Follow You escrita por Han Eun Seom


Capítulo 1
Follow You




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Follow You

Ele acordou antes do rapaz deitado ao seu lado. Seus olhos ardiam por causa das poucas horas em que conseguiu pegar no sono. Talvez tivesse sido melhor simplesmente não ter dormido nada, sentia-se ainda mais cansado agora. Não que se sentisse disposto em algum momento, o caso era que estava bem pior agora.

Tudo estava pior. Fechou os olhos com força e sentiu o nó em sua garganta. Não podia chorar naquele momento, não queria acordar Jungkook com os seus soluços novamente, principalmente agora que ele estava com a agenda tão lotada.

Os sete tinham inúmeras atividades e compromissos para comparecer. Comerciais, treinamentos, reuniões, discussões sobre qualquer coisa relacionada a carreira e ao próximo passo que dariam.

Jogou as pernas para fora da cama com cuidado e sentiu sua cabeça rodar. Há quanto tempo não dormia profundamente? Quando fora a última vez que tinha estado energizado e animado? Não conseguia nem lembrar da última vez que aparecera na frente de uma câmera com um sorriso verdadeiro.

Nada parecia real agora.

Passou a mão nos cabelos e segurou um suspiro. Era um ingrato, como podia sequer pensar mal de sua vida? Ainda mais com ele ali do seu lado? Sentiu uma pontada forte em seu estômago e disse a si mesmo que tinha que ignorar aquilo.

Sim, tinha uma vida dos sonhos. Tinha milhões de fãs, garotos, garotas, homens, mulheres; sua voz alcançara países que nunca imaginara que poderia sequer chegar a visitar, possuía dinheiro e parceiros que estavam ao seu lado. Além dele, é claro.

Olhou por cima de seu ombro e seus olhos recaíram sobre o rosto adormecido de seu namorado. Jungkook era mais do que seu namorado, se fosse dizer a verdade. Ele era seu tudo. A pessoa que mais havia estado ao seu lado durante seus piores momentos. Jungkook tinha presenciado cenas que o próprio Jimin se forçava a esquecer.

O que havia de errado então?

Ele era o erro.

Engoliu em seco e sentiu sua garganta doer levemente. Treinou notas que não alcançava com perfeição por tanto tempo seguido que sua garganta estava sensível. Quis se bater por aquilo. Como podia deixar algo assim acontecer?

A realidade era que sentia dores em todos os cantos de seu corpo, pois enquanto os outros não viam, Jimin se forçava a dançar e a cantar. Testou todos os seus limites e o resultado disso definitivamente não era o mais agradável para seu corpo.

A culpa é minha, pensou enquanto levantava cuidadosamente da cama, sou eu quem não é bom o suficiente.

E este era quase o seu mantra. Acreditava tão piamente que não merecia a vida que tinha e as pessoas que amava. Não era bom o suficiente e não conseguia passar mais de dez minutos sem se lembrar de todos os erros que havia cometido em coreografias e ensaios. Era a sua forma de manter sua mente trabalhando para melhorar sempre.

Mesmo que, para ele, nunca fosse o suficiente.

Sentia-se inferior a todos, sentia-se feio, sentia-se gordo. Como tinha coragem de aparecer num palco com aquela aparência? Devia pedir desculpas a todos seus fãs, não devia?

Seus pés descalços se dirigiram para o banheiro e ele se olhou no espelho.

Como ele odiava seu rosto sem a maquiagem. Não importa o quanto Jungkook dissesse que era bonito de qualquer jeito, Jimin sempre acharia que estava falando isso para que não ficasse triste.

Ele era tão bom. Jungkook era perfeito.

Olhou para as próprias mãos e analisou como Jungkook era tudo o que havia sempre desejado. A pessoa dos seus sonhos sem sombra de dúvida. Desconsiderando qualquer traço físico, a personalidade dele, a forma com que o abraçava, como sempre estava ao seu lado... tudo fazia com que Jimin pensasse o quanto não o merecia.

Já tinha pensado tantas vezes no porquê Jungkook ainda estava ao seu lado, ainda mais como seu namorado, dividindo a cama e o tomando em seus braços. Todas as conclusões que tirava era que ele sentia pena dele. O que era compreensível, considerando que de todos os garotos, Jimin era o que se menos destacava. Porém, sentia-se ainda pior por isso, pensava que estava impedindo Jungkook de ser feliz.

Não conseguia, entretanto, imaginar sua vida sem ele. Ah, como odiava seu egoísmo.

Suspirou e sentiu seu corpo clamar por comida. Não comera nada na noite passada e havia treinado durante mais de quatro horas antes de dormir. Precisava perder peso.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo farfalhar dos lençóis no quarto. Jungkook estava acordando e Jimin forçou o melhor sorriso que podia para não o preocupar. Não tinha o direito de preocupá-lo.

— Jimin? – A voz sonolenta o chamou e lavou seu rosto rapidamente antes de voltar para o quarto e se sentar na cama.

Os olhos escuros de Jungkook finalmente se abriram e encontraram os de Jimin.

Era como o paraíso na Terra. Ele simplesmente amava abrir os olhos de manhã e ver a pessoa que amava ao seu lado. Abriu um leve sorriso e deu um “bom dia” preguiçoso acompanhado de um bocejo. Perguntou que horas eram e quando Jimin respondeu com a voz baixa que ainda era cedo.

Seu coração apertou.

Não porque tinha algum compromisso, mas porque percebera o tom dele. Seu sorriso morreu e levantou seu corpo lentamente. Jimin sorriu para ele, mas ele sabia que aquele sorriso não era real. Sabia muito bem, o conhecia o suficiente para saber que não estava bem.

Abriu a boca para perguntar o que acontecera, mas seu celular tocou.

— Você deveria atender... – Jimin olhou para o celular e fez menção de se levantar da cama, mas ele o segurou pelo pulso. Seus olhos miraram diretamente nos de Jimin, vasculhando aquele mar atormentado, tentando entender o que estava acontecendo. – Mas o que foi? – Riu baixinho. – Até parece que nunca me viu antes.

Jimin se soltou gentilmente dele e seguiu para o closet.

Estava pálido, não estava? Seus olhos estavam cansados e sua pele parecia doente. Franziu o cenho com o coração acelerando. Jimin estava pior? O que estava acontecendo? O que o fizera ficar daquele jeito?

Sabia muito bem que seu namorado tinha depressão, mas as vezes ele atuava tão bem que esquecia o quanto podia se auto denegrir, o quanto podia inventar mentiras sobre si mesmo e acreditar nelas.

Houve um tempo no qual Jimin escondeu esses pensamentos de Jungkook, mas este sempre percebia que tinha algo de errado. Naquela época, não falara nada, pois imaginou que passaria como tantas outras vezes. Entretanto, o olhar que Jimin lhe dirigiu poucos segundos antes fizera seu peito se apertar com medo.

— Você não vai atender esse celular não? – Jimin gritou do closet e Jungkook pegou o seu telefone disposto a simplesmente ignorar a maldita ligação.

Não podia fazer isso, entretanto. Suspirou pesadamente quando viu que era um dos produtores. Atendeu a chamada ao mesmo tempo em que tirava os lençóis de cima de seu corpo e saía da cama.

O produtor começou a falar, mas sua mente ainda estava presa em Jimin. Andou até o closet e o viu colocar a calça escura. Parecia-lhe mais magro e isso o preocupou mais ainda. Tinha que fazer algo, não suportava vê-lo daquele jeito.

Jimin virou-se para pegar a camiseta e sua expressão transpareceu dor.

Aquilo era demais. Tinha que entender o que estava acontecendo naquele exato momento. Estava pronto para falar com Jimin, mas a voz irritada no outro lado da linha chamou sua atenção e tudo o que ele pegou foi “você estará viajando em algumas horas”.

— O que? – Jimin escutou a voz dele, finalmente percebendo que Jungkook estava ali o observando.

Sentiu-se envergonhado. Seu corpo era uma vergonha e ele odiava que Jungkook o visse daquele jeito. Ele merecia alguém fisicamente melhor, mentalmente melhor.

Observou a expressão irritada dele e se perguntou o que estava acontecendo.

Hoje seria um dia que teriam para eles e Jungkook tinha dito que podiam ficar por ali mesmo, apenas vendo um filme e fazendo coisas inúteis, mas aparentemente seus planos não dariam certo.

— Não, não. Como você pode simplesmente ligar dizendo que eu tenho que estar em outro país? Hoje seria um dia de... – interrompeu-se e segurou sua raiva. – Sim. Sim, eu entendo que tenho que estar disponível para..., mas é que hoje...

Outro país? Só o Jungkook? Jimin continuou com a mesma expressão, mas seu coração ardia. Estava esperando por aquele dia apenas com Jungkook. Queria aquilo por mais que achasse egoísta de sua parte querê-lo apenas para si durante um dia inteiro. Precisava dele.

— Eu... – não podiam discutir quando viam propostas de trabalhos, principalmente se eram interessantes e lucrativas. Mesmo que Jungkook quisesse gritar e dizer que não iria, que especialmente aquele dia não estava disponível, ele não podia.

Olhou para Jimin que já tinha entendido a situação toda e seu olhar transpareceu a dor que sentia. Viu que nos olhos do seu namorado havia algo muito mais forte que tristeza e aquilo foi mais do que suficiente para que tomasse coragem para refutar a ordem.

Porém Jimin sorriu e formou com os lábios um pequeno “vai”.

Era óbvio que seu sorriso era forçado, era óbvio que queria dizer “fica”, mas não podia deixar Jungkook numa situação de risco com a BigHit. Eram empregados apesar de tudo, estavam presos a um contrato e nada poderiam fazer. Recusar algo como uma viagem para outro país estava fora dos limites da sua pequena liberdade de decisão ali. Jimin sabia muito bem que não podia fazer com que ele escolhesse entre algo tão importante quanto o trabalho e ele. Não era mesquinho a este ponto.

— Em... em quanto tempo? – Jungkook disse finalmente e nunca havia sentido tamanha indecisão antes. Sabia dos riscos envolvidos e entendia muito bem qual era a sua obrigação para com a empresa... mesmo assim... mesmo assim ele... – Entendido.

Desligou o celular e se virou para Jimin, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, o rapaz começou a falar.

— Não precisa se desculpar. Eu entendo. – Sua boca formou um pequeno sorriso e ele se aproximou de Jungkook. – A gente vai ter outro dia. Quanto tempo você tem?

— Apenas algumas horas. Vou para Hong Kong aparentemente... – seu tom era o de uma criança contrariada e Jimin quase riu da expressão dele.

— Melhor fazer logo as malas, não?

 

Arrumou uma pequena mochila, pois ficaria apenas um dia. Jimin o ajudou calado, imerso em seus próprios pensamentos, e Jungkook não conseguia parar de olhar para seu namorado tentando esconder o que quer que estivesse sentindo. Doía muito em seu coração ver que ele estava escondendo algo e por mais que quisesse o questionar sobre o que estava acontecendo, ele sabia que o outro simplesmente negaria tudo. Precisava de tempo para desmanchar as paredes que Jimin construíra em volta de seus sentimentos e tudo o que não podia ter acontecido era essa viagem.

Pensou que simplesmente poderia levá-lo junto de si e, um pouco mais tranquilo, terminou de se arrumar imaginando como pediria ao produtor para Jimin ir com ele. Estava quase orgulhoso de si mesmo pela saída que tinha arranjado.

Em pouco tempo bateram na porta do hotel e Jimin terminou de arrumar a cama. Olhou para Jungkook quase que silenciosamente repassando a história que contariam se perguntassem algo.

É claro que os dois não tinham contato para ninguém que estavam juntos. Os outros cinco do grupo com certeza suspeitavam de algo, mas a empresa em si não estava ciente dessa situação. Tanto Jimin quanto Jungkook tinham medo da reação de qualquer um deles se soubessem que existia algo amoroso acontecendo e resolveram guardar aquilo por tempo indeterminado.

A história que sempre contavam quando viam os dois juntos no quarto era que tinham passado a noite repassando notas e assuntos do grupo, como fizeram tantas vezes. Assim ninguém suspeitava quando um saía do quarto do outro ou iam juntos tomar café da manhã.

Jungkook abriu a porta e o produtor mais dois agentes entraram no quarto perguntando se estava tudo pronto para o embarque dele. Confirmou com um sorriso.

— O Jimin pode ir comigo? – Estava radiante e certo de que aceitariam. Desse jeito, Jimin ficaria com ele e mesmo que fosse a trabalho, passariam o tempo juntos.

Jimin o olhou surpreso, não esperava por aquele pedido e seu coração, por mais que sua mente tentasse justificar aquilo dizendo que não passava de uma ação nascida da pena que Jungkook sentia por ele, se alegrou um pouco. Seu namorado não o olhou, pois estava encarando fixamente um dos agentes ansiosamente esperando que seu pedido fosse atendido. Um pequeno sorriso nasceu nos lábios de Jimin e ele se voltou para o mesmo agente.

— Óbvio que não  – o produtor franziu o cenho. – Compramos apenas uma passagem e Jimin não tem negócios para fazer em Hong Kong. Na verdade, isso me lembra de que você – apontou para Jimin – não pode sair daqui hoje. Está acontecendo um tumulto lá embaixo e seria melhor se ficasse aqui pelo dia. Qualquer coisa liga para o serviço de quarto.

Isso não era bom. Isso não era nada bom. Jungkook sentiu um aperto gigantesco no seu coração e foi atingido por um mau pressentimento quando escutou as palavras do produtor. Jimin não poderia ficar no quarto sozinho de jeito nenhum. Quase num desespero irracional, Jungkook abriu a boca para contestar a decisão deles.

— Ah, sem problemas – mas a voz cansada de Jimin o interrompeu. – Eu queria treinar algumas coisas mesmo.

O sorriso que ele deu fez os olhos de Jungkook se arregalarem. Ao fundo, ele escutou a voz dos agentes aceitando a decisão dele e o parabenizando, entretanto tudo o que via era o quão forçado e doloroso era aquele sorriso. Seu coração acelerou e ele sentiu que algo estava muito errado, muito mais errado do que pensara. Qual era a gravidade dessa situação? O que Jimin estava pensando? Por que estava com dor?

Tudo o que Jungkook queria era ficar naquele quarto, abraçar Jimin e não o soltar nunca mais. Dizer que nada do que estava pensando era verdade, dizer que estava ao seu lado, dizer que o amava mais do que qualquer coisa nesse mundo.

Mas quando voltou a si, o produtor estava quase gritando para que fossem logo embora senão perderiam o voo. Seus olhos encontraram os do Jimin e ele quis gritar que o amava e que tudo ia ficar bem. Entretanto, começaram o puxar para fora do quarto e a última coisa que viu foi a pequena mão de seu namorado acenando timidamente em despedida.

Seu coração doeu tanto quando Jimin fechou a porta daquele quarto quase como se visse como ele se encostou à porta e escorregou para o chão abraçando seus próprios joelhos e irrompendo em lágrimas.

No chão, Jimin chorava dolorosamente. Seus ombros tremiam com a força de seus soluços e suas costelas doíam devido ao esforço da noite anterior juntamente com o bater forte e tortuoso de seu coração. Mordia seu lábio inferior para que não fizesse muito barulho e só o soltou quando o gosto de ferro invadiu sua boca.

Sua mente estava tão revoltada, tão bagunçada, tão atormentada que tudo o que se passava nela eram pensamentos desconexos e violentos. Seu rosto se encharcava com as lágrimas quentes e seu lábio sangrava.

Num ímpeto de fúria, ele se levantou e agarrou a primeira coisa que viu a jogando contra a parede do quarto soltando um grito esganiçado e entrecortado por respirações irregulares.

De que estava com tanta raiva? Da Bighit? De Jungkook? De como sua vida era patética?

Não, não era nada disso. Ele sabia muito bem. Nunca teria raiva de Jungkook ou da empresa, pois a culpa de tudo aquilo era dele. Todas as razões pelas quais ele se odiava era pura e simplesmente responsabilidade dele.

Era egoísta, era insuficiente, era nada. Sentia-se nada. Sentia-se a pior existência do mundo. Não fazia absolutamente nenhuma diferença para o seu grupo, não era? Era o que menos se destacava, era o pior dançarino, era o pior cantor, era aquele com a pior aparência. Todos sabiam disso e todos sentiam pena dele.

Uma risada sarcástica escapou seus lábios e seus braços penderam ao lado do seu corpo doloridos e cansados. Seus olhos miraram a parede manchada e lentamente desceram até encontrarem os cacos do vaso que tinha jogado.

Sua presença ali não fazia diferença, era horroroso de qualquer forma. Andou com passos lentos até o vaso quebrado e tomou em mãos o maior caco e fechou sua mão em torno dele. Era gordo, era feio, era insignificante. Apertou ainda mais a sua mão até começar a sentir a dor do vidro o cortando.

Escutou seu celular emitir um toque curto indicando que tinha uma nova mensagem e ele se dirigiu até o aparelho e viu a pequena notificação de Jungkook dizendo “Eu prometo que volto logo, ok?”.

Um gemido de pura dor escapou de sua garganta e seus olhos ardiam tanto que não conseguia mantê-los abertos. Deixou o caco escapar de sua mão e agarrou sua camiseta na altura de seu peito.

Seu corpo doía, mas não tanto quanto sua alma.

Arrastando seus pés, ele foi até o banheiro e fechou a porta atrás de si com sua mente num estado parecido com o de um tornado.

Jungkook estava preocupado com ele e isso o fez se sentir pior. Que direito tinha de preocupá-lo? A verdade era que era um peso na vida do mais novo e sempre seria com suas crises e atitudes. Ele não deveria estar vivo, ele não deveria estar sendo o que era para absolutamente todo mundo.

Com a mão ensanguentada ele fechou o ralo da banheira e abriu a torneira. Quase soltou um riso sarcástico ao pensar que nem se enchesse uma banheira com o seu sangue, conseguiria tornar-se puro.

Mas também, o que era pureza?

Ser alguém “limpo” implicava exatamente no quê? Em não usar drogas ilícitas ou remédios prescritos? Em viver uma vida sem vinganças ou sem atos pecaminosos? Em não ter pensamentos impróprios ou depressivos?

Qual era o sentido de ser puro? O que as pessoas queriam dizer quando classificavam alguém como “sujo”? Baseavam-se em critérios religiosos ou seriam apenas morais? Quem ditava as regras? Por que diabos se quer ligava para isso?

A água estava quente e ele colocou a mão cortada mordendo seu lábio inferior ao sentir a dor. Observou o sangue espalhar-se minimamente por uma pequena extensão de água e percebeu que estancaria em algum momento.

Não entendia porque se importava com o que os outros diziam, mas ele se importava. O que pensavam dele, por mais que não quisesse, o magoava e o estressava. Entretanto, nada era mais destruidor do que as condenações que ele fazia a si mesmo.

Talvez não fosse a pureza de sua alma que procurava naquele momento; talvez seus questionamentos estivessem errados. Ele não queria ser transparente, ele queria alcançar as expectativas de todos, ele queria deixar todos orgulhosos e saber que não era capaz disso era a causa de todo o seu sofrimento?

Agarrou com a mão intacta o vidro de antidepressivos e apertou seus dedos fortemente ao redor dele.

Pensando bem, essa não era a única razão. Não podia ser. Devia ter algo mais que Jimin não conseguia enxergar, estava deixando algo passar despercebido.

— Não importa.

Sua voz estava rouca e entrecortada por causa dos soluços que as lágrimas trouxeram como companhia. Sua garganta doía e quando virou o remédio em sua mão e os colocou na boca, conseguiu sentir o gosto de ferro do seu sangue misturado a sensação das inúmeras pílulas.

Uma a uma elas desceram e por vezes ele engasgou.

Sentiu sua cabeça girar e entrou na banheira. A água transbordou molhando o chão frio e o choque de seu corpo gelado com a água quente o fez ter arrepios.

Ou eram os remédios que provocaram aquilo?

Não importa.

Teria murmurado um pedido de perdão a Jungkook, mas seu batimento parou antes que pudesse fazer isso.

 

Ele tinha acabado de entrar no avião quando notou a expressão horrorizada de seu produtor ao olhar para a nova mensagem que havia recebido. Exigiu saber o motivo da alteração de humor e notou que todos estavam em choque.

Seu coração automaticamente se apertou. O avião nem tinha decolado, mas por que ele se sentia como se estivesse em queda livre?

Jungkook encarou a face aterrorizada dos responsáveis pela sua carreira e soube em sua alma que o pior havia acontecido.

Ele gritou. Ele gritou inquirindo resposta. Ele gritou e bateu nas poltronas quando forçou sua passagem para fora do avião. Ele gritou ,e gritou, e gritou o nome daquele que havia feito a sua vida valer a pena.

Todos imploravam, alguns chorosos, outros apenas desesperados, para que se acalmasse. Porém, era como se os sons que atingiam seus ouvidos fossem apenas conjuntos incoerentes de ruídos.

Se não tinha nada de errado como alegavam, então por que ninguém falava como estava Jimin? Já que realmente estava tudo bem, então por que nenhum daqueles filhos da puta não o deixavam ligar para ele?

Mentirosos. Eram todos mentirosos.

Correu na direção oposta a eles, pois achou que havia outra porta do avião pela qual pudesse sair, mas dois seguranças o alcançaram e puxaram seus braços.

A última coisa que sentiu foi uma picada no pescoço.

 

Enquanto estava inconsciente devido ao calmante que lhe deram, ele sonhou com Jimin. Foi mais uma memória do que um sonho, se formos falar a verdade.

Estavam no estúdio apenas os dois. Passara das três da manhã e os outros cinco tinham ido dormir, pois estavam exaustos depois de tanto treino. Jungkook e Jimin ficaram para arrumar algumas coisas e ao invés de organizar tudo, os dois deitaram lado a lado olhando para as luzes fluorescentes no teto da sala de dança.

A voz de Jimin na lembrança estava clara como se fosse a realidade. Foi a primeira vez que ele agradeceu por Jungkook estar ali e foi a primeira vez que se desculpou por ele estar ali. Seu tom embargou como se segurasse lágrimas, mas Jungkook não tirou os olhos do teto.

Ele esticou sua mão e pegou a pequena mão dele a embalando por inteiro. Jungkook queria o proteger e dizer que era um idiota por estar pedindo desculpas. Ele o amava tanto que tudo o que precisava fazer era permanecer ao seu lado.

Mas ele não disse isso. Ele teve medo de pronunciar essas palavras, então o que fez foi apoiar-se em um de seus cotovelos e olhar os olhos marejados de Jimin por alguns instantes antes de beijá-lo.

Tempos depois diria isso receosamente quando Jimin teve uma crise, mas sabia que não tinha o mesmo efeito. O amor de sua vida já estava muito embriagado na sua doença e não havia conseguido tirá-lo dela.

Acordou num quarto sentindo-se culpado, mais culpado de que antes. Na verdade, o que sentia era um misto de culpa e desespero.

Identificou o quarto como alguma parte dos funcionários do aeroporto. Sabia disso, pois ele e os outros integrantes já tiveram que esconder-se em lugares como aqueles algumas vezes.

Levantou-se do sofá no qual haviam o deitado e escutou as vozes abafadas do outro lado da porta. Olhou em volta e viu pela janela o sol entrar com força.

A imagem do sorriso de Jimin lhe contando que gostava de dias ensolarados atingiu-lhe com força e, com certa dificuldade, Jungkook forçou seus pés a caminhar até a porta. Abriu-a minimamente somente para escutar as palavras que confirmavam o suicídio dele.

Descrever o que aconteceu com a sua mente naquele momento como "a ida para o puro desespero" é, no mínimo, um eufemismo. Seu corpo inteiro tremia e nem se deu conta quando seus pés foram para trás em reação ao que acabara de escutar.

Seus olhos voltaram-se para janela assim como seus movimentos trêmulos. Tentou-a abrir, mas estava trancada e ele sabia muito bem que era proposital.

Dali podia ver que os prédios estavam distantes e os raios solares não estavam tão fortes como imaginou. O dia não estava bonito, o sol incidia por entre nuvens cinzas num misto de melancolia e euforia.

Jungkook tentou quebrar o vidro.

Talvez conseguisse encontrar Jimin ainda, não deveria estar longe. Poderia quem sabe o encontrar, havia a possibilidade de que ele estava o esperando e não podia deixar isso acontecer.

Suas mãos nuas não podiam quebrar o vidro temperado e sua mente achou uma outra saída já que não havia nada ali com que pudesse quebra-lo. Forçou suas pernas a se estabilizarem e com uma expressão apática, seguiu para a porta.

Os eventos que se seguiram foram confusos para ele. Assim que abriu a porta, saiu correndo em direção as escadas de emergência. Sua adrenalina estava tão alta que não notou aqueles que o seguiam desesperados.

Não parou de subir degraus até o último andar.

Sabia onde estava. Prédios assim tinham telhados e Jimin o levara num deles em outro aeroporto. Ele não tinha medo de lugares altos, gostava de ver os edifícios de lá, e Jungkook gostava de ver sua expressão calma e aquele pequeno sorriso estampado.  Sua mão tocou a maçaneta fria e era como se estivesse revivendo aquela memória.

Podia senti-lo ao seu lado, segurando sua mão, apontando para os aviões que estavam decolando, dando aquela risada contida com os olhos brilhando com a luz do sol.

Tinha que ser rápido ou tirariam a chance de ir vê-lo.

Quando deu por si, seus pés já tocavam a beirada da baixa grade de segurança. Sentiu finalmente como suas bochechas estavam encharcadas de lágrimas quentes e sua mente não sabia ainda como assimilar que Jimin...

Seus pensamentos foram interrompidos pelo chamado de alguém. Era alguém conhecido, sem sombra de dúvida, mas isso não importava.

Um pequeno sorriso surgiu no seu rosto.

— Eu já vou.

Cair foi seu meio de voar para único que realmente importava.


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Notas finais do capítulo

Eu não tive tempo de revisar, infelizmente, mas qualquer erro, podem falar que iriei prontamente corrigir.

Espero que tenham gostado.



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