Who stalk the stalkers? escrita por HellFromHeaven


Capítulo 4
A.S.E.




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Cheguei em casa por volta das dez e rapidamente comecei a trocar todos os meus dispositivos de segurança. Reforcei as trancas, acrescentei algumas na porta principal e nas janelas, principalmente no banheiro. Troquei todos os cadeados e me livrei das coisas antigas para não existir possibilidade de eu colocar os antigos nas trancas por engano. Nessa brincadeira, acabei indo dormir às quatro da manhã. Deitei na sexta e acordei às dez da manhã de domingo, totalmente recuperado de minhas noites mal dormidas e não dormidas. Comi alguns pães com manteiga e joguei fora o café velho da garrafa, preparando um novo. Me alimentei um pouco e embebi meu organismo com seu combustível natural: café. Liguei meu fiel companheiro, computador e comecei a checar meus emails e as notícias da semana em busca de um possível trabalho, como de costume. Demorei cerca de duas horas para me lembrar do dominó que Sherlock havia me dado e rapidamente parei o que estava fazendo para procurá-lo. Por sorte, ainda estava no bolso do meu casaco. Analisei o objeto meticulosamente, esperando um desafio como o do cartão, mas notei que era apenas um pen drive em alguns segundos. Pluguei o dispositivo em um computador reserva para eliminar quaisquer possíveis ameaças ao meu computador e percebi que tinha me esquecido deste procedimento quando estava tentando decifrar a localização do encontro. Refleti por alguns minutos, enquanto alguns programas terminavam de vasculhar o pendrive e cheguei à conclusão de que estas medidas de segurança poderiam ser inúteis. Hiperatividade teve livre acesso ao meu apartamento por um período desconhecido e poderia haver até mesmo câmeras ali dentros, me monitorando. Entrei em um surto paranóico e revirei meu apartamento em busca de aparelhos suspeitos. Perdi três horas do meu dia sendo paranóico e usando tudo à minha disposição só para descobrir que não estavam me espionando e que meu computador e o pendrive estavam livres de programas malignos. Pela primeira vez em minha vida, senti-me como um idiota por ser tão desconfiado.

Depois que me livrei de minhas crises de identidade, finalmente chequei o conteúdo do pendrive. Havia algumas instruções em um arquivo de bloco de notas que segui à risca, me levando até um site de uma loja de pincéis para cachorros. Em uma sessão de comentários, foi possível encontrar fragmentos de um link que levava a uma página de download de um programa chamado de A.S.E. que foi instalado seguindo as instruções em minha máquina. Após abrir o programa e navegar um pouco por ele, percebi que se tratava de uma rede social onde era possível se comunicar com os stalkers de todo o mundo. Ele era dividido por regiões e possuía um mural global, onde havia apenas as três regras e uma espécie de recompensa pela identidade do Watcher. O valor era alto, mas não me interessava no momento, então apenas procurei pelo grupo da minha região e entrei. Tive que cadastrar um nome de usuário e estranhei a ausência de senhas durante todo este processo. Enfim, notei que havia sete membros no grupo, contando comigo, o que me fez questionar aquela cena na cafeteria. Coloquei este questionamento na minha lista de prioridades e resolveria este assunto diretamente com a Hiperatividade antes que minha paranóia me consumisse.

Uma análise mais profunda do grupo revelou que seus criadores eram Sherlock e Leather Face. Aliás, os dois estavam envolvidos na criação da maioria dos grupos ao longo do mundo, o que confirmava a afirmação de que o cara de boina era um membro antigo e que revelava que a garota bizarra de pijamas não ficava atrás neste quesito. Tirando essas curiosidades de lado, o programa basicamente servia para conversar com os membros, trocar informações e aceitar serviços. Não entendi bem como esta última parte funcionava, mas havia sessões exclusivas de cada região contendo vários contratos de venda de informações. Perguntaria isso ao Sherlock assim que possível, já que conversar a sós com a garota bizarra estava totalmente fora de questão.

No momento, apenas Daisy e Dark Rose estavam conectadas à rede além de mim, então decidi simplesmente resolver dois problemas com uma tacada só. A atitude de Daisy durante o encontro me incomodava, já que conversávamos normalmente antes de todo esse lance bizarro, então queria acertar as coisas entre nós. Para isso, bolei um plano simples e prático que tinha grandes chances de sucesso. Se a garçonete estava me evitando, tentar falar sozinho com ela não daria certo e usar minha posição de cliente da cafeteria para isso também não me aprecia uma boa ideia. Então decidi marcar uma pequena reunião com ela e a Senhorita Hiperatividade, dizendo que queria esclarecer algumas dúvidas sobre o A.S.E., usando o fato de que apenas as duas se encontravam online como desculpa. Dark Rose aceitou de imediato, eliminando a relutância de Daisy, que acabou cedendo.

Nos encontramos em uma praça da cidade, após o expediente da garçonete, que acabava por volta das cinco da tarde aos domingos. Fui o primeiro a chegar e fiquei sentado em um banco, encarando as pessoas passarem tranquilamente. Hiperatividade chegou logo em seguida, com suas roupas pretas e jeans rasgados nos joelhos, cabelos roxos e compridos e olhos amarelos. Nos cumprimentamos e ela sentou-se ao meu lado e ficou cantarolando uma melodia animada.

— Quantas perucas você tem? - perguntei.

— Mais do que pode imaginar nossa vã filosofia.

— Ainda bem que eu desisti de te entender, pessoa exótica.

— Jurava que ia me chamar de louca.

— Um louco não pode julgar outro.

— Ainda bem que sabe, S.G.

— Vem cá, eu entrei no A.S.E. e minha mente não vai descansar enquanto você não responder minha seguinte pergunta.

— Joga na roda.

— Só existem sete membros nessa região… Quem eram as outras pessoas na cafeteria?

— Ah! Eu sabia que ia te impactar, mas não imaginei que seria tanto. Eram uns amigos meus de uma região próxima. Sou bastante querida entre os stalkers, caso não saiba. Quase uma idol.

— Não sei se deveria acreditar em você, mas já não duvido de mais nada nessa vida.

— Acredita, cara. Cola em mim que vai ser só vitórias.

Daisy finalmente se juntou a nós, interrompendo nosso debate sobre a popularidade da garota exótica e nos cumprimentou, tímida. Ela ainda estava com o uniforme de garçonete e escolheu o lugar ao lado de Dark Rose, se mantendo afastada de mim. Esse comportamento estava me incomodando muito, então decidi passar para a segunda fase do meu plano: o confronto.

— Dai… Digo, Fire Head, por que está me evitando?

A garota se assustou com minha pergunta e voltou sua face para suas pernas, um pouco nervosa. Permanecemos em silêncio até que a garota reunisse forças para continuar com o assunto. Sinto que ela teve esperanças de que deixaríamos isso de lado e começaríamos um novo assunto, mas Hiperatividade continuou calada. Sem muitas escolhas, Daisy olhou para mim, relutante e suspirou profundamente.

— Droga, vocês não podem só me ignorar?

— Não. - respondemos em coro.

— Poxa… É que é muito estranho pra mim. Você é um cliente antigo da cafeteria e conhece meu pai, então tenho medo do que você pode falar sobre mim com as outras pessoas. Afinal, você me conhece há uns anos.

— Acho que eu deveria ser o amedrontado aqui, já que você poderia ter extraído várias informações de mim sem que eu notasse durantes esses anos.

— Bem, eu realmente fiz isso. Foi assim que descobrimos sua identidade. Tínhamos algumas suspeitas e os locais de entrega das informações convergiam na cafeteria, então um dia fucei na sua mochila enquanto estava distraído e achei sua máscara.

— Isso responde algumas perguntas adormecidas no meu subconsciente e me tranquiliza de certa forma.

— Como isso pode te tranquilizar?

— É que agora eu sei quem foi e como aconteceu. Caso contrário, estaria criando mil e uma teorias em minha mente envolvendo várias pessoas desconhecidas em situações surreais.

— Você é bem pirado, S.G. - disse Dark Rose.

— E você não fica nem um pouco atrás, Bananarang. Enfim, se suas preocupações são essas, então pode ficar tranquila. Não sou o tipo de pessoa que fala dos outros pelas costas, mas sim o tipo que observa esse primeiro tipo e registra cada detalhe.

— A naturalidade com que você fala isso é bizarra. - disse Daisy. - Enfim, parece que não tenho escolha a não ser confiar em sua palavra.

A garota suspirou enquanto apoiava seu rosto em sua mão esquerda que, por sua vez, era sustentada por suas pernas. Hiperatividade, que estava sentada entre nós, abraçou cada um com um de seus braços, aproximando nossos rostos e nos assustando com tamanha espontaneidade.

— Que bonitinho, todos amigos de novo. - disse a louca. - Isso é bom, já que nosso grupo depende muito da confiança que temos uns nos outros.

— Vocês confiam uns nos outros? - perguntei, perplexo.

— De certa forma. Confiamos em nossas habilidades e no pretexto de que as utilizaremos em conjunto caso necessário. Você vai entender melhor quando aceitar um caso daora no A.S.E.

— Você tocou em um assunto interessante. Como funciona essa parte do A.S.E.?

— É simplesmente complicado. Toda região tem um ou mais mediadores que consegue os serviços e os coloca na página para que a comunidade stalker tenha acesso a eles. Geralmente, são apenas informações complicadas de se conseguir e a maioria está relacionada com criminosos, mercados negros da vida e bizarrices do tipo. No nosso caso, Sherlock é nosso mediador. Costumamos realizar estes serviços em conjunto e dividimos o lucro em partes iguais. Dá pra ganhar uma graninha boa assim.

— Entendo. Aliás, eu dei uma pesquisada e o Sherlock é bastante influente dentro do Eye.

— Pois é, ele é um dos membros mais antigos poxa. A Leather ainda é mais antiga do que ele e foram os dois que iniciaram o grupo dessa região. Aliás, foi ela quem recrutou o rapaz.

— Depois que saímos da lanchonete, ela disse que queria ter me recrutado. Aquela garota me assusta.

— Hehe, é compreensível. Ela tem um jeitão bem bizarro e perturbador mesmo. Por isso sempre tentamos evitar que ela recrute novos membros. Sua forma de agir não é nada convencional, até entre stalkers.

— Sinto que reforçar a segurança do meu apartamento foi uma ótima ideia.

— Aposto que ainda consigo entrar lá.

— Se você conseguir, te pago uma boa quantia para preparar um sistema de segurança decente.

— Parece o meu tipo de oferta. Prepare-se para transferir uns créditos para a senhorita Bananarang aqui.

— Desde que eu consiga me sentir seguro, não vejo problema algum.

— Você é muito sério, S.G.! A vida é curta demais para ser levada a sério o tempo todo, rapaz.

— Foi mal, mas minhas inúmeras paranoias discordam de você.

Trocamos mais algumas frases sem muita importância e nos despedimos, declarando o fim daquela pequena reunião e o sucesso do meu simples plano. Consegui eliminar algumas paranoias relacionadas ao meu ingresso no Eye, o que significava muito para mim. A sensação era como a de um atleta que recebe uma medalha de ouro em um campeonato regional. Pode parecer exagero para quem não precisa lutar diariamente contra várias paranoias, uma mais exótica do que a outra, mas isso não importa. O importante nessas horas são sempre os resultados. Consegui algumas informações adicionais sobre o funcionamento do grupo, confirmei algumas suspeitas sobre Sherlock e destruí as barreiras psicológicas e emocionais que existiam entre mim e a garçonete.

Cheguei em meu refúgio me sentindo um verdadeiro campeão e rapidamente tranquei a porta atrás de mim, verificando-a para garantir que ninguém passaria por ali. Liguei meu computador, como de costume e o abri um sites de notícias e a rede social dos stalkers para caçar alguma oportunidade de conseguir uma quantia agradável de créditos, caso tivesse que pagar a Senhorita Hiperatividade. Enquanto a internet fazia seu trabalho e baixava os dados em minha tela, resolvi preparar algo para comer e mais um pouco de café, claro. Minha geladeira estava quase vazia, apenas com algumas folhas de alface largadas na gaveta inferior, dois vidros de ketchup, estando um pela metade, uma garrafa de dois litros de água cheia e uma dúzia de ovos. Sem pensar muito, peguei três ovos, uma frigideira e liguei o fogão, preparando um de meus famosos omeletes crocantes com pequenos pedacinhos das cascas que sempre deixo cair sem querer. Coloquei o ápice de minha capacidade culinária sobre a mesa em um prato de porcelana branco e o deixei esfriar enquanto preparava uma nova garrafa de café. Assim que meu néctar dos Deuses estava pronto para o consumo, enchi minha fiel caneca preta e a deixei ao lado do prato, devorando o omelete e tomando todo o líquido negro em um só gole logo em seguida. Não tenho uma dieta muito saudável, mas meu corpo raramente reclama, então deve estar tudo bem por mais alguns anos.

Voltei até o meu computador, mas fui interrompido antes de sentar por um som de vidro abafado de impacto vindo do banheiro. Voltei para a cozinha em poucos passos e peguei uma grande faca, partindo logo em seguida para o banheiro. Abri a porta calmamente com minha mão esquerda, enquanto empunhava a faca com a outra mão, com o sangue inundado de adrenalina. Porém, toda a adrenalina, nervosismo e quaisquer outras sensações fortes rapidamentes se esvaíram quando me deparei com Hiperatividade pendurada na janela, que havia fechado sobre suas costas. A metade superior de seu corpo estava dentro do banheiro e a outra metade estava pendurada do lado de fora. A garota, que fazia um grande esforço para se manter em equilíbrio naquela situação complicada me olhou com os olhos de uma criança que fez merda e foi descoberta. Deixei a faca na pia e ajudei a pobre alma a entrar antes que ela caísse e acabasse morrendo de uma forma estúpida.

A garota me acompanhou até o quarto em silêncio e se jogou em minha cama. Ignorei a atitude da louca e apenas sentei-me em frente ao computador para voltar a minha pesquisa por serviços. Passados apenas cinco segundos, fui interrompido pelo olhar curioso da Hiperatividade.

— Querendo arranjar uma graninha, não é?

— Sim, parece que vou ter que te pagar para evitar que você morra em uma futura tentativa de entrar aqui.

— Poxa, eu entrei, não entrei? Seu auxílio fazia parte dos meus planos.

— Não me surpreenderia se realmente fizesse. Aliás, quanto tempo ficou pendurada ali?

— Desde que você começou a fazer seus ovinhos. Estava bem silenciosa e tentei me soltar sozinha, mas tive que bater na parede para você aparecer e me resgatar. Admito que fiquei surpresa ao ver a faca em sua mão.

— Era só para assustar um possível criminoso. A faca nem está afiada. Mas da próxima vez, você poderia simplesmente bater na minha porta da frente, o que me diz?

— Te digo que é uma opção muito sem graça. Experiências de quase morte geram uma adrenalina muito louca.

— E também geram óbitos.

— A vida tem dessas. Se for pra morrer, que seja de uma forma muito incrível ou muito estúpida.

— Quanto mais falo contigo, mais vejo que desistir de tentar te entender foi uma decisão muito sábia.

— É, acredito que sim. Mas pense pelo lado positivo, jovem. Poderei resolver seu pequeno problema econômico sem que você gaste um minuto sequer pesquisando.

— Vai fazer uma doação caridosa?

— Claro que não. Não sou tão rica ou tão louca para fazer uma coisa dessas. Aposto que você deve estar cansado dos servicinhos banais que consegue por meios tradicionais, certo?

— Continue.

— Tenho um nome que vai resolver essa carência por coisas mais emocionantes e difíceis: Juan de La Montana.

— Não é o criminoso que a Leather estava investigando?

— Sim e não. É o criminoso foragido e perigoso que o nosso grupo está investigando. Então o que me diz, pronto para seu primeiro trabalho de verdade?

Aquele nome impunha medo em muitos oficiais da lei e curiosidade em muitos jornalistas e afins. Realmente seria um trabalho difícil, já que uma pessoa cuja existência é baseada em rumores pode facilmente não existir. Porém, seria fácil demais se Juan fosse apenas um personagem fictício e acredito que não seria sequer investigado por nossa rede. Isso tornava tentador correr atrás deste “fantasma”, mas o que tornava a proposta irrecusável era o fato de que seria a oportunidade perfeita para conseguir uma boa quantia de dinheiro e presenciar The Eye agindo seriamente. Então, as palavras saíram praticamente sozinhas de minha boca:

— Onde nós começamos?


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Notas finais do capítulo

Hehehe adivinha quem está na vibe de escrever sem parar?
Algum escritor famoso por aí, mas minha inspiração anda animada, dá-lhe stalkers
Como sempre, não posso prometer uma data específica para a postagem do próximo capítulo porque né, minha inspiração e motivação tem vidas próprias
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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