A Médica e o Monstro escrita por Ragnar


Capítulo 3
III




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As palavras de um rei pesam a consciência de alguém. Viver sozinha. Angela vivia sozinha a séculos e nunca se incomodou, apenas via as pessoas passarem por si, crescendo e se apaixonado, envelhecendo e morrendo. Foi por isso que a fórmula da vida veio em sua mente, para não mais perder aqueles que amava, mas não restava ninguém, nunca restou. 

Deu a noticia para o rei sobre a criatura, negando entregar a pedra que o deixava viver e voltando para casa de Anúbis antes do anoitecer, mexendo e pegando suas poções de forma ansiosa e se preparando para entrega-las aos que pediram.  

Preferindo não usar sua vassoura, cada cliente estava por perto e cada um fazia uma troca pela poção recebida. Jesse McCree, por exemplo, era um lobisomem e sempre temia perder o controle e destruir sua casa pele enésima vez, precisando de tranquilizantes que Angela sabia fazer, os melhores, ele dizia. 

Encontrou com Satya que lhe pediu desculpas pelo ocorrido no bar, querendo saber sobre o monstro yokai para se desculpar com esse também. Angela não sabia e não gostaria de ter que saber onde esse estava tão cedo, lhe assombrava esse conseguir lê-la como um livro, falando em sua face seu passado.  

Se perdurou em sua rotina novamente até duas semanas, entre elas sempre vinha a mesma águia em sua janela com o pedido exigente do rei e ela sempre negava, não cedendo e sentido a raiva lhe dominar com isso. Ela poderia não ser a pessoa mais confiável para ter aquilo novamente, mas não deixaria um rei amaldiçoado toca-lo, seria uma catástrofe. 

Duas semanas e então alguém veio em seu encalço, o mesmo rapaz de roupa preta e cabelos verdes, esse que implorou a ajuda de Angela e falou que faria qualquer coisa, mas que apenas o seguisse. A puxando para o canto mais afastado da vila, quase a fazendo esbarrar em várias outras criaturas e derrubar seu relicário. Ambos chegaram a uma casinha pequena onde Angela sabia quem morava ali. 

Em um cama o skull que Angela conhecia como Zenyatta tinha suas luzes omnicas fracas e seus orbes piscavam de forma falha. Ela se virou e viu que o rapaz sentia a dor do outro, uma dor que a inteligência artificial ou alma do skull sentia, ela sentia a ligação de ambos de união e companheirismo. Na medicina, Angela se viu no novo mundo que a obrigava a juntar tecnologia com sua magia, mas nunca a utilizava tanto quanto os meios mágicos.  

Concordou em ajudar, pedindo para que o outro se retirasse e começando a manter Zenyatta acordado, sustentando com sua magia o que o mantinha acordado, não como uma bateria e sim algo novo, mas o que o matava aos poucos era uma praga, essa rondava dentro de seu peito mecânico. 

Com força e dificuldade conseguiu tirar, caindo no chão no processo e vendo uma forma de inteligência vermelha como uma centopeia, mas de fragmentos. Um grito agudo e estranho foi ouvido dela e Angela a explodiu, vendo-a desintegrar e sobrar apenas pó.  

Virou-se para Zenyatta, mas se afastando com os orbes que voltavam a funcionar, girando sobre ele e ficando com sua luz de forma intensa. Ele não corria perigo, mas não seria bom arriscar. 

Chamou o rapaz novamente e esse puxou Zenyatta para um abraço. O preço a se pagar para aquilo foi ficar apenas com o pó da praga, o colocando em um frasco vazio em sua bolsa e se retirando, sorrindo e rindo um pouco pelo exagero do agradecimento do rapaz de cabelos verdes. 

Era noite e se encontraria na porta da casa de Anúbis o Imortal Soldier e entregar a esse uma poção que afastasse os pesadelos e visões que tinha mesmo quando acordado. De todos que Angela conheceu, Soldier era o mais atormentado pelo passado, talvez mais do que ela, pois esse viveu a guerra e dormiu entre o campo aliado e inimigo. 

E lá estava ele, mas tinha sua arma de guerra em mãos e parecia cansado, a casa de Anúbis estava com os vidros da casa destruídos e Soldier olhava preocupado para Angela.  

— Você está bem? — Ele perguntou e Angela apenas confirmou — Quando cheguei aqui não consegui seguir a tempo quem fez essa bagunça, me preocupei por você estar no meio — Explicou. 

— Apenas espero que Pharah não se incomode com a bagunça... — Sussurrou ela, sorrindo de canto — Afinal, o que iriam querer no meio de tantos livros vel— A não! — Seu sorriso se desmanchou, se afastando de Soldier e entrando na casa. 

Correndo até seu quarto, esse também estava destruído e seus livros revirados no chão. As velas quebradas e a sacolinha de pano onde tinha a pedra sumiu, o que seria estranho pois nenhum ser vivo, sendo criatura ou humano. 

— Não! — Gritou furiosa, chutando o pé da cama e gemendo de dor pelo ato — Merda! 

— Angela? — Soldier a chamou, subindo as escadas e entrando no quarto, assoviando surpreso com a bagunça — Tinha algo muito valioso aqui? — Perguntou. 

— Tinha algo além de valioso, Jack — Falou alarmado, nem notando que falou o nome quando vivo do Soldier — Alguém vai fazer uma loucura com isso se eu não pegar de volta e agora.... 

— E o que seria isso? — Franziu o cenho, confuso. 

— O que o trouxe de volta a vida, Jack? — Se voltou para o mesmo, desesperada. 

Então ele entendeu e sua cara de pânico ficou visível, ambos voltando a sair da casa e seguirem o feitiço localizador que Angela soltou, olhando um para o outro ao ver que seguia para o antigo vilarejo destruído. Sem pensar em outra alternativa, Angela usou sua vassoura, a conjurando até ela e chamando Soldier para subir, seguindo para o local. 

Ela estava pronta quando chegou, se preparando melhor do que última vez e montando armadilhas por toda a vila. Soldier seguia ao seu lado, a escoltando e atento a qualquer ruído estranho. Com o relicário fechado e colocado de lado, seguiram para o castelo. Aquele maldito pesadelo. 

Não precisaram entrar no castelo para já perceberem que algo estava errado. Um vento forte passou por ambos, derrubando o candelabro do teto e se quebrando. O ar se tornou gélido e a mira da arma de Soldier falhava e surgiu no topo das escadas novamente com vida a criatura, mas não apenas essa como tomou forma uma nevoa cinza ao lado, a aparência sombria do Dr. Junkenstein. 

— Não pode ser... — Angela sussurrou apavorada. 

— Surpresa, meu anjo? — A assombração gritou com um sorriso no rosto, rindo — Cai do céus apenas para lhe ver... 

— Você morreu, droga! — Soldier rosnou, a arma ainda mirada na criatura grotesca ao lado do Dr. Junkenstein.  

— Não é possível... Você morreu na minha frente... — Falou atordoada. 

— Correção, o namorado do seu amiguinho ai me matou — Sorriu com maldade — Pumpkin Reaper e você me prometeram algo e depois a tiram de mim — Cruzava os braços, flutuando até o hall — Não posso me vingar dele no momento, mas de vocês... Será um prazer...  

Foram suas últimas palavras antes de sumir no ar e a criatura dele rugir com fúria, correndo até eles. O relicário aberto e subindo em sua vassoura, Angela voava ao redor e com uma distancia considerável da criatura, o atingindo com feitiços e cerrando o punho ao ver que não surtia efeito, plantando armadilhas que o atrasavam enquanto chegava perto de Soldier.  

Ela viu o furo da qual tinha feito ao tirar a pedra azul do corpo da criatura, planejando novamente penetrar com um feitiço que poderia explodi-lo de dentro para fora, mas sendo parada com mãos lhe puxando pelo braço e a fazendo cair da vassoura. 

A queda não foi grande, mas o impacto com o chão a fez ficar atordoada, com a visão turva e se levantando com esforço. 

— Você acha que pode ser melhor do que todos — O Dr. Junkenstein falava atrás dela e Angela apenas se afastava, tateando e não encontrando seu relicário — Você ria como Deus! Quando me deu aquela pedra, sorria com malicia — Falava com escárnio — Agora iremos resolver isso, finalmente... — Sorria. 

— Eu não acho que isso vá acontecer — Ela falou, desmanchando sua cara de medo e estendendo a mão para o chão onde Junkenstein estava, ativando uma armadilha antes que era para a criação do doutor — Você não passa de uma assombração... — Falou sombriamente. 

Com isso, o feitiço desmanchou o Dr. Junkenstein em sua frente como se fosse nada, restando apenas o eco do grito dele de agonia. Olhando para a criatura e Soldier, Angela não tinha mais paciência e apenas recitou as palavras necessárias para usar sua magia de conjuração e a pedra azul da vida estar novamente em sua mão, fazendo a criatura cair novamente. 

— Acabou... Finalmente acabou... — Falou sem folego, piscando os olhos sonolenta. 

— Angela! — Soldier a chamou, indo até essa e a impedindo de cair, a segurando em seus braços — Parabéns, soldado... — Sorriu para ela. 

— Faz muito tempo que você não me chama assim... — Sorriu fracamente — Eu preciso voltar, preciso... Guardar isso em segurança... — Apertou a pedra em sua mão — Preciso... 

— Sei que sim, mas tem que ficar acordada — Pediu. 

Seria uma tarefa difícil, pois até mesmo sentia algo escorrer de seu nariz. Era sangue? 

— Angel? Não apague! — Pedia, a sacudindo. 

Mas isso não funcionou e logo a visão dela ficou preta. Mas acordar sentia seu corpo dolorido, sua cabeça doendo e sede. 

Não estava em seu quarto e sim em uma tenda, resmungando e sentando-se, ficando alerta para caso chegasse uma presença hostil, mas não chegou. Então decidiu sair dali, levantando-se e notando estar num bosque que daria para o enorme campo florido de Vergesslichkeit.  

— Pensei que não acordaria — Alguém falou e Angela viu Soldier apoiado numa árvore — Achava que ele tinha feito alguma maluquice japonesa — Contava e o olhar de Angela arregalou o olhar. 

— O quê? — Indagou — Quem me curou, Jack? 

— Um monstro japonês — Deu de ombros — Não confiei nele para ficar com você e chamar o skull omnico, então fiquei aqui com você para ele não meter uma flecha na sua cabeça por ser uma bruxa. 

Angela poderia rir com aquilo se não fosse trágico demais. Tinha mandado o yokai se afastar dela e ele apareceu para ajuda-la, mas uma das perguntas era o porque ele estava ali por perto, por quê? Ainda estava desconfiada, mas correria para longe, não antes de conseguir respostas. 

O silêncio entre ambos permaneceu até o yokai Hanzo voltar junto do seu irmão e não do skull Zenyatta. 

— Isso me lembra um livro, Angel — Soldier falou para quebrar o clima — Estarei no arredores — Falou, se afastando junto do garoto de cabelos verdes. 

Restou apenas Angela e Hanzo sozinhos, o orgulho falava mais alto e com o silêncio agonizante, não falaram nada um ao outro. Parecia que olhar o campo florido do esquecimento fazia o peso em Angela sumir ou diminuir como uma de suas poções. 

— Sinto a presença sumir de um espirito... — O garoto falou enquanto ambos apenas ouviam e se encaravam, o mesmo nem parecia prestar a atenção na troca de olhares. 

— Um bem atormentado para aparecer apenas agora — Angela falou, cruzando os braços — Poderia ter ido até a vila vizinha e fazer o caos — Seu olhar era de raiva por ter sido fraca novamente, mas também para intimidar, não desejaria mostrar vulnerabilidade a alguém como Hanzo. 

— Talvez, mas ele está preso ao local onde foi morto — Explicou, o cenho franzido — Não sei como não consegui sentir a presença para livra-lo do mundo dos vivos, mas o farei agora — Falou, curvando-se rapidamente para se retirar, mas pousando a mão no ombro do monstro que era seu irmão e sussurrando algo que Angela não compreendeu. 

Só assim se retirando, uma velocidade que em segundos não estava mais lá, Hanzo e Angela se encontraram sozinhos novamente, mas não com a presença de Soldier que poderia parecer a qualquer momento.  

Ela poderia dar um jeito, mas suas novas condutas a limitavam, fazer regras depois do que tinha feito no passo era algo negativo e positivo, mas resultavam no mesmo que era com Angel fugindo e aparecendo novamente depois de cinco décadas.  

— Você sente raiva de mim — O outro falou, não como uma pergunta e sim afirmando — Teme que eu fale algo quando na verdade não faria isso — Se afastava, se sentando um pouco mais para perto do campo do esquecimento. 

A brisa daquele campo dava calafrios em Angela, o poder ali era puro de sua magia, do contato dos humanos. Flores desabrochavam e mostravam o quão belas eram, o seu aroma doce e natural rondando ela, a acolhendo como se não sentisse sua maldade anterior.  

Não sentando ao lado do outro, mas ficando em pé ao seu lado. Admirando a visão, abraçando o próprio corpo. O silêncio ainda era constrangedor e pesado, mas Angela era orgulhosa mesmo com seus séculos de vivencia, talvez algum dia seu orgulho a matasse junto de sua raiva e medo contidos, mas ela tinha sucumbido demais no passado que chegava a ser impossível no atual presente. 

— Você acha que pode existir redenção pelos erros do passado? — Ele perguntou a Angela, mas não a olhando. 

A pergunta em sai a pegou de surpresa, virando-se para encara-lo. Ele se referia ao que o skull tinha falado dele com o irmão terem brigado?  

— Você mesmo disse que meus erros foram compensados com a ajuda que prestei com o tempo que se passou na frente, então... Sim, existe uma redenção se buscada com o perdão próprio — Contou, tendo Hanzo a olhando — O primeiro passo e deixar a culpa de lado, não? Para mim ela vem e vai, como o fantasma que me atacou, apenas mais mortífero por estar dentro de mim. 

— Como um monstro — Comparou e Angela concordou — No caso, eu e o monstro da culpa somos idênticos, não preciso teme-lo, pois eu sou ele... — Sussurrou. 

Todos tinham seus monstros internos, Angela aprendeu que não era apenas ela que tinha que viver e sentir isso todos os dias, outros também tinham assim como Hanzo.  

Sentando-se ao lado dele, sua mão tocou o ombro coberto pelo tecido da roupa desse, o olhar não tinha sido quebrado e Angela lhe deu um sorriso triste, mas o  mais sincero que teria para dar por momento. 

— Sinto que você deveria domar esse monstro dentro de si... A culpa apenas ira cega-lo — Falou tranquila — Peça desculpas a seu irmão, mas mesmo que ele aceite, não conseguira esquecer o que aconteceu, mas pode deixar no mais profundo da mente se ficar ao lado dele e nunca cometer o mesmo erro — Aconselhou e o outro concordou com a cabeça. 

— Depois de séculos, será impossível perdoar meu ato — Contou num sussurro. 

— Se espera  então que você dê o primeiro passo — Falou, o sorriso um pouco maior — Posso ajudar com isso em troca pelos seus cuidados comigo, o que acha? — Sugeriu. 

Ele acabou por concordar com a oferta, silenciosamente, o campo do esquecimento já estava tocado com ambos, tinha marcado com poucas palavras um acordo entre ambos que os uniria, mas que também os destruiria. 


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Notas finais do capítulo

Não teve skin de werewolf do McCree, mas teve a arte conceitual dele como caçador ;-; okay, sei lidar com isso.

Desculpem a demora para postar, de verdade. E espero que tenham gostado desse capítulo.

Sou dessas que shipa reaper76... que shipa genyatta...



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