Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 1
Nicolas!


Notas iniciais do capítulo

Conhecemos o personagem principal e o lugar onde vive. Devido ao tempo cronológico da história, tive que adaptar os diálogos.



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Mesmo após sete anos desde o acontecimento no Condado de Warwick, o assunto ainda é bastante comentado. Isso porque não foi um caso isolado. O Auto de fé se tornou uma prática rotineira na vida da população europeia. Outro fato também muito comentado foram os incêndios em orfanatos, o último ocorrido no orfanato de Folkland, no Condado de Wilt. E várias coisas inexplicáveis que, assim como as anteriores, foram atribuídas aos inimigos do rei, visando à guerra e a desestabilização da monarquia.

No Reino da Inglaterra, nos arredores do vilarejo de Liuternan localizado no Condado de Wilt, existe uma taverna bastante conhecida. É um estabelecimento que só é permitido funcionar afastado do vilarejo, conforme ordens do xerife local. Na verdade, se dependesse da população puritana, a taverna não existiria, já que degrada a imagem do vilarejo. Por outro lado, ela existe para evitar que os homens - tanto os de fora quanto os locais - atentem contra a pureza das mulheres do próprio vilarejo. Essa taverna está muito movimentada essa noite. Uma das mulheres da casa deixa seus afazeres e sobe as escadas para o andar superior onde ficam os quartos. Ela chega ao último quarto do corredor. Rose é uma mulher que aparenta ter menos de trinta anos - as maquiagens que as mulheres usam sempre as deixam mais jovens – e com um belo corpo que sempre chamou a atenção de Arthur Weston, proprietário da taverna. Todos sabem que existe algo entre os dois e torcem para que um dia eles acabem se entendendo. Nicolas, filho adotivo de Arthur, é o principal incentivador dessa ideia e já a considera como mãe. Ela faz menção de bater na porta, mas antes, ouve a voz do garoto. “Ele está falando sozinho de novo, esse menino...” - pensa a mulher, batendo na porta.

—Nicolas! Nicolas sou eu! Estou entrando, hein... - ela abre a porta e vê o pequeno Nicolas sentado na cama, de costas. Ele vira o rosto para ela. - Nicolas, Wendel está aí e perguntou por você! Ele já bebeu bastante e disse que tem muita estória pra contar. Sabe como é, né! Quando ele enche a cara, solta a língua. Ah!Ah! E eu sei que você gosta de ouvir as estórias dele, não é? Então, desça! Não tem problema. Hoje não tem ninguém do Xerife Washington na taverna. O seu pai disse que você pode descer. Tá bem?

O garoto ruivo de treze anos e de pele clara sorri e acena afirmativamente com a cabeça. Ela retribui o sorriso, fecha a porta e sai. Chegando ao final do corredor, surpreendentemente ela dá de cara com Nicolas, que parecia estar indo para o próprio quarto. Rose fica pasma, sem saber o que dizer. Eles cruzam olhares por um instante. Ele quebra o silêncio.

—Er... Oi, Rose! Noite corrida hoje, hein? Pode ficar tranquila que eu só fui ao banheiro e já tô voltando pro quarto. - ele estranha o jeito de olhar dela - O que é que foi, mulher! Tá tudo bem?

—Mas, mas eu ti vi agorinha mesmo no quarto... Onde, onde você estava mesmo?

—Bem... Eu fui ao banheiro daqui de cima, já que quando a taverna tá funcionando não posso usar o de baixo... - Eles ficam se olhando e um novo momento de silêncio se faz. - Tá tudo bem mesmo, Rose?

—Sim, tá... O que é que eu vim fazer aqui mesmo...

—O que?

—O que você disse?

—Não... Quero dizer... Você veio falar comigo?

—Ah, sim... Wendel está lá embaixo e você pode descer... Se quiser.

—VIXE! Aquele véi doido tá aí é? Véi Zuza é um barato. Eu já vou descer, eu só vou... - Nicolas muda o tom alegre da voz e fica mais sério, algo lhe chamou a atenção – vou aqui ao meu quarto e já desço, tá bom?

—Tá!

Ambos caminham devagar, em direções opostas, e de repente se viram novamente olhando um para o outro. Nicolas sorri e quando ela se vira ele rapidamente entra no quarto fechando a porta.

—Droga Lucas! Seu cabeça oca, ela te viu. Como isso pôde acontecer?

—Eu sou parte de você, então a única cabeça oca aqui é a sua, oras! – responde o garoto idêntico a Nicolas, até nas vestes. Porém, parecia que cada um tinha opinião própria.

—Mas você é MEU amigo imaginário, só EU posso te ver. Como ela conseguiu te ver?

—E eu é que sei?Você que faz essas coisas devia aprender a se controlar.

—O que ela disse? O que você disse pra ela?

—Calma, maninho! Eu não disse nada. Aquela mulher também entrou de qualquer jeito, parecia uma retardada.

—Não fale assim dela senão eu chuto seu traseiro. O que ela disse?

—Ela falou um monte de coisa aí, eu só fiz cara de paisagem. O que você queria que eu dissesse: “Oi, eu não sou o Nicolas, só pareço com ele fisicamente. Apesar de que eu sou o mais bonito, é claro!”.

—Você podia ter se escondido debaixo da cama, no armário... Você podia ter pensado em alguma coisa. Afinal VOCÊ é parte de mim e eu não sou tão burro assim.

Lucas vai ao encontro de Nicolas. Fica frente a frente com ele, levanta a mão esquerda e aponta o dedo indicador para a cabeça do garoto.

—O único que pensa aqui é você. Então é melhor pensar numa solução porque isso aqui tá ficando sério. As perguntas virão e vão precisar de respostas. O que é que você quer que eu faça?

Nicolas coloca uma das mãos no ombro de Lucas e lhe responde:

—Desapareça!

Lá embaixo, Rose se aproxima do balcão para conversar com Arthur, que enxuga copos.

—O que é Rose, falou com o Nick?

—Ele continua falando sozinho, Arthur. E aquelas coisas estranhas... Continuam acontecendo.

—Vou lá falar com ele. - diz o homem encorpado de cabelos negros, mas com um olhar dócil e gentil.

—Arthur, não...

—Tudo bem, Amor! Eu sei como lhe dar com ele.

          Ele pisca um dos olhos para ela e vai até o quarto do garoto. Depois de bater na porta ele entra e vê Nicolas parado, com um olhar assustado, encarando-o.

—Filho! A Rose me contou...

—Contou o que? - Nicolas parecia receoso com a resposta.

—Ela contou... Filho! Esse negócio de você ficar falando sozinho, as pessoas acham isso estranho. Não que a Rose vá prejudicá-lo, isso nunca...

—Pai! Todo mundo às vezes fala sozinho. O que é que tem isso demais?

—O problema é o ‘demais’.

—O que?

—O problema é que, esse negócio de amigo imaginário, que é o que eu acho que esteja acontecendo... Não é?

—Hum? Ah, sim, amigo imaginário...

—Pois é! Filho! Você já tem treze anos, deve parar com esse negócio e arrumar amigos de verdade.

Nicolas abaixa a cabeça. Seu pai percebe que tocou sem querer numa ferida que incomoda a ambos. O garoto é discriminado pelas crianças e pelos adultos do vilarejo. As pessoas não o enxergam como ele é e sim o lugar onde mora e as pessoas com quem convive. Desde pequeno não o deixam brincar com os outros de sua idade por medo de que possa influenciá-los negativamente. O que se esperar de alguém que mora numa taverna, lugar de perdição? Isso gerou nele um ressentimento que influenciou sua maneira de ser, sua educação e seu modo agressivo quando é importunado pelos outros. Nicolas passou a ser uma pessoa imprópria para o convívio social. Pai e filho se abraçam.

—Eu entendo, filho! Você quase não tem amigos.

—Na verdade, eu sou meu melhor amigo. Eh! - ele sorri, sem graça. Seu pai coloca a mão em seu ombro.

—Se você tem muito pra falar, lá embaixo tem muita gente querendo ouvir.

—Mas, e o Xerife?

—Deixa comigo! Se ele vier com bronca, conto algumas coisas pra mulher dele.

—Ih! Vai ser uma confusão danada!

Eles riem e saem do quarto. Abraçados, caminham pelo corredor.

—Se eu vou ficar lá com o pessoal, não acha que eu deveria tomar um pouquinho de cerveja? Sabe como é, só para acompanhar a galera...

—E depois você não quer que eu tenha bronca com o Xerife, né? Nada de cerveja.

—Que é isso, pai, só um bocadinho. 

—Não! E não quero nem pensar se eu pegar uma das meninas ti dando cerveja.

—Dois dedinhos, uma gotinha...

—Não! Pra você só suco de uva.

—Ah, vinho!

—Nicolas...

—Tá bom! Tá bom! Tô de brincadeira, eh!


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Notas finais do capítulo

Na verdade o primeiro capítulo seria a estória de Serena, mas como Nicolas é o personagem principal achei mais coerente iniciar a história com ele. E seus problemas estão apenas começando.



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