interrompendo Victoria - Meu amigo imaginário! O irmão que eu não tive! E não me interessa o que vocês pensam dele.

—Então o teste não valeu! - volta a insistir Renan - Temos que ver o feitiço e ninguém viu a ilusão que ele criou.

            Em meio as risadas de alguns e reclamações de outros, Nicolas se enfurece e bate as mãos violentamente, juntando-as de novo. E para surpresa de todos, uma luz esverdeada sai pelas frestas dos seus dedos, crescendo até tomar toda a superfície das mãos, que brilham como um farol.

Iluminati!— diz Hilda, o bastante para cessar os comentários.

Iluminati... Que magia mais sem graça! - comenta Margot.

—Tem certeza que ele não é um vampiro? - questiona Mark.

—Ótimo! Quem quiser ir ao banheiro a noite é só chamar o pivete. - comenta Ricardo, não se impressionando com a magia de Nicolas.

          Antes de começar outra briga, Victoria pede para Nicolas se sentar.

—Está bem, já chega! Pode ir se sentar, Senhor Nicolas! E sim, Senhorita Clara, pode vir fazer o seu teste. Vamos seguir a ordem de agora em diante, está bem?

          A menina se levanta e vai toda sorridente para perto da professora enquanto Nicolas volta a sentar ao lado de Serena, calado. Ela e Lucius ficam olhando para ele, que não resiste e acaba falando.

—Viram só! Eu tenho o Lucas e nunca estou sozinho. Portanto, pensem bem se quiserem tentar fazer alguma coisa comigo.

—Nick! Ninguém viu esse Lucas que você falou. - alerta Serena - Mas nem por isso vamos deixá-lo sozinho ou em apuros.

—Eu já vi, uma vez. - diz Lucius - Não importa o que os outros dizem, eu acredito em você!

           Nicolas fica decepcionado ao ouvir aquilo. Não só pelo fato das crianças não terem visto Lucas, mas pelo fato de não poder compartilhar com Serena e Lucius esse sentimento de amizade que eles dizem ter, por não confiar plenamente neles. Sente vontade de dizer ‘obrigado’ a Serena pelo apoio no teste, mas decide continuar inerte a dupla, mesmo que insistem em falar com ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reino da Magia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.