Um Refúgio em Silent Hill escrita por Mara S


Capítulo 8
Almas Desesperadas




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Jillian tentou fingir estar tudo bem e por azar ou sorte, ninguém pareceu se importar com a saída dos dois. Já na rua, olhou para o segurança, mas o homem cantarolava uma canção sem notar o casal que sumia de sua vista. Já na porta do carro, ele a empurrou na direção e disse secamente enquanto sentava no banco dos passageiros:

–Vamos para sua casa, conversar como antigamente.

Jillian tremia de frio, mas conseguiu dar partida no carro. O antigo namorado e parceiro estava com a arma apontada para ela e sorria ao notar o desespero da mulher.

– Não tente fazer nenhuma gracinha até chegar a seu apartamento.

– Parece que vasculhou bastante minha vida nos últimos meses, não é mesmo?

– Claro... Você continua sendo a mesma daqueles anos. Bem que dizem que nunca corrigimos nossos vícios... Você voltou ao seu antigo emprego! Mas sem aquele glamour de antigamente. Estava tão desesperada por emprego ou aceitou este porque realmente gosta de ser uma vadia?

– A vadia que te roubou um milhão, você quis dizer.

– E a vadia que vai morrer por causa disso.

– Querendo acompanhar seu irmão? – Jillian o provocou, sabendo que não seria a coisa mais sensata a se fazer.

Quando Steve foi revidar, ela brecou o carro, pois chegaram à frente de seu prédio. Ele desceu do carro e a puxando para o lado de fora, fez com que o levasse até seu apartamento. Jillian tentava pensar em alguma forma de escapar da morte iminente, mas parecia inútil.

Com uma batida violenta, Steve trancou a porta do apartamento e a derrubou no chão com um tapa.

– Só estou querendo te lembrar onde é seu lugar.

Jillian limpou o sangue no canto dos lábios.

– Onde está o dinheiro?

– Foda-se.

– Não tente parecer corajosa, porque eu sei que está com medo de morrer, meu amor – ele a puxou pelo cabelo e a jogou no sofá violentamente.

– Você sabe como estou me sentindo? Primeiro eu descubro que você me traia com meu irmão. Depois que vou atrás dele, descubro que você havia matado o idiota do John porque ele sabia disso. E por ultimo descubro que você foi embora com toda aquela maldita grana! A grana que havíamos roubados juntos! Eu, você e meu irmão!!! Você é uma vadia miserável, sabe disso? O que você queria? Enganar nós dois? Queria que ambos nos matássemos e no final você ficaria com todo o dinheiro?

Steve respirou profundamente e a puxando em sua direção continuou:

– É... Eu matei meu irmão por sua causa, ainda mais quando ele me jogou na cara que vocês transavam na mesma casa que eu estava! E que você disse para ele que iriam embora com o dinheiro todo. Eu mataria aquele desgraçado de novo... Pelo dinheiro e por ter me enganado tão bem! Eu, o irmão mais velho!

– Você sempre foi o último a saber de todas as coisas que se passavam a seu redor. Nunca saberia que eu te traia se não fosse seu irmão para falar. Você só soube que eu estava planejando fugir com toda a grana quando já estava longe. Admita, Steve, que você sempre foi um perdedor. E seu irmão foi o esperto. Eu queria que ele fosse embora comigo, mas eu não pude esperar... E me arrependo disso, porque ele era um homem melhor que você.

– Mas agora ele está morto.

– Eu soube. Não que realmente tenha preenchido o vazio dentro de você, não é? Já que matou seu irmão, quer saber como foi que tudo começou? – Jillian perguntou o provocando, mesmo com a arma em sua direção. – Nós transamos naquela cozinha enquanto você estava desmaiado na sala, tão perto de nós, depois de cheirar todo aquele pó... Faz tanto tempo e você nunca desconfiou de nada, tolinho...

Com outro tapa ele a calou. Desta vez, Jillian caiu em cima da mesa de centro da sala, quebrando seu vidro.

– Fale logo onde está a porra do dinheiro!!!

– Você precisa de mim para abri-lo.

Sem pensar duas vezes ele a levantou e com a arma apontada em suas costas a seguiu pelo corredor. Jillian entrou em seu quarto e se ajoelhando no armário puxou uma sacola de viagem. Pôde ver o taco de beisebol não muito longe de suas mãos, mas apenas se levantou sem poder tocá-lo. Entregou a sacola nas mãos de Steve que sorriu ao abrir e perceber a quantidade de dinheiro que dentro havia.

– Sabe qual vai ser a história que vão contar quando encontrarem seu corpo jogado em cima da cama, vestida assim? Mais uma prostituta morre... Talvez algum cliente insatisfeito. Essa vida sempre foi arriscada.

– Estou aliviada... – falou caminhando lentamente para trás.

– Por quê?

– Pensei que seria mais agressivo, talvez tentasse um estupro, mas parece que continua sendo o mesmo fraco de antes.

– Não me provoque – disse apertando-a na porta do armário.

– Se quisesse me matar já teria feito isso – disse tateando ao seu redor. O taco parecia tão próximo, escondido entre suas roupas.

– Não duvide de mim...

Jillian o interrompeu com um golpe do taco. A arma escapou de suas mãos e ele vacilou. Aproveitou sua tontura e o atacou novamente, desta vez o fazendo cair. Golpeou o homem em sua cabeça, peito, pescoço; tão enfurecida que nem distinguia o que batia.

– Sabe qual é seu problema, Steve? Você acha que está no controle, mas nunca esteve.

Ele ameaçou se levantar, mas caiu novamente.

– Eu não tenho medo de te matar. Eu matei John, matei outras pessoas antes dele e vou matar você! Por que eu não me importo com isso... Homens como você não deveriam nem ter nascido... Eu só estou fazendo o mundo melhor – disse rindo sadicamente.

Voltou a golpeá-lo, desta vez sentindo os ossos do crânio sendo esmagados. Depois de sentir que golpeava apenas uma massa do que era antes a cabeça de Steve, jogou o taco longe, sentindo seu braço e roupa suja de sangue.

Sentou-se na cama e suspirou. Ela nunca pensou que poderia matar novamente. Parecia que aquele pedaço de seu passado estava tão distante, quase esquecido, mas ali estava o corpo de Steve para provar o contrário. Jillian nunca poderia fugir das lembranças de quem era.

Colocou as mãos ensangüentadas no rosto, mas não sentiu nenhuma lágrima cair. Não havia motivos para chorar, afinal, ela nunca poderia se arrepender de ter matado Steve.

Não... Não era a verdade. Ela nunca se arrependera de ter matado outras pessoas. Aquela era Jillian Cabell. E nem mesmo sua fuga para uma cidade pequena poderia mudá-la. Ali estava a prova disso.

Tirou lentamente a roupa suja de sangue, a meia-calça, e jogou-os dentro de uma mochila. Ainda suja de sangue e machucada pela queda na mesa de vidro, ela foi até o banheiro e lavou os braços e rosto, sem tirar suas luvas de borracha douradas. Voltou até o quarto, colocou um casaco preto por cima do corpo nu e amarrou os cabelos num rabo-de-cavalo. Tirou algumas roupas de dentro do armário e as colocou junto com o dinheiro na sacola em cima da cama.

Olhou mais uma vez para o quarto, mas não havia nada ali dentro que pudesse lembrar quem era. O rosto destruído de Steve a encarava e sem perder mais tempo, Jillian saiu de seu apartamento. Ali dentro só havia memórias de Emily...

Dirigiu até a boate e sem olhar para o segurança entrou no ambiente iluminado pelas luzes do palco. Uma figura semelhante a James estava parada no balcão com um copo de cerveja na mão. Ela não soube decifrar quem era, mas naquele momento tudo que não queria era se encontrar com James. Ele era apenas mais uma lembrança de Silent Hill agora... Agradeceu que o ambiente estava escuro e repleto de fumaça para passar despercebida e alcançar o vestuário. Ao chegar pegou sua bolsa.

– Então...? – ouviu a voz do chefe atrás de si ao sair do vestuário.

– Já terminei com ele. Só vim pegar minha bolsa por que esqueci uma coisa em casa.

– Mas você vai voltar, não é mesmo? – perguntou erguendo as sobrancelhas.

– Claro... – sorriu afetadamente se afastando do chefe.

Com um suspiro de alivio entrou em seu carro. Era hora de deixar tudo aquilo para trás. Abandonar Emily, a Jillian da boate que possuía tão pouco da Jillian que realmente era, e toda aquela mentira que vivia.

Viu-se pensando em Joseph e no que poderia ter acontecido com ele. Era estranho naquele momento pensar em alguém tão distante, mas ela lembrou-se da imagem doentia do homem na escada, tão diferente do Joseph que conhecera antes. Jillian sabia que nunca mais o veria, mas esperava que ele tivesse um final menos infeliz que o dela. Não pôde deixar de sentir certo remorso ao sentir que não poderia ajudá-lo, como prometera.

Talvez Vincent estivesse certo quando disse que não podia se escapar de seus demônios...

Mas pelo menos conseguiria escapar daquela cidade. Nada mais poderia impedi-la, nem mesmo aquela sensação estranha e até mesmo assustadora que a cercava todas as vezes que pensava em fugir.

“... esta cidade atrai almas desesperadas por socorro e com você não deve ter sido diferente.”

Era como se a cidade quisesse testá-la. Não fazê-la esquecer de quem era... E foi esta sensação que sentiu quando chegou à estrada que a levaria para longe dali.

Como se nunca mais pudesse se esquecer do que se passou em Silent Hill.

FIM


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Notas finais do capítulo

Yaaaay, terminei a fic Espero que tenham gostado



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