Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 14
Lost in sacrifice


Notas iniciais do capítulo

Bom diaa
Boa leitura



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—Não!- um grito estridente se destaca no silêncio da multidão, e uma mulher corre desesperada por entre cidadãos estáticos tentando, desconsolada, chegar até o corpo inerte do marido morto. - Não. Não. Matthew, não!- ela se debruça sobre o cadáver e se passa a chorar. Não acho que algum de nós saiba o que fazer nesse momento, inclusive Arthur, que se levanta no lugar e deixa com que a mulher mostre seus sentimentos.
     _Olha o que você fez. Você o matou!- outra voz se sobressai, o aglomerado abrindo espaço para que William passe em direção do príncipe que ele não se importa em detestar.
     _Não foi sua culpa. - Merlin se põe entre os dois, indignado.
     _Se não fosse tão arrogante nos tratando como um exército, isso não teria acontecido!- por mais estranho que pareça, Arthur parece estar se sentindo pior do que qualquer um de nós. É como se ele fizesse tudo para agradar, como se sua convicção dissesse que o que faz é o certo, mas basta uma pessoa para não concordar, e ele de repente acredita que talvez ele tenha escolhido a pior das escolhas.
     _Eles são corajosos o bastante para lutar pelo o que acreditam. - ele toma um passo à frente. - Mesmo que você não seja.
     _Está lhes mandando para a cova! Você matou um homem. Quantos mais precisam morrer para perceber que essa é uma batalha que não pode ser vencida?- dessa vez, Arthur não responde, pelo contrário, abaixa a cabeça.- Quando Kanen aparecer, não terão chances. Serão massacrados.
      William desaparece dentro de casa, com Merlin em seu encalço. Esperamos para ver se algo mais seria diro, mas nada aconteceu. Os aldeões aos poucos se dispersaram, murmurando em medo e desesperança.
      _Você não pode desistir. - caminho até onde o loiro se esconde entre as árvores.
      _Como não? Olhe para eles! Não temos a menor chance. Ás vezes o garoto está certo e eles devam deixar a vila ao amanhecer.
      _Ele não está!- asseguro- William é um idiota, Merlin mesmo disse isso. Não dê ouvidos para ele, porque se der, a batalha estará perdida antes  mesmo de começar. Você só precisa acreditar neles, então as coisas se resolverão. - me levanto e o deixo com seus pensamentos.
      _Quem diria que poderia haver tanta inteligência e reflexão vinda de você.
      _Nasci para surpreender, minha Alteza. - o zombo com uma péssima reverência e já não parece mais tão deprimido.
      _Poderia juntar todos ao redor da fogueira, por favor. Acho que temos um plano para coordenar.

     _Amanhã de manhã, mulheres e crianças devem pegar o que conseguirem carregar e irem para a floresta.- Arthur começa.
      _Não iremos a lugar nenhum.- saio das sombras e me boto na vista de todos, fazendo claro meu ponto. Morgana se porta ao meu lado e as vezes tenho minhas dúvidas se ela realmente é desse tempo, porque se tem uma pessoa aqui que seria minha parceira em uma revolução contra o modo de vida atual e os péssimos costumes, seria ela.
      _Sei que querem ajudar, mas não podem ficar aqui.- ele se apoia na espada e nos olha, esperança nos olhos de que desistiremos, mas não vou deixar que ele ganhe tão fácil.- É muito perigoso.
      _Mulheres têm o mesmo direito que os homens de lutar por suas vidas.- dou mais um passo a frente.
      _Mas não sabem lutar.- contradiz.
      _Quanto mais lutarem, melhor a chance que temos.- vejo as garotas no círculo, timidamente, fazerem o mesmo que eu, dando um passo em direção do príncipe, que as observa pensativo.
      _O lar é de vocês, se querem lutar para defendê-lo, a escolha é de vocês, não posso interferir. Ficarei honrado de lutar ao seus lados.- dá o braço a torcer e comemoro silenciosamente.- Kanen ataca amanhã e ele é brutal. Só luta para matar, por isso nunca nos derrotará. Olhem em volta.- silêncio.- Aqui, somos iguais, não estão lutando  porque fomos ordenados, lutam por mais do que isso. Lutam por seus lares, pelas suas famílias, por seus amigos, pelo direito de plantarem em paz. E se perderem, perderão pela causa mais nobre: lutando pelo direito de sobreviver. E quando estiverem velhos, olharão para esse dia, e saberão que conquistaram o direito de viver juntos. Por Ealdor!- espadas são erguidas e gritos pronunciados, numa inesperada recarga de esperança e otimismo. Ai algo que eu definitivamente não esperava, um discurso motivador pré-batalha. Torci no momento para nunca mais ter que ouvir algum. De todos os meus desejos, esse foi o único que não se concretizou, chegou um tempo em que eu conseguiria prever o que ele discursaria, de tão acostumada que fiquei.

     _Arthur.- termino de subir a colina e o encontro novamente sozinho entre as árvores.- A mãe de Merlin preparou um pouco de comida.- o entrego a tigela com uma substância asquerosa que não poderia identificar.
      _Obrigada. Eu acho...- completa em um sussurro. Já estava de saída, mas volto no exato momento em que o ouço. Como ele pode ser tão egocêntrico?
      _ O alimento é escasso para essas pessoas, você não deveria torcer o nariz assim.- ele me olha surpreso e tomo consciência do que acabei de falar.- Não deveria ter falado com você desse jeito.- começo a me desculpar.- Me desculpe.
       _Gwen...
       _Me desculpe, não sabia o que estava pensando...- me embolo com as palavras.
       _Guinevere...- paro de me mover, fico em silêncio e inspiro fundo.- Obrigada. Você está certa. E estava certa ao falar, eu devia ter ouvido você e Morgana. Vamos precisar de toda a ajuda que conseguirmos.

      O plano era bastante simples. Se esconder. Quando os homens de Kanen entrarem no vilarejo, uma barricada subiria para assustar seus cavalos, os distraírem e o impedirem de sair por um dos lados. Na outra direção, Morgana estaria, também fora dos olhares, pronta para esfregar duas pedras e formar fogo. Ás vexes esqueço que o fósforo ainda não foi inventado. Talvez eu devo fazer isso, penso. O fogo criaria uma barreira natural ao redor dos homens e os prenderia em um único local por um curto espaço de tempo, esse que entraríamos para o combate. Mas é claro que tudo deu errado.
      A barreira foi levantada, mas o fogo não foi aceso, o que deixou uma margem de tempo relativamente grande para que os saxões conseguissem se locomover. Merlin, matando todos de susto, simplesmente correu por entre campo aberto até chegar em Morgana, desviando-se de flechas pelo caminho. Claro que para ele não deveria ser muito difícil, mas ninguém sabia disso. E antes que pudéssemos perceber, o fogo se elevava no céu, consumindo casas, carroças e os homens de Kanen. Cavalos relincham, derrubando seus mestres, homens correm para todos os lados, atordoados e perdidos, em busca de orientação.
     _Agora!- Arthur grita.
     Homens e mulheres saem de seus esconderijos para se encontrarem na praça, gritando com espírito renovado e sem perceber a morte tão perto,  onde os bárbaros nos esperam e a confusão começa. Alguns seguram espadas, outros vassouras, cabos de madeira e qualquer outro utensílios que encontraram em casa, como eu. Não sei lutar e estou morrendo de medo. Não consigo tirar da mente a dúvida do que aconteceria comigo se eu morrer aqui. Eu não posso- digo para mim mesma. Tenho que voltar, tenho que ver minha família mais uma vez, ver Maxon novamente.
      Arthur cria um caminho de corpos a medida que avança a linha inimiga, mas sempre atento ao arredores, atravessando o campo ao ver alguém em risco. Vejo agricultores caindo e se misturando aos corpos sanguinolentos de saxões, até mesmo William, que eu tinha certeza de que estava muito distantes, conseguiu prevenir Merlin de ser morto, o que eu particularmente agradeço. Kanen dilacera aldeões com seu machado. Cavalgando em seu cavalo, ele corta qualquer um que chegar perto de sua lâmina, amigo ou inimigo.
      O tilintar do metal no metal é o único barulho que consigo ouvir. Perdi meus amigos na confusão e, mesmo não estando nem perto do maior perigo, temo por minha e por suas vidas. Não tem mar aqui perto, ou um lago, nem ao menos um rio, então não tenho ideia de como fui parar segurando um remo. A adrenalina em meu corpo é tão grande que não tenho ideia do que faço na maior parte do tempo. Meus reflexos parecem mais rápidos, minha respiração ofegante e até mesmo meu preparamento físico parece bom, e eu nunca fiz nenhum tipo de exercício. Penso para mim mesmo que terei de começar a fazer, prevejo mais vezes que isso acontecerá.
     _Um dia terá que me ensinar esse golpe?- Arthur alterna seu olhar entre o homem desacordado no chão e meu remo.
     _Claro, Alteza. Será um prazer ensina-lo a lutar.- sorrio desafiadora e ele retribui.
     _Se sobrevivermos, me lembrarei disso.- e volta a atacar.
     Bato a ponta no remo em outro homem barbudo e fedorento e o vejo cair no chão, desacordado. Fico um tempo olhando para ele, inocentemente, até que percebo que ficar aqui parada talvez não seja a melhor das opções. Paro por um momento e observo a luta. Vejo três mulheres derrubando um oponente de seu cavalo, que corre desenfreado por entre o fogo, batendo em todos pela frente, até que minha vista fica embaçada, e de primeira acredito que o problema é realmente comigo, talvez o cansaço. Mas ao fecha-los e depois abrir, vejo que a falta de clareza é a poeira do ar, se movimentando com o vento, em uma velocidade incrivelmente alta, um mini tornado. Semicerro os olhos e vejo, no olho do furacão, Merlin e William.
     O que ele está fazendo? É magia! E Arthur está bem ali do lado, observando enquanto a criação derruba os saxões de seus cavalose os jogam para longe. É suicídio! Preciso me segurar para não ser levada. Quando os ventos diminuem e já posso ver claramente, hesito em caminhar até Merlin. O silêncio é palpável, ninguém sabe o que acabou de acontecer, a não ser talvez por Merlin. Aqueles que sobreviveram, correm aterrorizados de volta para a floresta.
     _Quem fez aquilo?- Arthur marcha até os dois.
     _O que?- Merlin faz o que faz de melhor, ser sonso.
     _Ventos como esse não aparecem do nada. Conheço mágica quando vejo. Um de vocês fez isso.- os dois se entreolham. Por favor, Merlin. Não!
      _Arthur...- Merlin dá um passo para frente.
      _Cuidado!- William empurra Arthur para o lado e se joga em sua frente, bem na hora em que a flecha atinge seu peito, o fazendo cair no chão.
       _ O... o que?- gaguejo e Morgana me aponta para a figura de Kane, inerte no chão lameado, um arco em sua mão.
       _Will!.- Merlin o pega antes que ele atinja o chão.
       _Você salvou minha vida.
       _Não sei o que estava pensando.- ri com dor e sangue escorre por sua boca.- Fui eu. Quem usou magia.- diz fraco.
       _Will. Não...- Merlin tenta argumentar.
       _Tudo bem, Merlin. Não viverei para sofrer as consequências
       _É um mago?- Arthur pergunta inacreditável e se debruça sobre o corpo fraco.
       _Sim. O que vai fazer? Me matar?- tenho vontade de gritar e pedir para ele ficar quieto, para parar de gastar suas poucas energias com algo com isso. Outra parte quer abraça-lo e dizer o quão corajoso é para fazer algo assim pelo amigo, algo que eu gostaria que alguém fizesse por mim.
       _Não. Claro que não.- responde sem jeito.
       _Acho melhor deixarmos os dois.- Morgana puxa Arthur para fora do quarto, assim como todos os outros presentes.
       _Vamos embora agora?- pergunto tentando quebrar o gelo.
       _Sim. De volta para a normalidade. - Morgana responde.
       _Em relação a normalidade eu não tenho tanta certeza...- murmuro para mim mesma e subo no cavalo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Prox cap e um pov maxooon! E nao sumam igual no cap anterior pfo eu fico triste com saudades de vcs



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