Escola de Mutantes [HIATUS] escrita por Gabriel Az


Capítulo 4
03. A pior introdução já feita e os mistérios gigantes que envolvem a morte


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pelas demoras, vai brasiliam, espero que gostem.



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Eu matei uma pessoa, eu matei uma pessoa, eu matei uma pessoa! Essa frase não se cansa de aparecer em minha mente enquanto eu caminho por esse lugar que deveria passar a sensação de harmonia e felicidade. Foda-se que para os outros isso é normal. Não sou um assassino que nem eles, nunca pensei em nenhum momento da minha vida que eu seria capaz de fazer isso. Poderia me perdoar por ter poupado todo aquele sofrimento? Talvez, mas não consigo e a culpa, infelizmente, é minha. Cresci com o pensamento de que matar é errado, é o que diz os mandamentos e é o que diziam as pessoas que eu convivi. Não existirá nenhuma maneira de me convencer que fiz a decisão certa — pelo menos é o que sinto no momento. Aquele senhor iria morrer de um jeito ou de outro, porém, eu tinha que ser o herói da nação e salvá-lo, mas lógico que a salvação dele seria a morte porque não tinha nenhum outro jeito de ajuda-lo com certeza. Ironia, um recurso muito utilizado desde a antiguidade.

Diversos adolescentes estavam espalhados por diversos cantos, lembravam a multidão que havíamos acabado de enfrentar, não “enfrentar” mas sim fugir, mesmo sabendo que acabaríamos com ela mais rápido do que o esperado, acho. Esses pensamentos me lembram de mais gente para matar, droga! Acho que estou prestes a me tornar cruel. Os jovens pareciam estar esperando a nossa chegada, suponho. Uma senhora saiu do meio do povo porque eles abriram caminho e então sorriu para nosso grupo, droga, de velhinhos já não bastava aquele? A moça começou a andar em nossa direção e cumprimentou todos, inclusive eu, a olhei com estranheza, seu sorriso era obviamente falso e era perceptível a falta de alegria em sua face, ela voltou para trás e depois de uma leve tosse, talvez por conta da idade, de alguma maneira materializou um microfone sólido e perfeito e o colocou perto da boca para começar a falar. Foi algo simples, mas achei incrível, é uma mulher tão velha e conseguiu realizar isso de uma maneira tão simples. Imagino até onde pode ir a grandeza de seus poderes. Decido parar meus pensamentos e prestar atenção na fala da falsa alegre da velhinha, mesmo que sejam ditas informações importantes, não consigo deixar de pensar que sou um cruel miserável.

— Espero que isso vá pegar. — a senhora disse sem querer, uma frase solta que acabou sendo ecoada pelo local, apesar de ser uma coisa engraçada ninguém riu. Estranho. — Para tentar esquecer o golpe de ontem, tento dizer a vocês uma boa tarde, mesmo sabendo de nossas perdas, no mínimo consideráveis.

 Perdas, odeio esta palavra. Assim que ela foi dirigida às pessoas que ali estavam, um alvoroço foi formado. Não com briga, socos, pontapés e mais uma centena de golpes de luta, mas na verdade conversas para todos os cantos, todas com um ar melancólico, exceto para o meu bando, que estava surpreso assim como eu. As minhas perguntas eram: Quem morreu? Quem está vivo? Que ataque? E também a clássica: por ficar aqui eu também irei morrer? Me virei e encarei os que me salvaram, os gêmeos estavam pálidos, a garota tremia e o outro rapaz olhava sério para baixo. Aquele silêncio entre nós cinco estava me deixando desconfortável, mas felizmente — ou não — ele foi quebrado pela senhora, que voltou a falar.

— Para os alunos do primeiro ano, que saíram em busca de novos mutantes, tenho que dar a trágica notícia da morte de Sir Michael Amburgo, também conhecido como “Cobra”. — mesmo não conhecendo esse homem e nem ao menos sabendo o que ele fazia, percebi o quanto ele era importante quando senti um peso nas minhas costas. A menina dos cabelos platinados e olhos esverdeados tinha desabado emocionalmente e se apoiou em mim. Senti algo escorrer pela minha camisa, eram lágrimas bem finas, aquilo era estranho, mas aceitável.

— Calma, Sarah! — o rapaz diferente dos outros dois se dirigiu a menina tentando lhe dar palavras de apoio. Tirou ela das minhas costas e a fez sentar no chão do gramado mesmo aquilo sujando a calça preta que a garota usava. — Cobra está em um lugar melhor, eu juro que ele está.

A atenção que antes estava sendo dada aos avisos foi voltada à jovem, porém, isso não fez com que ela parasse de chorar. Não quis ser invasivo e desrespeitar seu espaço pessoal, então resolvi apenas ficar quieto, no meu cantinho sem incomodar ninguém. Cobra deveria ter sido alguém muito importante para ela, imagino. Não sei se isso era o correto, mas eu estava curioso, então meio que dei um toquinho em um dos caras que somente tentavam amenizar a situação. Não sou muito de me socializar, mas essa situação iria render algo, não posso ficar parado vendo pessoas sofrerem, isso não segue meu código de leis.

— Por que ela chora tanto por esse cara? — perguntei, soou um pouco rude e o rapaz a qual perguntei me olhou atravessado, não posso discutir, falei de maneira robusta e a situação não me ajuda.

— Cobra era um segundo pai para Sarah. — ele me respondeu sem muita cerimônia. —Ela possui um transtorno que a deixa ansiosa, ele era o seu conselheiro e sempre a ajudava independente da situação. Geralmente, ela sofria até antes de ser revelada uma mutante, por conta dessa ansiedade ela se isolou. Zoavam dela por não socializar e também a consideravam esquisita. Cobra a ajudou desde que ela procurou abrigo aqui, ela foi a única que achou a escola por si própria, nosso Sir era como um líder para nós do primeiro ano, e agora sem ele já não sabemos mais o que fazer.

Mesmo com uma explicação rápida e não tão detalhada, entendi o significado daquele homem para aqueles adolescentes. Não era só um senhor com um nome com duplo sentido. Para alguns ele era a representação da bondade, acho. Me afasto um pouco deles, não por vergonha, talvez um pouco, infelizmente. Me sinto um otário por não conseguir ajudar pessoas em situações desesperadoras, com a minha presença as coisas só tendem a piorar. Assim como piorou para o líder do império e como vai piorar para Sarah — se me lembro bem, este foi o nome que o garoto utilizou ao falar dela. Uma multidão começa a se dispersar e penso em fazer o mesmo, mas estou em transe pensando no quão ruim eu sou para os outros. Algumas pessoas se esbarram em mim, contudo, não ouço nenhuma reclamação. Com certeza estavam mais abalados do que eu, alguns continuaram, talvez eram alunos que já sabiam de tudo que havia acontecido e não queriam lembrar do que aconteceu, presumo. A senhora que estava falando olhou para baixo e respirou fundo, a notícia em si já era um peso, mas pela sua expressão facial, o pior ainda não havia sido dito.

— O ataque foi noturno, enquanto dormíamos. O feitiço de Abigail funcionava pois acordei de madrugada e fui checar as estrelas do lado de fora, tudo estava perfeito, voltei à escola depois de alguns minutos e acordei o inspetor Raphael, e ele, ao ir na sala de Estudo dos Poderes encontrou um bilhete e o corpo do professor, obviamente me chamou e eu também o vi. — ela indagou, limpando algumas lágrimas que caiam dos seus olhos enquanto olhava para um moço alto, jovem e de cabelo ruivo, provavelmente o inspetor que ela se refere. —, fomos buscar informações com os guardas, mas eles também haviam sumido. Foi um alvoroço em nossos corações. Michael era a base da escola e sem ele eu nem ao menos iria conseguir ter ajudado cada um de vocês. Infelizmente, com toda essa confusão e esses problemas, teremos que suspender as aulas por uma semana por falta de professor, além de também decretarmos luto por três semanas, contabilizando um mês.

O suficiente para um ano novo. O pior ano novo que eu iria ter em décadas, foi o primeiro ano em que matei e o primeiro que senti a perda de outra pessoa — houve uma vez que senti a dor da minha vó quando perdeu um carretel, mas não foi a mesma coisa — e descobri da maneira mais terrível de que essas coisas não são nem um pouco boas. Uma chuva fina começou a cair sobre aquele terreno e não impedi a água de cair em mim ou algo do tipo, esses poderes são só uma mutação sem sentido que disfarça o humano que ainda tento mostrar. A culpa do senhor ter sido morto foi minha, tenho uma parcela de culpa por Cobra ter morrido, nunca se sabe, alguém poderia acordar no meio da noite e ter impedido tudo aquilo de acontecer, também tenho culpa por ser esse desgraçado que sou. As pessoas mudam, mas nada vai mudar o que sou, um idiota sem noção que tenta se passar por algo extraordinário.

Alguns minutos depois do leve sereno baixar e o sol já estar indo se por, fui informado por Raphael — presumo que seja ele — que meu quarto era no terceiro andar, ao lado do quarto 504, 505 é o seu número. Músicas vem a minha cabeça e sinto que a qualquer momento posso fazer uma referência tosca dizendo que “eu estou voltando para o 505”. Entro na grande escola que mais parece uma fortaleza e não reparo na sua decoração rústica logo de cara, ainda estou perdido na porra dos meus pensamentos. Estou à procura da escadaria quando dessa vez quem é tocado sou eu.

— É ao lado da pintura daquela mulher gorda. — o rapaz que havia me salvado disse, me ajudando a me localizar, aquele quadro era uma referência para encontrar as coisas. — Sou Daniel, mas me chame de Dan. Antes que pergunte, Sarah não está bem, mas está melhor do que antes, ela ficou com febre e estamos fazendo um revezamento para tentar conter o seu choro, contamos com você.

Apesar das tentativas de me animar, continuei para baixo, Dan, como prefere ser chamado, é um cara legal e não vejo por que não ser amigo dele. Apenas dou um breve sorriso — falso — e concordo com a cabeça. Não reparo na aparência do lugar, mas parece que ele é acolhedor, suas paredes brancas me dão uma ideia de paz. Espero que isso aconteça. Me dirijo até as escadas e subo degrau por degraus. São passos que me acalmam um pouco e me fazem esquecer por poucos segundos o que aconteceu. Após subir três andares exaustivos, chego ao lugar determinado e abro a porta, não era diferente do clichê de quartos. Há uma chave do lado de dentro não-trancada, algo bem pensado. Entrei e o tranquei, joguei a chave para um lado qualquer e me atirei contra a cama, macia e confortável. Não estou com sono algum, mas sei que o melhor a se fazer agora é descansar, fecho os olhos já que não há ninguém para conversar no silêncio absoluto. A dor muda as pessoas, e sinto que a dor dos outros está me mudando.


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Notas finais do capítulo

Tentei fazer um pouco de drama no Luke e não sei se fui muito bom nesse quesito, mas dei meu melhor, espero reviews!



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