Abro os olhos de repente e me deparo com a escuridão do quarto. Meio ofegante e atordoada, levo alguns instantes para entender que tudo não passou de um pesadelo.

Já sentada na cama, passo as mãos por meu rosto suado e respiro fundo, procurando me acalmar.

Quando era criança, eu acreditava que não ficaria impressionada com esse tipo de situação depois que crescesse. Agora, oficialmente uma adulta, percebo que me enganei feio. Ninguém está livre de sentir medo. Ninguém cresce a tal ponto.

Sinto-me meio idiota por desejar isso, mas tudo o que queria neste momento era que você estivesse aqui. Atraída pelo meu choro ou por meus incessantes chamados no silêncio predominante da madrugada, você viria ao meu socorro, me abraçaria forte e eu saberia que tudo ia ficar bem.

Sabe... eu sinto falta do seu abraço e sinto falta dessa certeza. E sinto ainda mais falta do tempo em que o único medo que eu sentia era quando tinha pesadelos assim.

Hoje a realidade me assusta muito mais. A vida é apavorante e não sei se sou capaz de lidar com os desafios que ela impõe.

Essa angústia me faz pensar ainda mais no passado. Ele era tão seguro, tão descomplicado, que eu não entendo por que desejei crescer ou por que alguém deseja algo assim. Não que a humanidade tenha escolha, mas eu devia ter acreditado em você quando repetiu, inúmeras vezes, que a infância era a melhor fase da vida e que eu devia aproveitá-la mais.

Droga... Você estava certa.

É uma pena que eu só perceba isso agora, no auge dos meus vinte e poucos anos, cheia de responsabilidades e morando a quilômetros do seu carinho. É uma pena não poder voltar àquele tempo seguro e me refugiar em seus braços de novo.

Por outro lado, por mais que uma parte infantil e amedrontada de mim deseje voltar, eu sei que a vida é um rio que corre numa única direção e que não posso ficar estagnada sobre uma pedra às margens dele.

Sei também que por mais que o presente seja assustador — e, por favor, nem vamos falar sobre o futuro porque ele me dá arrepios —, você me criou para vencer qualquer medo e seguir o meu caminho da melhor forma que eu conseguir.

Por isso, eu posso até tropeçar, mas juro que vou continuar me erguendo e caminhando. Porque a vida é assustadora sim, é desafiadora na maior parte do tempo, escura e fria algumas vezes, mas também é bonita e iluminada. De alguma forma, você me ensinou isso.

À medida que meu medo se dissipa, percebo que essa sensação de que eu perdi algo pelo caminho é só uma mera sensação. Percebo também que aquela menina que queria tanto crescer e mudar o mundo, continua aqui. Ela se transformou em uma mulher, mas a essência permanece aqui dentro.

Agora que o medo finalmente se foi, ela vai voltar a dormir, mamãe. E não importa como será o amanhã, ela vai estar lá para enfrentá-lo e vivê-lo, como você a ensinou a fazer.

Convicta disso, volto a me deitar na cama, fecho os olhos e espero o sono me embalar.

Desta vez, sei que não terei pesadelos.