Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 15
Corre, Gente! Corre!




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          Aos gritos, Nicolas e Lucius atravessam o corredor apavorados, descem as escadas aos pulos, esbarrando nas paredes da torre, tropeçando nas próprias pernas. Mas não havia tempo para parar, a fera se aproxima e o eco de seu rosnar dava a impressão de que a qualquer momento iria abocanhar o pescoço de quem ficasse para trás. Mal eles caiam no chão e já se levantavam, escorando nas paredes ou no que estivesse mais perto. Rompem o corredor do terceiro andar aos berros, com a fera logo atrás. Nicolas agarra as roupas de Lucius e o empurra para seguirem pela Sala de Exposição, com a intenção de despistar o animal nos corredores. Mas a força excessiva faz com que o garoto escorregue pelo tapete, deslizando pelo chão feito uma bola de boliche até se esborrachar em algumas armaduras. Enquanto Lucius procura se levantar rapidamente, Nicolas aproveita e agarra cada pedaço das armaduras espalhadas pelo chão. A cada grito que ele soltava era um pedaço de armadura que voava contra o lobo. Já de pé, é a vez de Lucius agarrar a camisa do amigo e puxá-lo para continuarem correndo. E assim eles seguem por cada corredor que entram, escorregando nos tapetes, desmembrando armaduras, derrubando quadros...

****

       Na Sala de Aptidão, Serena procura pelos dois e não os encontrando, percebe que Nicolas colocou em prática o seu plano. Logo na entrada da sala há um tapete verde bem comprido cheio de detalhes florais em branco que ia desde a entrada e seguia por um amplo corredor até uma mesa redonda de madeira próxima das janelas ao fundo. Bancos enfileirados estavam postos a cada lado do corredor e próximo das paredes do lado esquerdo há mesas retangulares com vários objetos, muitos eram armas. As professoras orientam as crianças a sentarem nos bancos. Serena nota que Victoria olhava para cada fileira que se formava. “Com certeza deve está atrás de Nicolas. E agora, para onde eles foram?”. Sem perda de tempo, a menina empurra Gabrielle e seus irmãos para um dos bancos ao fundo dizendo para se sentarem e ficarem quietos. Eles a obedecem. Após todos se acomodarem, Victoria se dirige à entrada da sala e se aproxima de Serena.

—Onde estão seus amigos? - pergunta a diretora, sem rodeios.

—O quê? Meus amigos? - Serena estica o pescoço e olha ao redor fingindo estar procurando-os com os olhos. - Devem estar por aqui, não?

—Eu olhei cada banco dessa sala, eles não estão aqui. Faz ideia para onde eles foram, menina?

             A diretora faz uma expressão séria, o que deixa Serena nervosa. A conversa chama a atenção dos outros.

—Eu sabia! Aquele pivete não passa de um pobre coitado. Deve está procurando alguma coisa para roubar. Pobre infeliz! - diz Ricardo sentado em um dos bancos da primeira fileira.

—Que bom que essa gentinha esquisita vai embora. - comenta Margot, tendo sua opinião apoiada pelas garotas ao seu lado.

—É Sidney! Parece que sua garota vai se dar mal. - diz Allison, não recebendo resposta de Sidney, que apenas olhava preocupado para Serena.

—Acho que eles nem deviam ter entrado no castelo. - diz Clara.

—Concordo! - apoia Munique.

—E então, menina! Não vai me dizer nada? - insiste a diretora - Não adianta tentar mentir para mim. Caso ainda não saiba, tenho meios muito eficazes de descobrir a verdade.

          Serena tenta dizer alguma coisa, mas as palavras não saiam. Ela suava e suas mãos estavam trêmulas. Olha para Gabrielle, que nem a encara, dando a entender que ela deveria sair desse interrogatório sozinha. Depois de um breve silêncio, a diretora continua com as perguntas.

—Qual é o seu nome?

—É Serena, Senhora.

—Serena! Bom, espero que seja verdade. Serena de quê?

—Serena Fitcher... Senhora!

           A expressão no rosto de Victoria muda aos poucos. De inquisidora decidida, ávida em busca da verdade, passa para ré acusada de um crime que não cometeu. Serena se assusta com aquela face e a expressão de espanto que aparece no rosto de todos, exceto nos de Gabrielle e seus irmãos. Victoria chega a dar um passo para trás.

—Não pode ser... FITCHER!

          Ao ouvir esse nome, as crianças soltam um sonoro e prolongado ‘oh’ e começam os comentários. Serena não tem mais dúvidas. Não apenas Victoria, mas parece que a maioria dos presentes sabe ou sabiam da existência de sua mãe e que ela teve uma filha que agora está ali, ao lado deles. Victoria não para de admirá-la.

—Fitcher... Serena Fitcher! Inacreditável! Mas... Olhando bem, tem os traços. Sim! Sim! A fisionomia... Como se parecem! Então quer dizer que... Você é parenta de Dagmar!

—Quem? - pergunta a menina, confusa - Minha mãe não se chamava Dagmar.

—Eu sabia! Ela é parenta de Dagmar Fitcher. - diz Sidney, se levantando e apontando o indicador direito para Serena.

          Novamente os olhares se voltam para a menina. Serena está tão nervosa que sentia vontade de chorar, mas não conseguia. De repente o silêncio é quebrado por um barulho ensurdecedor que vinha do corredor e chega até a entrada da sala. Nicolas e Lucius entram aos berros no recinto.

—AAHHH... CORRE, GENTE! CORRE! CORRE! Tem um lobo atrás da gente, ele vai matar todo mundo! FUJAM - grita Nicolas após atravessar o tapete verde e subir em cima da mesa redonda tão rápido que até parecia que tinha voado até ela. Victoria mal teve tempo de reagir. Flora e Hilda se afastam da mesa com o susto.

—Mas o que é isso? - pergunta Victoria. Lucius chama sua atenção.

—É verdade! Tem um lobo enorme atrás da gente. - diz Lucius, encostado em uma das mesas retangulares nas laterais, com uma lança nas mãos, tremendo tanto quanto Nicolas.

          A diretora faz menção de falar alguma coisa quando de repente ela se cala, olhando para a entrada da Sala de Aptidão e vendo a criatura mencionada pelos garotos. Algumas crianças se espantam, mas a professora estende os braços fazendo sinal para que não se mexessem. Nicolas não a obedece e vai para debaixo da mesa. A criatura se aproxima lentamente até parar, olhando para Victoria, que a encara.

—Francamente, Mark! Essa não é a aparição digna de um professor. - diz Victoria, levando as mãos à cintura. - E isso são horas? Onde o senhor estava?

—VIXE! Ela tá falando com o bicho. - diz Nicolas, assistindo a cena, agarrado a um pé da mesa.

          A criatura abaixa a cabeça como se a compreendesse. De repente ele começa a contorcer o tronco. A parte dianteira se ergue e ele fica apoiado sobre as patas traseiras. Sua postura parece mais ameaçadora. Mas aos poucos ela vai tomando formas mais humanas. Os pelos se retraem como se voltassem para dentro do corpo, assim como as orelhas, garras, cauda, focinho e as presas afiadas. Ele se transforma em um homem, de pele clara, corpo jovial, com cabelo e olhos castanhos... E que está nu. Os homens se acanham e as mulheres imediatamente cobrem os olhos.

—E essa aparição é menos digna ainda, Mark! Por favor...

—VIXE! O bicho virou um homem. - diz Nicolas, ainda debaixo da mesa.

—Er... Desculpe-me, Vick! - diz o sujeito, que abrindo os braços, faz um rápido movimento giratório com as mãos. Num piscar de olhos, seu corpo já estava coberto. - Peço desculpa a todos! Meu nome é Mark Ulric, tenho 28 anos e sou professor dessa honrada entidade de ensino há... Quanto tempo, Vick? Vinte anos, se não me engano. E como puderam ver, sou um licantrope. 

          Aos poucos as crianças voltam a olhar para aquela figura masculina que veste um traje totalmente diferente daqueles usados até mesmo pela aristocracia da época, mas se mostra muito elegante. Com sapatos pretos que pareciam botas, pois tinham as pontas quadradas e apesar da cor brilham como se estivessem molhados; a calça era bege e reta e descia até tocar nos sapatos; por baixo de um colete da mesma cor das calças, mas com botões grandes de um azul escuro, havia uma camisa branca de mangas compridas cujas bordas saiam das mangas de um casaco bege; o casaco se assemelha a um fraque, com detalhes em azul escuro com abas compridas na parte de trás e gola alta; e ao redor de seu pescoço um lenço branco, bordado, como se fosse uma gravata. Ele caminha em direção à professora Victoria. Apesar do som saindo de seu estranho calçado ao tocar o piso, seu andar é alinhado e harmonioso, mostrando se tratar de uma pessoa ligada à corte ou que conhece os modos da alta sociedade.

—Uau! É um traje de feiticeiro. - comenta David, assim como os outros admirando as vestes do professor.

       Ao passar pelas crianças, elas ficam maravilhadas com aquela figura. É como se a primeira aparição desastrosa do professor fosse apagada de suas mentes. Até Nicolas sai debaixo da mesa e Lucius discretamente repõem a lança em seu lugar de origem. Bertha olha para Mark boquiaberta, encantada ao vê-lo passar à sua frente. É a única criança que Mark olha diretamente nos olhos enquanto caminha até Victoria. Aqueles olhos pareciam hipnotizá-la e quando se distanciam era como se ela não quisesse perdê-los de vista. Ricardo chega a sentir uma ponta de inveja ao perder a atenção das meninas que antes o cortejava. Serena olha para Lucius, fazendo sinal para que ele aproveite o momento e sente-se ao seu lado. Mas antes que pudesse tomar essa iniciativa, o professor diz o que o trouxe até ali.

—Eu estava no meu passeio matinal e acabei perdendo a hora. Sinto muito Victoria, crianças, por não ter ido recebê-las junto com as outras professoras! Mas meu atraso foi oportuno já que...

—O que foi Mark? Aliás, que barulheira era aquela antes de você chegar?

—Justamente o que irei lhe dizer, minha querida! Estava eu passando pelo quarto andar indo em direção ao Salão Principal, pois não vi ninguém do lado de fora e deduzi que já estivessem dentro do castelo, quando me deparei com duas crianças bisbilhotando pelo corredor do refeitório: aquele garoto ali no canto e seu amigo.

          Mark aponta primeiro para Lucius e depois para Nicolas. Lucius fica imóvel, sem reação. Victoria olha para ele e depois se vira para Nicolas, fazendo uma expressão séria. Todos também olham para Nicolas.

—Que foi? Nunca viram um garoto não? - diz Nicolas.

—Você... Eu já esperava por isso. - diz Victoria, que junto com Mark vão até o garoto. É como se ela adivinhasse que Nicolas aprontaria alguma. - O que você estava fazendo no quarto andar?

—Eu? Nada! É que eu nunca fui num castelo antes e queria saber como é.

—Ele está mentindo! Posso sentir isso. - diz Mark.

—Olha Dona! Segura seu cachorro aí para ele não me morder. - rebate Nicolas, se afastando um passo deles.

—O que?

—Não dê atenção, Mark, é o jeito dele! Vamos ver se ele vai continuar agindo assim depois do teste de aptidão. Vá garoto! Sente-se com seus amigos e espere ser chamado.

—Ser chamado pra quê? Que lugar é esse? Que tipo de gente são vocês? Eu achava que isso aqui fosse uma escola...

—Mas é uma escola. - responde Victoria. - Escola para aprendiz...

—Aprendiz? Aprendiz de quê? - interrompe o confuso garoto.

           A professora dá um passo à frente e se aproxima dele.

—Aprendiz de feiticeiro.


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