I still walk escrita por Claymore


Capítulo 15
Capitulo 15




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Entrei na casa não me importando se alguém iria me ouvir ou quais explicações eu teria de dar. Subi as escadas de dois em dois degraus e entrei no quarto ao final do corredor do lado oposto ao meu. Daryl não estava no quarto dele, a cama estava arrumada e a janela aberta com as cortinas abertas deixando a luz da manha entrar. 

O quarto era bastante parecido com o meu, exceto que ele não tinha a penteadeira. A besta estava sobre o  pé da cama com uma mochila preta. Atravessei o quarto até a cabeceira da cama ao lado da janela. Pousada em cima de um pano de manchado com terra e amarelado pelo tempo tinha uma faca, curta, e fina. O cabo era feito de marfim com desenhos flores. Eu a conhecia bem, eu há havia encontrado a muito tempo em uma das buscas pôr alimento antes de chegarmos a prisão. Ela estava comigo na saída do hospital.

O frio que percorria meus ossos nada tinha haver com o ar frio e gelado que entrava pela janela que bagunçava meus cabelos. O frio que eu sentia era interno, profundo e que grudava em cada molécula do meu corpo. Eu estava me sentindo traída e quebrada.

A porta se abriu e Daryl entrou por ela passando uma toalha verde pelos cabelos molhados e bagunçados. Ele usava as mesmas botas pretas e velhas, com uma blusa preta de mangas curtas e jeans surrado.

— O que..? – Qualquer que fosse o final e sua pergunta permaneceu na ponta da língua dele. Minha expressão o calou e ele fechou a porta atrás dele. Seus olhos percorreram o quarto nervosamente e pousaram em mim.

— Porque? – Era única coisa que eu podia dizer.

— Precisa ser mais especifica Beth. Você esta bem?

— Não. Eu não estou bem. – Deixei a faca cair sobre a cama , dando alguns passos para o encarar de frente. – Porque mentiu para mim? Porque me fez acreditar que estava tendo alguma coisa com alguém?

— Eu nunca disse que estava tendo alguma coisa com alguém. – Ele atravessou o quarto me contornando e deixou a toalha pendurada no espelho de corpo inteiro.  

— Qual o seu problema? Porque está fazendo isso? Porque simplesmente não diz o que tem que dizer e acaba com isso?

— Acabar com o que?

— Você sabe. Não tem como você não saber. – Eu não queria ser a primeira a admitir. Era humilhante e me fazia me sentir muito mais frágil do que eu estava sendo.  Me fazia sentir muito mais intensamente do que eu queria.

— Saia. Não tenho tempo para isso.

— Simplesmente diga Daryl. Só pronuncie as palavras. “ Eu fiz isso porque uma garota idiota está APAIXONADA por mim e eu não quero lidar com isso”. -  Quando me dei conta já havia admitido. Ele me olhava , não, era mais. Ele via.  Me avaliava. Ele conseguia ver verdadeiramente o que estava acontecendo ali. Eu havia me declarado e mesmo que as palavras estivessem cheias de raiva e dor, eram verdadeiras.

— Você sabe qual é a minha idade?

Por essa eu não esperava.

— O que?

— Já pensou nisso? Minha idade?

— Isso importa? – Talvez nossas conversas fossem assim. Perguntas e respostas perguntas.

— Qual é a sua idade? 21? Talvez 20? – Virei o rosto, e não respondi. O que ele queria dizer?  Porque ele estava fazendo tudo isso? – Menos não é? Você tem pelo menos 16?

— Eu tenho 18 . – Era o que eu achava.  Mas era isso que ele queria saber? Era esse o problema? Idade? Para mim parecia tão pouco, mas pensando bem...quantos anos ele poderia ter afinal?

—Em que mundo você acha que poderíamos nos encontrar? Ao menos que você fosse viciada em metanfetamina, eu não acho que nossos caminhos se encontrariam garota.

—  Então é isso? Idade e estilo de vida? Olhei ao redor Daryl, ninguém dá a mínima. Eu não ligo para quem eu era antes ou para quem você era.

— Você acha que seu pai não ligaria? Sua irmã? Rick? Como você acha que as pessoas aqui te olhariam?

— E você se perguntou sobre o que eu sinto? -Caminhei até ele, perto o suficiente para que eu tivesse que erguer o rosto para olhar seus olhos verdes. Toquei seu peito hesitante e senti sua respiração profunda. Seu corpo inteiro se enrijeceu com o meu toque.

Como eu poderia fazer ele entender? Como poderia fazer ele saber o que eu estava sentindo sem que me auto destruísse no processo.

— Eu não sou quem você vê. Eu matei alguém. Eu passei por mais coisas do que você pode saber, e eu sei que você passou por muito mais coisas do que minha imaginação possa inventar. Eu não sou como você, nem antes e nem agora. E eu nunca serei, mas eu não sei se você entende isso de amor, mas as pessoas não são as mesmas. Ninguém se apaixona por alguém que é a sua copia Daryl.  E por isso me apaixonei por você, porque mesmo que eu não fosse provável de sobreviver para esse mundo , você não desistiu de mim. Você nunca desisti de ninguém. Eu, Sophia...Você não nos abandonou. Mas eu não sou mais aquela garota Daryl, eu consegui, eu sobrevivi. E eu sei que você pode não entender como, mas eu consegui contra todas as expectativas e fiz isso com minhas próprias mãos. – Me aproximei mais, sentindo sua respiração sobre meus cílios e seu calor aquecer minha alma-  Sobre sua idade, tem razão eu não pensei sobre isso e eu não faço ideia da sua idade. Mas não me importa, nunca me importaria, eu te amo você tendo 28 ou 50, não faz diferença.

Então era isso eu tinha dito, e ele me olhava como se eu tivesse aberto uma porta em seus olhos, uma porta que não poderia ser fechada. Ao confessar meu amor eu teria de ir em frente e mesmo que isso acabasse em desastre eu tinha de tentar.  Me afastei e sai do quarto fechando a porta logo atrás de mim.

Fui direto para meu quarto e sentei na minha cama perplexa com a súbita coragem que percorreu minhas veias. Eu não sabia o que fazer, agora que todas as verdades tinham saído da minha boca e do meu peito.

Como reagir agora? Como lidar com essa enxurrada de sentimentos que agora permaneciam sobre minha pele.

Depois de alguns minutos ouvi a moto passar pela rua e ao me levantar vi ele sair de Alexandria. Eu não sabia o que pensar, ou qualquer que fosse a resposta dele . Como sempre eu nunca sabia o que se passava na cabeça dele e muito menos em seu coração.

Mais tarde naquele dia eu desci as escadas e fiz minhas tarefas normais no galpão. Me sentindo culpada por nunca ter completado pelo menos uma semana de atividade ali, eu teria de deixar o serviço inacabado. Quando voltei para casa Spencer estava me esperando em frente a casa branca.

— Cai fora. – Como eu queria soca-lo ali mesmo.

— Por favor Beth.. só me escute.

— Escutar você? Você não merece que eu olhe para você.

— Por favor.

Eu o encarei e lancei toda raiva que eu pudesse juntar em um olhar, se eu tivesse que dizer alguma coisa para ele pelo menos eu diria tudo que percorria minha mente.

— Prometo que não vou mais falar com você, Daryl me disse que se chegasse perto de você ele me mataria – Pela expressão de desespero, era bem claro que ele acreditou. – Mas minha mãe continua me perguntando o que aconteceu e eu...

— Eu não sei o que você inventou para sua mãe acreditar em você, mas Rick e os outros sabem que alguma coisa aconteceu naquele dia. Vou deixar bem claro seu moleque covarde, se você chegar próximo a mim e a minha família de novo, eu vou atrás de você. E acredite em mim, você preferiria ter sido comido na fabrica.

Sai e o deixei sozinho com qualquer que fosse seus demônios.


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