Andei um pouco até chegar na casa grande. Como estava de banho tomado, com minha camiseta preferida e com meu short favorito, o vento que acoitava meu rosto era bastante prazeroso. Mesmo com todas essas coisas boas do tempo, o clima era de pesar, assim que comecei a subir as escadas do lugar. Quando entrei, vi que a sala aparentava estar vazia, até que escutei passos. Disso eu já sabia o que fazer.

Subi um pouco e parei em frente ao quarto de Milord. Por educação, bati na porta.

— quem é? – uma voz grossa rugiu de dentro do quarto. Curiosamente, reconheci o dono dela.

— sou eu, o Jimmy.

— ah! Entra ai pão de mel. Chegou na hora! – disse Edu stark um pouco mais calmo.

Abri a porta, e não estava me sentindo mais em um quarto comum… estava me sentindo em um puro hospital.

Edu como agora foi promovido para guardião e líder do chalé nórdico, estava com um traje de guerra muito bem trabalhado. Suas ombreiras estavam com os espinhos curtos, sinal que poderiam ser ativados por magia com algum comando. A armadura na parte da frente e na das costas estavam iguais a um viking, e suas armas estavam dispostas ao lado de um armário.

— como você tá pão de mel? – Ele me abraçou com força, e algumas lagrimas surgiram em seu rosto.

Coloquei um pouco mais de força no meu abraço porquê… santa hécate, nunca havia visto o Edu soltando sequer uma lágrima.

— Estou bem cara, vivo pelo menos. E… como que…

— Pão de mel… - uma voz me chamou e prendeu minha atenção.

A voz era de Milord, que estava com cara de um idoso de oitenta anos. A cama dele estava com a cabeceira adornada de algumas miçangas e um apanhador de sonhos, que estava brilhando fortemente e que o conectava com uma coroa feita de energia. Lembro que aquilo era um item que se estivesse embebido de magia, poderia proteger seu dono de invasores que atacavam pela mente dele, ou senão poderia também prender algumas lembranças que o próprio usuário poderia julgar como… Nocivas. Do seu lado direito da cama, havia uma pequena embalagem de soro para uma intravenosa que estava ligado ao seu braço direito, porém com um líquido dourado nela, que aparentemente poderia ser alguma substancia divina, misturada com Ambrosia para manter Milord de pé, mas senti que não era suficiente para um deus menor.

— tudo bem? – ele me olhou com uma cara péssima e a voz dele estava fraca demais, ela saiu como se ele estivesse amassando papel.

Edu e eu nos aproximamos dele. Toquei seu rosto de maneira singela, com uma face de preocupação também.

— estou sim amigo. Demorei muito?

— não... não demorou. Eu… pre… preciso de energia…

— por favor Jimmy – Edu me olhou com olhos pesarosos – Ajude ele.

— de fato vou – respondi com convicção. – por favor se afaste.

E ele fez o que pedi. Logo eu toquei o braço aonde estava sendo injetado o Liquido Divino. Ele não reagiu porque já estava acostumado com aquilo no braço. Me levantei, Juntei meus braços e fiz uma breve oração em grego antigo. Como eu ainda era pontifex, tinha conexão com a energia constante dos deuses e tinha que transferir um pouco para ele, como sempre fiz depois do trágico acidente que aconteceu e retirou todos os seus poderes, porque caso contrário… bem… não queria nem falar dessa parte.

Uma rajada de luz saiu de minhas mãos, me afastei e joguei a luz para frente em formato de dois Orbes.

— Ouçam meu apelo, ó grandes forças da luz! Aliviem o tormento dessa alma torturada, junte-a com a força da vida, e pela vossa graça, faça-a acordar nesse mundo com vitalidade e glória!

Os orbes se juntarem em um só. Logo ele se direcionou para a testa de Milord, depois que fiz um pequeno movimento com as mãos e apontei para aquela região.

— Começo imaculado… apareça diante de mim AGORA!

E fiz um gesto de empurrar, e a luz seguiu meu comando. Ela se expandiu em seu corpo, irradiando de maneira intensa. O quarto inteiro começou a tremer e Edu se apoiou em meus ombros. Continuei com o feitiço, e por mais que tivesse colocando força, eu tinha que entrar em contato direto com sua alma para o feitiço funcionar. De acordo com o que eu estudei, o corpo de um Deus é apenas uma veste, porque o principal era o que estava dentro dele.

Senti um arrepio subindo pelo meu rosto. Era sinal que tinha conseguido, e então soltei. A luz sumiu e literalmente penetrou o corpo dele. Uma rajada de vento bem forte correu pelo local e Milord literalmente… rejuvenesceu.

— ahh… - ele respirou Fundo e com uma face de felicidade – como é bom retornar inteiro. Muito obrigado Jimmy.

Me senti tonto e cansado, estava a ponto de querer desmaiar, até que fui segurado pelo Edu.

— De nada…

O próprio se levantou e me deu um abraço, retirando a agulha de onde vinha o soro dourado, se comportando literalmente como uma pessoa normal e não como um velhinho de oitenta e alguns anos.

— E então Bruxo bondoso? O que quer tentar fazer agora?

Olhei para Edu com uma cara decida.

— Cara, poderia nos dar licença por alguns minutos? Tem uma coisa que eu gostaria de ver com Milord, porém a sós.

— Sem problema Jimmy. A gente se vê lá fora moço.

E ele se retirou do quarto. Logo me sentei na cama, seguido do próprio Milord.

— Eu não sei se tentar esse contra-feitiço é a alternativa certa para conseguirmos algo, porque tive uma visão agora a pouco e fiquei meio receoso…

— Receoso com o que Jimmy? – Ele me olhou preocupado, como um Pai.

Não pude esconder a visão que tive no pavilhão dos chuveiros para ele, e também da mensagem do Doppleganger. Quando terminei de contar, a resposta disso tudo foi um abraço apertado vindo dele.

— Isso é preocupante, mas também é interessante. Faz meses que você não deu nenhuma reação adversa com sua magia, hoje você a controla como um verdadeiro Mestre Arquimago, e não teve nenhum desequilíbrio com reação a terra. Tem certeza de que… não foi Gaia?

— Tenho certeza disso. Não foi Gaia que disse. É algo do passado, alguém!

— Que você conhece? – Ele me olhou curioso – bom… além de conhecer a consciência de Gaia, ter aprendizado com Cronos… teve mais alguma coisa?

— Bom… - eu comecei a contar nos dedos – além desses dois, eu já peguei uma Lestrigão, algumas crias de alguns deuses no acampamento, uma cria de Afrodite, uma cria de Apolo, quase namorei o antigo imperador Amitúlio, e hoje estou namorando a Ellen. No mais foi só isso mesmo.

— Piranha…

— Como que é Milord? – Eu o censurei com o olhar e começamos a rir.

— Deixa para lá Jimmy. Mas se fosse alguma coisa por aqui, já teria ido direto em você para resolver algo. Tenho certeza de que seja algo mais impactante. Mais… Sombrio.

Meu coração vacilou em uma batida. Pensei em tudo que aconteceu até esse momento… e isso me baqueou.

Houve um tempo em que todos nós celebramos e começamos a viver em paz devido a criação do chalé de Demeter e o chalé Nórdico. Desde que Odin apareceu em nosso acampamento e revelou que havia descendentes dele, espalhados por todo o lugar, Ele me pediu para ajudar com toda a magia possível para encontrar todos, e depois que ele nomeou Vick e Edu como seus primeiros Tenentes, ficou muito mais fácil. Começamos a construir uma era de paz até…  Que a escuridão veio.

Em um momento do nosso acampamento, um ser sombrio que não conseguimos identificar nos atacou com força, deixando a todos minados de energia e poder. O chalé de Deméter foi literalmente destruído. Logo em seguida, ele e Wlad foram possuídos, atacando a todos sem piedade e removeram todas as energias que Milord tinha, o deixando inerte e a beira da morte, sorte que Vick, Ellen e eu fizemos um movimento preciso de magia para espantar esse ser sombrio dos nossos amigos.

Desde então, começamos a lutar para sobreviver. Sorte que nossa barreira ainda estava de pé, porém como ela era conectada com Milord, havia momentos que ela simplesmente ficava muito fraca e era facilmente rompida, dando a brecha para monstros nos invadirem, e nos fazendo ter problemas externos e Internos. A antiga líder de Afrodite desapareceu, fazendo com que Juan tivesse que assumir apressadamente, junto de Will. Felps e Sara perderam sua conexão com o lado romano dos deuses, ficando inertes e sem poderes, fazendo com que Frost e Jasmine tomassem o lugar dos dois temporariamente. Alguns campistas tiveram sequelas terríveis com a magia negra da monstruosidade, ficando em coma e acordando com características de outro Deus e alterando de lado. Uma coisa que eu mesmo senti na pele por um tempo… a taxa de renegados por acidente aumentou drasticamente, e também de espertinhos falsos que seguiram outros campistas.

—“ Galinha que segue pato, morre afogada ta? ”— Eu havia me lembrado de dizer isso a um campista.

E então ficamos assim. Perdi campistas com os ataques, e não estava muito feliz com isso. Acabou que no final das coisas, estávamos resistindo muito, com muitas baixas e desaparecimentos. Como Milord ficou imponente e não fez nada, acabou que todos os líderes deixaram eles descansando e criaram o conselho, para assumir os problemas de todo mundo no acampamento, que já estava uma confusão.

— Deuses… - eu disse de maneira triste, até demais – eu pensei que já estávamos lutando demais com isso, e tenho o prazer de ter o inimigo se revelando especialmente para mim… que porcaria em…

— Relaxa Jimmy – Milord Riu e se levantou – então… ainda quer tentar fazer o contrafeitiço?

Me levantei e comecei a pensar a fundo sobre isso. Depois de tanto problema, a única coisa que pensei no final das contas foi ir na biblioteca do acampamento, que me levou a achar o contrafeitiço, que baseava mais em um feitiço de proteção máxima e auxilio a ataques direto a essência básica dos monstros, bom… se é que eles tinham uma e se… conseguiríamos fazer funcionar.

— É a nossa melhor alternativa até agora… Vamos lá!

— Imaginei esse tipo de resposta de você bruxo bondoso.

Em um súbito movimento, Milord usou o que tinha de energia e nos levou para fora. Quando pude ver, estava com um clima bastante agradável e úmido, porque ao redor da nossa barreira, estava chovendo e nós só recebíamos os ventos frios que surgiam dali.

— Irei chamar o conselho para você começar. Eu sugiro que antes de você iniciar, dê um pulinho no chalé Nórdico e procure a Vick. – Ele chamou Edu e ele ficou do meu lado - Eu sei que ela esqueceu de te falar um detalhe importantíssimo que vai precisar da sua assistência para resolver. E tem a ver com Yggdrasil.

— A árvore dos mundos? – Questionei Milord – não tenho certeza que Odin deixaria eu ajudar, já que é uma essência que eu não sou muito de orar.

— Acho que não será um problema – Avaliou Edu – como você é uma ponte entre os deuses e os homens, e a árvore tem propriedades parecidas, talvez não dê tanta divergência assim.

— Tomara… - Tentei pensar positivo – então… vamos lá.

Nos separamos e seguimos em direção a parte oeste dos chalés, direto para o chalé Nórdico.