Badlands escrita por Risurn


Capítulo 11
Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

OLA OLA OLA
Perdão por sumir por tanto tempo, e eu juro que vou tentar responder pelo menos metade dos comentários antes do prox cap!
Um super agradecimento à Dama da Magia, minha linda, maravilhosa, que recomendou Badlands. Esse capítulo é pra você, aproveite a nossa Thalia sendo... bem, Thalia.



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A bipolaridade é uma coisa estranha. Os médicos costumam dizer que ela é hereditária, então eu a herdei da minha mãe, mas apesar disso ela precisa de um estopim para surgir. Acho que meu estopim também foi a minha mãe.

Durante alguns dias a única coisa que eu sou capaz de fazer é sentar e chorar. Me lamentar pelo que aconteceu, está acontecendo ou pode acontecer. Gritar e extravasar toda a minha frustração reprimida. Liberar todo o meu eu que ninguém mais pode ver.

Mas existem os outros dias. Dias como hoje. Onde a única coisa que importa é a quantidade de adrenalina correndo nas minhas veias. A única coisa que importa é o que meus dedos podem alcançar. Me sinto grandiosa. Me sinto livre.

Eu fiz algumas loucuras hoje. Elas fazem com que eu me sinta viva.

Consigo ouvir todos cochichando enquanto ajeito os botões da minha camisa. Melissa havia me enviado o contrato durante o horário de almoço para que eu analisasse os termos, e é o que estou fazendo.

Entro no elevador e procuro encarar meu reflexo no espelho e não focar na altura em que estou.

Meus olhos estão ferozes.

Todos estão se perguntando se eu realmente transei com o fotógrafo no banheiro do escritório de Zeus.

Sorri para mim mesma.

Essa é a beleza de um segredo, você sabe que deve guarda-lo.

As portas se abriram no meu andar e consegui ouvir mais cochichos enquanto caminhava até minha mesa.

Ouvi que ela veio drogada para o trabalho.

— Acho que ele fuma, tenho certeza.

— Como ela pode ignorar tudo isso e não dizer nada?

O som dos meus saltos parando ecoou no andar. As duas estagiárias se encolheram ao perceber que eu ouvira.

Sorri para elas e falei pausadamente.

— Eu não preciso dizer porra nenhuma. Agora, se vocês não têm trabalho para fazer eu posso arranjar, o que acham?

Elas arregalaram os olhos e negaram veemente.

— Não senhora!

— Bom. Se me dão licença, alguém aqui precisa trabalhar.

Caminhei até minha mesa e joguei os papeis sobre ela.

Encarei minhas próprias mãos antes de sorrir sozinha. O dia estava sendo realmente surpreendente.

Cinco horas antes

Deus, eu sou uma boa pessoa. Por quê?

Apertei minhas têmporas, encarando a quantidade de papéis acumulados na minha mesa. Eu saio por três dias e é isso que acontece? Isso vira um caos?

Bati minha testa contra a mesa.

— Tudo bem Thalia. Você vai conseguir. Isso é o que acontece quando você pega um atestado sem necessidade. Você fica com trabalho acumulado. Bem. Feito.

Meu telefone tocou em algum lugar e atendi sem olhar.

— O que?

Vai falar com a Phoebe, eu não aguento mais.

— Eu não fiz nada!

Faz dois dias que vocês não se falam. Ela só estava preocupada. Todo mundo estava Thalia.

— O que aconteceu que agora você defende ela o tempo todo?

Silêncio.

Eu... Eu não defendo ela o tempo todo!

— Conta outra elfo.

Alguém pigarreou e levantei minha cabeça.

— Resolveu aparecer para trabalhar?

— Leo. A gente se fala depois.

Desliguei o telefone sem esperar resposta e encarei meu chefe.

— Além de faltar, fica falando no telefone ao invés de fazer o trabalho atrasado.

— Eu estava doente.

Comecei a mexer meus papéis enquanto Bóreas realizava sua atividade diária de tornar minha vida um pouco mais miserável. Poxa, eu devia ter mesmo levado em conta que ele ia se sentir triste sem ninguém para infernizar.

A imagem de um Bóreas deprimido enquanto encarava minha mesa surgiu na minha mente. Isso acabou de me deixar um pouco mais feliz.

— Você acabou de dizer que foi um atestado desnecessário.

— Você não pode provar nada.

Ele bufou.

— Que seja. Onde está meu café? Você vai precisar ir comp...

— Na sua sala. Você demorou a chegar, talvez já esteja frio, mas não é culpa minha. – Levantei meu próprio copo e acenei com três dedos enquanto o levava à boca. – Tenho trabalho a fazer. Adeus.

— Essa garota... – Ouvi-o xingar e levantei meus olhos a tempo de vê-lo levantando a mão em punho. – O que eu faço com você?

Ele entrou dentro do próprio escritório me fazendo relaxar na cadeira. Lidar com Bóreas era exaustivo e um terreno perigoso. Nunca sei quando ele vai finalmente me chutar para fora.

Depois de conferir umas três pilhas de relatórios, dei por falta de alguns. Eram de reuniões entre Bóreas e Zeus, e eu precisava deles.

Peguei o telefone e disquei para o ramal da secretária dele, mas ninguém me atendia. Que ótimo. Vou ter que ir até lá.

Levantei e bati na porta de Bóreas.

— Já volto, preciso pegar alguns relatórios! – Gritei para dentro do escritório, mas recebi apenas alguns resmungos como resposta.

Tudo bem. Eu não preciso de aprovação mesmo.

Caminhei até as escadas e subi um andar, indo até a sala de meu pai. A mesa da secretária estava vazia, me fazendo estranhar.

Qual seria o nome da garota desse mês? Eu já desistira de decorar os nomes.

Sentei na mesa dela e comecei a procurar por papéis, mas sem sucesso.

— Onde está? Onde está? – Abaixei meu corpo e entrei embaixo da mesa, olhando os relatórios nas caixas, algum deles deveria ser o certo.

— Olá?

Levei um susto e bati com minha cabeça na parte de cima da mesa.

— Ai. – Minha mão voou instantaneamente até a parte de trás da minha cabeça. Arrastei-me para fora e levantei até meus olhos conseguirem focar o visitante, fazendo-me levantar rápido.

— Thalia? – Meus olhos se arregalaram ao notar quem era. Nico tinha um pedaço de papel na mão e uma câmera pendurada no pescoço.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu... Tenho que pegar um contrato. – Ele balançou o pedaço de papel na mão. – A secretária lá em baixo disse que eu ia conseguir ele aqui com a... – ele encarou a folha e voltou a olhar para mim. – Julie.

— Julie? – Encarei as folhas espalhadas na mesa a minha frente. – Ah. Esse é o nome dela então. Você, hm, eu não sabia que trabalhava para corporações.

— Eu não costumo. – Ele cruzou os braços. – Mas fiquei sem dinheiro e Jason me falou da vaga. É bem simples, preciso fotografar alguns terrenos, parques, construções da empresa.

— Entendi. – Juntei as mãos e pigarrei. – Eu não sei onde a Julie está, mas provavelmente o contrato está lá dentro. – Apontei para a sala do meu pai. – Eu também não estou achando alguns relatórios aqui. Vou entrar, quer me ajudar?

Ele deu de ombros, mas me seguiu.

— E não tem ninguém ali?

— Não sei.

Me aproximei da sala e abri a porta de correr lentamente. Vazia. Estranho.

— Ele deve estar em alguma reunião ou conferência. Vamos rápido. Você olha na mesa e eu checo os arquivos. Se ele pegar a gente mexendo aqui... Eu vou estar morta, e você também.

— Pelo que exatamente estamos procurando? – Ele levantou alguns papéis da mesa e me encarou por cima do ombro.

— Relatórios de reuniões entre Zeus e Bóreas.

Ele assentiu e eu comecei a procurar pelo contrato dele.

— Ei, Thalia, é isso aqui?

— O que? Deixa eu ver. – Fui até a mesa e peguei a pasta que ele me estendeu. Encontrei meus relatórios, ótimo. Nico deu alguns passos para o lado, continuando à procura do contrato.

Voltei a encarar a mesa e vi um copo de café. Ele ainda estava pela metade. Trouxe-o para perto de mim e percebi que estava quente.

— Que estranho.

Nico virou-se de repente para mim, esbarando no meu braço, fazendo com que o café caísse sobre meu peito.

— Ei! – Gritei, mas ele tampou minha boca com a mão e arregalou os olhos.

— Tem alguém ali. – Ele sussurrou e apontou para a porta que dava para o banheiro.

Larguei o copo, agora praticamente sem café, sobre a mesa e fiquei em silêncio tentando escutar, não levou mais de dois segundos para ouvir um longo gemido baixo.

Arregalei os olhos.

Não acredito.

— E agora? – Ele gesticulou com os lábios em silêncio.

Apontei para a porta e fiz sinal para sairmos. Nico estancou no lugar quando ouvimos a voz do meu pai através da porta.

— Pode sair na frente.

Arregalamos os olhos e entrei em pânico, enquanto não sabia bem o que fazer. Ouvi a porta do banheiro sendo destrancada e agi o mais rápido que pude, jogando Nico para baixo da mesa do meu pai. Zeus mataria a ele e cancelaria o contrato se soubesse que um mero fotografo esteve em seu escritório.

Se soubesse que eu estive em seu escritório.

Pulei logo atrás dele, mas não fui rápida o suficiente. A tal Julie me viu e só tive tempo de lhe pedir silêncio enquanto abaixava atrás da mesa.

Espero que seu olhar apavorado signifique que ela vai ficar quieta.

— O que está esperando? – A voz de meu pai soou clara agora que a porta fora aberta. – Preciso resolver alguns assuntos.

Abaixei a cabeça e encarei meu peito. Minha blusa branca estava completamente arruinada.

Nico me olhava sem saber bem o que fazer, e eu pedi silêncio. Uma desculpa, preciso inventar uma desculpa. Eu conseguia ouvir os passos dele se aproximando da mesa.

— Não! – Ela gritou e ele parou. – Ei, nossa, olha só a hora! Você tem uma reunião agora.

— Agora?

— Sim, Bóreas queria falar com você.

— Certo, eu só preciso pegar um... – Zeus recomeçara a andar em nossa direção.

— Não! – Ela gritou outra vez, fazendo-o parar. – Eu pego! Pode ir, você está atrasado.

— O que aconteceu com você hoje? Por que não falou antes? Francamente...

Ouvi os passos firmes de Zeus rumando em direção à saída, conforme era seguido por Julie.

Assim que a porta fechou reparei que estava prendendo a respiração.

Talvez o medo que eu saísse falando que ela era a nova vadia de Zeus tenha feito ela me ajudar.

— Aí, nossa. – Levei as mãos ao rosto, respirando fundo. – Foi por pouco.

Levantei, indo para a frente da mesa, sendo seguida por Nico.

— Vamos logo. Eu espero ela voltar para pegar o contrato.

Assenti.

— É melhor mesmo e eu acho que...

Você não pegou meu celular, preciso dele.

— Não! Espere!

A voz de meu pai e Julie soou abafada através da porta e olhei assustada para Nico.

Ele olhou ao redor e me puxou pelo braço, correndo até o banheiro e fechando a porta. Mal havíamos entrado e a porta do escritório foi aberta.

— Por que eu não poderia entrar? É a minha sala.

Não sei... – Ela parecia surpresa. Também estou, confesso. – Deixa pra lá. Você está atrasado, e nós não vamos ficar lá por muito tempo.

Percebi que ela falou o final da frase mais alto. Parabéns Julie, você ganhou alguns pontos. Quer dizer, depois de perder vários por estar transando com meu pai. Eca.

Assim que a porta fechou novamente, Nico começou a rir, sendo seguido por mim.

Deus, ele é tão bonito. E estamos trancados juntos num banheiro, tão romântico. Nossa, tá tão quente aqui.

— Eu só queria encontrar meus relatórios. – Reclamei. – Nem era pedir demais, era para trabalho. Se fosse, sei lá, para roubar de alguém, conseguir um aumento, forjar um atestado...

Encarei o teto do banheiro conforme me aproximava da pia e pegava alguns papéis-toalha.

— Está falando com quem?

Apontei para o teto.

— Deus. Ele está de brincadeira com a minha cara. – Apertei os papéis contra a minha camiseta, tentando aliviar o estrago. – Por que sempre que a gente se esbarra alguém sai molhado?

Ele riu e deu de ombros. Eu já disse que ele é bonito e estou me sentindo sem ar? Se ele sentiu ou não o duplo sentido da minha frase eu não sei dizer.

— Você está de bom-humor hoje. Isso é novidade.

— Eu estou sempre de bom humor.

— Isso é mentira. E... Falando nisso, fiz algumas pesquisas. Queria tirar algumas dúvidas.

— Nisso o que?

— Humor.

Encarei-o pelo reflexo do espelho, incrédula.

— Agora?

Ele assentiu.

— Por que não? Você está aí, tentando limpar uma blusa que claramente está destruída... Nada a perder. Então, você vive mudando de um humor para outro, tipo, o tempo todo?

— Não! Quer dizer, sim. Mas isso não é por causa da bipolaridade. Todas as pessoas têm variação de humor Nico.

Quer saber? Cansei. Larguei os papéis sujos e comecei a abrir os botões da camisa. Ficou tão calor de repente.

Nico engoliu em seco, mas admiro sua força de vontade em continuar a manter a cabeça alta, como se nada estivesse acontecendo.

— Tá, então o transtorno só afeta o humor?

— Não também. Isso tá no meu cérebro, então... Afeta tudo. O que eu faço, o que eu penso. Bom... Afeta quem eu sou.

Tirei a blusa e enfiei-a embaixo da torneira. Poxa vida, ela saiu caro!

— Eu também vi que não tem nenhum... Tratamento especifico.

— Não tem nenhuma cura. Mas existe tratamento. Medicamentos, acompanhamento psicológico... É difícil, mas não impossível.

Ele assentiu lentamente e me encarou sorrindo.

— Também li que os desejos sexuais aumentam muito na fase de hipomania, é verdade?

Parei e o encarei sem acreditar.

— Eu sou bipolar Nico, não ninfomaníaca.

Ele fez um gesto envolvendo meu corpo.

— Claro. E isso ai é...?

— Calor. E eu querendo salvar minha blusa.

— Claro que sim. Então, vou esperar lá fora.

Ele me deu as costas e levou a mão a maçaneta.

Quer saber? Que se dane também.

— Não, não, você vem aqui.

Puxei para perto de mim e tentei beijá-lo. Mas, novamente, Nico se mostrou ser habilidoso na arte de se esquivar. Sua risada ecoou pelo banheiro.

— Então você quer brincar? Pensei ter ouvido Julie falar que eles não iam demorar.

Comecei a abrir os botões da camiseta dele e sorri de lado.

— Bom, então é melhor você ser rápido.

***

De volta ao presente

— Thalia! Você vai levar quantas horas para me entregar esse contrato?

Dei um pulo na cadeira, sendo desperta dos meus pensamentos e atingindo meu joelho na mesa.

— Ai, droga. – Apertei minha perna e levantei a cabeça. – O que? Oi? – Bóreas evitava olhar para mim e tinha uma expressão de quem havia acabado de chupar um limão. – Ah, é só você.

— “Só você”? Eu sou seu chefe, seu chefe!

— Tanto faz, tanto faz. – Fiz um sinal de indiferença com a mão e joguei os papéis na mesa. – Aqui, pode pegar. Acho que está tudo certo, e eu ainda acho que você deveria olhar outra vez a parte da varanda. Você não vai gostar.

Ele pegou o contrato resmungando e saiu bufando.

— E o que é que você sabe? Sua coisinha.

Revirei meus olhos e levantei para pegar um copo de água.

— Eu posso não saber de muitas coisas, mas ele é um idiota completo.

Apoiei meu corpo contra a parede, enquanto meu copo enchia.

A Julie disse que foi no banheiro do próprio pai dela, acredita?

E as sessões de cochicho remeçam. Peguei o copo e o levei a boca.

Nem brinca! Mas também, você viu o fotógrafo? Até eu podia tentar algo. Você viu o sorriso dele pra Alice? Aposto que o beijo dele deve ser de outro mundo!

Tentei não engasgar com a água enquanto dava risada. Eu também gostaria de saber se o beijo dele é ótimo. Talvez em um dia que ele esteja bêbado, quem sabe?

Julie disse que ela saiu toda descabelada do banheiro, e com a camiseta encharcada! Poxa, eu queria saber o que eles fizeram lá.

— E você não consegue imaginar, sua tonta?

— Ela chegou a dizer que conseguiu ouvir gemidos da mesa dela, lá fora!

Pigarrei e joguei meu copo no lixo, virando para elas.

— É bem possível, não costumo me reprimir, vocês deviam tentar. Ia fazer um bem danado e não iam ficar falando dos outros. Aliás, a Julie disse que ela também fode com Zeus no banheiro do escritório dele? Hm... Acho que não. Ops. – Levei a mão a boca e sorri. – Vocês não vão contar o segredo dela, não é?

Dei um tapinha no ombro da que tinha cabelos loiros curtos e sai da copa.

Qual é, a sala não chegava a ter dez metros quadrados e elas realmente achavam que eu não ia escutar?

Meu celular bipou quase ao mesmo tempo em que sentei na mesa.

“Você está livre amanhã à tarde?”

Revirei os olhos.

“Achei que você tivesse dito que não se apega. E aquele papo de só uma noite?”

Tentei conferir algumas planilhas, mas a próxima mensagem chegou antes que eu sequer tivesse chance de as abrir.

“Eu já expliquei. Ainda não passamos nenhuma noite juntos. Então, você está livre?”

Respirei fundo e encarei o teto.

Nico precisa aprender as regras daqui.

Sou um caso de uma noite.

Não pertenço a cidade nenhuma.

Não pertenço a homem nenhum.

Eu sou a violência nas gotas da chuva.

Eu sou um furacão.

Estarei ocupada”.

E voltei a trabalhar.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo e espero que tenham gostado!