A Médica e o Monstro escrita por Ragnar


Capítulo 5
V




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Como bruxa, Angela era sensitiva a magia e notava algum conflito próximo, sentia alguém em perigo ao seu lado e quando precisava ser salvo, mas muitas vezes se viu impotente de ajudar, de auxiliar por conta de suas habilidades não compreendidas entre os mundanos.  

Isso a incomodava de uma forma estranha, mas ela disfarçou isso quando não esperou mais por Hanzo. Despedindo-se de Zenyatta, Angela seguiu seu caminho pelo vilarejo, tomando cuidado com as bruxinhas que corriam em brincadeira com outras criaturas, utilizando sua vassoura quando mais afastada e voando para casa. 

Um dia e uma noite, pesquisava mais sobre a praga que afetava os skull's e o mal que essa causaria se usada por mãos erradas. Os livros não eram tão precisos como deveriam, a maior parte dos relatos estavam apagados ou rasgados numa parte crucial, o que acabava por frustrar Angela a ponto de jogar o livro na porta, essa que foi aberta por alguém e que quase foi acertado se não tivesse se esquivado. 

— O que o pobre livro fez a você, doutora? — Hanzo brincou, sorrindo sem graça — A possuída permitiu minha entrada, precisava entregar algo a você — Explicou um pouco apressado, nervoso talvez, o que atraiu a face confusa de Angela. 

— Não se incomode, entre — Falou com um sorriso fraco. 

Apontando para a cama dela, Hanzo se sentou enquanto Angela preferiu levitar a vassoura para se sentar, curiosa com o que o yokai tinha para entregar a ela, mas olhando assustada ao ver o mesmo pote que tinha a praga que perdeu. Receosa, recebeu o pote em mãos, mas franzindo o cenho com o conteúdo, a praga estava na metade, alguém a cortou. 

— Onde conseguiu? — Perguntou enquanto analisada, levantando e usando a outra mão para convocar o livro que quase acertou Hanzo. 

— Genji encontrou antes que isso afetasse o skull — Contou — Mas parece que você não está satisfeita com isso...  

 — Alguém deixou isso de fácil acesso para ser pego, essa parte do corpo da praga é inofensiva — Explicou, olhando o livro e lendo de relance as partes importantes — Isso serve como a pedra que você viu no castelo do vilarejo vizinho, mas mais danoso ao portador — Contava, a voz diminuindo ao folhear mais o livro, mas tendo o pote tirado de sua mão — Algo errado? — Voltou sua atenção ao yokai. 

— Eu gostaria de agradecer — Falou sem graça, deixando Angela confusa enquanto o outro colocava o pote em cima de uma pilha de livros — Por ter me auxiliado e me dado coragem...  

Agora seria a vez de Angela ficar sem reação, sentindo o rosto esquentar apenas com aquelas palavras e se repreendendo por isso, não tinha mais duzentos anos para cair nos encantos e palavras de agradecimentos. 

— Você salvou a minha vida uma vez, nada mais justo do que retribuir — Sorriu fracamente — Apenas gostaria que alguém tivesse feito o mesmo quando eu mais precisava de auxilio... — Confessou. 

— No que precisar, estarei aqui para fazer o mesmo que fez por mim — Sorriu, afastando-se apenas para se curvar e Angela também o fez. 

Em sinal de respeito, Angela o acompanhou até a porta, rindo com algo contado por Hanzo e acenando para Pharah que arrumava sua armadura em cima da pequena mesinha da cozinha, já sabendo pela cena que teria de concertar a mesinha quando a outra terminasse. 

Ela achava que não o veria com frequência, que seus caminhos não se cruzariam, mas ela se enganou e não sabia se achava engraçado as tentativas de Hanzo para conversar com ela quando a avistava. Vezes quando ajudava Zenyatta, Genji e Hanzo chegavam e o mais velho acenava para ela, e uma dessas vezes quase fez seu irmão cair por ter esbarrado nele. 

Um mês se passou e Angela não se afastou mais, mantinha-se próxima de Hanzo para conversar e saber mais, se aprofundar em conhecimento e saber mais sobre o que ele realmente era além de um monstro, se confundindo na maior parte do tempo com as palavras em japonês mencionadas, mas sendo traduzidas em muito problema, fingindo uma careta de brava quando o outro ria de sua confusão, mas se desmanchando sempre por notar não conseguir não conseguir ficar brava. 

Mas o que a espantou foi quando ele pediu para saber dela, tendo a cara de surpresa com o pedido e pensado por breves segundos se o faria e o fez, engolindo em seco em contar suas origens. A face dele não se formou para julga-la, nem quando contou que participou de guerras, que foi socorrista delas e de atrocidades com inocentes, contou do seu passado no outro vilarejo e porque o rei não gostava dela até os dias presentes, contou da pedra azul e da criatura que quase a matou antes de Hanzo impedi-lo. 

Foi como se libertar de correntes e mesmo que ambos tivessem o peso de seus atos, ela conseguiu confiar nele para contar suas dores, mas havia algo que ainda persistia em incomodar Angela, a mesma sensação de que algo iria dar errado, mas que ficava ao lado de algo que começou a nascer, uma sensação diferente daquela que ela se censurava que estivesse crescendo. 

— Doutora?  

Saindo de seus pensamentos, Angela olhou assustada para Pharar, segurava uma caneca com chá quente e o olheiras marcadas pela falta de sono, coçando o rosto e dando atenção para a outra que sentou a sua frente. O cheiro de enxofre era aliviado por poções que Angela preparava para a mais nova, controlando a possessão, mas nunca podendo se livrar dela, tendo o nome de Anúbis desde que deixou o Egito, o cheiro de morte a cercava, literalmente. 

— Algo errado, Pharah? — Perguntou, a voz fraca e pouco rouca por passar a madrugada proferindo feitiços ou tentando invocações de páginas e exemplos perdidos. 

— A senhorita parece como eu, mas a pele ainda está quente e viva — Soltou, sendo direta e Angela conteve uma risada — Por acaso é aquele monstro forasteiro? — Indagou, a cabeça ponderada para o lado, não usando sua armadura e deixando amostra as marcas e ferimentos de batalha que Angela até atualmente tentava deixar menos visível. 

— O quê? Não... É algo mais sério — Confessou, respirando fundo e bebericando seu chá — Lembra quando lhe reportei sobre a invasão em sua casa por conta de um artefato meu? — Perguntou e Pharah concordou — Aconteceu de mais um artefato que adquiri num serviço ter sumido e aparecer, mas pela metade — Contou. 

— Mas se apareceu significa que não tem mais perigo, não? — Perguntou confusa e Angela negou. 

— Seria se a outra parte não fosse perigosa... Apenas não sei porque me devolver de forma indireta... — Murmurou. 

— É um aviso — Pharah falou, sua voz séria — Alguém está querendo provoca-la, era assim quando fazia parte do exercito, sempre mandavam uma parte do uniforme ou da armadura de um soldado do meu esquadrão para barganhar um resgate, mas o soldado sempre estava morto — Explicava e Angela concordou. 

— Sei como funcionava essas trocas, já presenciei por ter participado de guerras, não de conflitos internos — Contou, bagunçando o cabelo em frustração — Mas por quê? Todos que querem me provocar estão... Mortos... — Murmurou, o olhar se perdendo por não ter pensado naquilo antes. 

Ela foi cega a ponto de achar que tinha se livrado dele! Sentia como uma criança que foi pega na própria brincadeira, ingênua, era isso que Angela foi para precisar de apenas um dialogo para cair na raiz do problema. 

— Doutora? — Pharah a chamou, tocando seu braço e a sacudindo — Doutora? Você sabe a pessoa que fez isso? — Indagou. 

— Sei... E apenas achava que ele não poderia sair do lugar onde está condenado pela eternidade... — Vociferou, contida e apertando a mão em punho — Droga! — Levantou, mas tendo uma pequena vertigem, se apoiando na parede atrás de si para manter o equilíbrio e sendo auxiliada por Pharah — Estou bem... Eu tenho que ir.... Tenho que conversar com alguém. 

— Pelo seu estado e cansaço, é recomendável que fique e descanse — Sugeriu e Angela negou — Angel... 

— Você nunca me chamou assim quando não fosse sério ou necessário... — Sorriu fracamente, afastando Pharah e indo até a porta — Não me espere acordada... 

— Sei que não gostaria disso, apenas volte viva, minha amiga — Pediu e Angela se retirou de casa. 

A brisa fria daquele dia poderia tê-la feito mudar de ideia, mas alguém que conseguiria responder sua única pergunta poderia estar ausente ou não, mas ela não se deixaria levar por um clima frio ou pelo seu estado atual, pelo sono ou cansaço. 

Andando apressadamente até a casinha de Zenyatta, Angela bateu na porta até ser aberta Hanzo. Angela disfarçou a surpresa de vê-lo ali e sua passagem foi concebida ao informar que precisava falar com Genji. Hanzo pareceu confuso, mas não a questionou ou perguntou algo, apenas a guiou até uma pequena sala onde o Genji estava, se curvando em respeito e sendo deixada a sós com ele por Hanzo. 

— Doutora Angela? Algo errado? — Perguntou, pedindo para que se sentasse ela o fez apenas por sentir as pernas tremerem — Aceita um chá? — Ofereceu e ela negou. 

— Deixei minha caneca com chá esfriar em casa apenas para falar com você — Contou, nervosa e tropeçando em suas palavras. 

— Conte-me então, algo a atormenta? — Perguntou confuso, o cenho franzido em confusão. 

— Quando fui atacada a um mês atrás por um espirito, você contou que não sentia a presença dele no castelo — Relembrava e Genji apenas concordou com a cabeça. 

— Sim, parecia que ele nunca tinha estado lá realmente — Falou — Mas por que isso agora? — Perguntou. 

— Genji, a praga que tirei de Zenyatta era como um dos meus artefatos e ela é conhecida por ser mortal em qualquer portador, sendo ele omnico, monstro ou humano, mas é rara por quase todos serem imunes a elas além de terem poções de proteções que são usadas no nascimento de uma criatura — Explicou. 

— Então Zeny estava exposto... 

— Zenyatta foi exposto por nunca ter precisado de uma poção pela praga não viver nos extremos do Nepal, ela teria congelado antes de dizimar os monges de lá — Explicou — Mas onde quero chegar é que o pote da praga que peguei como pagamento tinha sumido e me foi devolvido por Hanzo. 

— Ainda não entendi onde quer chegar — Falou, claramente confuso. 

— A praga estava na metade — Contou — A outra metade que fez mal a Zenyatta, a que pode matar com mais perigo foi pega e foi deixado para trás a que me foi devolvida... Você tem certeza que o espirito que me atacou não habita mais o castelo? — Indagou novamente, nervosa pela ansiedade. 

Genji apenas respondeu que sim, deixando Angela aflita pelo que poderia acontecer. Era como se uma vingança tivesse batido na porta do presente e ela fosse a anfitriã de tudo. Em poucas e curtas palavras, Angela se despediu de Genji e se retirou da sala, dando um olá para Zenyatta que estava no cômodo ao lado com Hanzo. 

— Angela, espere. 

Hanzo a chamou assim que ela se retirou da casa, ela o olhou perdida e com medo, temendo o pior e Hanzo pareceu entender, segurando a mão tremula dela e a apertando em sinal de reconforto. Ela queria contar, mas não poderia, as mesmas duas sensações que a perturbavam mais além da sua preocupação presente pareciam duelar em sua mente, ela nunca se viu perdida assim desde que se tornou uma bruxa. 

— Eu... Sei que está ocupada agora, mas poderíamos conversar por um breve momento? — Pediu e Angela aceitou, sendo guiada para a parte afastada da casinha do irmão de Hanzo. 

Sua mão não foi solta, mas Hanzo a guiou até uma árvore que ficava mais afastada, se apoiando e tendo Angela ao seu lado. Era tranquilo, mas os nervos dela ainda estavam alertas, ela estava nervosa com tudo de forma tão intensa que se repreendia, mas sabia que não adiantaria nada, apenas pioraria. 

— Queria lher dar algo... — Falou, tirando um objeto de uma sacola de couro e estendendo a mão de Angela que segurava para que aceitasse. 

O olhar dela se arregalou e olhou para Hanzo, descrente do que estava vendo e começando a entender. Em sua mão estava um amuleto semelhante ao que Zenyatta lhe mostrou a semanas atrás, mas em um tom azul e com uma lasca no rosto do dragão. 

— Hanzo...  

— Por favor, deixe-me falar... — Pediu, tossindo nervosamente — Apenas aceite como uma recompensa de minha enorme gratidão por sua ajuda... Sei que pode não estar no melhor estado, mas quero que fique com ele, é de minha família e representa muito e quero que pertença a você, Angela — Com cuidado, ele fechou a mão de Angela entorno do amuleto. 

Ele não a olhava diretamente, parecia envergonhado demais ou estivesse com medo, mas fosse qualquer uma dessas teorias que surgiu, Angela não sabia como reagir, não sabia qual conclusão tirar com aquilo sem parecer rude, não queria soar rude de forma alguma. 

— Não posso... — Sussurrou, tentando devolver, mas sendo negado — Hanzo... 

— Aceite, apenas peço que aceite... — Pediu, agora olhando para Angela. 

Angela lembrou das palavras de Zenyatta quando contou sobre o amuleto e o que estava censurando por conta de Hanzo parecia se enfraquecer, ela parecia voltar a ter duzentos anos novamente. 

"Ele me deu isso em sinal de confiança". 

Então ela aceitou, apertando o amuleto em sua mão, mas não conseguindo deixar de quebrar o olhar que se sustentava com o de Hanzo, tremendo com uma brisa mais gélida e notando o quão próximos estavam, que aquilo não deveria acontecer, que ele não deveria ser mais um que ele teria de se despedir um dia. 

A respiração lenta e nervosa, Angela se viu envolvida e ignorando a parte mais lógica, sentindo seus lábios sendo beijados e seu rosto tocado, seus olhos fechados e sua cintura puxada.


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Notas finais do capítulo

Finalmente um beijinho :v depois desse capitulo vou fazer o que mais sei fazer de melhor... E é... no spoilers :v
Espero que tenham gostado.



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