Badlands escrita por Risurn


Capítulo 2
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Obrigada pelo apoio e os comentários, realmente amei! Aproveitem a leitura!



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Acabou que eu acordei com uma ressaca do tamanho do universo. E eu não estou exagerando.

Eram cerca de três da tarde quando eu consegui abrir meus olhos sem que eles queimassem com a luz e minha cabeça não explodisse.

— Você tem muita sorte que decidiu ter esse porre num sábado.

Ah, então foi no sábado. Eu sou um tanto quanto perdida quando o assunto é os dias da semana/mês. Só um pouquinho. Principalmente nas atuais circunstâncias.

— Phoebe, por que você está gritando criatura? – Pressionei a bolsa de gelo cuidadosamente selecionada por ela contra a minha cabeça e fechei meus olhos. Estou prensando seriamente em pressionar minha cabeça contra o tampo de granito do passa-prato.

— Eu não estou gritando, o nome disso é ressaca. R-E-S-S-A-C-A, ouviu bem? Se você tivesse bebido assim na quinta-feira, não ia conseguir ir trabalhar nunca mais. Aliás, não consigo ter esse seu pique para beber tanto. Você ainda tem um fígado?

Apenas bufei e revirei os olhos, mas não tenho certeza se ela viu.

Eu tenho um emprego supertranquilo, para ser honesta. Meu pai me contratou como secretária do vice-presidente da empresa imobiliária dele. Eu trabalho seis horas por dia e ganho um salário mais do que aceitável, o que compensa a minha antipatia pelo meu chefe horrível amado. Muito provavelmente eu ganharia mais se não tivesse largado a faculdade, mas é só um palpite.

Mesmo não estudando mais comigo, Phoebe vinha me visitar regularmente depois que percebeu que meu celular era praticamente um item inutilizado na minha vida e eu sou muito grata por isso.

Ela bateu a porta do forno fazendo com que eu desse um pulo na banqueta e pressionasse um pouco mais a bolsa de gelo. Isso é inútil.

— Sério, se não fosse eu aqui você ia morrer de fome. – Ela mordeu os lábios e eu sabia o que viria a seguir. – Você está no meio de uma crise, por acaso? Por isso bebeu tanto?

Encarei Phoebe fixamente até ela perceber que eu não queria falar sobre aquilo. Faz com que eu me sinta fraca. Depois de um tempo ela apenas revirou os olhos e cruzou os braços, apoiando seu corpo na bancada da pia.

— Conseguiu dormir, pelo menos?

— Preciso de uma aspirina.

Levantei indo até a gaveta de remédios e peguei um dos milhares de comprimidos.

— E ai, conseguiu ou não?

— Eu estava quase em um coma induzido, dormir não é exatamente a melhor definição.

Respirei fundo engolindo a aspirina.

— Você não devia beber tanto enquanto toma medicação controlada.

Apertei meus lábios numa linha fina e apoiei meu quadril no balcão da cozinha ao lado dela.

— Eu quero largar os remédios, você sabe.

Ela bufou, dando a volta no passa-prato e sentando na banqueta, cruzou as pernas.

— Eu sei, mas você ainda não largou. E eu nem sei se deveria.

Fechei minha mão em punho tentando controlar minha respiração.

— Por que todo mundo acha que pode controlar minha vida e decidir as coisas por mim? Eu não sou nenhuma incapaz.

— Eu sei que não é. Mas nunca sabemos as motivações das suas decisões. Só temos medo que você faça algo e se arrependa depois. Não seria a primeira vez. Eu e o Leo ficamos preocupados ontem.

Revirei os olhos e voltei a pressionar a bolsa de gelo contra minha cabeça.

E é por isso, senhoras e senhores, que meu número de amigos diminuiu drasticamente. Tento ao máximo não ser grosseira com Phoebe, mas preciso usar todo o meu autocontrole para não gritar com ela exigindo que saia da minha casa e não se meta na minha vida.

Mas eu sei que ela está apenas fazendo seu trabalho de amiga, uma parte de mim se sente muito grata por isso.

O forno emitiu um estalo, levando Phoebe a ir até lá e pegar a pizza.

Procurei por algo para que ela pudesse colocar a forma em cima do passa-prato e tentei encontrar algum refrigerante. Acho que preciso ir ao mercado.

Tirei uma fatia de pizza e após a primeira mordida me dei conta do tamanho da minha fome. Eu não como há o que, umas vinte e quatro horas?

Revirei os olhos de prazer pegando outra fatia.

— Nunca vou ser capaz de agradecer a você por comprar essa pizza.

Phoebe revirou os olhos, mas sorriu.

— Eu ia me sentir bem agradecida se você limpasse sua kitnet, ou se comprasse uma cama pra mim ficar por aqui.

— E eu ia enfiar onde? Se você não notou, eu mal tenho espaço para as minhas coisas. A minha cama está aqui do nosso lado, com meia divisória nos separando. – Apontei para a cama e ela voltou a revirar os olhos.

Eu moro numa casa pequena. Meu pai é dono de milhares de imobiliárias e construtoras, mas minha casa tem apenas dois cômodos, sim senhor.

Meu quarto, sala e cozinha são conjugados, enquanto meu único canto de privacidade é o banheiro, que constitui as únicas paredes realmente divisórias da casa.

Eu poderia muito bem estar morando com meu pai, mas depois da minha última briga com Hera, a mulher que dá jus ao título de MÁdrasta, chegamos à conclusão de que eu precisava de um canto só para mim. Sem choros, lágrimas ou abraços, ao menos, não da parte de Zeus. Apenas uma lista com os imóveis disponíveis.

Não que eu tenha reclamado, de forma alguma.

— Tudo bem então, nós podemos dividir uma cama.

— Só se você não trouxer ninguém pra cá, não quero gente estranha na minha cama.

— Relaxa, você tem um sofá e uma banheira, tudo certo.

Franzi meu nariz e abandonei minha quarta fatia de pizza.

— Você é nojenta. Acabo de cancelar seu contrato de moradia.

Ela fez um biquinho falsamente triste enquanto dava um gole no meu último refrigerante.

— Que peninha, ia ser tão divertido.

Ri e resgatei minha fatia, dando outra mordida.

— Falando nisso, se divertiu ontem?

Ela sorriu e jogou uma mecha de cabelo por cima do ombro.

— Não o suficiente, se quer mesmo saber. Celyn e Naomi acabaram indo embora mais cedo do que eu esperava e eu fiquei sozinha, já que certa amiga estava ocupada demais com uma garrafa de vodka.

— Ah, a bebida. Uma coisa maravilhosa inventada pelo homem, não acha?

Ela comprimiu os lábios. Percebi que queria falar algo, mas a cortei antes que ela me fizesse dizer algo que eu me arrependeria depois.

— Sabe, eu não lembro muito da noite de ontem, mas tenho quase certeza que eu conheci um cara muito bonito.

Ela se ajeitou na cadeira.

— Então a noite não foi um desastre total?

— Não tenho certeza. Não acho que chegamos a ficar. A única coisa que lembro é que ele era bonito. E se eu estava mesmo tão bêbada nem quero pensar no que eu posso ter dito.

— No máximo alguns convites generosos.

— É isso que me preocupa. Mas... O Valdez apareceu, então acho que estava tudo bem.

Ela limpou os dedos no guardanapo e pareceu refletir um pouco.

— Nós devíamos arranjar uma namorada pra ele.

— Quem? O Valdez? Ele não estava saindo com aquela tal de Quione?

Phoebe levantou revirando os olhos e levou a forma até a pia.

— Ela deu um gelo nele. Do nada, aquela maluca. Ele ficou todo caidinho na festa ontem porque ela não apareceu.

Tomei um gole do meu refrigerante pensando em como eu sou uma amiga horrível que nem percebeu que o amigo estava para baixo.

— Quer saber? Eu não gostava dela mesmo. – Dei de ombros. – Ele consegue algo melhor.

— Claro que sim.

Dei alguns passos saindo do passa-prato e me joguei no sofá enquanto Phoebe lavava a forma.

— Você é tão prestativa. – Comecei, enquanto encarava o teto. – Devia me visitar mais vezes.

Ela me encarou por cima do ombro.

— Você quer uma amiga ou uma empregada?

Abri a boca para responder, mas o olhar que ela me lançou foi o suficiente para me fazer ficar quieta.

— Que tal aquela Reyna? Da Administração? Não lembro muito dela, mas ela se dava bem com o Jason, então deve ser legal.

Phoebe riu enquanto secava as mãos.

— A Ramirez? Ela quebra o Valdez com uma mão só. Nossa, você não lembra mais do pessoal da faculdade mesmo, não é?

Dei de ombros, dando espaço para ela sentar ao meu lado.

— Eu mal focava nas matérias, quem dera nas pessoas das outras turmas, é exigir demais de um único ser humano.

— É por isso que eu acho que você deve deixar comigo a função de ser cupido do Leo. Você já faz o suficiente.

E de novo voltamos ao ponto onde todos, de uma forma ou outra, tentam me tratar como uma inválida.

Respira fundo Thalia. Não vamos nos precipitar. Você é mais forte que isso. Prove a eles que estão errados e você pode se controlar.

Relaxei meus dedos que eu nem havia notado que estavam tensos e tentei sorrir.

— É claro.

— Que bom que estamos de acordo, porque é isso que eu vim fazer aqui.

— Ah, não. – Joguei minha cabeça para trás, apoiando-a no encosto do sofá e fechei os olhos. – Eu sabia. Sabia. Você não tem uma alma tão bondosa para vir só cuidar de mim depois de uma ressaca.

— Calma, me deixa explicar, até porque provavelmente você vai sair dessa com outra ressaca. – Ajeitei meu corpo sentindo-me mais interessada na conversa.

Eu não sou exatamente alcoólatra, apenas nutro um amor muito especial à substância.

— Você sabe que no mês passado começaram novos cursos, e uma das calouras de arqueologia vai dar uma festa hoje à noite. Hazel não sei das quantas, – ela balançou a mão como se não fosse importante. – o que interessa é que as más línguas estão dizendo que o Valdez se interessou pela tal garota. Nós podíamos ir, quem sabe dar uma força pra eles. Ela é uma graça, você precisava ver. Toda delicadinha.

Revirei os olhos.

— Esses veteranos indo atrás de calouras, te contar viu? Aliás, ela convidou os veteranos? Que corajosa.

— Não foi bem um convite. Você sabe que nós não precisamos de convite Thals. Nós somos a festa. Ela vai ter sorte se a gente aparecer!

Encarei o teto analisando minhas possibilidades.

— E aquela história de não beber e tal?

— Eu ainda acho que você não devia beber tanto, mas se isso te fizer ir...

— E precisa de mim pra que, exatamente?

— O Leo já está desconfiado que eu quero armar algo para ele. Mas se for você a convidar...

— Ele não vai suspeitar de nada. – Encarei-a, que sorria animada. – Você não presta mesmo.

— Eu sei. Mas e aí, topa me ajudar a desencalhar nosso amigo?

Bufei enquanto me levantava.

— Se eu for demitida por chegar ao trabalho alcoolizada amanhã, você vai pagar o meu aluguel e comprar a minha comida por três meses. Aliás, quem dá uma festa no domingo? Esse povo não precisa estudar amanhã não?

Ela sorriu dando pequenos pulos no meio da minha sala/cozinha/quarto enquanto pegava a bolsa, se preparando para sair da casa.

— Não aja como se você não fosse em festas de sexta à domingo quando estudava. – Ela abriu a porta, mas parou e sorriu para mim. – Você não vai se arrepender, prometo.

Ela saiu toda saltitante e eu fui tomar um banho.

Hoje, olhando para trás, percebo que Phoebe prometia muitas coisas que não sabia se poderia cumprir.


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Notas finais do capítulo

Então. Eu não sei se vou postar todos os dias, mas fiquem atentos. Espero que estejam gostando, um beijão!