Black: Conhecendo a Escuridão escrita por Heitor Magno


Capítulo 5
Revelação Parte 2 - O Gênesis




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Assustado, Magno acorda num sobressalto e senta-se. Seu rosto entenebrecido pelo susto que tomara, crendo ter vivenciado aquele sonho, seus olhos fundos e cheios de olheiras revelavam a péssima noite que passara naquele lugar. Ainda assustado, Magno olha ao redor, buscando respostas, algo em que pudesse se amparar.

Ele ainda se encontrava naquele lugar. Os objetos que havia visto continuavam em seus lugares. Tudo como em seu sonho, exceto pelo rapaz que não mais estava ali no chão onde havia desmaiado, nem mesmo suas roupas estavam ensanguentadas.

Apressou-se a se levantar e a procurar o rapaz do seu sonho. “Seria possível tudo aquilo ter acontecido?” Pensou ele, totalmente cético. Procurou em todas as partes daquele porão e nada encontrara. “Só pode ter sido um sonho”.

Do jeito que estava, Magno procurou a saída daquele lugar e fora surpreendido ao perceber que não havia conseguido encontrar uma porta sequer. Olhou em todos os cantos daquele local, mas nada, nenhuma fresta sequer que pudesse lhe indicar uma passagem para sair dali.

Enquanto ainda procurava uma saída, ouviu um leve ruído, algo como uma porta a se abrir, leve e vagarosamente. Escutou passos dados, aparentemente, com saltos femininos que desciam uma escada. Essa escada parecia ir em direção ao local em que se encontrava.

Eufórico, o primeiro pensamento que lhe veio à mente foi esconder, mas onde se esconder? Muito provavelmente quem estaria por vir naquela sala seria a mesma pessoa que o prendera e saberia muito bem que ele ainda estaria lá e não teria conseguido fugir.

Receoso, Magno não sabia o que fazer. Continuava preocupado com o sonho que tivera, sobre o que viria a acontecer e temeroso pela sua vida e pela vida de Rikimaru.

Enquanto estava estático, pensando no que fazer, aqueles passos se aproximavam cada vez mais. Magno buscava elaborar um raciocínio lógico e aceitável a tudo aquilo que estava vivendo nestes últimos dias, contudo, quando mais pensava, mais assustado ficava.

Sem que percebesse, aqueles passos que se aproximavam, pararam de andar. Magno pode perceber que eles vinham detrás de uma parede que se encontrava a sua frente. Logo após pararem, ele ouviu um leve ruído e a parede que ora estava a sua frente fora deslizando lentamente para cima. Ao chegar ao seu fim, esta parede revelou a Magno quem estava por detrás dela.

Era Lorraine, a jovem moça por quem ele havia se interessado na noite anterior e que também o havia envenenado. Muito possivelmente quem também o teria prendido naquele lugar.

Ao vê-la, Magno sentiu um misto de raiva e curiosidade. A ira lhe veio por tudo que havia passado até aquele momento, o medo, o pavor de perder a vida, por se encontrar preso num lugar desconhecido e sem seus amigos. Por outro lado, a curiosidade não lhe saía da cabeça. Por que aquela mulher que ele mal conhece quis prendê-lo? O que ela ganharia com isso? Onde estaria Rikimaru nesta hora? O que será que aconteceu com aquele homem? Aquilo teria sido um sonho ou realmente aconteceu? Enquanto Magno se perdia em seus questionamentos, Lorraine decidiu começar a conversa.

— Bom dia, dorminhoco! – disse ela, com aquele lindo sorriso que o havia cativado na véspera.

— ... – ainda paralisado por aquele momento, Magno não soube o que responder. Calado, apenas olhava para Lorraine, apreciava sua beleza ao mesmo tempo que continuava perplexo após o ocorrido.

— Sei que deve estar sendo difícil para você, mas em breve terá as respostas que tanto deseja.

— O que estou fazendo aqui?

— Relaxe, como eu disse, em breve terá suas respostas. Por ora, siga-me, quero que veja algo.

Ao dizer isto, Lorraine virou as costas e começou a subir as escadas que estavam na sua retaguarda. Magno, ansioso para saber o que estava havendo, a seguiu sem questionar.

            Enquanto Magno subia, logo atrás de Lorraine, continuava a pensar no motivo pelo qual estariam naquele lugar, porque aquelas mulheres quiseram prendê-lo e principalmente porque não fizeram nada contra eles. Continuavam a subir aquela escada que aparentemente pertencia ao porão daquela antiga e bela casa.

            Ele estava tão preocupado pensando nestas coisas que nem ao menos conseguiu reparar nas belas pernas de Lorraine que estavam logo a sua frente. Assim como na noite anterior, ela continuava belíssima, sensual, totalmente deslumbrante, mas nem mesmo isso conseguiu tirar da cabeça de Magno os seus questionamentos.

            Enquanto subia, podia ouvir as vozes de algumas pessoas que estavam a conversar no cômodo logo acima. Ele podia jurar que conhecia a voz de uma daquelas pessoas que lá estavam a conversar, de maneira amistosa, sadia, sem preocupações. Isso aguçou ainda mais sua curiosidade. Por que o prenderam se não tinham a intenção de lhe fazer mal? Por que teve de ficar trancafiado naquele porão sozinho, sem meios de sair? As respostas para estas perguntas aparentemente estavam por vir.

            Ao terminarem de subir as escadas, depararam-se com uma porta. Atrás dela havia aquela bela sala de outrora, com os seus belos e bem dispostos móveis. Bem limpa, organizada e cheirosa. Naqueles mesmos sofás que ora estavam sentados, estavam Stella, Rikimaru e um outro senhor que não tinha a menor ideia de quem fosse.

            - Bom dia! – disse Stella, com um ar simpático – como passou as noites?

            - Como assim, noites? – perguntou Magno, ainda mais perplexo – não foi apenas uma única noite?

            - Está mais para uma semana. Lorraine ainda não te contou nada?

            - Contou o quê? O que está acontecendo? Vocês podem ser mais claros, por favor?

            - Calma Magno, você está muito estressado. Eles já vão te contar tudo, você vai se amarrar! – disse Rikimaru, muito contente, pois aparentemente já sabia do que se tratava. – eu mesmo, quando soube, me amarrei. É o maior barato!

            - Sente-se meu rapaz, temos muito a conversar. – disse aquele senhor a Magno.

            - Quem é você? Por que estamos aqui? O que quer de nós?

            - Uma coisa de cada vez, está muito nervoso e ansioso. Isso não te fará muito bem.

            - Ficar trancado dentro de um porão por uma semana realmente não me fez muito bem. Faria para você?

            - Tivemos que fazer isso, tivemos nossos motivos. Se nos permitir explicar saberá.

            - Sou todo ouvidos... – disse Magno enquanto sentava-se no sofá ansioso. – então, por que estamos aqui, senhor...?

            - Meu nome Joseph. Esta casa em que nós estamos é minha. Vocês estão aqui porque pedi a elas que os trouxessem aqui.

            - E por que nos quer aqui?

            - Pois precisamos de vocês.

            - Para fazer o quê?

            - Para acabar com uma guerra!

            - ... – por um instante Magno se cala e logo em seguida ri freneticamente - ... como é que é? Vocês só podem estar brincando comigo. Quem começou com esta palhaçada toda? Rikimaru você que quis aprontar mais uma para mim, né?

            - Ele não está brincando Magno, é muito sério! Pensei da mesma forma quando me contaram, mas ele realmente está falando a verdade.

            - Eu sei que isso é muito estranho, mas não mais do que o que vou te falar agora...

            - O quê? Vai me dizer que vim de outro planeta, que tenho superpoderes e que vou ter que usar uma cueca em cima da calça?

            - Hilário, mesmo estando ansioso para saber a resposta ainda consegue brincar.

            - Me desculpe, mas não dá para acreditar no que anda acontecendo comigo ultimamente. Primeiro sonho com vampiros, depois sou sugado por um livro, depois sou sequestrado e drogado por duas mulheres incrivelmente gostosas e agora vem um velho me dizer que vou parar uma guerra. Vocês só podem estar de brincadeira.

            - Obrigado pelo elogio! – disse Stella, enquanto Lorraine aparentemente fica envergonhada.

            - Se me deixar explicar, tenho resposta para todas estas perguntas.

            - Por favor, comece...

            - Você é um vampiro!

            - ... – Magno, mais uma vez se cala e começa a rir – Assim não dá. Quando é que vocês começarão a falar sério? Posso ir embora? Tenho muita coisa a fazer. Não estou com saco para ficar ouvindo estas besteiras.

            - Se quiser morrer, fique à vontade, mas se quiser viver nunca mais poderá sair ao sol.

            - Vocês gostam mesmo de gozar com cara dos outros. Até mais. Você vem comigo Rikimaru? – enquanto dizia isto, caminha em direção a porta e leva sua mão até a maçaneta...

            - Não faça isso Magno... – disse Rikimaru enquanto Magno já girava a maçaneta. Ao abrir a porta, os primeiros raios solares atingiram sua mão que estava na maçaneta. Do mesmo modo que uma criança tira o dedo da tomada ao sentir o choque que vem dela, foi a reação de Magno ao retirar sua mão da maçaneta.

            A dor que Magno pode sentir naquele momento fora horrível, foi como a dor de ver a sua vida se esvair. Pior que o ácido em contato com a pele foi a sensação que ele sentiu.

A sua mão que já não mais estava na maçaneta, em contato com o sol, continuava a doer, queimar, ardia e parecia que não iria conseguir conter aquela dor. Ele olhava para sua mão, abismado com o que sentia e também com o que via.

Suas mãos estavam esfumaçadas, partes pretas pelas queimaduras, outras em carne viva, pelo simples contato com o sol. Isso o deixou ainda mais chocado. Ficou estático a frente da porta, sem saber o que fazer. Eles estavam falando a verdade?

            - Agora acredita em mim?

            - Eu disse para você não fazer isso, você realmente é muito teimoso. Quer morrer?

            - O que você quer que eu responda? Vai dizer que você acreditou desde o início?

            - Claro que ... – não! – respondeu Stella, interrompendo Rikimaru – foi pior do que você. Ele sim quase morreu. Já estava dando um pulo para fora, se não fosse nosso lacaio empurrá-lo para dentro estaria morto nesta hora.

            - Assim você queima meu filme Amorzinho.

            - Stella para você. Até parece! Amorzinho?

            - Como isso tudo pode ter acontecido conosco. Não consigo acreditar no que está acontecendo.

            - Sente-se. Te contarei a história desde o início.

            - O que vai acontecer com a minha mão?

            - Fique tranquilo, daqui a algum tempo ela estará melhor, não foi muito sério, poderia ter sido bem pior.

            - Um tempo quanto?

            - Se soubesse se curar em alguns minutos, como não sabe o seu corpo se recuperará sozinho. Isso levará algum tempo, mas em breve aprenderá a se curar.

            - Que legal, estes estão sendo os piores dias da minha vida.

            - Então, posso contar o que está acontecendo com vocês ou vai continuar lamuriando?

            - Ok, vamos lá.

— Já ouviu falar da história da criação do mundo?

— Que os homens vieram do macaco? Já.

— Não esta versão. A versão do criacionismo bíblico?

— Adão e Eva? Quem nunca ouviu?

— Exatamente daí que tudo começou.

— Eu estou falando que vocês gostam de brincar, como pode ter alguma coisa a ver, os vampiros com a criação do mundo criada pela igreja? Como querem que eu acredite nisto?

— Mas foi exatamente o que houve, agora cale-se e deixe-me terminar a história.

— ...

— Adão e Eva viviam no jardim do Éden, criado por Deus, e lá viviam a vontade. Tinham todas as suas necessidades supridas e podiam desfrutar de tudo o que lá existia. Porém, ao ouvirem a voz da serpente, o diabo, foram retirados do Éden. Com o passar dos anos tiveram dois filhos, Caim, o mais velho, e Abel, o mais novo.

Em determinado momento de suas vidas, quando já eram moços, vieram a oferecer sacrifícios a Deus, contudo, Deus não se agradou da oferta de Caim e não a recebeu, mas recebeu a de Abel.

Caim, irado, sem pensar, matou seu próprio irmão e foi banido por Deus, a vagar errante e sozinho por toda a terra. Entretanto, não somente foi condenado a viver solitário, mas também lhe foi imposta uma marca, a qual todos aqueles que a vissem, saberiam que este era Caim, filho de Adão e Eva, o primeiro assassino de toda a face da terra.

Esta marca, que poucos sabem o seu verdadeiro significado, lhe permitiria viver sem que alguém o pudesse matar, todavia o fez depender do sangue alheio dos seus próprios irmãos pelo resto de sua vida. Com isso, viveria eternamente com o peso em sua consciência de ter matado o seu próprio irmão.

Pelo que a história nos conta, através da própria bíblia cristã, Caim habitou na terra de Node e lá constituiu a sua própria família. Porém, nela aparece apenas o nome do seu primogênito, Enoque, contudo Caim teve outros dois filhos, Acaz e Radamés.

Assim como o pai, seus três filhos nasceram com a mesma necessidade de viver as custas dos sangues de outros, mas, ao contrário do pai, estes não puderam e nem ao menos quiseram controlar-se, propagando o terror e assolando cidades e terras vizinhas.

O desejo pelo sangue tomou suas mentes e viveram durante décadas matando e sugando todos aqueles os quais aparecessem em sua frente. Contudo, Radamés, o mais novo, apaixonou-se por uma mulher, Semíramis, e esta fez com que o seu desejo doentio por sangue viesse a se esvair.

Radamés tentou, a todo o custo, convencer os seus irmãos para que parassem de assolar a terra e todas aquelas pessoas, entretanto as coisas não saíram como planejado. Acaz, irou-se com Radamés e matou a Semíramis, deixando seu irmão furioso.

Os dois se digladiaram, mas não houve vencedor. Deus, cansado de toda aquela matança, fez com que os três filhos de Caim viessem a adormecer, permitindo que, talvez um dia, pudessem voltar a vida e reparar todo o mal que fizeram no passado.

Desde esta época, tanto Caim quanto seus três filhos, não foram mais vistos e o que restou foi apenas a esperança de que estes voltassem a vida e pudessem reparar os seus erros.

— Mas de quais erros está falando? Não há como voltar atrás e fazer com que as pessoas que eles mataram voltem a vida! Isso é impossível.

— Exatamente, mas não foi apenas isso que fizeram. Eles descobriram uma maneira de transmitir aos outros aquilo que fora transmitido a eles, através do sangue do seu pai Caim. Desta forma, eles começaram a criar outros como eles que praticavam as mesmas atrocidades, alguns ainda piores. Estes foram criados antes do dilúvio causado por Deus na época de Noé, eles são os cabeças de cada clã.

Estes, por sua vez, criaram seus clãs, grupo de vampiros de uma mesma linhagem e lutavam entre si, em busca de poder e domínio.

Houve neste período, uma grande guerra velada, para alguns, clara para outros. Dizem, inclusive que um dos motivos que inclinou Deus a dizimar Sodoma e Gomorra foi a guerra entre eles. Muitos naquele período vieram a morrer.

Com a decadência do homem e a eterna briga entre os filhos de Caim, Deus decidiu mandar o dilúvio e acabar de vez com esta guerra entre os seres viventes. Contudo, muitos deles, filhos de Caim, sobreviveram e continuaram a se proliferar, trazendo-nos até aos dias de hoje, conhecidos atualmente como vampiros, para os leigos, para nós, como filhos de Caim.

— Mas se vocês existem a tanto tempo, por que até hoje não há provas de sua existência, apenas histórias infantis para assustar os desavisados?

— Como disse anteriormente, após o dilúvio, muitos dos cainitas, filhos de Caim, vieram a adormecer, dentre eles muitos dos cabeças de cada clã, com isso não havia mais ordem na guerra declarada por eles anteriormente.

Desta forma cada um fez o que queria fazer, sem se importar com ordens diretas, apenas vivendo por viver. Enquanto outros quiseram continuar com o banho de sangue que já praticavam anteriormente.

Deus, como já havia planejado a extinção de toda a raça vampírica antes do dilúvio, através da vida de Caim e de seus três filhos, preferiu não acabar com eles, da mesma forma que com a raça humana e com o diabo. Desta forma, assim como haverá um apocalipse para os seres humanos, haverá também para nós, vampiros, o nosso próprio apocalipse.

Para não nos exterminar de vez, Deus fez cair sobre nós uma maldição, a qual acabou de provar. Para que não viéssemos a dizimar toda a raça humana, Deus fez com que fôssemos proibidos de andarmos durante o dia, sobre pena de morte. Por este motivo fomos impedidos de andar durante o dia.

Assim, apenas as três primeiras gerações tiveram o privilégio de poder andar sobre o sol e não perecer, Caim, seus três primeiros filhos e os chefes de cada clã, posteriormente a eles, todos nós temos esta maldição sobre as nossas não-vidas.

— Mas isto ainda não explica por que as pessoas não tem notícias sobre a existência de vocês.

— Claro, continuando, mesmo saindo a noite, muitos ainda conseguiam exercer o seu poder de domínio e de terror sobre os humanos. Muitos deles acreditaram ser melhores do que os humanos e acreditavam que deveriam tomar o controle do mundo existente naquele período.

Para tanto, deixaram que os seres humanos tivessem conhecimento da sua existência. Contudo, este plano saiu pela culatra, pois quando os homens tomaram conhecimento dela, buscaram unir-se para acabar com toda a raça vampírica. Como os vampiros nesta época não estavam unidos, fora fácil para os homens nos destruírem.

Esta perseguição teve o seu auge no século XV, com a inquisição da igreja católica e dos reinos existentes como a França, Inglaterra e Espanha.

Com o pretexto de defender a fé cristã, os homens se reuniram para tentar dizimar todo aquele que não professasse a sua fé na igreja e por este motivo deveriam ser sacrificados pelos seus pecados.

Neste período, inclusive, que descobriram uma das únicas maneiras de nos matarem, que é através do fogo ou da decapitação.

— Quer dizer que uma lança no coração não serve para nada?

— Não, não é bem assim. Quando algum vampiro é atingido em seu coração, por qualquer artefato perfurante, este fica paralisado, imobilizado, mas não morto. Apenas as luzes do sol, o fogo e a decapitação podem nos matar, do contrário, quando perdemos todas as nossas forças, apenas entramos em torpor e adormecemos, por um determinado período de tempo, assim como os antediluvianos permanecem até aos dias de hoje.

— Quer dizer que existem muitas vampiros milenares até aos dias atuais?

— Correto.

— É muita viagem para uma conversa só!

— Quer que falemos depois?

— Não, pode continuar, está ficando cada vez mais interessante.

— Este período foi macabro não somente para os seres humanos, mas principalmente para nós. Milhares de vampiros foram massacrados e assassinados através desta caça às bruxas. Muitos, inclusive, que já não mais se importavam em guerrear por poder ou até mesmo sugar seres humanos.

— Ahn, como assim?

— Muitos de nós, neste período já havíamos escolhido uma forma alternativa de não-vida para não ter que sugar os seres humanos. Muitos preferiam sugar apenas o sangue de animais. Contudo, a sede por vingança dos seres humanos, além da recompensa que era dada a todo aquele que descobrisse um de nós fez com que muitos fossem assassinados, até mesmo os inocentes.

— Quer dizer que a lenda do chupa cabra realmente é verdade, mas que na verdade os verdadeiros causadores dela são vocês?

— Acredito que tenhamos contribuído para isso, mas vai muito além de uma simples lenda. Continue ouvindo.

— Está bem!

— Neste período de inquisição, alguns clãs de vampiros perceberam que estavam em desvantagem em relação aos seres humanos que se reuniam e matavam os vampiros. A princípio a ideia que surgira era a de tentar exterminar todos os seres humanos, porém pensaram que seria melhor velar a sua existência do que perpetuar com esta guerra considerada eterna e desnecessária.

Neste período, sete clãs decidiram por um fim a esta guerra, não guerreando, mas escondendo-se de toda a raça humana.

Os Brujah, os Gangrel, os Malkavian, os Nosferatu, os Toreador, os Tremere e os Ventrue fundaram uma seita chamada Camarilla. Esta seita tinha por objetivo velar, esconder a sua verdadeira natureza a fim de acabar com a guerra que já existia a muito tempo e havia acabado com muitos dos seus irmãos.

— Espera um instante, já ouvi falar destes nomes que você acabou de citar.

— Exatamente, foi criado um jogo contando a nossa história, mas poucos sabem que ele realmente conta a nossa verdadeira história. É o jogo que vocês tinham em mãos e o qual os trouxe para cá.

— Que jogo maldito, como eu o odeio!

— Não há nenhum problema com o jogo, o problema está com o que você faz dele.

— Como assim?

— Espere meu rapaz, uma coisa de cada vez, pode ser?

— Claro, por favor, continue!

— Esta seita existe até aos dias de hoje, contudo o seu poder vem enfraquecendo, pois, atualmente, as coisas fugiram ao seu controle, em partes por causa do Sabá, outra seita de vampiros que tem aproximadamente o mesmo tempo de existência.

No momento em que a Camarilla foi fundada, muitos vampiros, os quais não compartilhavam da mesma visão, fundaram esta outra seita, com preceitos e verdades totalmente diferentes da anterior.

Enquanto a Camarilla lutava para camuflar a existência de nós vampiros, o Sabá buscava o controle da situação, pois até hoje acredita que nós vampiros somos superiores ao seres humanos e por este motivo, não devemos temê-los, mas sim controlá-los.

Desde então estas duas seitas tem se confrontado, não somente pelo poder, mas para controlar a sociedade vampírica.

A Camarilla sempre esteve um passo a frente, por diversos motivos. O fato de ter conseguido agregar mais adeptos do que o Sabá contribuiu grandemente por isso. A sua maneira de controlar a situação, colocando-se a frente e acima dos demais lhe permitiu galgar altos lugares, não somente no meio vampírico, mas também em meio aos seres humanos.

— Como assim, não entendi?

— A Camarilla tem muitos representantes em diversos lugares de destaque, como governo, bancos, grandes empresas, artistas de prestígio, entre outros.

— Quer dizer então que vemos vampiros o tempo todo e nem ao menos sabemos quem são?

— Muito provavelmente você conviva com alguns.

— Como assim, como ninguém consegue perceber a diferença e saber que vocês existem?

— Isso nós devemos a Camarilla. Esta briga gerada ainda na época da inquisição fez com que ela criasse uma rede de desinformação chamada À Máscara.

— O que seria isso?

— Através da máscara, todos os vampiros são proibidos de revelar a sua verdadeira natureza, vindo a pagar com a morte caso algo seja descoberto pela sociedade humana.

Daí o termo desinformação. Quando alguém quebra a máscara, a Camarilla envia até o local vampiros e pessoas ligadas a nós para encobrirem o erro cometido por algum vampiro.

— Quer dizer que existem seres humanos que sabem da sua existência, mas que não contam a ninguém sobre isso?

— Sim, mas muitos deles são nossos lacaios, não são nossos amigos, são nossos serviçais.

— Como assim?

— Existe um ritual em que fazemos dos seres humanos nossos servos leais. Através dele, aquele que for alvo do ritual fará de tudo para o seu senhor, inclusive dar a sua vida se for necessário.

— Isso é um monstruoso!

— Isso é necessário, muitas vezes, ainda mais porque não podemos sair pela manhã e ficamos totalmente vulneráveis em nossos esconderijos. Se não os tivéssemos, muito provavelmente morreríamos.

— Ainda assim, a vida deles é tão importante quanto a de vocês!

— Pode até ser, mas nos dias de hoje, todo cuidado é pouco.

— Você fica falando disso o tempo todo, o que anda acontecendo atualmente?

— Já estou chegando nesta parte. Onde estava mesmo... lembrei. O Sabá cresceu muito nos últimos anos, crescendo em poder e também em número.

Cada vez mais os vampiros estão se incomodando com a aparente submissão aos seres humanos. Isso fez com que muitos integrantes da Camarilla viesse a abandoná-la e viessem a fazer parte do Sabá.

Estes antitribu são considerados como escoria pela Camarilla que almeja encontrá-los e aniquilá-los, pois muitos deles sabiam de muitas informações, estas as quais estão contribuindo para o crescimento do Sabá e a decadência da Camarilla.

— Então tudo isso é uma disputa por poder?

— Não somente isso, mas por controle, principalmente. Desta disputa pode ocorrer não somente o nosso fim, mas também o fim da raça humana.

— Como assim?

— A Camarilla luta para deter o poder, como vem fazendo desde o início da criação, contudo, muitos líderes desta seita estão corrompidos e deixaram de seguir aquilo que lutavam no início. Por outro lado, o Sabá busca o controle, não somente do nosso mundo e da nossa sociedade, mas do mundo e da sociedade humana, entendeu?

— E de que lado vocês estão?

— Nem de um lado, nem do outro!

— Como assim, vocês precisam escolher um lado!

— Somos o que se pode chamar de Independentes.

— Por quê?

— Preferimos não compactuar nem com um lado e muito menos com o outro. Não somos a favor do sistema feudal imposto pela Camarilla aos seus afiliados e muito menos com a religião criada pelo Sabá, em que adoram ao nosso pai Caim e vivem pelo prazer de matar.

— Me corrija se eu estiver errado, normalmente, numa guerra, há apenas dois lados, ou estou enganado?

— Muito bem observado, quando tudo vier a tona, teremos que escolher um lado, a não ser que consigamos colocar em prática uma última alternativa.

— Que alternativa seria esta?

— Já irá saber.

— Meu Deus, como consegue enrolar. Por que não responde as minhas perguntas conforme eu as fizer?

— Porque tudo tem um início, um meio e um fim. Não há como chegar ao fim sem passar pelos anteriores. Você precisa aprender a ser mais paciente e menos ansioso. Tudo acontecerá a seu tempo.

— Ok, vamos lá, pode continuar.

— Além de nós, existem outros vampiros independentes. Não somos considerados uma seita, apenas acreditamos que não há porque nos agregarmos as duas existentes. Existem clãs propriamente independentes e existem os antitribu que saíram da Camarilla e do Sabá, por também não concordarem com o sistema imposto por elas.

— Quais são estes outros clãs de que está falando?

— No Sabá predominam os Lasombra e os Tzimisce, dois clãs verdadeiramente macabros, os quais se gabam em dizer que mataram os progenitores do seu clã.

Mas como disse, existem muitas antitribu que fazem parte do Sabá. Já os clã considerados independentes, pelo fato da grande maioria dos seus clãs não fazerem parte das outras duas seitas, sãos os Assamitas, os Seguidores de Set, os Giovanni e os Ravnos. Além, e é claro, os antitribu. No geral são estes os clãs existentes, é claro que existem outros, em outras partes do mundo, mas isso não vem ao caso agora.

Então, resumidamente, esta é a nossa história, nossa criação, nosso auge e também a nossa decadência.

— Você acha que tudo isso que me contou está resumido? Você realmente é um brincalhão!

— Você acha que dezenas de séculos, contadas em apenas uma hora é muita coisa?

— Uaaah! Não tenho muita paciência para ficar escutando. Ainda assim, não respondeu as minhas perguntas.

— Agora que já sabe de toda a nossa história, ficará mais fácil compreender as respostas a todas as perguntas que havia me feito anteriormente.

— Ótimo, então pode começar!

— Primeiramente, o porquê da existência daquele jogo, correto?

— Isso.

— Há muito tempo atrás, não se sabe ao certo quanto, a Camarilla foi invadida por um vampiro, que muitos acreditam ser do Sabá, e roubou de sua biblioteca, alguns arquivos de suma importância para o meio vampírico, no anseio de descortinar toda a história e projetos da Camarilla. Este vampiro nunca mais foi visto e muitos creem que a Camarilla conseguiu capturá-lo e matá-lo, entretanto não conseguiram encontrar prova alguma.

O que se sabe é que estes documentos e arquivos caíram nas mãos de um escritor. Que ao crer que possuía em suas mãos, uma boa obra prima para ser publicada, tratou de criar uma história sobre os vampiros. Isso rendeu a ele milhões. Como neste período ainda não havia À Máscara, tudo passou em branco e o escritor ganhou fama por ter criado uma ótima “ficção”.

Estes dados recolhidos por ele posteriormente se transformaram em diversas histórias sobre nós, jogos, brinquedos, filmes. Tudo relatando sobre a nossa não-vida. Contudo, ganhou diversas versões até aos dias de hoje, cada um com uma visão diferente e distorcida sobre nós.

Por este motivo que poucas pessoas, nos dias de hoje, costumam acreditar que não passamos de histórias de terror. Inclusive temos a sorte de haver diversas versões diferentes sobre nós, desta forma fica mais fácil nos camuflarmos entre os homens e também sobrevivermos de alguns caçadores que, como disse anteriormente, acreditam que nos matariam com uma estaca no peito ou com um punhado de alho do pescoço.

— Quer dizer que o alho também não funciona?

— São poucos os vampiros que possuem repulsa ao alho, provavelmente é uma exceção à regra. Assim como a imagem refletida no espelho. Apenas os Lasombra e alguns outros vampiros não possuem reflexo.

— E vocês também se transformam em morcegos?

— Também são exceções à regra. Agora posso continuar, ou vai continuar me perguntando estas coisas?

— Vai em frente!

— Por incrível que pareça, este jogo é o que mais se aproxima da nossa realidade. É claro que algumas coisas foram acrescentadas e outras omitidas, contudo, podemos dizer que é a nossa biografia fiel. Quando todas estas coisas aconteceram, não tivemos como anulá-las, acabar com todas elas. Para evitar um maior banho de sangue, a Camarilla preferiu passar adiante, crendo que as pessoas que obtivessem tais livros, jogos e filmes não acreditassem na fidelidade e integridade das informações. Por este motivo, tudo que você já viu e já ouviu falar sobre nós continua sendo veiculado até hoje.

— Por que me disse que este jogo não é prejudicial, a não ser por causa de quem o joga?

— Como acabei de dizer, a Camarilla acreditou que as pessoas não fossem acreditar no que estava escrito, mas muitos humanos buscavam fazer muitos dos rituais que ali estavam escritos, por este motivo este jogo fora proibido em muitos lugares. Contudo, até mesmo para isso ele contribuiu para a preservação da Máscara, pois quando algum vampiro desajuizado não faz o ritual corretamente, ou deixa vestígios para trás, cabe a este jogo a culpa. Desta forma, quando isso acontece, passamos informação a mídia de que mais um jogador pirou e colocou as informações do jogo em prática. Ele serve como nosso bode expiatório.

— Vocês controlam até mesmo a mídia?

— A mídia principalmente. Temos todos as instituições importantes em nossas mãos, ou melhor, em nossos bolsos.

— Quer dizer que, na prática, o mundo é governado por vocês e não por nós?

— Acredito que tenha esquecido, você é um dos nossos e não deles. E sim, todos os principais cargos do governo estão também em nossas mãos.

— Talvez seja por isso que este mundo está uma merda!

— Veja lá como fala jovem, o mundo progrediu muito por nossa causa, a atualidade que está sofrendo por causa de alguns incompetentes nestes dias.

— Vou fingir que acredito. Me explica uma coisa, por que aquele livro que tínhamos nos trouxe para cá?

— Ele era uma chave de portal!

— O que é uma chave de portal?

— Alguns objetos podem ser enfeitiçados para diversos fins. Aquele fora enfeitiçado por um mago, Hermes, nosso aliado, para que pudesse trazê-los aqui.

— Como é que é? Existem magos também?

— Sim!

— O que mais existem?

— Muitos outros seres e raças diferentes, mas este não é o assunto agora. Pedimos a ele que enfeitiçasse aquele livro, para que quando vocês fossem jogá-lo, ele pudesse trazê-los até aqui. Após o feitiço, nos encarregamos de fazê-lo chegar até vocês.

— E como sabiam que iríamos jogar?

— Estávamos observando todos vocês há algum tempo. Percebemos que são curioso e provavelmente iriam querer descobrir mais sobre ele.

— Viu no que dá sua curiosidade Rikimaru!

— Eu que sou o curioso? Essa é boa! Estou quase dormindo aqui de tão entediado com esta história. Quando é que vamos fazer aquelas coisas divertidas que vampiros fazem?

— Cala a boca retardado, não atrapalhe. Você não leva nada a sério. – retrucou Stella.

— Você eu levaria, meu amor. Vamos conversar só nós dois?

— No dia em que for conversar a sós contigo, apenas um voltará!

— Gostei da proposta!

— Cale-se infeliz!

— Então, como planejado, vocês estão aqui!

— Mas que plano é esse que vocês fizeram? Ou melhor, onde estamos mesmo? O que querem conosco?

— Como já te disse, uma pergunta de cada vez. Não seja precipitado, isso pode te levar a ruina.

— Tá, tá, tá... continue!

— A ideia era trazê-los para cá, pois como já dissemos, precisamos de vocês. Estamos em Montreal, Canadá, próximo à divisa com os Estados Unidos. Preferimos ficar por aqui, pois as coisas estão próximas de estourar e temos quase certeza de que elas acontecerão lá.

— Que coisa é essa que vai estourar, você não podia ser um pouco mais claro?

— Se você aguardar eu serei.

— Como estava respondendo as suas perguntas anteriores, estamos em Montreal, no Canadá, trouxemos vocês aqui, pois precisamos da ajuda de vocês para acabarmos com a guerra vampírica que está assolando não somente o nosso mundo, mas também a sociedade humana.

— Certo engraçadinho e como faremos isso?

— Lembra-se que havia dito sobre uma alternativa para não precisarmos ficar do lado da Camarilla ou do Sabá nesta guerra sem sentido? Esta é a alternativa que havíamos planejado.

— E por que acham que podemos acabar com esta guerra sem precisarmos estar de um dos lados?

— Se recordam quando disse, no início da nossa história, de que os três filhos de Caim adormeceram, aguardando o momento oportuno de voltarem a vida para poderem acabar com tudo aquilo que começaram?

— Ahn?

— Acreditamos que vocês são os três filhos de Caim, Enoque, Acaz e Radamés.

— ... – Magno gargalha freneticamente – não acredito que até mesmo os vampiros acreditam em reencarnação!

— Qual é a graça?

— Me desculpe, nunca fui muito religioso, mas daí a acreditar em reencarnação é brincadeira!

— Na verdade não acreditamos em reencarnação. Não temos como explicar este assunto, pois ele é novo até mesmo para nós. Contudo existem clãs como o Giovanni, por exemplo, que conseguem ir até as profundezas e resgatar de lá as almas de seres vivos ou mortos. Acreditamos que o fato de pertencerem a um nível tão elevado, pudessem voltar em outros corpos ao invés de um corpo deteriorado com o passar dos anos.

Consultamos alguns dos anciãos do clã Giovanni e eles nos disseram que há uma pequena possibilidade, pois até mesmo eles não poderiam afirmar com certeza, afinal, quem de nós teria visto um antediluviano andando pelas ruas nos dias de hoje?

— Realmente seria algo impressionante! Então por que acham que poderia se tratar de nós?

— Existe um poder que alguns de nós possui, capaz de perceber, através da aura e de outros elementos como o sangue, por exemplo, que nos indica quão próximo o vampiro está de Caim. Desta forma, quanto mais próximo de Caim, mais forte o vampiro se torna, entenderam?

— Mas como chegaram à conclusão de que pode se tratar de nós?

— Isso ainda é um enigma, até porque não conseguimos descobrir através do sangue de vocês. O que nos deixa ainda mais confusos, pois vocês não aparentam ter um sangue comum de um vampiro iniciante, na verdade vocês aparentam ter sangue humano correndo nas veias e não sangue vampírico.

— Como assim? Vocês nos sugaram?

— Era necessário.

— Necessário o caralho. Que porra é essa?

— Se não os sugássemos não saberíamos se eram ou não filhos diretos de Caim.

— E daí, sugaram e ainda assim não descobriram. Que merda que vocês fizeram?

— Analisamos o seu sangue, pois quando sugamos alguém, o sabor do sangue varia de uma espécie para outra. Assim o sangue de um humano é diferente do sangue de um vampiro ou de um lobisomem, por exemplo.

— Ah não, até os lobisomens existem, é muita brisa para um dia só.

— Voltando ao raciocínio, vocês, apesar de serem transformados, possuem o sabor de sangue humano e não vampírico, o que nos leva a crer que são diferenciados e potencialmente filhos diretos de Caim.

— Vocês realmente são muito bons de dedução. Como vocês nos transformam sem saber se realmente somos filhos de Caim ou não? Vocês acabaram com a minha vida. Acabaram os rolêzinhos na praia, as mulheres de biquíni, os carros conversíveis.

— Não tivemos outra escolha.

— Como não? Era somente não nos transformar!

— Isto vai muito além da nossa simples suspeita sobre o sangue de vocês. Temos mais evidências do que possam imaginar.

— Como assim?

— Vocês se consideram iguais a todos os homens?

— Em que aspecto?

— Em todos. Já se perguntaram por que têm tanta força, se nem ao menos se exercitam? Por que não se cansam em atividades que normalmente um homem se cansaria? Por que se interessam por coisas sobrenaturais, se nem ao menos acreditam?

Neste momento Magno e Rikimaru refletem por alguns instantes em suas vidas e começam a compreender o porquê de muitas coisas pelas quais viveram. Magno recordou, sobretudo, de sua última experiência que lhe exigiu um grande esforço, satisfazer dona Lúcia. Muito provavelmente não teria condições de fazê-lo se não fosse algo sobrenatural.

— Vendo por este lado, faz sentido!

— E não param por aí as evidências. Temos os acompanhado há um bom tempo, assim como o Sabá, pelo que pudemos perceber recentemente.

— Como é? Como não percebemos que estavam nos vigiando?

— Como já dissemos, temos pessoas em todos os lugares.

— Havia me esquecido deste detalhe.

— Tanto você Magno, como você Rikimaru, foram testados e aprovados em praticamente todos os testes que pudemos fazer para tentarmos desvendar este mistério. Enquadram-se quase que perfeitamente nas descrições feitas pela profecia da vinda dos filhos legítimos de Caim.

— Como assim? Que profecia é esta?

— Como estava tentando contar a vocês, esta profecia existe desde o período em que os filhos de Caim foram colocados em torpor pelo próprio Deus. Nela diz que “Um tempo virá, quando a maldição do todo Poderoso não mais será tolerada. Quando a linhagem de Caim tornar-se-á fraca e não haverá o abraço para estas crianças da noite, pois seu sangue escorrerá como a água e o seu poder definhará. Então vós sabereis neste momento: a Gehenna em breve estará sobre vós”.

— Não entendi absolutamente nada do que você disse.

— Ainda há algumas controvérsias no meio vampírico sobre ela. Alguns há que duvidem de que a Gehenna realmente venha a acontecer, para estes, esta profecia não passa de apenas mais umas das brincadeiras de mal gosto dos antigos anciões dos clãs antigos. Contudo, para os que acreditam, há ainda algumas opiniões divergentes sobre o que ela é e sobre como acontecerá.

Acreditamos que ela realmente exista e no nosso ponto de vista a interpretamos desta forma.

O tempo em que a maldição não será mais tolerada se refere ao fato de todos nós não termos mais o privilégio de caminharmos a luz do sol e vivermos as dependências do sangue alheio para podermos sobreviver.

Mas isso acontecerá quando a linhagem de Caim começar a se tornar fraca, isso porque muitas vampiros neófitos vêm, indiscriminadamente, transformando outros seres humanos em vampiros. Isso faz com que a pureza sanguínea de um vampiro seja reduzida a ponto de se tornar quase que totalmente mortal.

Isso já vem acontecendo há algum tempo e culminou com a criação de uma raça de vampiros inferiores que nem ao menos podem ser chamados de vampiros e pertencentes a um clã. Eles são chamados de Caitiff.

— Por que não são considerados vampiros ou pertencentes a um clã?

— Para o mundo vampírico, quanto mais próximo você estiver de Caim, melhor será o seu status e maior será o seu poder. Entretanto, eles fazem parte do que chamamos de décima quarta geração, geração esta que não existia anteriormente. Com isso o nível de proximidade do sangue deles para o de Caim é considerado ínfimo, inútil, insignificante, por este motivo são desprezados por todos.

Se estes vierem a transformar alguém em vampiros criariam uma nova geração, definhando ainda mais o sangue de Caim e do seu poder. O fato de isto estar acontecendo nos dias atuais é mais uma prova de que a Gehenna está próxima.

— E o que é esta Gehenna?

— É o que muitos vampiros chamam de apocalipse vampírico. Como havíamos dito anteriormente, o mundo está à beira do caos e alguma coisa precisa ser feita.

Alguns acreditam que este apocalipse acontecerá quando os três filhos de Caim, juntamente com todos os antediluvianos, vierem a acordar e dizimar todos os vampiros inferiores, assim como todos os seres humanos também. Causando assim o fim de todo o mundo.

— Mas se isso realmente vier a acontecer é algo horrível e deve ser impedido.

— Exato!

— Por que então acreditam que somos nós os filhos de Caim? Se assim o fossem, não deveriam querer que viéssemos a renascer, pois isso indicaria a morte de todos, inclusive a de vocês.

— Isso é o que muitos pensam, mas pensamos diferente.

— Como assim?

— Se vierem a atingir todo o poder que existe dentro de vocês, caberá a vocês e não a essa profecia dizer o que vai acontecer. Cremos que vocês tem o poder de escolha, assim como Radamés teve no passado, o desejo de mudar esta história e acabar com esta guerra.

Já dissemos anteriormente. Acreditamos que Deus tenha permitido que voltassem exatamente para acabar com o que começaram e realmente vocês terão o poder. Seja para acabar com todo o mundo, seja para fazer aquilo para o que foram designados. Acabar com o que está errado.

— Vocês não acham que isso é muito arriscado?

— Sem dúvida alguma, contudo, é a única alternativa que nos resta. A Camarilla e o Sabá se digladiam desde séculos, contudo era uma guerra velada, agora já não mais estão se preocupando com o que acontece, muito provavelmente acontecerão coisas muito piores.

Se a Máscara for quebrada, seremos caçados como animais novamente, se o Sabá vier a vencer, tentará dizimar todos os seres humanos ou fazer deles seus escravos.

Por este motivo dissemos a vocês que não temos escolha. Eles estão lutando pelo poder e ninguém tem condições de pará-los, a não ser vocês. Por isso muitos deles temem que vocês realmente sejam os filhos de Caim.

— Espero um instante...

— Então foi isso que aconteceu?

— O que?

— Agora estou começando a entender o sonho que tive.

— Eu também!

— De que sonho é este do qual estão falando?

— Um dia antes de virmos para cá, tivemos sonhos muito estranhos com vampiros. Eles nos pareciam ser muito autênticos. Se não fosse o fato de estar vivo agora, poderia dizer que realmente aconteceram.

— Verdade!

— Como assim? Sejam mais claros!

—  Na noite anterior em que viemos para cá, sonhei que uma mulher, muito bela, linda na verdade, de cabelos e olhos totalmente negros, vestida com um vestido preto veio até a minha casa, juntamente com um outro rapaz, um tal de Vic e começaram a falar sobre o poder que tinha e o que poderia fazer. Por fim, aquela mulher fez com que suas garras crescessem, me dilacerou o peito e encravou em mim suas presas e então morri.

— Comigo também, sonhei que ouvia uma linda voz que cantava belamente e que me fazia seguí-la para um lugar que não conhecia muito bem. Ao chegar numa encruzilhada, um homem com roupa dos cavaleiros do zodíaco apareceu e começou a falar como um doido, dizendo que era poderoso e que iria me matar. Era um tal de Shyshyo. Ele sacou a espada que estava em sua bainha e me esquartejou em instantes.

— Era o que temíamos! – disse Stella, de um súbito.

— Pior, para ser sincero! – disse Joseph.

— Do que estão falando?

— Todos estes nomes que acabaram de citar, fazem parte da cúpula do Sabá. A mulher que você acabou de descrever Magno, chama-se Ângela, é uma Lasombra, o rapaz chama-se Victórius, é um Tzimisce e Shyshyo é um Assamita. O fato de eles terem tido todo este trabalho só nos dá mais certeza de que vocês realmente são quem procurávamos.

— Espere um pouco, seja mais claro!

— Muito provavelmente eles se utilizaram de ilusões para os assustarem, a ponto de fazer com que não pensassem em vir para cá. Eles já sabiam que estávamos a procura de vocês e por isso tentaram assustá-los para que não viessem e atendessem o nosso chamado.

— Realmente eles estavam certos, se aquilo realmente pode acontecer, eu é que não irei contra eles.

— Muito menos eu, estou fora desta, vocês podem encontrar outros filhos de Caim para resolverem este problema de vocês.

— Vocês não entendem. Este não é um problema somente nosso, mas de toda a humanidade. Se não os impedirmos, toda a face da terra sucumbirá ao poder deles e seremos seus escravos eternamente.

— Talvez haja uma outra forma. Você parece ser um cara, ou melhor, um vampiro inteligente. Pensará em uma alternativa mais eficiente.

— Vocês não acham que já pensei em diversas alternativas? Eu seria o primeiro a descartar o fato de pedir ajuda a vocês. Não somente pelo que poderiam fazer, como agora, pelo fato de perceber como vocês são!

— O que está querendo dizer com isso?

— Use você agora o seu intelecto para responder!

— Por que não pedem ajuda aos vampiros de outras partes do mundo para os ajudarem?

— Você acha que não pensamos nisto. Mas até mesmo alguns deles já se aliaram a Camarilla ou ao Sabá. O sonho do Rikimaru é uma prova disto. A música que ele estava ouvindo só pode indicar que algumas das Filhas da Cacofonia já estão começando a tomar partido, pelo menos a favor do Sabá, pelo que percebemos.

— Quem são estas Filhas da Cacofonia que você acabou de citar?

— É um clã de vampiras, que não fazem, pelo menos não faziam, parte de nenhuma das seitas existentes. São muito poderosas e difíceis de serem derrotadas. Sua principal arma é a sua voz, elas podem dominar, induzir, comandar e até mesmo matar alguém através dela.

Saber que elas estão a favor do Sabá, nos atemoriza ainda mais. Estamos começando a ficar sem tempo. Precisamos tomar atitudes enérgicas o quanto antes, senão tudo estará perdido.

— Nossa, como você é dramático!

— Se simplesmente tivesse noção do mal e do perigo que está por vir, também estaria.

— Eu não consigo estar preocupado com isso. Ainda estou preocupado em saber como viverei daqui para a frente.

— Não seja tão egoísta, se não detivermos esta guerra, você não terá nenhuma vida para viver, seja como homem, seja como vampiro.

— Como gostaria que eu pensasse? Desde que tudo isso começou a minha vida tem sido um inferno. Só tenho tido notícias ruins, uma atrás da outra. Me tornei um vampiro contra a minha própria vontade. Terei de deixar para trás tudo o que já construí, minha família, tudo o que amo. Todos os meus projetos futuros se desmoronaram em menos de uma semana. E ainda quer que eu pense nos outros ao invés de pensar em mim?

— Não posso dizer que não te compreenda, contudo, isto que te contamos e o que estamos pedindo a vocês é a realidade. Por mais que não queira participar disto, já faz, pois mesmo que não entre e resolva esta situação ela irá te atingir, mais cedo ou mais tarde.

— O que quer dizer com isso?

— Se esta guerra realmente estourar, não haverá para onde fugir. Tudo e todos que você um dia conheceu deixará de existir se não impedirmos esta guerra.

— Quer dizer que não tenho escolha?

— Exatamente!

— Mas que droga! Onde é que eu fui me enfiar?

— Vocês estão esquecendo de uma coisa!

— Que coisa?

— Não sei se repararam, mas desde o início falávamos de três filhos de Caim. Tenho certeza de que todos sabem contar aqui e se não perceberam somos dois e não três!

— É mesmo, quem é o terceiro Joseph?

— Acreditamos que seja aquele outro jovem que estava com vocês, o Júnior!

— Você tem certeza disto?

— Por quê?

— Aquele jovem não é o que se pode dizer de alguém forte, inteligente e muito menos salvador da pátria.

— Tomamos os mesmos cuidados com ele que tivemos com vocês. Da mesma forma que vocês, ele passou praticamente em todos os testes de compatibilidade.

— É por isso que eu disse que vocês realmente não sabem o que estão fazendo. Posso estar enganado, mas duvido muito que ele seja o terceiro filho de Caim. A não ser que um deles fosse retardado. – Rikimaru ri.

— Temos a mesma convicção de que ele é um deles assim como temos convicção de que vocês também o são.

— Estamos perdidos, o mundo está nas mãos do Júnior. Pode ter certeza de que o mundo acabará. – Magno fala as gargalhadas.

— Falando nele, onde será que ele está?

— Também tínhamos esta dúvida. Fizemos de tudo para que vocês viessem juntos para cá, para tratarmos disso com os três, contudo, o perdemos, ainda no momento em que estavam na chave de portal. Provavelmente alguma coisa aconteceu.

— Do jeito que aquele ali é lerdo, é capaz de ainda estar no meio do caminho, perdido. Quando perceber que está longe da mãe dele será um caos. É capaz de conseguirmos encontrá-lo através do choro. – Ri.

— Não fale da mãe dele, senão quem irá chorar sou eu. Que saudades da dona Lúcia. – exclama Magno.

— Realmente é muito triste saber que não poderemos mais trocar algumas ideias com a dona Lúcia.

— Do que estão falando?

— Nada que vocês queiram ou precisem saber.

— Vocês não têm nenhuma noção de por onde ele possa estar andando?

— Nenhuma, esta área é muito extensa e há muitos refúgios de clãs diferentes. Ele pode estar em qualquer lugar. Com qualquer grupo de vampiros ou não.

— Até nisto ele nos dá dor de cabeça. Como a dona Lúcia pode colocar um traste deste no mundo?

— Temos que dar um jeito de encontrá-lo. É capaz de morrer se continuar andando por aí sozinho.

— Temos alguns informantes. Pediremos a eles que o encontrem. Precisamos que estejam juntos para desempenharem o papel de vocês.

— Mas quem disse que iremos fazer alguma coisa? Nós o procuraremos e voltaremos para os nossos lares. Agradeço o que fizeram por nós, mas em nenhum momento dissemos que participaríamos desta loucura toda.

— Mesmo que não queiram, já fazem parte. O Sabá já sabe que vocês estão aqui e muito provavelmente já estejam a procura de vocês. Se não estiverem conosco, estarão sós e serão presas fáceis para eles.

— Como eles sabem que estamos aqui. Não me lembro de tê-los encontrado em lugar algum.

— Nisto você se engana, vocês não somente os viram, como conversou com eles e quase foram aprisionados e feitos de escravos.

— Como assim?

— Devo estar ficando louco, mas não me lembro desta parte.

— Por acaso vocês se lembram de ter ido ao bar?

— Claro que sim!

— Quem vocês lembram de ter visto lá?

— ... além dos garçons apenas vocês.

— E no momento da briga na pista de dança?

— ... um gigante com nome estranho, um tal de Avalanche. Bem sugestivo.

— E por que não houve uma briga de verdade?

— Porque você entrou no meio Stella, a mulher, ou melhor a vampira, da minha vida, ... da minha não vida – Rikimaru ri sozinho – Você é minha heroína.

— Não fomos nós que salvamos vocês.

— Como não? Me lembro claramente de ter sido vocês que apareceram e acabaram com a briga. Será que estou ficando louco também?

— Na verdade vocês pensaram que éramos nós, mas não éramos.

— Como assim, agora você conseguiu me confundir.

— Na verdade o que aconteceu foi o seguinte. Quando nos viram no balcão do bar, realmente éramos nós, contudo, após aquela confusão que causaram, acreditamos que não deveriam ser vocês que estávamos procurando, afinal, como um filho de Caim se comportaria de uma maneira totalmente inconsequente e infantil? – Rikimaru fica encabulado – por este motivo decidimos nos afastar para não participarmos da confusão. Aguardamos de longe e assistimos vocês criarem outra confusão, agora no meio da pista de dança.

Quando as coisas estavam piorando para vocês, pensamos e intervir, contudo percebemos que outras duas mulheres foram ao encontro de vocês. O que vocês não sabem é que elas não eram humanas e muito menos éramos nós, mas sim outras vampiras que se ofuscaram, transfiguram-se para que pudessem se parecer conosco e enganá-los.

— E como não fizeram nada para nos ajudar?

— Quem disse que não fizemos? Não podíamos aparecer naquele momento, pois causaria um tumulto ainda maior e provavelmente os afastaria, sendo que o plano era que confiassem em nós, que se aproximassem.

— Quer dizer que nos enganaram?

— Na verdade não foi muito difícil, nem para nós, nem para elas. Vocês são facilmente manipulados. Não podem ver um rabo de saia que já saem correndo.

— Não é bem assim que as coisas funcionam.

— Imagine se não fosse. Muito provavelmente aquele cara não bateu em vocês, pois é aliado delas e talvez já soubesse o que elas pretendiam fazer com vocês.

— O que elas estavam pretendendo fazer?

— Lembram-se de que quando voltamos do banheiro nos perguntaram o que havia acontecido?

— Sim, como me lembro, lembro inclusive o que me passou pela cabeça quando vi vocês duas se arrumando enquanto caminhavam em nossa direção. É impronunciável. – comentou Rikimaru sorrindo.

— Claro, porque é um porco desprezível e safado.

— Se continuar falando assim eu vou gamar.

— Como consegue ser tão insuportável?

— Sou assim porque sei que você gosta!

— Realmente você não conhece o sexo feminino.

— Não posso concordar com esta afirmativa meu amor, afinal, você está caidinha por mim.

— Vocês querem realmente saber o que houve ou vou ter que ficar ouvindo este monte de besteira deste tonto?

— Continue por favor Stella, ignore o Rikimaru, por experiência própria, sei que uma hora vai se acostumar.

— Espero não ter que me acostumar. Lembram-se também de que perguntamos a vocês o que haviam bebido?

— Lembro sim, estávamos tomando Royal’s. Lembro-me que quando dissemos isso a vocês, pareciam ter ficado muito preocupadas e logo após isso já não adiantou fazermos mais nada. Vocês nos convidaram para sairmos daquele lugar e não falou conosco até o momento em que chegamos aqui.

O Rikimaru só pensava no que poderia acontecer e estava totalmente vislumbrado a ponto de não raciocinar mais. Só de pensar nisso me arrependo de não ter voltado atrás.

— Teria sido muito pior se voltassem. Aqueles drinks que tomaram não eram simples drinks. O que elas tomaram, o Blood Mary, é um tipo de sangue engarrafado, feito especialmente para nós vampiros. Já os Royal’s que vocês tomaram é o sangue de algum dos líderes do Sabá. Aquela boate pertence a pessoas ligadas a eles.

Quando percebem que existem forasteiros, eles fazem questão de dar-lhes do sangue dos seus superiores para tornar a todos que lá chegam em seus lacaios. Pela quantidade que tomaram, já era para estarem submissos a vontade deles. Por este motivo quisemos correr para tentarmos evitar o pior. Se tivéssemos deixados vocês dois lá, muito provavelmente já estariam servindo o Sabá, seja como lacaios, seja como rebanho.

Isso se eles não suspeitassem de quem são. Se soubessem que podem ser os filhos legítimos de Caim, muito provavelmente fariam laços de sangue com vocês e os sujeitariam a serem servos deles pelo resto de suas não-vidas, sendo obrigados a fazer todas as vontades deles e com isso, o plano deles de instalarem o caos sobre a terra e sobre os seres humanos.

— E dá para fazer isso?

— Quase que da mesma forma que se faz com um lacaio. Para se fazer um lacaio basta apenas dar a um ser humano um pouco do seu sangue e ele te servirá eternamente, mas se fizer isso com um vampiro, ele também te servirá e fará de tudo para te proteger e fazer a sua vontade.

— É desta forma então que vocês controlam praticamente todas as áreas de importância, como as mídias e a política?

— Exatamente!

— Então, como dissemos, se não os tivéssemos trazidos para casa e os transformássemos, muito provavelmente seriam escravos do Sabá e fariam todas as vontades deles.

— Por este lado, prefiro ter vindo para cá.

— Realmente, ter ficado poderia ter sido a pior decisão da minha vida.

— Mas agora me responde uma pergunta Stella. O que vocês duas foram fazer no banheiro que voltaram todas descabeladas. Parecia que tinham saído de uma guerra, ou que estavam brincando a duas?

— Tem que ser o cérebro de lentilha para pensar uma besteira dessas. – disse Stella a Rikimaru. – voltamos daquela forma, pois ao percebermos que aquelas duas, que estavam com vocês, foram ao banheiro, fomos atrás delas para interceptá-las e tomarmos os nossos postos novamente.

Tivemos que lutar com elas e trancá-las no banheiro. Por este motivo voltamos daquela forma apressada. Para que ninguém pudesse perceber o que aconteceu e também para que vocês não desconfiassem de que não éramos nós anteriormente.

— Agora que nos contou isso, fez todo o sentido. Por que não pensamos nisso antes?

— Como já disse, vocês não podem ver pernas.

— Verdade, desse bem eu ainda acabo morrendo – disse Rikimaru sorrindo – Mas isso só aconteceu porque foi com você docinho. Se fosse qualquer outra mulher não teria caído, mas você é demais.

— Guarde esta conversa mole para alguma tola que caia nela, Rikimaru, nem ao menos sabe como falar com uma mulher.

— Há controversas.

— Vocês dois não se cansam de discutir? – Perguntou Lorraine impaciente.

— Ela não resiste ao meu charme.

— Realmente... é melhor eu ficar quieta.

— As coisas estão cada vez mais difíceis de ingerir. Como isso tudo pode ter vindo a acontecer conosco?

— É o destino de vocês!

— Não acredito em destino!

— Acredite, vocês não têm como fugir dele.

— É o que vamos ver!

— Vamos Rikimaru, precisamos encontrar uma maneira de encontrarmos o Júnior e irmos embora deste lugar.

— Logo agora que estava começando a gostar deste lugar e desta vida?

— Que vida Rikimaru? Você nem ao menos respira!

— Verdade, nem como e nem bebo também!

— Não acredito!?

— O que foi Magno?

— Como me esqueci disto?

— Se esqueceu do que?

— Nunca mais comerei nada. Essa, com certeza, é a pior coisa que poderia acontecer.

— Veja o lado bom Magno, nunca mais terá que gastar dinheiro com estas coisas.

— Não me importava em gastar dinheiro para comer. Depois de mulher era a coisa que eu mais gostava.

— Você aprenderá a lidar com isso Magno, é só dar tempo ao tempo. – disse Lorraine.

— Você fala isso porque não aconteceu com você!

—  Quem disse? Da mesma forma que você, eu também fui transformada e não tive escolha também. Tive que aprender a conviver com tudo isso. No início não foi nada fácil, mas aceitei em quem eu havia me tornado e qual o propósito de tudo isto.

— E qual o propósito de tudo isto?

— Ele é muito maior do que eu mesma posso te contar e muito mais importante do que estes seus pensamentos egoístas.

— O que está querendo dizer?

— No momento certo você saberá. Não estaríamos pedindo a ajuda a vocês se não fosse a nossa única opção. Não gostamos de ter que depender dos outros. Principalmente de pessoas egoístas.

— É isso que pensa de mim?

— É isso que tem demonstrado a todos nós!

— Não tenho porque ficar dando satisfações a vocês. Agradeço pelo que fizeram, mas estou de partida.

— Esta é uma escolha sua, não podemos fazer nada para mudá-la. Apenas lamentamos. Você pode ficar aqui até escurecer. Depois pode ir embora.

— Muito obrigado. Onde posso ficar?

— Lorraine te levará a um dos quartos da casa – disse Joseph. – Relaxe e reflita melhor sobre tudo o que aconteceu e sobre o que te contamos.

— Já tenho pensado muito e não creio que eu vá mudar de ideia.

— Ok, apenas descanse então e esfrie a cabeça.

— Valeu!

Magno se retira da sala, logo atrás de Lorraine e segue em direção ao quarto. Ainda no caminho, continua a refletir e pensar em tudo o que acontecera. Tudo aquilo que havia acontecido era muito surreal. Como acreditar que todos estes seres sobrenaturais realmente existiam? Que ele poderia ser a reencarnação de um vampiro milenar? Ou que o mundo precisaria de sua ajuda para continuar a existir?

Processar estas informações em sua mente era uma coisa que ele não conseguia fazer. A sua vida havia se transformado de uma hora para outra e tudo o que um dia foi e fez teria de ser deixado para trás, para viver uma vida que não escolhera. Ter responsabilidades que não pensou em ter.

A ira crescia em seu peito. Gostaria de externar toda a raiva que sentia. O desejo de voltar ao passado e fugir de tudo isso lhe veio diversas vezes em sua mente. Pensou na possibilidade de voltar atrás. De ter a sua vida novamente e esquecer de todo este mundo novo que conheceu, mas que não queria fazer parte.

Enquanto pensava, pouco reparou no caminho que percorreu atrás de Lorraine até o quarto que ela o levara. Recordava-se apenas de ter que subir uma escada até ao piso superior e quando se deu conta, estava à frente de Lorraine, que estava parada a porta de um dos quartos da casa. Ela abriu-o e convidou a Magno para que entrasse.

— Este será o seu quarto. Entre e descanse!

— Obrigado mais uma vez.

Magno entra no quarto e se despede de Lorraine que sai e o deixa sozinho no quarto.

Ele nem ao menos repara no quarto em que estava. Apenas fecha a porta e joga-se na cama. A única coisa que pode reparar naquele momento foi no colchão confortável que sua cama possuía. Era infinitamente melhor do que aquele porão que estava até poucas horas atrás.

Olhando para o teto branco e no lustre que lá havia, continuou pensando em tudo aquilo que lhe haviam contado.

Qual a possibilidade de tudo aquilo ter sido um sonho? Poderia ele ainda estar dormindo? Afinal, já havia sonhado com a vampira que o tinha assassinato. Com o homem que estava naquele porão, o qual também havia assassinado de maneira grotesca e horrenda. Tudo aquilo poderia ser apenas um grande e extenso sonho. Não era possível que tudo aquilo estivesse acontecendo.

Olhou para a sua mão que havia sido queimada com os raios solares e pode perceber que ela já estava bem melhor. Já não mais estava queimada e negra, mas percebia que a carne já estava voltando ao seu lugar. Sentia um alívio ao vê-la se recompondo.

Enquanto pensava em tudo isso, sentia seus olhos muito pesados. Estava cansado, mas não era um cansaço físico e sim mental. Eram muitas informações, sem muito sentido e difíceis de se acreditar.

Seus pensamentos foram desaparecendo sem que ele percebesse. Tomado pelo recente relaxamento que o tomara, adormece.


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