Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 16
Lost in the Maze


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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—O que você quer dizer com a culpa é dele?- pergunto provavelmente pela décima vez em cinco minutos. Merlin suspira, cansado.
    _A culpa é dele, America, por tudo o que está acontecendo. - suas mãos gesticulam em frente de seu rosto, claramente agitado, o que é fora do costume para ele, que sempre permanece tão calmo em todas as situações. 
    _Eu sei que vocês se odeiam, mas culpar ele por todo o azar de Camelot, não é racional. - tento explicar meu ponto de vista e ele respira fundo mais uma vez. - A água acabou, as plantações queimaram, o que isso tem a ver com ele? 
    _Eu já te expliquei America, ele matou um unicórnio e agora o protetor do animal está nos castigando. -  o olho sem saber se rio ou se levo a sério. 
    _Isso simplesmente não faz sentido.
    _Você chegou aqui tem seis meses, você não julga o que faz sentido ou não. - ralha.
    _Tudo bem, é justo. E como podemos convencer esse protetor de que não precisamos desse castigo?- mudo de assunto tentando demonstrar interesse.
    _Mostramos que Arthur é digno de receber misericórdia.
    _Pronto! Problema resolvido. - me levanto extasiada. Não tinha nem lembrado que mostrar que Arthur é merecedor de algo talvez fosse a tarefa mais difícil que fizesse na minha vida, só pensava em calar a boca de Merlin. 
    _Nem isso ele consegue! Ele já teve duas oportunidades para "mostrar seu bom coração"- imita a provável voz do mago dos unicórnios ou como ele é chamado. - E o besta não conseguiu se mostrar digno!
    Caminho em sua direção, seguro sua mão e a aperto em consolo.
      _Ele vai passar na próxima, eu sei que vai. - o asseguro
      _Lembra de quando encontrou água, quando a areia desapareceu?- assinto com a cabeça. - Ele tinha passado no primeiro teste, mas claro que ele tinha que arruinar isso no momento seguinte. - ele respira fundo, procurando pelas próximas palavras. - Os vilarejos vizinhos estão aparecendo em busca de proteção e sobrevivência. A cidadela está lotada e não temos comida ou água suficiente para abastecer nem metade deles!- se exalta.
      _Merlin, eu acredito em você, em vocês dois, sei que vão encontrar um jeito de nos tirar daqui. E nesse meio tempo eu roubo comida da cozinha do palácio e a distribuo na rua com Morgana. Cada um faz o que sabe fazer. - dou de ombros e ele abre um sorriso fraco.
    _Se quiser pode roubar a comida do Arthur, ele não come mesmo. Tudo bem que eu não ajudei muito fazendo ele comer rato, mas ignoramos essa parte.- relevo o comentário final e anoto na minha mente para perguntar pra ele sobre isso depois.
    _O que quer dizer com ele não come?- me assusto.
    _Ele não toma café, não almoça, nada. Eu tento convencê-lo de que ele precisa comer para conseguir nos salvar, mas ele só me manda ficar quieto. Ele diz que não pode saciar seu estômago enquanto sua população morre de fome.
    _Você não pode culpá-lo Merlin. 
    _Eu não o culpo, ele só poderia largar de ser teimoso e aceitar!- se frustra.
    _Ele vai. Assim como passará no próximo teste.
      _Não tem uma próxima. Estamos arruinados. - chora.
      _Então encontre uma nova! Implore para Anhora, ou sei lá o nome dele. Eu não sei. Arthur pode ser idiota demais para admitir o que está acontecendo, mas quando souber, te asseguro que fará a coisa certa.
      _Gostaria de ter sua fé, America, em mim, nele e em todo mundo.- sorrio com o elogio.

Pov Arthur
     Batuco os dedos na cadeira enquanto espero meu pai. Estou impaciente, não é como se eu tivesse muito tempo antes da população morrer de fome. Sou acordado do devaneio pelo barulho forte dos passos e do eco no salão.
      _Restam alguns mantimentos no palácio. - digo antes que ele chegue perto de mim. - Vamos distribuí-los, mas não são o suficiente para viver. O povo não sobreviverá por muito tempo. - ele para para pensar por um minuto, mas passa por mim direto, sem um pio, e se senta no trono.
      _Então não distribua os alimentos.
      _Eles vão morrer de fome. - constato assustado com tamanha frieza.
      _Devemos preservar nossa comida para o exército.
      _Não podemos deixar o povo sem comer. Tento argumentar, mas seu rosto permanece igualmente fechado.
      _Devemos defender o reino!- avança para cima de mim.
      _E de que serve um reino se o povo morre de fome?- levanto o tom de voz, sem medo das consequências. -Peça ajuda aos vizinhos. - ofereço uma solução, a primeira que me veio à mente. Mas ele só ri. -Eles talvez possam nos dar algum alimento.
      _Nem pensar. Vendo nossa fraqueza, os inimigos atacarão.
      _Não sabemos disso!
      _Prefiro passar fome a pedir ajuda! E a reputação do reino? Você não tem orgulho?- suas palavras e atingem em cheio e me lembro das palavras de Anhora, de que estaria disposto a sacrificar a vida de alguém pelo meu orgulho, de que falhei por ser muito parecido com ele, e é exatamente o que eu não quero. O olho serio, pensando no próximo passo e me controlando para não fazer o que fiz com o protetor do unicórnio: atacá-lo.
      _Não penso em orgulho quando o povo passa fome.  É só neles que eu penso. - ele não se intimida pela minha resposta, pelo contrário, parece mais determinado a me fazer abaixar a cabeça.
      _Mande parar de distribuir comida para o povo, entendeu bem?
      _Mande você mesmo. - o dou as costas e atravesso o salão em direção da porta.
      _Tudo bem. Tudo porque você não pegou o feitiçeiro. - alega e paro de me mexer. Sinto a enorme vontade de me defender, mas simplesmente não vale a pena. O ignoro e continuo andando. - É sua responsabilidade. Um dia, você entenderá o que é preciso para ser rei. - fecho a porta atrás de mim e deixo sua voz abafado no fundo.

      _O que ele te disse exatamente?-pergunto enquanto Merlin ajusta a armadura em meu corpo.
      _Arthur deve ir para o Labirinto de Gedref, lá, ele encontrará seu último teste. Se falhar, não há saída. A maldição destruirá Camelot. - ele repete as palavras novamente.
      As escuto e começo a arrumar minhas coisas para a viagem.
      _Espere, me deixe ir com você. Não sabe como será o teste. Posso ajudar. - ele praticamente implora, mas não olho para ele.
      _Você não vem. Eu fiz isso para Camelot, eu vou remediar ou morrer tentando. - prendo o cinto a guardo a espada.
     _Ah em que ajudaria morrer?- pergunta sabendo que eu não terei uma resposta.
     _ Morrerei- penso por um momento- sabendo que fiz meu melhor. Fique aqui e ajude o povo como puder. - ordeno e ele permanece parado no meio do quarto, em pé, enquanto caminho para fora.
      Pego meu cavalo e deixo as muralhas de Camelot longe. Tento me lembrar de todas as coordenadas de Gaius, mas fica cada vez mais difícil. Montanhas, desfiladeiros, um rio e todo e qualquer tipo de Natureza que dificulte minha passagem. Em um dos picos, vejo, do alto da colina, o vale em baixo, sombrio e escuro, um labirinto até onde os olhos alcançam, parte coberta pela névoa. Respiro fundo e tento engolir o medo. Puxo as rédeas e avanço colina a baixo. Prendo o animal na árvore mais perto e empunho a espada. Em posição, adentro o emaranhado de plantas e caminhos sem saída, com a total certeza de que não sairei daquele lugar.
       Já tinha perdido completamente a noção das horas, só sabia que o tempo passava porque a lua já aparecia no céu. Não tinha ideia de onde estava provavelmente já tinha passo pelo mesmo lugar cinco vezes, totalmente perdido. Já tinha esquecido de todas as medidas de segurança, simplesmente corro de um lado para o outro, tentando encontrar algo que não seja o verde dos muros. Não aguentava mais correr, minhas esperanças já eram mínimas, não desistia e ia embora pelo simples motivo de que também não sabia como voltar, mas então vi, no final do túnel a luz branca. E cada passo mais perto, cada centímetro que avançava, notava os detalhes de tamanha luz, que agora era azul como o céu, e como o mar. Eu conseguia ouvir o barulho das ondas se chocando contra as pedras, o som da paz. Relutando atravesso.
     Me vejo em um praia, em um que nunca tinha estado antes. Sou baleado pela luz e levo um tempo para conseguir me acostumar com a claridade. Finco a espada no chão e olho ao redor, a procura de Anhora ou de qualquer sinal de civilização. Então vejo, no alto das pedras, o mago, e ao seu lado, Merlin está sentado em um banco de madeira.
     Droga, penso. Porque Merlin não pode, pelo menos uma vez, fazer o que mando?
     Caminho em sua direção e silenciosamente, me posiciono ao lado do segundo banco ao redor da mesa de troncos.
     _Merlin?
     _Me desculpa. - é a única coisa que diz. Respiro fundo.
     _Solte-o. - digo em uma mistura de pedido e ordem. - Eu só faço o teste quando ele for solto.
     _Isso não é possível. - Anhar responde sem se mover. -Merlin faz parte do teste. Por favor, sente-se. - obedeço, hesitante. Jogo a espada na mesa.
     _Eu pensei que tinha dito para ficar em casa. - ralho. Ele engole em seco, mas não responde. Reviro os olhos. - Vamos logo com isso.
      _Vocês tem dois cálices em cima da mesa. - anuncia e percebo que sim, realmente tem dois cálices em cima da mesa que eu não havia reparado antes. - Um deles contém um veneno mortal, outro um líquido inofensivo. - ouço as palavras com atenção com a certeza do que se deve fazer. - O líquido dos dois cálices vocês devem beber. Mas cada um de vocês só pode tomar de um deles.
      _O que isso prova?- pergunto como uma criança mimada, admito.
      _O que prova é para você decidir. Se passar no teste, a maldição será quebrada. - desvio o olhar do ancião e deixo que meus olhos repousem nos dois cálices dourados em cima da mesa. Merlin faz o mesmo.
      _E se eu beber o meu primeiro?-Merlin sugere.
      _Se for veneno você morrerá. - constato sem muito interesse, estou ocupado demais pensando em um jeito de tirar nós dois daqui vivos.
      _Se não for, terá que beber o seu e morrerá. Deve ter um jeito. - resmunga.
      _É muito simples. Um de nós dois deve morrer. Precisamos descobrir que cálice contém o veneno, então eu o bebo. - digo sem olhá-lo.
      _Eu vou beber. - me corrige.
      _A culpa é minha. Eu bebo.
      _A sua vida importa mais! Será rei, sou só um serviçal.
      _Não é hora de ser herói, Merlin. Você não leva jeito. - ouso sorrir. -Não imaginei que daria sua vida por mim.
      _Eu mesmo mal acredito nisso. - rio com sua resposta.
      _Fico feliz que tenha vindo, Merlin. - aproveito sua distração e derramo o líquido de um cálice no outro, para que assim eu beba os dois, e tenha a certeza de que Merlin sairá vivo.
      _Não! Eu bebo!- grita quando percebe o que fiz, mas seguro o objeto longe de suas mãos, para ter a certeza de que ele não possa alcançá-lo, tendo em vista de que ele está preso na cadeira.
      _Não vou deixar.
      _Você não pode morrer. Esse não é o seu destino!- tenta desesperadamente me fazer desistir e sinto o medo em seus olhos, como tenho certeza que os meus estão também.
       _Parece que você errou de novo. - encaro o líquido e todos os meus temores voltam. Se estou pronto para morrer? Com certeza não. Se desejo reparar o que fiz? Mais do que tudo.
       _Me ouça. - pede.
       _Você me conhece, Merlin. Sabe que eu nunca te ouço. -Hesito por um segundo e tento pensar nos rostos de todos, tento imaginar como seria o roso de minha mãe, ou o sorriso de meu pai que nunca cheguei a presenciar, me lembro da voz de Morgana me dizendo o quão estúpido eu sou, ou de Gwenevere chorando por sua vida e a imagem de Merlin coberto de frutas. Então levo o cálice até os lábios e deixo que o líquido ácido desça por minha garganta. Não sinto nada no início, e arrisco um sorriso, mas então sinto a dor excruciante e depois a escuridão.


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