De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 40
A criança indesejada.


Notas iniciais do capítulo

Quando a Rin passa mal, quem é que o Sesshoumaru chama?



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Rin é uma criança má que nunca deveria ter nascido, assim como seus avós haviam dito, mas sua mamãe era uma mentirosa egoísta.

Tremendo, a criança encolheu-se puxando os joelhos em direção ao queixo, Mariko sempre lhe dissera que havia sido por seu egoísmo que não havia contado ao seu pai sobre ela, e ao fim ela fora tão egoísta que levara consigo o nome do pai de Rin para o túmulo e por causa disso ela foi levada a incomodar um homem que nada tinha haver, e sentia que nunca seria capaz de se desculpar o bastante por isso… afinal ela certamente havia herdado o mesmo egoísmo de sua mãe.

Mas Mariko não era a única mentirosa, soluçou, Sesshoumaru-Sama também sabia a verdade e mesmo assim escondeu-a bem fundo em sua gaveta, mas ainda assim Rin não podia ficar brava com ele, pois aquele homem, mesmo sabendo que não tinha quaisquer obrigações com isso, lhe dera uma casa, comida, roupas, e cuidara dela quando havia tido pesadelos e quando adoecera, e a fizera realmente acreditar... será que todos os adultos eram mentirosos assim?

Quem mais sabia? Sango-chan? Miroku-kun? Kagome-chan? Tio Inuyasha…? Ah sim, ele não era seu tio, claro, afinal Sesshoumaru-Sama não era seu pai…

Gemendo, Rin sentiu uma mão gelada tocar-lhe a testa e a bochecha, e de repente todo o seu mundo foi sacudido, assustando-a e fazendo-a abrir os olhos no mesmo instante.

Sesshoumaru-Sama estava de pé do outro lado do cômodo ao lado da porta, como se houvesse dado um único salto da cama até ali — Rin havia ido incomodá-lo novamente para dormir em sua cama? Não conseguia lembrar direito…

—Você está doente.

Afirmou seriamente abrindo a porta com um solavanco e saindo logo depois.

A cabeça de Rin estava pulsando, sentia a boca amarga e tudo a sua volta girava, mas ainda assim ela levantou-se e com passos cambaleantes seguiu Sesshoumaru-Sama, parou desnorteada por um instante no corredor, apoiando a mão na parede, até ouvir as vozes de Sesshoumaru-Sama e tio… não, Inuyasha-kun, vindas do quarto dele.

Inuyasha-kun parecia ter sido bruscamente arrancado de seu sono e estar prestes a levar um soco de Sesshoumaru-Sama, que o segurava irritado pela camisa com ambas as mãos.

—… está com febre…?! — estava dizendo Inuyasha-kun agarrando os punhos de Sesshoumaru-Sama tentando fazê-lo largá-lo. — A filha é sua!

Não, não era.

A visão de Rin turvou-se, mas ela esfregou os olhos com as costas das mãos para secar as lágrimas, seu avô sempre dizia que chorar enquanto se está com dor de cabeça só a piorava ainda mais.

—Sempre que eu deixo Rin com você, ela adoece. — Sesshoumaru-Sama respondeu irritadamente, mas sem erguer a voz nenhum tom sequer — Me diga agora mesmo o que foi que fez imbecil.

Não se passava um dia sequer sem que os dois brigassem, mas aquela discussão em especial era culpa de Rin, pois ela sempre causava problemas a todos, uma das mãos de Inuyasha-kun largou os punhos de Sesshoumaru-Sama e voou para seu rosto, empurrando-o como se quisesse separar-lhe a cabeça dos ombros.

—Eu já disse que não fiz nada e nem sei do que você está falando! — respondeu irritado — Me largue imb…!

—Sesshoumaru-Sama! — chamou-o apoiando-se no batente da porta, sentia-se zonza, mas não podia se permitir causar ainda mais problemas, ela precisava falar — Inuyasha-kun não fez nada, foi eu quem…

Não foi capaz de continuar, pois antes que percebesse Sesshoumaru-Sama já estava diante de si erguendo-a do chão e fazendo-a gritar surpreendida.  

—O que faz descalça nesse chão gelado? Você tem que ficar na cama Rin. — ordenou-lhe seriamente. 

Como ele podia continuar cuidando-a daquela forma? Talvez ele simplesmente não soubesse como falar e dizer-lhe para ir embora… não, de forma alguma, Sesshoumaru-Sama sempre falava a verdade, independentemente de quão cruel ela fosse.

Então por que?

Agarrando-se a seu ombro a criança chorou até soluçar, ela não entendia absolutamente nada e sua cabeça estava doendo muito.

Sesshoumaru-Sama paralisou no meio do corredor.

 —O que está sentindo? Sua garganta dói? Sente fome? — mas incapaz de conter seu pranto, Rin não conseguiu responder-lhe nada e girando repentinamente Sesshoumaru-Sama refez o caminho ao quarto de Inuyasha-kun com passos largos — Inuyasha, ligue para um ambulância imediatamente!

Como é que ele conseguia parecer tão autoritário e urgente sem nem alterar o tom de voz?

—Ambulância? É tão sério assim?!

Inuyasha-kun, por outro lado, exalava pânico por todos os lados muito facilmente.

—Ou um táxi, o que for mais rápido, não estou com meu carro aqui.

Por que Rin não podia pertencer àquele lugar? 

—Por que seu carro não está…?

—Ligue logo imbecil!

Ela estava causando problemas novamente, erguendo-se Rin começou a esfregar o rosto com uma mão enquanto com a outra empurrava debilmente o ombro de Sesshoumaru-Sama, tentando fazê-lo pô-la de volta no chão.

—Sesshoumaru-Sama eu não estou doente. — negou — Minha cabeça só dói um pouco, não preciso de ambulância, nem de médico, tenho que ir me trocar ou vou me atrasar para a escola...

—Sesshoumaru, você quase me mata do coração porque a pirralha está com um pouco de dor de cabeça?! — Inuyasha-kun reclamou.

Mas Sesshoumaru-Sama fez que nem o ouviu, como se ele fosse uma mera mosca zumbindo por ali, e encarando-a seriamente afirmou:

—Você está chorando desde ontem e está com febre, não tem escola para você hoje.

Rin tentou protestar, mas ao final Sesshoumaru-Sama acabou dando tanta atenção a ela quando deu ao irmão logo antes, e simplesmente a levou de volta para o quarto e a colocou na cama sob ameaça expressa de amarrá-la ali caso ela se levantasse para fazer qualquer coisa além de ir ao banheiro, logo antes de sair chamando pelo Sr. Jaken, e ordenando que preparasse uma panela de mingau de arroz e uma compressa de gelo.

Então ali estava ela, deitada na cama quando Inuyasha-kun esgueirou-se clandestinamente para dentro do quarto, já uniformizado para ir ao colégio.

—Ei pirralha. — chamou-a aproximando-se — Eu só dei uma passada pra te dar isso e avisar que se a sua prisão domiciliar com aquele neurótico ficar muito insuportável é só me ligar, tá? — avisou oferecendo-lhe uma barrinha de chocolate, e piscando-lhe quando ela aceitou o doce — Eu pulo o portão do colégio e venho aqui te ajudar a fazer uma corda de lençóis e fugir pela janela enquanto ele estiver… sei lá, tacando fogo nas roupas dele ou se submergindo numa banheira de álcool.

Embora ficar deitada a fizesse se sentir um pouco melhor, Rin ainda se sentia zonza e com dor de cabeça, então não conseguiu compreender direito o que ele estava dizendo.

—Fogo…? Álcool…? — repetiu vagamente.

Inuyasha-kun sentou-se no chão, ao lado da cama.

—Bem… porque você está doente, não é? E mesmo assim ele estava te carregando de um lado para o outro agora há pouco...

Ah sim, Sesshoumaru-Sama odiava pessoas doentes, e ela estava ali, dando mais aquele trabalho para ele.

Puxando a coberta até acima da cabeça, Rin sentiu Inuyasha-kun cutucá-la.

—Ei Rin, não precisa ficar assim, sabe como Sesshoumaru é neurótico, a essa hora ele já deve estar ligando para alguma super equipe de limpeza, mas eu tenho certeza que está tudo bem com você… hum… ei Rin. — chamou-a hesitante, daquele seu jeito de quem sabia que sempre falava a coisa errada no pior momento possível — Sesshoumaru disse que você já está chorando desde ontem, então será que… eu por acaso fiz mesmo…?

—Não, você não fez nada de errado Inuyasha-kun. — negou dando-lhe as costas e encolhendo-se sob a coberta.

Porque não conseguia encará-lo sabendo que sempre estava arrumando problemas a ele também, por causa dela ele tivera que dormir no sofá por meses, por causa dela ele havia sido internado no hospital, por causa dela…

—“Inuyasha-kun”? — ele repetiu com estranhamento — O que aconteceu com o “tio”...?

—Inuyasha! — a voz de Sesshoumaru-Sama ressoou tão repentinamente naquele quarto que tanto Rin quanto Inuyasha-kun se sobressaltam — Afaste-se agora da menina e vá para a escola de uma vez seu inútil, ela já não está se sentindo bem, não precisa de mais os seus germes e eu definitivamente não quero ter que lidar com duas crianças doentes.

Suspirando pesarosamente, Inuyasha-kun levantou-se se apoiando na cama.

—Não esquece, tá Rin? Qualquer coisa é só ligar. 

Permitindo-se abaixar um pouco a coberta Rin espiou-os por cima do ombro e viu que Sesshoumaru-Sama estava realmente segurando o celular próximo ao rosto enquanto apressava o irmão menor para “sumir de sua vista”, mas quando ele levou o aparelho à orelha, não parecia de jeito nenhum que estava falando com alguma super equipe de limpeza: 

—Mulher eu preciso do meu carro e não do seu sarcasmo. — ele virou-se fechando a porta atrás de si — Não sei direito, está febril e diz que a cabeça dói… — e mesmo depois que ele se foi, Rin ainda podia ouvir as palavras de Sesshoumaru-Sama vindo flutuando vagamente por debaixo da porta enquanto ele se afastava: — Dificilmente… chorado desde ontem… nove… vergonha do…? — e justo quando sua voz parecia prestes a desaparecer, ela recomeçou a intensificar-se, parecia que Sesshoumaru-Sama estava voltado: —… não estava suja. — a porta abriu-se tão repentinamente que Rin assustou-se e voltou a esconder-se debaixo da coberta — Eu vou perguntar. — ele parou com a porta entreaberta, ouvindo algo do outro lado da linha — E o que me sugere então, Madame? 

A porta foi fechando-se lentamente de novo e então Sesshoumaru-Sama se foi e Rin ficou, finalmente, sozinha.

O que ela devia fazer agora? Tentar procurar seu verdadeiro papai? Mas por onde começaria? Com Sesshoumaru-Sama localizá-lo havia sido consideravelmente fácil demais, não só por causa do trabalho dele como escritor de livros, mas também porque, mesmo antes de encontrá-lo, Rin já sabia seu nome completo, data de nascimento, nome dos pais e irmão, e sua aparência física uma década atrás — tudo o que Mariko jamais esquecera.

Mas e quanto a seu verdadeiro pai? Como Rin poderia começar a procurá-lo se Mariko nunca havia deixado escapar nada sobre ele? Nem mesmo um nome ou apelido sequer… era como tentar perseguir um fantasma.

E se seu papai era outro, por que Mariko havia continuado a carregar a foto de Sesshoumaru-Sama consigo, amando-o e suspirando por ele durante todos aqueles anos? Isso significava que ela nunca havia amado o pai de Rin? Então como era possível que ela tivesse nascido?

Todos esses pensamentos estavam fazendo a cabeça de Rin dar voltas e doer ainda mais, mas foram interrompidos quando o Senhor Jaken chegou ao quarto trazendo uma bandeja com uma bolsa de gelo, comprimidos para dor de cabeça, um copo d’água e um copo de vitamina de frutas batidas no liquidificador, esperou que terminasse de tomar o remédio e saiu, avisando que voltaria depois para recolher o copo de vitamina e que o almoço seria sopa de peixe.

E então Sesshoumaru-Sama chegou.

Ele puxou uma cadeira para ficar ao lado de sua cama, sentou-se ali e se pôs a digitar tão frenética e confortavelmente como se estivesse em seu próprio escritório.

—É melhor você tentar dormir um pouco. — aconselhou-a sem desviar os olhos da tela enquanto digitava.

Pelo menos o trabalho dele não tinha jeito de ela atrapalhar.

Quando Rin voltou a abrir os olhos somente o notebook de Sesshoumaru-Sama restava sobre a cadeira ao lado da cama, mas a porta do quarto estava entreaberta e ela podia ouvir vozes vindas dali e, eram duas vozes, uma delas era a de Sesshoumaru-Sama, mas… quem era a outra voz?

O corredor estava vazio, Rin começou a se dirigir em direção às escadas, não era a voz do Senhor Jaken falando com Sesshoumaru-Sama, parecia mais a voz de uma mulher, então… Kagome-chan? Sango-chan? Não, as duas deveriam estar na escola, certo? Que horas eram? E se fosse a Senhora Arina?

Conforme se aproximava, as palavras começaram a tomar forma:

—… dia branco e também daquela outra vez em que ela adoeceu. — Reconheceu a voz indiferente de Eleonor-san.

Mas logo percebeu que eles também não estavam na sala.

As vozes vinham desde o hall de entrada, mas ainda assim  não ousou descer as escadas.

—Só pedi pelo carro, foi você quem se ofereceu sozinha para dar uma olhada nela, Madame. — respondeu a voz de Sesshoumaru-Sama.

Um longo suspiro se seguiu.

—E não sei onde é que eu estava com a cabeça!

Quando Rin percebeu as sombras se aproximando do batente da porta da sala ela arregalou os olhos e saiu correndo, tão silenciosamente quanto pôde, de volta para o quarto, e nem dois minutos haviam se passado depois que saltou para a cama e escondeu-se debaixo das cobertas quando ouviu a porta ser aberta novamente, e então uma mão sacudiu-lhe o ombro. 

—Garota, você está acordada? — Eleonor-san a chamou com um tom desinteressado.

Rin encolheu-se um pouco mais, puxando os joelhos contra o peito, a bolsa de gelo que o senhor Jaken trouxera mais cedo, estava esquecida em um canto de sua cama, próxima à cabeceira.

—Estou acordada. — respondeu baixo.

—Ótimo, então se sente porque a fome não é sua tia, nós precisamos falar. — ordenou-lhe, sentando-se também na cama.

Relutantemente, Rin esticou as pernas e empurrou as cobertas para se sentar.

—O que isso quer dizer? — perguntou com uma careta.

Eleonor-san deu de ombros.

—Não tem importância, é apenas algo que meu pai sempre dizia quando queria conversar sobre algum assunto sério ou dar-me uma bronca. — e então sem nenhum tipo de aviso, estendeu-lhe a mão e tocou sua testa, afastando-a meio segundo depois para dizer: — Sesshoumaru me disse que você acordou reclamando de dor de cabeça e com febre, mas sua temperatura parece-me normal e tampouco você parece-me com cara de doente.

—Não estou doente. — negou convicta.

—Sim, estou vendo. — Eleonor-san estalou a língua — Estava apenas fingindo para não ir a aula hoje?

—Eu estaria na escola agora mesmo se pudesse! — defendeu-se.

Eleonor-san demonstrou-se quase entediada com aquela resposta e, girando os olhos, respondeu:

—Sim, ele também me avisou que essa provavelmente seria sua resposta, mas que criança mais estranha você é, na sua idade eu podia dizer que estava com a peste bubônica e varíola só para não levantar da cama, embora talvez isso tivesse mais haver com meus colegas de classe idiotas e sua irritante brincadeira de que se esfregassem meus cabelos claros ou até conseguissem uma mecha deles conseguiriam “boa sorte nos exames”, como se eu fosse algum tipo de criatura mágica de um reino distante, do que com a escola em si. — afirmou cruzando as pernas. — De qualquer forma, ele também contou-me que você está desde ontem chorando e se desculpando sem razão aparente alguma, e agora aquele neurótico está lá em baixo arrancando os cabelos tentando descobrir o que está acontecendo com você.

—Sesshoumaru-Sama não está arrancando os cabelos. — desmentiu-a.

Afinal ele estava tão calmo quanto sempre.

—Então aquele lacaio careca arrancou todos os dele em seu lugar. — acenou desinteressadamente com a mão — Você quebrou alguma coisa do seu pai? — perguntou repentinamente — Queimou uma das roupas dele enquanto a passava? Danificou um dos seus livros?

Rin amassou as cobertas entre as mãos.

—Eu não fiz nada disso. — negou incomodada. — E Sesshoumaru-Sama nunca me deixou cuidar da roupa.

Eleonor-san olhou rapidamente para a porta entreaberta antes de voltar-se para ela novamente, e perguntar um pouco mais baixo:

—Sujou a cama?

Rin praticamente saltou na cama.

—Eu nunca fiz xixi na cama! — negou ultrajada.

—Não, não é disso que estou falando. — ela remexeu-se minimamente e, mesmo mantendo o mesmo tom indiferente de sempre, por alguma razão parecia um pouco incomodada quando recomeçou a falar: — Eu disse a ele que seria melhor uma mulher falar com você se fosse esse o caso, mas mesmo assim… Ouça garota, você, por acaso, acordou e percebeu que havia sujado suas roupas porque estava, hã... sangrando?

—Eu não estou machucada. — negou sem entender.

—Sim, ótimo, mas se estiver sangrando mesmo não estando machucada… por um lugar um pouco privado… se… se esse for o caso, não há sobre o que se envergonhar… digo, é perfeitamente normal…as mulheres sangram todo mês...

—Eu não estou sangrando por canto algum. — negou já assustada. — Por que deveria ser normal eu estar sangrando sem estar machucada? Por onde eu deveria estar sangrando?! Como pode ser natural começar a sangrar do nada todos os meses? E por que só as mulheres? Os Homens não sangram? Porque eu tenho certeza que já vi meninos sangrando!

Eleonor-san a olhou em silêncio por alguns segundos, antes de suspirar e se levantar.

—Se você não sabe, então não faz diferença, significa apenas que eu me enganei, e preciso descer logo para certificar-me que Sesshoumaru não está na internet comprando “produtos de farmácia” para estocar por um ano inteiro.

Ainda sem entender nada, Rin chamou-a de volta, perguntando sobre o que ela estava falando antes, mas Eleonor-san ignorou-a, afirmando que não tinha importância e que ela podia voltar a dormir, antes de sair e fechar a porta atrás de si.

Suspirando Rin olhou para o lado, a bolsa de gelo que o Senhor Jaken lhe trouxera já estava quase completamente derretida agora, ao seu lado o coelhinho de pelúcia cor de rosa que Sesshoumaru-Sama lhe dera estava caído de lado, ela pegou-o e apertou-o entre as mãos, como se estivesse prestes a arrancar sua cabeça.

Será que ele havia comprado aquilo antes de ler o resultado do teste de DNA? Ou havia comprado porque havia lido o resultado do exame de DNA?

E quanto aos outros brinquedos, os doces, as roupas e todo o resto? Sesshoumaru-sama não podia ter lido aquilo apenas a um ou dois dias, então por que havia feito questão de dar tudo aquilo a ela?

“Você não pode ser um pouco mais sensível, e ao menos fingir, só por uns minutos, que gosta de estar comigo? Eu quero ter minhas próprias boas memórias de meu pai, e não só as que mamãe me deu, mesmo que elas sejam falsas!”

Foi depois daquele dia, não é? Foi depois dele que Sesshoumaru-Sama começou a tratá-la um pouco melhor. Então era isso, não é?! Só um teatrinho! Algumas boas memórias para dar a ela antes de despachá-la! Soluçando, Rin atirou o coelho para longe. E então um dia ela simplesmente acordaria e ele teria suas malas prontas, lhe entregaria o coelhinho de pelúcia, um pouco de pudim, e diria “Muito bem, garotinha, você já teve suas boas memórias, agora tome um brinquedo e um doce e volte para casa”.

Mas seus avós também não a queriam, eles pensavam que precisavam tomar conta dela por ela ser filha de Mariko, mas não a queriam realmente, Rin os tinha escutado.

Talvez, no fim, sua mãe também não a quisesse. 

Rin tirou o medalhão do pescoço e abriu-o, uma Mariko adolescente, feliz e sorridente olhou-a de volta, ela sempre tinha achado que a razão para sua mãe trabalhar tanto era porque a amava demais, achava que a razão para ela ter morrido fora porque todas as pessoas olhavam feio para elas duas, e sua mãe não queria que ela se sentisse mal, mas e se fosse o contrário? E se Mariko só passasse tanto tempo longe, trabalhando o tempo todo… porque não queria estar perto de Rin.

No fim, nem sua própria mãe a queria.

Ela era a criança indesejada que todos queriam longe!

Sentindo os olhos vermelhos e marejados, a menina fechou-os com força e arremessou o medalhão para longe… e ouviu um grunhido.

Piscando e esfregando os olhos, ela viu Sesshoumaru-Sama agachando-se próximo à porta, com uma mão esfregando a testa, logo acima do olho direito, enquanto com a outra pegava seu medalhão do chão.

—Acertei o senhor?! — perguntou chocada, fungando e esfregando os olhos e o nariz apressadamente — Eu sinto muito! Sinto muito mesmo!

—Pare de se desculpar. — ele levantou-se ainda tateando a testa, e observou o medalhão por alguns segundos antes de guardá-lo no bolso e então baixar a outra mão da testa e olhar para as pontas de seus dedos, um pequeno corte havia ficado na testa de Sesshoumaru-Sama, mas antes que Rin pudesse voltar a se desculpar compulsivamente, ele limpou na camisa o sangue das pontas dos dedos e se aproximou dizendo: — Quer conversar sobre algo?

Rin desviou o olhar.

—Não, nada. — ela fixou seus olhos em uma estrela azul de seu coberto — O senhor não deveria estar aqui, sabe? Pode ficar doente.

Sesshoumaru-Sama retirou o notebook, ainda ligado, de cima da cadeira e sentou-se ali.

—Pelo que vejo você já está bem melhor. — comentou tocando duas vezes o machucado na testa, as bochechas de Rin ferveram — E, até onde eu saiba, o que você tem não é nada contagioso.

A respiração de Rin ficou suspensa por um instante.

—O senhor… sabe o que eu tenho?

—Não exatamente. — ele deixou o notebook sobre as pernas e fechou-o — Sei que algo está incomodando-a a ponto de adoecê-la. Quer falar sobre isso?

A menina fechou os olhos com força, não podia voltar a chorar agora.

—Não. — forçou sua voz a sair.

—Tem certeza?

Ela mordeu o lábio inferior com força e sacudiu a cabeça para cima e para baixo, ouviu Sesshoumaru-Sama suspirar.

—Pode ajudar se falar com alguém sabia? — ele comentou, e ela não conseguiu conter o soluço ao sentir os nós de seus dedos tocarem sua bochecha — Não precisa falar comigo se não quiser, só saiba que eu estou aqui se precisar.

Rin ouviu os passos de Sesshoumaru-Sama se afastando e, mesmo sem abrir os olhos, grossas lágrimas começaram a escapar de seus olhos e descer por suas bochechas.

—Sesshoumaru-Sama! — chamou-o repentinamente, antes que perdesse a coragem, o choro não podia ser contido agora: — P-por que o senho-or aceitou ficar co-comigo-o? Por que n-não tentou m-mais se l-livrar de mim?

Sesshoumaru-Sama estava parado com a mão na maçaneta da porta e o notebook debaixo do braço, o medalhão fora deixado sobre a cadeira ao lado de sua cama, ele arqueou a sobrancelha.

—Por que mais seria? — devolveu com outra pergunta — É porque você é minha filha.

—MENTIROSO! — gritou de repente, e curvando-se para frente escondeu o rosto entre as mãos, chorando alto — Eu sei a verdade, eu li o exame de DNA na gaveta da sua mesa!

Confrontado com a verdade, Sesshoumaru-Sama não disse coisa alguma, somente ficou parado junto à porta e ouvindo seu choro desconsolado.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu tenho terminado os capítulos de uma forma bem trágica ultimamente, e sinto muito... bem, na verdade não kkkkk
O que posso dizer? Suas lágrimas são uma delícia XD



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