O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 7
Capítulo 7 - Emoções


Notas iniciais do capítulo

Como controlar o que sentimos?



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Dois dias de chuva passaram lentamente. Sem poder sair de casa, Annie tratou de guardar seus pertences com a ajuda da aia. Os baús seriam carregados para a casa de Jon antes do casamento. Nesse curto espaço de tempo mal falou com a família ou com o futuro marido. A única pessoa com tinha mais contato era Daisy. A euforia pelas mudanças que seriam realizadas em sua futura residência desapareceu completamente diante da certeza de que Jon Hawkins apenas a usara para representar o papel de bom moço.

Mas, no terceiro dia, quando o sol finalmente surgiu, Annie quis sair de casa. Seriam seus últimos momentos de solteira, queria poder aproveitá-los. Em breve estaria casada. Com compromissos, obrigações e com um novo carcereiro. Tomando coragem decidiu pedir ao pai a aprovação para um rápido passeio pelo parque em frente à casa do Conde. Leisa, sua criada pessoal, a acompanharia e ela prometia não se afastar muito das redondezas da residência dos Carter.

Animado pelo modo como tudo corria tão bem. O Duque, confidenciara a Sir Carter o quanto estava satisfeito com o casamento. Que gostara muito da noiva. Que a considerara adequada para seu filho. E que não via a hora em que eles tivessem filhos. Sem falar nos negócios, que haviam prosperado depois do anúncio oficial do noivado. Todos se mostravam mais receptivos e finalmente as finanças da família entravam numa linha ascendente. Por isso, e por tudo o que Hellen lhe falara do dia em que estiveram na residência de Jon Hawkins. Samuel Carter aceitou o pedido feito pela garota.

Annie caminhou por alguns metros junto a sua aia, mas acabou por sentar-se sozinha, num banco, sob um frondoso salgueiro, de frente para um pequeno lago. Onde cisnes nadavam. Estava perdida em seus pensamentos. Sem conseguir se imaginar como uma mulher casada. Era certo que ela tinha vinte anos. Não era mais uma menina. Mas, casar-se com um homem que não se ama...

— Bom dia. – ouviu de repente, e seus olhos foram atraídos para cima, de onde vinha o cumprimento.

Era ele, Peter Mitchell que a cumprimentara com seu inconfundível sorriso e seus olhos de um azul límpido. Será que estava sonhando?

— Bom dia Sir Mitchell. – retribuiu a saudação alegremente. – Como tem passado? – perguntou estendendo a mão.

Gentilmente o rapaz beijou-lhe a mão sobre a luva de renda antes de sentar-se ao seu lado.

— Nunca a vi no parque. Foi uma grada surpresa encontra-la...

Annie não soube o que dizer imediatamente. Todas as vezes em que tinha a oportunidade de estar diante dele, ficava perdida naqueles olhos. Mas acabou falando:

— Depois de dois dias trancafiada com minha família por causa das chuvas. E da correria preparando o... casamento. Decidi aproveitar o sol, e o clima ameno.

Ele desviou o olhar por alguns segundos, parecia indeciso quanto ao que falar.

— Compreendo... mas a senhorita não me parece feliz para alguém que está prestes a se casar. – ele provocou diretamente fazendo o coração de Annie bater mais forte.

— Casamentos arranjados devem geralmente produzir esse efeito nas noivas. – ela conjecturou, não querendo ser de todo direta.

— Não creio... – ela percebeu que ele insistiria. – Desculpe minha sinceridade. Mas, creio que seu pai não se preocupou muito em escolher um noivo adequado para a senhorita.

Desta vez foi ela quem desviou o olhar. Sabia que Peter estava certo. Mas, por alguma razão absurda, não queria dar-lhe crédito.

— Meu pai escolheu considerando que seria o melhor. – amenizou.

Peter acomodou-se no banco, ficando de frente para ela, de repente ela sentiu a mão dele sobre a sua, que descansava no colo. O susto foi tamanho que Annie quase ficou em pé. Seus olhos o observaram surpresos pelo gesto.

— Estou sendo impertinente... mas sei que não haverá outra oportunidade... e preciso dizer-lhe que...

Ela ficou em pé, impedindo-o de falar.

— Por favor... não... – nunca imaginara, que aquilo que tanto desejara ouvir seria dito. Mas pior ainda, não imaginava que no momento em que tivesse a oportunidade de ouvir. Não quisesse ouvir.

Espantado pelo comportamento da garota. Peter também ficou em pé. Ele pretendia lhe falar e não se deixaria levar pelo comportamento correto dela. Estava ciente de que Annie estava apaixonada por si, George fora muito claro quando lhe contara o segredo que Daisy deveria guardar, mas não guardou. E se ela se mantinha distante era única e exclusivamente porque não era do tipo de mulher que descumpre um compromisso. Mesmo que esse compromisso seja com alguém que não merece tanta lealdade.

— Não posso me calar... – retrucou apertando a mão que ainda segurava.

Ela o encarou extremamente séria.

— Sim! O senhor pode, e vai! Não diga nada que possa atrapalhar uma futura amizade.

— Jon Hawkins e eu jamais seremos amigos... e agora há um motivo a mais para isso...

— Leisa! – Annie chamou e em segundos a mulher esteve parada ao lado dela. – Tenha um bom dia Sir Mitchell. – Annie concluiu afastando-se com as mãos tremendo.

Enquanto caminhava afastando-se do homem que amava, Annie sentia como se seu coração estivesse ficando para trás. Como se não o carregasse mais consigo. Daisy tinha total razão. Ela era correspondida. Mas, de nada adiantava ser correspondida, exceto pelo fato de que agora sabia que não sofreria sozinha.  

*********************

Havia pessoas dos dois lados do corredor. Ele sabia que deveria cruzar. Mas suas pernas não queriam obedecer. Sabia que atravessar aqueles poucos metros lhe renderia tapas, chutes, socos, empurrões. Olhou para trás. Havia dois garotos mais velhos parados evitando um possível retorno, braços cruzados sobre o peito, esperando que ele seguisse em frente. Não poderia voltar. Soltou a maleta no chão. Todo retorno de verão era igual. Ele apanhava em casa, depois apanhava na escola. Fechou os olhos e deu o primeiro passo. Ninguém o atingiu de imediato, mas a medida que as passadas se alternavam sobre o tapete verde que seguia por toda a extensão do andar, seu corpo recebeu todo tipo de agressão.  E quando chegou finalmente a porta do quarto, seu lábio sangrava, o peito doía, as pernas tremiam.

— Jon! Jon! – ouviu ao longe, era uma voz conhecida. Lentamente abriu os olhos e se deparou com um rosto conhecido. – Você estava sonhando de novo. – o timbre de Hilda era agradável como sempre, ele o conhecia há muitos anos.

Respirou fundo e sentou na cama. Os primeiros raios de sol surgiam por detrás das árvores ao fundo, no bosque. Seria a última manhã acordando sozinho.

— Sua roupa está pronta. – novamente a voz agradável lhe falava.

— Quanto tempo tenho? – perguntou jogando as cobertas para longe.

— Você tem quatro horas... seu pai mandou um recado, virá para cá. Ele seguirá com você até a igreja.

— O velho quer ter certeza de que vou me casar.

Hilda sorriu. Nem Jon percebera o quanto se emprenhara para que tudo estivesse certo na cerimônia. E não escaparia desse compromisso, o Duque poderia ficar tranquilo.

A mulher largou a camisa, impecavelmente passada, no cabideiro de chão e encarou o rapaz que estava semi nu. Como sempre ele vestia apenas a calça de dormir, o peito ficava pelado. Jon não conseguia colocar mais nada.

— Vista seu roupão. – Hilda recomendou – não sou obrigada a ficar vendo sua nudez.

Ele sorriu de lado antes de observar a mulher magra, de cabelos grisalhos e olhos fundos que acomodava sua casaca no cabide.

 - Você já me viu pelado tantas vezes! Não acredito nesses falsos melindres. – brincou, aquela era uma das poucas pessoas que sabiam da capacidade de Jon Hawkins em ser brincalhão.

— Duvido que sua futura esposa goste de saber que o marido dela fica pelado na frente da governanta.

Ele riu alto. Estava surpreendentemente alegre naquela manhã.

— Se ela não gostar. Que passe a gostar... ou reclame comigo.

Caminhou até a tina onde o banho estava preparado.

— Vou chamar seu criado. Ele está terminando de engraxar suas botas.

Como assim estava engraxando as botas?

— Isso já deveria ter sido feito ontem! – reclamou em tom zangado.

Hilda tinha uma boa desculpa para isso:

— Teria, se você não tivesse carregado o homem para sua bendita despedida de solteiro. Lembra?

Um muxoxo cruzou pelos lábios fartos antes que Jon cerrasse os olhos aproveitando a água morna. A porta se fechou, Hilda saíra finalmente. O que seria dele sem ela? Talvez nada. Aquela mulher o conhecia desde de bebê. Cuidara dele como se fosse a própria mãe. Annie não poderia reclamar da presença dela na casa deles, muito menos das liberdades que lhe eram dispensadas. E era preciso deixar isso muito claro já no primeiro dia.

Estalou os lábios se recriminando por não ter tocado ainda no assunto com a futura esposa. Poderia ter aproveitado aquele dia, quando ela visitara a casa. Depois daquilo estivera tão ocupado com os negócios, com a descoberta de que o pai lhe passaria o comando de várias propriedades, que não conseguiu voltar a vê-la. Mas procurou promover todas as mudanças que a jovem desejou.

Sorriu, lembrando da felicidade de Annie dentro da sala particular. Gostaria de saber qual havia sido sua reação ao ver o quarto também. Mas, não quis perguntar a Hilda. A mulher tiraria conclusões erradas a respeito do interesse dele. E era melhor guardar a curiosidade para si.   

Ainda naquela noite ela estaria em sua casa. Ele veria com os próprios olhos como a “esposa” reagiria às alterações feitas de acordo com os gostos dela.

Abriu os olhos ao sentir o corpo reagir diante da lembrança de que a garota estaria mais do que em sua casa, estaria em sua cama.

*************************************

Annie remexeu no véu mais uma vez. Não se sentia satisfeita com a posição do tecido.

— Se a senhorita não parar de mexer, não conseguirei concluir o trabalho...  – a modista reclamou pela terceira ou quarta vez.

— O tempo está se esgotando Annie! – Hellen recriminou encarando a enteada pelo espelho.

Ela não se sentia bem. Estava agitada, nervosa, ansiosa, preocupada. Mal dormira naquela noite. E quando conseguira conciliar o sono, sonhara com Peter, com seus olhos azuis, com seu sorriso. Com suas palavras doces, com declarações de amor... mas também sonhara com Jon, chegara até mesmo a sentir o cheiro dele.  Com o calor que ele provocava quando beijava sua mão. Com sua voz firme que a desafiava e produzia emoções contraditórias dentro dela.

— Está pronto! – a mulher concluiu se afastando da noiva para ver melhor seu trabalho.

— Você está linda Annie! – Hellen falou com admiração na voz.

Annie se observou no espelho. O vestido era branco, com enfeites delicados em toda a parte de cima. Seu pai lhe dera o colar de pérolas que fora de sua mãe. O cabelo estava arrumado de maneira a permitir que seu rosto ficasse livre, e o véu curto completava o visual. Ela se sentiu bonita. Mas, ao mesmo tempo se sentiu infeliz. Não era assim que sonhava se casar.

— Vamos? – a madrasta lhe chamou. – Leisa! Ajude sua senhora. Seu pai já está agitado lá embaixo.

A criada se aproximou de Annie, a ajudou a se levantar e a conduziu até a carruagem de Sir Carter, parada na frente de casa. Daquele momento em diante não havia como voltar atrás. Seu destino estava sendo selado.

**************************

O primeiro acorde ecoou pela nave, lá no alto, o coral formado por meninos começou a cantar. Ave Maria. Jon se moveu, ficando de frente para a entrada. Annie estava parada junto ao pai, encarando-o séria. Novamente seu estômago reagiu diante da visão da noiva. Pai e filha  começaram a  caminhar em sua direção e a sensação aumentou, tentando se controlar ele apertou uma mão contra a outra nas costas. Mas não conseguiu desviar o olhar da mulher que se aproximava.

Muitas vezes se culpava, sabia que não a merecia. Annie não era igual as mulheres com as quais tivera a oportunidade de estar. Mesmo as mais recatadas, todas fingiam ser o que não eram. Porém, dizia a si mesmo numa espécie de compensação, que quando aceitara o casamento não a conhecia. E agora... agora não havia como voltar atrás.

A dupla chegava, ele desceu os dois degraus e se aproximou de pai e filha. Annie ainda o observava com aquele olhar desafiador. Ela jamais baixaria a guarda. Seus olhos correram pelos convidados rapidamente. Sabia exatamente onde Peter Mitchell estava. O último encontro dos dois acabara em uma discussão. Quando o ex colega o desafiara a fazer a coisa certa e acabar com o compromisso,  permitindo que sua noiva fosse feliz com alguém que pudesse amar, e que também a amaria.

A resposta de Jon fora um sonoro soco que desencadeara uma briga no meio do clube dos lordes. Seu pai, furioso, tivera o maior trabalho em silenciar o escândalo que a confusão provocaria. Mas, ele sabia, ou confirmara a suspeita de que Peter estava apaixonado por Annie. E a certeza de que deveria manter os dois o mais afastado possível.

 Annie apertou o braço dele trazendo-o de volta à realidade, ela estava tremendo. Tentou acalmá-la afagando a mão que se apoiava nele. A garota o olhou detidamente, como que pedindo socorro. Jon tentou sorrir. Queria dizer que não seria assim tão ruim. Que tentaria manter a cordialidade entre eles. Que tentaria ser... um bom marido.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, um pouco mais do casamento, e as primeiras horas dos dois sozinhos, como marido e mulher. BJ e obrigada pelos reviews, estou amando escrever. E amando que vocês estejam acompanhando.