A falta pediu por uma cama maior.

Não tem você aqui. Não tem calor, a não ser pelo aquecedor e o negócio que insistem em chamar de edredom. O travesseiro fica ao lado, como um corpo putrefato feito de algodão. Será que dá para abraçar?

O buraco engoliria, mesmo assim.

Sempre engole.

Me engoliu, essa noite.

Está maior do que ontem. Do que anteontem. Maior do que esteve em muito tempo. Às vezes penso que é meu próprio túmulo, mas ser enterrado dentro de mim é egocentrismo demais.

Ele te sugou?

Por que não suga as horas?

Por que levou o sono?

Por quê?

Está doendo agora. Me sinto asmático. E não importa quão profunda seja a arfada, ele vai tomar todo o meu oxigênio. Não sei para onde vai levar. Não sei para onde levou todas as coisas que me foram.

Só sei que não estão aqui.

E o que restou foi o buraco.

Essa noite deveria passar. Dormir quase sempre alivia. Sonhar geralmente me faz inteiro de novo. Porque dormir é a maneira interina de morrer. E sonhar é uma extensão de viver.

Mas o sono não vem.

O dia não acorda.

Um remédio de enjoo poderia resolver isso. Faria os olhos mais pesados do que o fardo de Atlas. A garrafa de vinho meio vazia também. Faria eu adormecer abraçado na privada. De novo.

Mas, Buraco, por que está tão grande?

Por que hoje?

O bigodudo estava errado. Eu te contemplo, mas você não me olha. Meu olhar te atravessa, mas você me dá as costas. Do que você tem medo, Buraco?

Para onde você está vai?

Também vai me abandonar?