A Guerra dos Miseráveis escrita por Akasha Van Hellsing


Capítulo 2
Morgana


Notas iniciais do capítulo

Nossa, eu nem acredito que você chegou aqui, muito obrigada mesmo, fico muito feliz que esteja gostando, e aprecie a história.



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— Em breve, não tardará muito, serei eu o rei deste lugar, todos aqui presente me obedecerão, exaltaram-me, aquele que não fizer será punido. – Joe exibia sua “magnitude” para os convidados presentes.

 Joe era uma marionete engraçada, às vezes Morgana olhava-o durante horas, para entender o motivo de Vlad ter o escolhido. Não era um rapaz bonito – sua altura era enorme, seu rosto redondo e seu cabelo jamais havia conhecido um pente – e não conseguia interagir com a sociedade – gastava sua eternidade trancado em um quatro, sonhando com um dia no qual se tornaria líder. O garoto parecia não ter utilidade, por isso Morgana sempre se perguntava o motivo de Vlad gostar de iludi-lo com tal promessa, talvez fosse sadismo.

 Para Morgana jantares eram coisas desnecessárias, preferia fincar seus dentes em qualquer garoto jovem, no entanto Vlad parecia gostar dos jantares, por isso nunca se incomodou de permanecer lá com um sorriso, gostava de ver o vampiro satisfeito. O único problema era que naquela noite Vlad não havia retornado, tudo que poderia fazer era ouvir Joe exibindo um cargo que jamais teria (não enquanto ela vivesse), jamais se incomodou com isso, até o momento de ele dirigi-la a palavra.

— Diga a eles, meu doce, Morgana, conte sobre o dia no qual meu pai irá nomear-me o rei dos miseráveis. – Joe disse, com um brilho ardente em seus olhos, do tipo que clamava por poder, um brilho insano e extremista.

 Morgana não gostava daquilo, não se importava ao ver Joe exibindo-se por pura vaidade, contudo usa-la para confirmar seus devaneios era algo fora de cogitação, aquele garoto parecia não perceber quem realmente estava com um cargo mais alto naquele lugar. Pois bem, ela colocá-lo-ia em seu devido lugar. Com calma bebeu mais um gole de sua taça, sentindo o calor do sangue torna-la pouco mais humana, deu sua resposta com um sorriso despreocupado:

— A única coisa da qual meu marido torna-lo é o rei dos tolos, este cargo já é seu de berço.

 Os miseráveis voltaram suas atenções na direção dos dois, era raro ver uma discussão de tão grande porte, Joe dizia-se filho de Vlad, por outro lado Morgana intitulava-se sua esposa, ambos os cargos tinham enormes influencia sobre os vampiros, a única diferença entre os dois era que Morgana tinha o seu e Joe não passava de uma marionete engraçada, dessa forma sempre o veria.

— Vadia! – o garoto disse, parecia carregar uma enorme raiva dentro de si.

  A marionete caminhou em sua direção, os passos fortes e desengonçados podiam mostrar como ele estava com raiva. A única expressão demonstrada pela mulher foi o mais puro deboche, principalmente após rir do garoto, parando somente aos sentir as mãos gélidas ao redor de seu pescoço, não poderia acreditar que alguém tão inútil seria capaz de ousar toca-la. Todavia manteve-se calma, tudo o que deveria fazer no momento era irrita-lo, cada vez mais.

— Como ousa falar assim comigo? Esqueceu-se a quem Vlad dedicou a essência de seu amor? Sou eu quem o satisfaz, jamais deve se esquecer disso, bebê. – brincou um pouco, pode sentir as mãos de o garoto apertar mais seu pescoço, o que machucava, talvez sua cabeça pudesse ser arrancada.

— Não vale ao menos o cuspe que deixo no chão, fale assim comigo novamente e lhe corto a garganta! – a voz da criança agora estava acompanhada de maior fervor.

 Abriu um sorriso calmo, em questão de milésimos Joe se veria arrependido de cada ato, frase ou palavra levantada contra ela, bastou apenas milésimos para que todos descobrissem quem realmente mandava no local.

— O que está acontecendo aqui? – pode-se ouvir a voz de Vlad ecoar por todo o salão, causando o medo entre todos os presentes.

 Joe soltou o pescoço de Morgana, estava na hora do teatro começar, com cada passo cuidadosamente calculado, bastava apenas descobrir qual dos dois seria o melhor ator. Para ganhar aquele jogo valia de tudo, não se poupava as energias.

— Morgana, – chamou-a primeiro, sempre era a primeira com a palavra. “Damas”, como Vlad costumava a se justificar – explique-se.

 Morgana o abraçou de maneira desesperada, deixando lágrimas caírem, permitindo borrar completamente o seu rosto com sangue. Vlad, sem duvidas, retribuiu ao abraço, apertando-a com força, não pode ver seu rosto, mas sabia que deveria está irritado. Ficaram assim por alguns minutos, até que ela finalmente começasse a contar sua “versão” da história:

— Joe queria ter-me, neguei, não, com ele não, somente com você, ele insistiu, e quando eu neguei novamente, ele imaginou que não seria mais necessário pedir.

— É mentira! Essa vadia suja está mentindo! – Joe defendeu-se, algo que não teria hesito.

 Vlad levou o dedo indicador aos lábios, gesto grande o suficiente para que todos no local ficassem calados.  De maneira delicada acariciou o rosto da mulher, limpando o sangue que dele tomava conta. A decisão fora tomada.

— Nunca mais, garoto, ouse chamar Morgana de mentirosa, ou terá que devolver na mesma moeda. – Vlad anunciou o veredito.

 Alguns vampiros pareciam agitados com o que havia acabado de acontecer, parte tinha medo de que seu líder fosse fraco; outros apenas riram, parecia que agora o líder não passava de uma piada engraçada, queriam saber onde aquilo iria acabar. Não importava a opinião, uma coisa era certa: Vlad estava sendo completamente manipulado por uma vampira qualquer, e isso não era algo que se honre. Morgana não se incomodava, quem estava no comando era ela. Vlad comandava os superiores, ela comandava Vlad.

(...)

 Usou a capa para cobrir parte de sua pele, por causa do calor, causado pelo consumo de sangue, agora conseguia sentir o vento gélido tocar sua pele. Não sabia onde estava, a única coisa da qual tinha conhecimento era de que não estavam sozinhos, podia sentir mais uma presença naquele momento. Poderia ser mais um vampiro? O que estaria fazendo ali? Incomodaria?

 Estava com medo. Pela primeira vez, durante anos, estava com medo.  Por que Vlad tinha levado-a até ali? Temia que de alguma forma ele tivesse descoberto sobre seu plano. Poderia ele ler mentes? Já ouviu histórias de que vampiros superiores poderiam ler mentes, todavia, até o momento, não passava de histórias, para apavorar os mais jovens, e os mais fracos.

 “Morgana!” ouviu alguém gritar o seu nome, de forma alta, clara, exibindo o pavor em sua voz. Não hesitaria em seguir até o chamado, sabia de quem era aquela voz, passou anos servindo somente a ela.

  Próxima à entrada da floresta pode vê-lo, estava abaixado no chão, o corte em sua barriga parecia provocar este efeito; em suas mãos uma lâmina afiada, mas ela sabia que ele não teria feito isso por vontade própria, alguém teria a culpa. Aproximou-se dele preocupada, não conseguia compreender o que acontecia, por que todos aqueles acontecimentos vieram de repente?

— Vlad, meu amor, você está bem? – perguntou, enquanto se abaixava ao lado do vampiro.

 Deixa-lo morrer não era uma opção, embora não tivesse sentimentos por ele, não seria forte o suficiente para torna-se uma líder sozinha, e manipular o novo mestre estaria fora de questão, considerando toda a “lealdade” que prestará a Vlad. Por isso mataria qualquer um que tivesse causado aquilo, depois tratariam o ocorrido como um pequeno incomodo, como era feito entre os vampiros, rindo na cara da morte.

— Não está vendo que estou péssimo?! O que faz ai parada?! Aprece-se e acabe com ele, ou deixe que ele acabe com você! – o homem gritou de maneira feroz.

 Assustou-se, Vlad parecia ter gritado com o mais puro ódio, de maneira tão bruta. Em todos os anos que passou ao seu lado, Vlad jamais ousou levantar o tom de voz para ela, agora gritava enfurecidamente. Isso somente assustou-a mais, fazendo com que confirmasse a descoberta de seu plano. Ele sabia. Como poderia saber?

— Sim, meu senhor. – foram as únicas palavras que ousou pronunciar antes de se levantar.

 Estava pronta para acabar com aquele que teve a audácia de fazer aquilo, contudo a criatura a encontrou primeiro. Era um miserável, assim como eles, um homem de longos cabelos brancos, que pareciam se misturar com a luz do luar, correu violentamente em sua direção, estava pronto para ataca-la, coisa que não foi realizada com hesito, pois bastaram apenas as mãos de Morgana segurarem com uma força brutal o pescoço da criatura, para que seu sangue jorrasse pelo local. Estava morta.

 Vlad pareceu se recuperar em questão de segundos, logo passou os braços ao redor da garota, rindo de maneira tão insana, que parecia um completo louco. Segurou-a com força, uma força brutal, que chagava a machucar.

— Sim! – disse de maneira animada – Sim, minha doce Morgana, chérie, você é realmente a joia mais preciosa que eu poderia encontrar, pegue suas coisas, vamos embora, agora.

— O que está acontecendo? – Morgana perguntou confusa.

— Depois irei explicar tudo o que puder, nesse instante temos de partir o mais rápido que pudermos, logo eles retornarão, você não gostará de vê-los voltar.

(...)

 Vlad puxou-a com força, havia passado no cabaré, para dar últimos avisos a vampiros, porém ordenou que ela permanecesse do lado de fora, “para a própria proteção” Disse ele. Morgana não gostava do rumo que as coisas estavam tomando, entretanto não ousava protestar, os olhos de Vlad pareciam carregar um brilho tão extremo e animado, que nenhuma de suas palavras poderia mudar isso.

 Sentiu os lábios de o vampiro tocar suas bochechas levemente. Isso a fez pensar que talvez ele tivesse recuperado a sensatez, e mudado sua opinião sobre o local para onde pretendia arrasta-la, porém toda essa ideia não durou mais de um segundo, um lindo segundo.

— Está na hora de ir embora. – foram as palavras que ela recebeu.

— Eu não quero ir. Pense, pense, Vlad, e então tome a decisão. – “recupere sua razão” era o final certo para aquela fala – Não quero que você tome a decisão errada por simples vaidade. – “estou com medo, não faça uma loucura dessas”, mas novamente não ousou dizer a verdade sobre as coisas, dizer a verdade não é correto caso a pessoa tenha capacidade de te matar.

— Morgana, o vampiro que te atacou, é aquele que poderá machuca-la caso isso aconteça. Jamais me perdoaria caso isso acontecesse, prometo lhe contar todas as coisas, só peço que espere pelo momento certo. Pelo amor que um dia jurou a mim, siga minhas ordens. – Vlad explicou muito, o que não foi o suficiente.

 Morgana somente balançou a cabeça, não queria ir, o problema era que naquele momento não havia opções em aberto, tudo o que poderia fazer era concordar. Ele queria aquilo, ele teria aquilo, ou faria aquilo acontecer, por bem ou por mau. Em alguns momentos continuava sendo o líder da situação, seu poder permitia isso, Morgana somente concordava.

  Caminhou até o carro, fazia tempo que não via um veiculo como aqueles, isolada por uma floresta era como se nada daquilo existisse, hora ou outra alguns itens da modernidade se manifestava, o que era inevitável, mas na maioria das vezes parecia que o tempo estava congelado no século XV. Aquele carro pareceu quebrar qualquer sonho que Vlad pudesse ter construído pela vaidade da mulher.

 Entrou dentro do carro, aconchegando-se no banco da frente, por mais que os anos tivessem passado, ainda não era capaz de se acostumar com coisas diárias, como um carro, para ela coisas como aquela sempre seriam algo magnificamente estranhar, preferia ficar presa em seu pequeno mundo isolada, bebendo entre os vampiros, apreciando o pecado, e zombando da morte. Contudo a morte não estava aceitando mais zombarias, pois agora parecia tão próxima.

— Por que tudo isso tão de repente? – perguntou, estremecendo ao sentir o veiculo sendo ligado.

— Você não percebe, querida? A guerra dos miseráveis acaba de começar.

 O veiculo logo começou a andar, e as coisas como o cabaré e a floresta desapareceram com o passar do tempo. Não se preocupou com a maneira como o carro era pilotado, com o perigo que estava por perto, em ser atacada novamente, ou com a sede que agora tomava conta de seu corpo. Porém não foi capaz de descansa, nem por um minuto, aquelas palavras continuavam em sua cabeça. “A guerra dos miseráveis acaba de começar”.


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Notas finais do capítulo

Yo(lo), muito obrigada por ler, espero que tenha gostado, eu me identifico tanto com a Morgana que escrevi meu nome no lugar dela um zilhão de vezes, custou para esse capítulo ficar pronto.
Deixe um comentário, isso seria muito legal de sua parte.

Bjs, Akasha.



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