Armaduras escrita por Diana


Capítulo 1
Armaduras


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Sei que estou um pouco sumida, mas as coisas tem estado um pouco tensas. Mil perdões! (Capítulos novos de Little Hell já tão saindo!)

Entretanto, enquanto a Musa não vem me visitar, deixo aí mais uma one Pipeyna. Espero, muito, muito, que vocês gostem. Fiz com muito carinho! =D

Encontro vocês nos reviews!
Beijos da tia Diana!



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Armaduras

 

“Todo o amante é um soldado: até Cupido tem os seus acampamentos.”

Ovídio, poeta latino

Reyna observava as flâmulas tremulando à entrada de sua tenda no meio daquele acampamento improvisado. O trabalho romano era realmente destacável e impressionante. Em questão de poucas horas, ela e mais dez campistas romanos montaram toda uma estrutura de guerra próxima à área do inimigo.

A pretora suspirou pesado, deixando o peso do metal sobre os ombros lhe curvarem um pouco. Eles já estavam há cinco dias ali e nada de seus aliados gregos chegarem. Se nenhum aviso fosse enviado do Acampamento Meio-Sangue, ela ordenaria o ataque definitivo contra aquela colônia de hidras que estava aterrorizando os moradores locais.

Mesmo após a queda dos titãs e dos gigantes, os monstros continuavam se multiplicando e incomodando as pessoas. Reyna grunhiu e apertou o gládio que ainda estava em sua mão, indispondo-se a encarar que aquela era uma batalha que não teria fim. A morena deu um último olhar à flâmula roxa de Roma, com os escritos S.P.Q.R gravados em uma caligrafia trabalhada e dourada, e à bandeira vermelha que carregava a tocha e a lança de Belona, e entrou em sua tenda.

Imediatamente, uma sensação cálida e renovadora tomou conta dela. A tenda, uma perfeita réplica das tendas de líderes romanos da antiguidade, não deixava nada a dever às construções militares modernas. Uma lareira tímida emprestava seu calor ao local, dois sofás estavam dispostos num canto, juntos a um odre de água e comida e, no centro do lugar, uma mesa de comando cheia de mapas e considerações para o comandante da missão deliberar sobre o melhor caminho possível.A pretora embainhou sua espada e lavou as mãos e os rosto num balde de água perto, tentando a todo custo retirar o sangue grudento e venenoso das hidras de sua pele.

Finalmente, ela se encarou num grande espelho polido e prateado que havia num dos cantos da tenda. Era hora de uma das partes mais cansativas após uma batalha: Se despir de todo equipamento de guerra. Reyna encarou todo o metal e adornamento que lhe protegiam da batalha e começou seu trabalho. Primeiro ela desafivelou o elmo pesado e emplumado e o retirou. O suor do rosto e dos cabelos dificultando

Foi quando ela ouviu uma inquietação do lado de fora de sua tenda e uma voz feminina deliberadamente ordenou a dois campistas a se afastarem da entrada e lhe deixarem entrar. Reyna se virou para encarar a invasora e, posteriormente, anotar os nomes dos campistas para lhes dar uma advertência, mas travou ao encontrar dois olhos caleidoscópicos a encarando com um sorriso de desculpas.

— Você aplicou o charme nos campistas de guarda? – Reyna a perguntou já sabendo a resposta.

— Eles queriam que eu esperasse do lado de fora. – A menina disse e deu de ombros.

— Onde estão os outros gregos? – O olhar firme de Reyna não abandonava Piper um segundo sequer.

— Eu os instalei na tenda que você deixou para nós. Obrigada. – Reyna assentiu e um silêncio incômodo se instalou entre elas.

— Por que.. – Reyna ia começar a pergunta, tentando medir as palavras para não soar tão autoritária. Ela sabia que, em missões em conjunto com os campistas gregos, cada lado liderava igualmente. Ela não queria ofender Piper.

— Fomos emboscados e tivemos que nos desviar da rota original para chegar aqui. Ninguém foi ferido. – Piper atravessou o cômodo para se servir de um copo de água e Reyna decidiu que não tinha mais perguntas a fazer por enquanto.

A pretora se virou novamente para o espelho na tentativa de retirar sua couraça pesada. Como uma sombra, Piper chegou até ela e pousou as mãos suaves nas ombreiras, assustando Reyna.

— Deixe-me te ajudar. – Piper se pôs nos calcanhares para conseguir cruzar o olhar com Reyna pelo espelho. A pretora assentiu.

— Obrigado. – Reyna murmurou meio sem jeito.

Os dedos ágeis de Piper logo encontraram os pontos de encontro que ligavam as malhas de metal e os desenlaçou, livrando Reyna do peso considerável que havia naquela peça. A filha de Afrodite sentiu a pretora tremer um pouco sobre seu toque quando suas mãos roçaram levemente nas costas cansadas e doloridas.

— Te incomoda? – A pergunta demorou um tempo para chegar aos ouvidos de Reyna. Tanto que a pretora só a entendeu devidamente quando se deu conta de que Piper havia parado seu trabalho.

— O quê? – Reyna se virou para encarar a filha de Afrodite.

— Quando eu te toquei... – A garota ajeitou uma mecha atrás da orelha. – Você meio que ficou tensa quando encostei nos seus ombros.

— Não! – A romana se apressou em responder e Piper notou um leve rubor tomar conta do rosto da outra e aceitou a resposta como verdadeira.

— Algumas pessoas não acharam boa ideia nós duas liderarmos uma missão. – Piper começou de súbito enquanto assistia Reyna retirar as grevas e os braceletes.

— Sim. Mas sabemos que foi uma ideia de Annabeth. – Reyna disse categoricamente. – E poucas pessoas tem a falta de senso de ir contra o que ela diz. – Piper riu e assentiu concordando.

Reyna praguejou em latim, chamando a atenção da mais nova. E, ignorando sua impressão anterior, novamente, ela se aproxima da romana para ajuda-la com sua armadura. Dessa vez, era o cinturão de aço que dava problemas à sua dona.

Sem aviso prévio, Piper junta suas mãos às de Reyna sobre a cintura delgada e, novamente, a cherokee sente o corpo da romana estremecer ao ser tocado por ela. A garota franze o cenho e, mesmo assim, leva a cabo seu serviço. A peça de metal corre suavemente pelas pernas trabalhadas até tocar o chão.

Como um animal assustado que se vê livre de seu predador, Reyna se afasta de Piper. O gesto não passa despercebido, porém a mais nova prefere guardar o silêncio. Não seria o tipo de conversa esperado para aquela situação, Piper sabia. E Piper conhecia Reyna tão bem que a morena, simplesmente, iria desconversar ou dizer para tratarem de tal assunto num momento mais oportuno. Se é que tal momento chegaria.

Agora, vestida apenas com a túnica roxa do exército romano, Reyna se dirige à mesa no centro da tenda e chama Piper com o olhar. A garota dá de ombros e obedece ao pedido, sabendo que Reyna fingia não ver seu descontentamento, sabendo que Reyna a trataria do modo mais impessoal possível. Sabendo que Reyna mentiria se fosse preciso. E sabendo que Reyna já estava mentindo e o único relato verdadeiro lhe fora dado pelo corpo da pretora. 

Piper se sentou de frente para a romana, vendo Reyna estender um mapa da região na mesa. A concentração da morena era inabalável. Piper via seu amor pelo trabalho e pela Legião em gestos simplórios como esse. De maneira calma e concisa, a pretora marcava os locais que ela achava importante, jamais privando Piper de cada detalhe da missão que era empreendida. Contudo, a cherokee sabia, ela estava dispendiando tanta atenção às táticas militares quanto ela estaria despendendo a uma aula de matemática. Seus olhos estava focados, era verdade, mas não no mapa ou nos pontos, e sim nas mãos de Reyna, nos olhos de Reyna – que evitavam os seus sem pudor algum – e na voz da pretora que soava cada vez mais num caminho entre o nervosismo e a ordem.

— Pare. – Piper sussurrou, segurando uma mão da morena entre as suas. – Minha cabeça já está a milhas longe daqui.

— Devemos repensar algum passo? – Reyna a olha, confusa, e tenta retirar sua mão do aperto de Piper, porém, a cherokee não deixa e obriga Reyna a encará-la. – Piper?

— Eu acho que devemos, sim, repensar alguns passos, contudo.. – A filha de Afrodite não precisou terminar de falar para Reyna a entender. A expressão confusa deu lugar a uma quase aterrorizada e Reyna balançou a cabeça veementemente.

— Não é uma boa hora, Piper. – A pretora disse enfática, resoluta, contudo, Piper notou as palavras em tom de quem ensaia dias e dias à frente de um espelho.

— Não existe boa hora para essa conversa, Reyna! – A garota disse e, logo, pediu desculpas com o olhar pelo tom severo.

— Não há o que dizer, Piper. – Reyna responde, a voz saindo cada vez mais baixa e agastada. A pretora tentava controlar a própria irritação que teimava em crescer, junto com seus batimentos. Piper ainda tinha tanto poder assim sobre ela? Era amedrontador admitir que sim.

— Há muito o que ser dito! Reyna, você ficou tensa só de eu te tocar! Você reagiu da mesma maneira quando eu.. – Piper segurou as palavras a tempo, antes que elas pudessem queimar rápido demais as emoções naquele lugar. Ela queria dizer que Reyna quase agira como se elas estivessem prestes a se amarem. Porém as palavras ficaram lá, entre a voz de Piper e o ar. Reyna iria decifrá-las. E Reyna as decifrou.

— Não vou ficar aqui! – De supetão, a pretora se livra das mãos de Piper e se levanta, prestes a tomar a entrada da tenda e ganhar a atmosfera fresca e disciplinadora do acampamento improvisado.

— Se você sair, Reyna Avilla Ramírez Arellano, eu juro por todos os deuses que essa é a última vez que tentarei nos consertar! – Reyna enrijeceu à entrada da tenda. Seu coração correndo cada vez mais dentro do peito. A pretora levou uma mão ao tecido da tenda, mas não encontrou forças para trespassá-lo e se ver, de uma vez por todas, livre daquela conversa que Piper tanto queria.

Incapaz de lutar com essa nova covardia, se é que se podia se chamar tudo que Piper despertava nela de nome tão pejorativo, que nascia dentro dela, Reyna permanece parada, de costas para Piper. Ela não queria ter aquela conversa, ela não pediu por uma missão em conjunto, ela não... A pretora suspirou e abaixou a cabeça, cedendo, por fim, à resiliência de Piper. Ela começou a juntar as partes da armadura romana, estopim de tudo que estava acontecendo aquela tarde. Reyna sabia, desde o começo, que a decisão de Annabeth traria lá suas conseqüências complicadas.

Pelo canto do olho, ela viu Piper se levantar. O medo tomando-lhe o coração entre as mãos e logo o largando ao perceber que a garota se dirigia para a lareira e não para a saída.

— Eu me lembro desse arranhão. – Piper disse de longe e só então Reyna percebeu que estava um bom tempo olhando para o arranhão deixado pela garra de uma harpia, uma mancha na polidez da armadura. – Foi quando você me salvou de ser comida de monstro. Foi quando...

— Quando você notou meus olhos pela primeira vez. – Reyna completou a frase, se lembrando daquela conversa.

— Eu menti. – Piper voltou a percorrer o cômodo, desta vez se sentando ao lado de Reyna, que fez o melhor para não se mostrar nervosa ao lado da outra garota. – Eu sempre reparei seus olhos.

Reyna deu um sorriso triste e Piper aproveitou o silêncio para tocar as mãos da pretora outra vez. Seus dedos percorrendo a trilha deixada pelas veias que saltavam da pele morena, provas de seu esforço e treinamento. Reyna se demorou, bebendo aquela cena, tão familiar, mas tão distante, ao mesmo tempo. Por que o amor tinha a mania de ficar tão complicado?

— Sinto muito se estou te importunando, sei que logo a linha de ação contra a colônia de hidras deve ser logo decidida e executada, mas... – A garota mordeu o lábio inferior, desviando o olhar de Reyna pela primeira vez em que entrara naquela tenda e encontrara a pretora.

— Mas....?

— Mas, eu não estou interessada em nada disso. Sei que soa egoísta, porém.. Egoísmo é querer vencer uma batalha que vai atravessar gerações e nos deixarmos ser derrotas pela única coisa que podemos ganhar.

— Piper.... – Reyna trincou o maxilar, não sabendo o que responder. Não sabendo, até, se havia resposta a ser dada. Piper estava certa. A luta contra monstros era imortal. A luta que elas tinham agora pela frente só dependia delas. – Eu tive medo, tá legal?

A pretora foi interrompida. Piper calou-a com um dedo entre os lábios.

— Eu não quero saber o que você teve. Quero saber se podemos consertar. – Os olhos caleidoscópicos agora estavam avivados por um fogo diferente, Reyna notou. Um fogo que ela jamais encontrara em lugar algum. Subitamente, a pretora notou, seu coração parecia se acalmar, em consonância com a paz que a presença de Piper lhe proporcionava.

— Podemos. – Ela sorriu, derrotada. Feliz pela derrota, ela admitiu. Podiam-se se consertar. Era o que bastava. Sua armadura no chão, Reyna entendeu, era a metáfora que ela precisava para ter Piper de volta.


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Notas finais do capítulo

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Muito obrigada!
Tia Diana ♥



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