Fora de Si escrita por dubstepbard


Capítulo 6
Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714308/chapter/6

Silêncio.

“E então, Tsukishima, o que te traz aqui?”

Uma pausa.

“Precisamos conversar.”

“Hm? Precisamos?”

“Sim. Posso entrar?”

“Claro, fique a vontade.”

—--

“É pequeno e bagunçado, mas é legal. Serve o propósito.”

É a sua cara. “Bem bagunçado, você quis dizer.”

“Ha ha ha. Quer alguma coisa para beber? Um chá? Um café?”

“Um café, por favor.”

“Ah. A cafeteira quebrou hoje de manhã, era por isso que eu estava no café...”

Por que você está se explicando pra mim? “Aceito um chá então.”

Por que eu estou me explicando para ele? “Ok, fique a vontade.”

“Certo.”

“Certo.”

—--

Sentaram-se frente a frente.

“Até que não tá tão ruim.”

“Não acredito que você veio até aqui pra reclamar do meu chá.”

“Eu não estou reclamando.”

“Você está falhando em apreciar o chá que fiz com tantas boas intenções, o que dá na mesma.”

Tsukishima revirou os olhos.

“Ei ei ei, não role os olhos pra mim desse jeito, Tsukki. Você ta na minha casa, posso te botar pra fora quando eu quiser.”

“Hmph.”

“Ta vendo?! Fez de novo! Que desrespeito!”

“Só falta dizer que eu preciso respeitar o os mais velhos.”

“Heh. Pois devia! Eu sou… fui seu mentor, podia ao menos demonstrar um pouquinho de respeito…”

“Mil perdões, senhor Kuroo, assim está melhor para o senhor?”

“Eu queria dizer que sim mas agora eu me sinto mais velho do que já sou. Tudo bem, senhor calouro rebelde…”

“Pfft. Eu nem sou seu calouro.”

“Isso é só um detalhe! Enfim, senhor calouro rebelde, se você não veio aqui só pra reclamar do chá, poderia começar a falar o que tem pra falar.”

Silêncio.

“Não quero te apressar nem nada mas… já faz alguns meses que você vem tentando fingir que nada aconteceu e… bem, eu não consigo brincar disso.”

Mais silêncio.

Kuroo deslizava o dedo seguindo os veios da mesa de madeira.

“Hah. Doeu, sabe? Você disse aquelas coisas todas e-”

“Eu não quis dizer aquilo-”

“-você realmente queria dizer aquilo.”

Silêncio.

“Não, eu não queria.”

“Ora, vamos lá Tsukki, não é segredo pra ninguém que eu sempre te atormentei, provoquei e irritei.”

“Kuroo-”

“Quer dizer, não era segredo pra ninguém a não ser para mim, que realmente acreditei que você gostava de mim… mesmo que fosse só um pouco.” Mesmo que fosse só como amigo.

Silêncio.

“O quão errado eu estava hein Tsukki, quem diria. E agora…”

Uma pausa.

“Bom, agora eu acreditava que estávamos no caminho certo, agindo como deveríamos ter agido desde o começo. Achei que estava tudo bem, que tinha entendido você finalmente. Achei que ignorando suas mensagens a gente poderia finalmente chegar num nível em que ninguém se machucasse… ou que ninguém machucasse ninguém, sabe como é.”

“Eu-”

Não terminei ainda, Tsukki. Ao contrário de você, eu pensei bem antes de te falar essas coisas.”

Tsukishima desviou o olhar.

Kuroo respirou fundo. Continuou.

“Eu considero- considerava você um dos meus melhores amigos. Confiava em você. Acreditava em você. Gostava muito de você. Queria mostrar que eu estava aqui pro que você precisasse, e eu realmente me importava. E quando você precisou, eu estava lá… mas parece que você não curtiu muito meu gesto, né.”

“Escuta Kuroo, eu-”

“Não, Tsukki, escuta você. Você levou esse tempo todo pra vir aqui e pedir desculpa, o mínimo que pode fazer é esperar mais um pouco e me ouvir enquanto isso.”

Era a vez de Tsukishima observar a mesa.

“Você me chateou pra valer. Não pelo soco, mas pelas coisas que falou. Preferia que você tivesse acertado meu nariz do que falado aquelas coisas, teria sido menos doloroso pra mim porque, em partes, você estava certo. Eu realmente fui encher seu saco só pra me divertir, no começo. Resolvi adotar você como meu pupilo como forma de pedir desculpas. Não esperava que fosse acabar gostando de você. Não foi planejado. Eu só queria uma reação, queria ver você se divertindo com o vôlei, mas depois que te conheci melhor, queria ver você se divertindo com a sua vida e seus amigos e, quem sabe, comigo também.”

O chá já estava frio.

“Quando vi você saindo do ginásio, meu único pensamento era ver se você estava bem. Nunca vi você agir daquele jeito, fugir daquele jeito. Fiquei preocupado. E, bom, eu estava certo. Você não estava bem, né… Eu passei por isso Tsukki. A derrota dói mais na gente. Pode não ter sido exatamente a mesma situação, mas garanto que eu sei a tristeza que é ver o rosto daquele pessoal que se esforçou tanto depois de uma derrota acirrada como aquela. Você quis ficar sozinho, mas não estava sozinho. Não que adiante muito eu falar isso agora né, quase 1 ano depois…”

Tsukishima observava Kuroo atentamente.

“1 ano, Tsukki. No primeiro mês que ficamos sem nos falar, estava muito chateado. No mês seguinte, comecei a me perguntar se eu não tinha feito nada de errado para você estar me evitando. Depois, fui só ficando com raiva mesmo. Raiva do seu orgulho idiota, do meu orgulho idiota, dos olhares de pena do Kenma, da falta que eu sentia das suas mensagens e das nossas conversas idiotas, dos nossos passeios com o Bokuto e o Akaashi, até do museu eu fiquei com raiva porque eles resolveram fazer uma exposição de dinossauros e eu só conseguia pensar em você quando passava por ele. E então, do nada, depois dessa merda de ter que me acostumar a ficar sem você, você resolve fingir que nada aconteceu. Eu tentei, juro que tentei. Fingir que estava tudo bem. Pois então. Não consegui. Acho que precisava olhar na sua cara pra saber se você realmente quer minha companhia ou se era só um capricho. E, pra falar a verdade, ainda não sei. Não quero me machucar mais, Tsukki. Foi ruim o suficiente uma vez.”

Kuroo se espreguiçou.

“Uwaah… Enfim. Acho que terminei. Obrigado por me ouvir sem tentar me dar um soco.”

Sorriu.

Tsukishima fitou a mesa novamente. Quando abriu a boca, sua voz saiu pequena, sussurrada, envergonhada.

“Desculpa. Não tive a intenção de te ofender nem nada do tipo. Eu perdi o controle, eu- eu realmente não queria ter dito aquelas coisas. Você é uma das pessoas que mais me conhece, e que eu mais gosto de conversar. Sei que podia contar com você e… eu estraguei tudo. Desculpa, Kuroo. Eu sou patético.”

“As vezes você é mesmo.”

“Eu sei. Vou entender se você não quiser mais falar comigo.”

“Depende. Você quer falar comigo?”

“Eu? Como assim?”

“Ora. Precisa de duas pessoas pra acontecer uma conversa.”

“Se eu não quisesse, por que eu estaria aqui?”

“Pra reclamar do meu chá?”

“... Eu retiro o que disse, você é patético e eu não quero conversar com você.”

“Tsukkiiiii~”

“E eu não tentei te dar um soco. Não que não tenha ficado com vontade, mas a intenção não era de agredir você. Acho.”

Acha. Tocante, Tsukki. Estou emocionado.”

“Escuta, eu to tentando pedir desculpas aqui, você poderia parar de me ridicularizar porque eu já estou me sentindo mal o suficiente sem a sua ajuda, ok?”

Uma pausa.

Um suspiro.

“Não foi minha intenção.”

“É, eu sei.”

Silêncio.

—--

Kuroo olhava pela janela, observando o movimento da rua do lado de fora. Ainda estavam sentados frente a frente, a mesa minúscula separando-os por centímetros. Seus joelhos mal cabiam embaixo dela sem que se encontrassem.

O silêncio pesava entre eles, mas Tsukishima não sabia o que fazer para consertar as coisas. Já havia pedido desculpas, mas Kuroo não tinha lhe dado nenhuma resposta se o perdoaria ou não.

Era horrível.

Tsukki sentiu o corpo inteiro retesar quando Kuroo tocou sua mão.

“Kuroo?”

“Isso é a cicatriz daquele dia?”

Fez que sim.

“Posso ver?”

Tsukishima estendeu a mão e Kuroo segurou-o entre as suas, observando atentamente tanto as cicatrizes quanto as reações de Tsukki.

“Kuroo, escuta, eu sinto muito pelo que acontec-”

Kei sentiu seu rosto arder quando o outro tocou as cicatrizes e o dorso de sua mão com os polegares, lentamente para sentir a pele sob seus dedos. Perguntou-se se Kuroo também estava sentindo seu pulso acelerado.

“Ainda dói?”

“Não. Não mais.”

“Que bom!”

Kuroo fez menção de soltar, mas Tsukishima continuou segurando.

“Tsukki?”

Agora era a vez de Tsukishima olhar pela janela, fingindo estar distraído com o movimento do lado de fora enquanto segurava as duas mãos de Kuroo na sua e corava.

Silêncio.

“Ei, Tsukki?”

Um resmungo.

“Não vai me largar?”

“Não, não mais.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fora de Si" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.