Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 3
Lost in memories


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Espero que gostem.



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  Dor. Tontura. Mau estar. Confusão. Todas são palavras que descrevem o que senti no momento que abri os olhos. Meu primeiro instinto é respirar. Me sinto como se tivesse ficado 5 minutos de baixo da água e pudesse absorver toda a camada de ozônio. 

      Estou deitada. Não sei como fui parar ali, porque estou ali, ou ao menos quem eu sou. Não sei a minha aparência, minha idade ou meu nome. Eu só sei que não tenho forças para me levantar. Mexo minhas mãos e elas se agarram na terra molhada. Olho ao redor e o máximo que consigo ver são árvores. O chão está repleto de folhas e galhos, o que me deixa bastante desconfortável. Ouço o barulho dos pássaros em todo lugar. Se a ocasião não fosse essa acho que já teria corrido atrás deles. Não sei do que gosto, mas definitivamente parece algo que eu faria. Os feixes de luz atravessam as folhas verdes e me permitem ter uma clara visão do lugar ao redor, mas não há muito o que vem além de grandes troncos marrons e frutos caidos.

    Minha roupa é totalmente estranha. Não sei se ela é normal, mas meu instinto é estranhar. Pareço estar coberta  de panos cinzas, remendados e grossos. Essa junção parece criar um vestido e se a noite fosse fria, eu não me daria bem. Fecho os olhos novamente e respiro fundo. O ar é puro e me dá energias. Reúno toda a minha força e me levanto. Estou descalsa. Ótimo. Me olho a procura de ferimentos, mas não tenho nem mesmo um arranhão.

      Me desespero. Estou com medo e sem saber o que fazer. O sol está se pondo e eu não tenho lugar para ir. A floresta não parece pequena e eu não tenho ideia do que fazer a seguir. Olho para os lados, mas tudo parece igual aos meus olhos. Uma lágrima escorre por minha bochecha e trato logo de limpa-la. Se quero sobreviver, preciso ser forte e encontrar algo para me aquecer. O sol ainda nem se pôs e meus braços já se tremem. É quando noto a fogueira. A fumaça sobe além  das árvores e some no céu. Consigo ver as colinas com as árvores fechadas a quilômetros de distância e o fogo flutuando atrás. Seja lá o que for, está longe, muito longe, mas é a minha melhor chance. Quem quer que esteja ali poderá me ajudar. 

      A noite cai e eu apresso o passo.  Me abraço, tentando conter todo o calor dento de mi, mas parece impossível. Cambaleio sem forças, minhas pernas parecem ter perdido toda a energia. Não a toa, não como nem bebo nada desde que acordei e quem sabe quanto tempo antes disso, Não sei mais onde a fogueira está, ou se pelo menos está acesa. Eu só sigo o meu instinto. Não é o melhor mapa, mas é a única coisa que me sobrou nesse momento. O único barulho que ouço e o da minha respiração pesada. E da minha barriga. Vasculho algumas árvores, mas nenhuma delas parece ter algo comestível. Praguejo em silêncio e continuo andando pelo mato.

      Meu pé sangra e minha perna está toda arranhada. Tebto desviar de galhos, mas eles parecem estar em todos os lugares. Minha roupa está rasgada e acaba se tornando um empecilho na viagem. Quem quer que tenha feito isso comigo podia ter se preocupado em me dar um sapato. Meu cabelo está cheio de terra e minha boca seca. Em nenhum momento encontrei sinal de água. Olho para o céu com esperança, com fé de que as nuvens cinzas do alto me abençoarão e deixarão suas gotas respingarem para mim, mas vejo as estrelas claramente. Eu poderia permanecer olhando para o céu estrelado por bastante tempo, mas minha barriga ronca e sei que tenho que continuar. Me agarro aos panos que me cobrem, mas nenhum deles consegue me esquentar.

      Praticamente me arrastava para conseguir subir o morro. Já tinha desistido de qualquer chance de água ou comida. As estrelas já brilhavam e o lua já está em seu ápice, mas o sono não veio. A adrenalina me percorre, mas ela não impede que eu me jogue no chão de cansaço. Fecho os olhos e deixo que as lágrimas tomem conta de mim. Provavelmente pareço uma louca, uma mendiga maltrapilha, mas eu não ligo. Só quero ir pra casa, onde quer que seja.

    Está escuro, mas meus olhos parecem se adaptar facilmente. A luz da lua é intensa e parece iluminar todos os lugares. Estou quase dormindo quando ouço os barulhos, abafado pela distância. Me levanto imediatamente. Corro para dentro das árvores, com a esperança de que esteja escuro o suficiente para me esconder. Me jogo de trás de um arbusto qualquer e boto o rosto para fora e observo enquanto quatro homens em cavalos entram na clareira onde estava.  Eles possuem grandes barbas e pouco cabelo. Seus rostos estão todos sujos e as armas que empunham não são bonitas. Grandes machados e espadas estão penduradas em suas cinturas. Eles são grandes. Essa é a palavra. Grandes e corpulentos. Um arrepio me sobe assim que os olho. Eles exalam fúria e selvageria. Consigo ver o olhar sedento por sangue daqui. Não sei quem são, ou o que querem, mas não quero que me encontrem de jeito nenhum. Eles conversam um pouco e, em um ato de medo, dou alguns passos para trás, tentando me esconder mais ainda.

      Eu estava em uma descida. Os poucos metros que me movimentei para trás me impulsionaram a descer a colina. Rolando. Não me importei dos homens me escutaram, eu só gritei, com a pouca força que me restava. Eu não conseguia ver nada direito, a grama, o céu, as árvores, tudo era um borrão. Não sei quanto tempo se passou, segundos ou horas, eu só torcia para nenhuma rocha aparecer ou para que a terra fique plana, mas nenhuma das duas aconteceu. Eu só parei, quando bati a cabeça em alguma coisa dura, e a última coisa que me lembro, é da água.

      Flashes se passam pela minha mente. Memórias, lembranças, sonhos e alucinações. Todos se misturam e não sei o que é real e o que é fantasia. O que é o agora, o passado ou até mesmo o presente. Vejo um homem, de uns 19 anos, moreno de olhos verdes, uma garotinha ruiva e dois adultos que parecem ser seus pais. Vejo uma loira vestida de anjo, uma morena chorando, um loiro de pirata dançando ao lado de uma borboleta. O lugar parecia tão longe , mas ao mesmo tempo tão perto, que não consegui me segurar. Estiquei o braço, na esperança de alcança-los ao longe, mas eles sumiram. E em segundos, tudo volta para mim. Eu não me lembro se estou viva, se estou morta, eu só me lembro que esqueci tudo.

      Vejo a água e o vermelho do sangue se misturando ao azul. Vejo a paisagem lá fora enquanto afundo, a luz do sol refletindo na água cristalina, mas eu não consigo nadar. Então eu fecho os olhos, esperando pela morte enquanto afundo na escuridão. Mas ela não chega.

        Ouço o barulho de um objeto sendo jogado contra a água, um força contra meu peito. Vozes distintas e irreconhecíveis ao meu redor. Me sinto drogada, tonta, sem o controle de mim mesma. Então eu cuspo. Jatos de água saem da minha boca e eu tusso. Minhas pálpebras estão pesadas e depois de retirar a água do meu pulmão, eu adormeço novamente.

      Mais imagens voltam a minha mente. O real se junta ao irreal e eu não sei diferenciar o certo do errado. Eu estou acordada, consigo ouvir as coisas ao meu redor, mas não me meixo. Tremo de frio. A noite gélida e o vendo forte se encontram com minha roupa encharcada e me desespero. Começo a me lembrar do que aconteceu antes, só espero que Mikail esteja bem. O sorriso de Maxon me vêm em mente e eu sorrio internamente. Eu só quero acordar e voltar para casa.

      _O que devemos fazer com ela?- uma voz rouca e áspera pergunta em algum lugar.

      _Mata-la.- uma segunda voz reponde, fria.  Eu me desespero por dentro, tento me mexer de qualquer jeito, mas nada funciona.

      _Podemos leva-la para Odin. Ele gostará da companhia.- o primeiro diz em tom de dúvida, claramente temendo a resposta. Me estremeço quando ele diz a palavra "companhia", não acredito que seja para tomar um chá e conversar. Os dois começaram a discutir alguma coisa, mas não consegui identificar.

      _Parem de brigar os dois!- um terceiro grita- Peguem ela! Nós vamos embora. Temos um longo caminho pela frente.

      Ouço passos em minha direção e me desespero. Não sei se o que vi realmente aconteceu ou se é um sonho, mas antes que os dois barbudos pudessem chegar em mim, um quinto homem aparece entre nós. Viro minha cabeça lentamente, que cai no chão, e observo a luta de horizontal. 

      Uma figura está escondida do outro lado da clareira. Eu poderia avisar os bandidos para que eles acabem com ele, mas não acho que a sombra possa me fazer mais mal do que eles já fazem. Enquanto ele, agachado, caminha lentamente com a espada em punho, os três homens continuam discutindo, sem nem perceber a movimentação. O homem, agora visível a mim, está prestes a apunhalar o raptor quando ele se vira e ampara a espada com seu machado. O grandalhão se levanta, fazendo com que meu talvez salvador se assuste com seu tamanho, mas ele logo ataca novamente.  Ele gira a espada da mão e ataca. O outro por pouco consegue se desviar do giro e contra ataca, em um movimento que é facilmente reprimido pelo mais novo, que rola no chão e desliza a fina ponta do metal por suas pernas, o fazendo cair no chão gemendo de dor.  Com um único movimento ele ataca o segundo antes que ele possa perceber o que acontece, mas no último segundo ele se defende. Os outros dois bandidos restantes o cercam. Eles conversam entre golpeadas, mas nada que eu consiga entender. Em pouco tempo os outros dois homens estão caídos no chão, sangue jorrando de seus corpos.

      Pode- se dizer que foi um massacre. O garoto derrubou os quatro grandalhões com facilidade até. Ele usava roupas ainda mais estranhas que a minha. Tinha uma capa vermelha e por baixo, uma armadura? Além de uma espada empunhada na mão direita. Depois de se certificar que os homens não se levantarão, ele vem em minha direção, claramente cansado. E quanto caminha, percebo mais sobre o meu salvador. Seu cabelo é loiro e desarrumado. Parece molhado, provavelmente do suor. É visível os músculos por baixo de toda a roupa e da armadura. Não tem mais do que 20 anos. Ele se ajoelha na minha frente e olha para meu rosto praticamente desacordado, e então eu vejo, os mais lindos olhos azuis que já presenciei. Ele exala preocupação.

      _Está tudo bem.- ele tenta me acalmar. Sua voz e rouca e calma. Me sinto segura quase que imediatamente.- vou te levar para um lugar seguro.- ele termina e sinto seus braços fortes me carregando para algum lugar. Ouço o barulhos de cavalos e então sou depositada em alguma coisa móvel. Provavelmente o animal. Ainda tremo de frio, e percebendo isso, o homem retira sua capa e a coloca por cima de mim, para me manter aquecida.

      Fecho meus olhos novamente e sou invadida pelos sonhos.


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Notas finais do capítulo

Bom, acabou aqui. Não sei quando posto o prox mas prometo nao ser uma escritora fantasma!



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