Loving Can Hurt escrita por Rafaela, SweetAngel


Capítulo 66
Esperança - Final


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao último capítulo!!

Boa leitura, espero que gostem!

Terceira temporada vai estar apenas em outra plataforma!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712989/chapter/66

P.O.V Annabeth

Depois do surto de adrenalina que me atingiu, eu voltei a apagar.

Já não tinha noção do tempo quando abri meus olhos. Olhei ao redor, eu estava em uma sala diferente. A luz do sol entrava pela janela e aquecia meu rosto. Não estava ligada a máquinas, o que era um bom sinal.

Percy estava sentado em uma cadeira ao lado da cabeceira da cama e acariciava meus cabelos. Ele parecia cansado, mas continuava muito bonito. Seus olhos se destacavam por causa do sol, sua camisa branca contribuía para que seus traços ficassem mais visíveis. Meu coração bateu mais forte ao o olhar.

—Bom dia Bela Adormecida —ele sorriu.

—Safira... —arregalei meus olhos, com medo do que poderia ter acontecido.

—Ela está bem, não se preocupe —Percy se sentou ao meu lado na cama. —Está na incubadora, mas a saúde dela está perfeita. Não precisaram entubar.

Respirei aliviada. Tinha medo do que meu bebê iria enfrentar, mas pelo visto estava saudável.

—Quanto tempo eu dormi?

—Umas dez horas —Percy beijou minha bochecha. —Como se sente?

—Bem... O que é estranho. Eu deveria sentir dor, não é?

—Doutora Mellark disse que seu corpo ajudou demais depois da cesárea. Quase não tiveram que fazer nada, até já tiraram os pontos.

Tirei o cobertor de cima de mim e levantei um pouco a blusa. Nenhuma cicatriz.

—Eu bebi uma coisa... —falei me lembrando. —Um líquido.

—Eles não te deram nada para beber —Percy franziu as sobrancelhas. —Você deve ter delirado, amor.

—É... —mas pareceu tão real... Então fiquei com vontade de chorar. Aquele sentimento de culpa e raiva começaram a me envolver novamente.

—Ei —Percy segurou minha mão. —O que foi?

—Eu não consegui... —fechei meus olhos, deixando as lágrimas saírem. —Eu... Deveria ter sido mais forte.

—Tá maluca? —ele sorriu, limpando minhas lágrimas e eu o olhei. —Você sobreviveu a dois deslocamentos de placenta e uma hemorragia, Annie. Ainda gerou um bebê forte e saudável, sem parar de trabalhar. Se eu já não era completamente fascinado por você, sem dúvida eu sou agora. Por cada pedacinho seu —Percy tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, colocando atrás da minha orelha.

—Por cada pedacinho?

—Cada centímetro deles.

—Como consegue ser extremamente fofo? —sorri, me sentindo melhor.

—Eu pratico na frente do espelho —Percy respondeu e eu ri.

—Quando vou poder ver minha menina? —me sentei.

—Vou pedir para trazerem ela —Percy se levantou, mas eu segurei sua mão.

Ele se virou, me olhando. Segurei seu rosto, o puxando para mim e o beijei. Percy correspondeu, se aproximando e voltando a se sentar.

—Eu nem sei como te agradecer por... Ser tudo que você é —encostei nossas testas. —Não teria conseguido sem você.

—Tá enganada —ele me olhou. —Annie você é mais forte do que pensa. E eu que tenho que te agradecer, por ter me dado a joia mais preciosa que existe. —Percy sorriu, acariciando meu rosto. —E tenho certeza que ela está louca para ver a mulher mais linda desse mundo.

—Okay —falei, animada. —Estou pronta!

Percy voltou depois de uns vinte minutos segurando Safira, enquanto duas enfermeiras o acompanhavam. Meu coração se apertou ao pegá-la. Tão pequenininha, tão frágil e toda minha.

Safira era linda, vestia uma roupinha rosa e sapatinhos de algodão brancos. Não tinha como falar ainda quem ela parecia, mas era realmente uma mistura minha e de Percy. Ela começou a acordar e abriu os olhos, me observando.

—Ei —sorri, brincando com suas mãozinhas gorduchas . Senti vontade de chorar. Ela era perfeita.

—Quer tentar amamentar? —uma enfermeira me olhou. —Ela é bem espertinha para uma bebê que nasceu de oito meses. Não tivemos que entubar para respirar ou se alimentar, demos leite através de uma mamadeira mesmo.

—Lógico que é esperta —Percy sentou-se ao meu lado. —Filha da sabidinha, como seria diferente?

—Quero tentar sim —eu ri com o comentário.

Ok, doeu. Muito. Mas Safira não teve dificuldades, o que restaurou minhas forças. Eu sabia que a cesárea dificultava o vínculo entre mãe e filha, mas eu já me sentia completamente ligada a ela. Percy parecia chocado ao ver Safira mamando e se eu não estivesse sentindo tanta dor, teria zombado de sua cara.

—Céus, ela está te devorando...

—Percy!

—O que você sente? —ele fez uma careta.

—Tá doendo e formigando —observei Safira. —Mas ela parece estar gostando.

—É claro que está gostando —Percy sorriu. Se eu não estivesse segurando minha filha, teria dado um soco nele. —Tô brincando —ele riu com a minha cara. —O que não deixa de ser verdade...

—Percy! —me corei. As duas enfermeiras seguraram para não rir com ele.

(...)

Fiquei sob observação apenas por uma semana e os médicos ficaram impressionados com a velocidade da minha recuperação. Safira também chocou a todos. Em um mês ela já estava com todas as características que um bebê de nove meses saudável teria.

Ninguém entendia como ela era tão forte, mas pela primeira vez não tentei buscar uma explicação. Só sabia e aceitava que ela estava bem.

O hospital virou nossa casa. Não queria deixar Safira lá enquanto ia no apartamento tomar banho ou dormir, então acho que Percy fez mais algumas negociações com a direção, pois eles nos passaram para um leito particular, onde tinha banheiro, uma cama, uma poltrona, TV e até permitiram que a incubadora ficasse no quarto.

Eles diziam que o bebê prematuro precisava ter muito contato com os pais. Então quando eu dormia, Percy ficava com ela a maior parte do tempo. Não queríamos que ela ficasse na incubadora (se bem que ela nem precisava), gostávamos que Safira ficasse em nossos braços. 

Pais corujas? Check.

Nesse tempo de internação dela, meus amigos, meu pai, Sally, Paul, Tyson, Ella, todos que eu tinha algum contato, me visitou. O que me deixou completamente feliz por ter eles comigo.

Enfim Safira ganhou alta dia dezessete de agosto, um dia antes do aniversário de Percy. Por mais que eu queria ir para o apartamento, nós achamos melhor pegar um ar mais natural, longe da poluição do centro de Manhattan.

Fomos em direção ao sítio da família de Percy, que disse estar liberado para nós o tempo que precisasse. Fui no banco de trás, olhando Safira dormir tranquilamente na cadeirinha.

—Como a gente fez um serzinho tão perfeito? —perguntei, me derretendo por ela.

—Vamos lá. A receita é o seguinte —Percy começou a narrar enquanto dirigia. —Ingredientes: uma garota loira de olhos cinzas e um garoto moreno de olhos verdes. É importante que os dois estejam separados depois de um noivado. Então faça o garoto querer reconquistar a garota, adicione álcool com uma camisinha estragada e vualá!

—Você é ridículo —eu ri.

(...)

O sítio não mudou nada desde a última vez que viemos aqui. Depois da porteira, tinha um espaço enorme, com árvores, cercas e um caminho para chegar até a casa. Percy estacionou no meio de dois carvalhos.

Peguei Safira na cadeirinha, enquanto meu marido ia até uma cerca com as sobrancelhas franzidas.

—O que foi? —me aproximei.

—Não estou vendo Blackjack...

—Ele deve estar correndo por aí, não se preocupe —toquei seu braço.

—Certo... —Percy disse relutante e fomos em direção a casa.

Quando estávamos chegando, vi um tipo de fumaça, do tamanho de um tanque de guerra saindo do meio das árvores mais à frente e vindo em nossa direção. Parei de andar, assustada.

—Está vendo isso? —perguntei e Percy olhou para onde eu encarava.

Então a figura se mudou. Não era fumaça, era a Sra. O'Leary. Ela vinha correndo e latindo, com a língua para fora.

—Ei meni... —Percy se inclinou para abraça-la, o que falhou, pois ela pulou e o derrubou. —Eu também senti saudade, se acalma —ele riu enquanto ela lambia seu rosto. —Onde está Blackjack? —Percy se levantou, acariciando sua cabeça.

Sra. O'Leary latiu e olhou para o céu, abanando o rabo.

—Vou fingir que entendi —meu marido passou a mão no rosto, limpando a baba.

—Ei garota —fiz carinho em sua orelha quando ela veio até mim.

Mostrei Safira para ela e foi uma gracinha Sra. O'Leary a cheirando e inclinando a cabeça de um lado para o outro, tentando reconhecer o bebê.

Percy passou o braço por trás do meu pescoço e continuamos a andar.

Quando abri a porta da casa levei um susto.

—SURPRESA! —meus amigos gritaram.

—Gente... —sorri, espantada.

Todos estavam na sala e tinha um banner atrás com vários corações escrito:

Sejam Bem-Vindas

Annie e Safira!

Thalia segurava Damon, com Luke ao seu lado. Ele pegou a mão do bebê, fazendo-o acenar para mim. Leo estava com Pietro no colo e o balançava, enquanto Calipso sorria. Frank estava atrás de Hazel com as mãos em seu ombro e Chloe fazia uma dancinha na frente deles. Jason e Piper estavam na outra extremidade com Tyler no meio, segurando a mão dos dois.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu nem sabia o que dizer. Passamos por tanta coisa e a agora estávamos aqui, juntos novamente.

—Ah qual é! Eu falei que meu aniversário é amanhã —Percy brincou, me fazendo rir e não chorar.

—É bom te ter de volta —Thalia se aproximou com Damon.

—Obrigada mesmo pessoal... E ual, ele tá enorme —apertei bochecha de Damon e ele deu uma risadinha. —Desculpa Thalia, mas ele é a cara do Luke.

—Impressionante, não é? —ela olhou o próprio filho. —Carreguei nove meses pra ter apenas o meu nariz!

—Vocês deveriam ter visto a felicidade de Chloe por não ser a única menina no grupo quando Safira nasceu —Frank comentou e eu sorri.

—Posso pegar? —Piper disse se segurando para não agarrar Safira.

—É claro —coloquei a cadeirinha no chão, enquanto Piper pegava minha filha.

Todos fizeram uma volta entorno de Piper e do meu bebê. Eles não tiveram muito contato com ela no hospital, pois ela ainda era muito frágil.

—Como a filha de Percy Jackson pode ser tão bonita? —Leo franziu a sobrancelha, brincando e mostrando Pietro a nova amiguinha. Ele parecia ter gostado, pois estendia as mãos, querendo tocar nela.

—Sei que você é apaixonado por mim, Valdez —meu marido foi até a cozinha, pegando uma garrafa de Budweiser na geladeira.

—Olha aqui, garoto —Luke pegou Safira do colo de Piper e se aproximou de Damon, que Hazel segurava. —Sua futura namorada.

Damon murmurou algo tipo ''danha'' e deu um sorrisinho, olhando para Safira.

—Não senhor —Leo protestou e ergueu Pietro. —Essa é do meu Bad Boy Supremo.

—Ok, conseguiram —Percy ficou ao meu lado, abrindo a garrafa. —Damon e Pietro só tem quatro meses e eu já tenho um sério problema com eles.

Nós rimos do ciúme de Percy e eu segurei sua mão, me sentindo a mulher mais sortuda que poderia ter. Tenho amigos incríveis, um marido perfeito e a filha mais linda (e concorrida, pelo visto) que existe. Não podia querer mais nada.

(...)

P.O.V Percy

Todos passamos o dia juntos, dei um mergulho na piscina com os meninos e ao entardecer, peguei Safira para dar um volta com ela.

—E isso aqui é um rio —eu mostrava. Duvido que ela estivesse me escutando, já que dormia confortavelmente em meus braços.

Então escutei cascos atrás de mim e me virei. Meu cavalo vinha correndo em minha direção.

—Garoto! —sorri e fui até seu encontro. —Me deixou preocupado! Como passou da cerca?

Ei, chefe!, uma voz soou dentro da minha mente e eu franzi as sobrancelhas. O que foi isso? Blackjack por um momento ficou inquieto e balançou a cabeça, mas logo se controlou.

—Queria que você conhecesse minha filha —mostrei Safira, ignorando aquela voz. Ele relinchou animado e se aproximou com cuidado. —Daqui uns anos ela vai poder montar em você.

Blackjack pareceu ter gostado da ideia, pois bateu os pés no chão, afirmando com a cabeça. Nós sempre fomos muito ligados e ele parecia me entender, apesar de ser um cavalo.

—Acho que alguém aqui tá com fome, tenho que ir. —falei quando Safira se mexeu e resmungou. —Vai pro estábulo, viu? E cuidado —comecei a voltar para a casa.

Puft, estábulos! Tão limitantes, chefe!, a voz voltou na minha mente e eu me virei, mas Blackjack já não estava aqui.

Franzi as sobrancelhas e quis adentrar a floresta atrás dele, mas Safira começou a querer chorar. Me apressei e entrei na casa, onde Annabeth estava no sofá, conversando com Leo e Thalia.

—Onde esteve? —ela me olhou.

—Por aí —sorri, mesmo preocupado com a voz e com Blackjack. —Sua filha está com fome.

Annie sorriu e a pegou do meu colo.

(...)

Depois do jantar e dar boa noite aos nossos amigos, que ficariam nos quartos do andar de baixo, menos Luke e Thalia, que iriam ficar no meu, Annabeth e eu fomos até onde é o quarto da minha mãe. Lá era bem espaçoso, tinha uma suíte e um outro quarto, onde era o escritório. Antes de virmos, pedi para alguns funcionários da WEA virem e o transformar em um quartinho temporário de bebê, para Safira ficar confortável.

A coloquei no berço e posicionei a câmera da babá eletrônica, para temos uma visão dela mesmo ''longe''. Voltei para o quarto e Annabeth ajeitava a tela na escrivaninha, que mostrava Safira dormindo.

Minha esposa estava com um conjunto de cetim azul, em que a barriga ficava de fora e rendas estavam no começo do top e do short. Nem parecia que ela tinha carregado um filho por oito meses, seu corpo não apresentava nenhum sinal de uma cesárea ou até mesmo gravidez. Não sei como isso é possível e nem me dei o trabalho de pensar.

—Tá me deixando louco —me aproximei por trás e tirei seu cabelo do pescoço, o beijando.

—Essa é a intenção —ela sorriu e se virou, me olhando. —Eu estava lembrando, foi nessa casa nossa primeira vez —ela ficou na ponta dos pés e me deu um rápido beijo na boca.

—Foi —fechei os olhos, sentindo meu corpo arrepiar quando ela passou levemente suas unhas na minha nuca.

—Quero repetir aquele dia —ela sussurrou em meu ouvido.

Abri meus olhos e sorri antes de segurar seu rosto e a beijar, bem lentamente. Sem a soltar, a levei até a cama e o beijo se intensificou. Meu corpo pedia por Annabeth, mas eu queria aproveitar um pouco essa sensação de tê-la de novo.

A deitei e me afastei um pouco, tirando minha blusa e Annabeth mordeu o lábio, sorrindo. Céus, como senti saudade disso.

Voltei beijá-la e ela tirou meu cinto, empurrando minha calça para baixo com os pés. Minhas mãos navegavam pelo seu corpo e Annabeth murmurava meu nome, me fazendo ficar cada vez mais excitado.

Mas tudo que é bom dura pouco. Quando comecei a colocar minha mão por dentro de sua calcinha, escutamos Safira. Nós dois olhamos para a tela da babá eletrônica e nossa filha estava mexendo os braços, chorando.

Apoiei minha cabeça no ombro de Annabeth e suspirei, frustrado. Saí de cima dela e me sentei na cama.

—Ela deve tá com fome —minha esposa se levantou.

—Não é só ela —me joguei para trás e me deitei, escutando Annabeth rir.

Mas que droga! Tinha quatro meses que eu não a beijava desse jeito e bem agora quando estávamos quase lá... Pelo visto essa seria nossa vida daqui pra frente e eu tinha que me conformar.

—Bem, ela não quer mamar e está seca —Annie a balançava enquanto caminhava até mim. —Acho que não quer é ficar sozinha.

Annabeth deitou ao meu lado e colocou Safira no meio. Ela parou de chorar e me olhou.

—Você acabou de deixar o papai bem chateado —brinquei com sua bochecha e ela fechou os olhos lentamente. Sorri, não tem como sentir qualquer coisa a não ser amor por esse serzinho.

—Tudo bem ela ficar aqui com a gente? —Annabeth sussurrou, para não a acordar. Fiz que sim com a cabeça e nos ajeitamos na cama, com Safira no meio de nós dois.

Beijei a cabeça de Annie e me virei, desligando a luz. Apenas a lua iluminava nosso quarto e sinceramente, não tinha nada mais bonito do que ver minha filha e esposa dormindo.

Eu queria ficar vendo as duas, mas meus olhos foram se fechando, mesmo que eu lutasse para mantê-los abertos. E por tudo que é mais sagrado, eu queria ter conseguido.

Tive o sonho mais estranho de todos os tempos.

Eu estava na entrada de um salão gigante, que fazia a Estação Central parecer um armário de colocar vassouras. Tudo era branco e prata, como se fosse parte de um palácio. Colunas maciças se erguiam até o teto, que era decorado com constelações que se moviam.

Havia doze tronos enormes em formato de um U invertido e tinha uma grande fogueira no centro. Todos estavam ocupados por pessoas de uns cinco metros de altura e o pior: eu conhecia alguns deles.

No trono principal estava Zeus, pai de Thalia e Luke. Ele vestia um terno risca de giz azul-escuro, a barba era bem aparada e tinha fios cinzas em meio aos pretos, como uma nuvem de tempestade. Vi Zeus poucas vezes na minha vida, me lembro mais dele do dia em que a polícia o prendeu. Ele passava um ar de orgulho e parecia ser severo. Seus olhos eram de um tom cinzento de chuva que me faziam ter calafrios. Na base do trono, estava um cilindro de uns sessenta centímetros em formato de raio, que fagulhava.

O homem sentado ao seu lado direito era, sem dúvidas, meu pai. Nunca vi os dois lado a lado mas reparei o quanto se pareciam, a não ser pelas roupas. Poseidon usava sandálias de couro, bermuda cáqui e uma camisa toda estampada com coqueiros e papagaios. Sua pele tinha um bronzeado escuro e as mãos cheias de cicatrizes, como um pescador. Seu rosto estava do mesmo jeito que apareceu no meu último sonho, nada diferente. Encostado na base do seu trono havia um tridente de um metro, no máximo, que parecia minúsculo perto do seu tamanho.

À esquerda estava Hera, esposa de Zeus. Estava igual quando eu a vi na Grécia, seus cabelos prateados estavam presos em uma trança e ela usava o mesmo vestido de estampa de pavão.

A outra pessoa ao seu lado eu não conhecia. Era uma mulher com longos cabelos loiros, da cor de trigo e usava um vestido brilhante com uma capa escura. Uma coroa de flores de milho estava em sua cabeça, não sei porque mas gostei dela.

Queria poder falar disso da próxima. Minha querida sogra, Atena estava em seu trono. Também tinha a mesma aparência de quando a encontrei na Grécia. Cabelos pretos compridos presos em um rabo de cavalo, olhos cinzas tempestuosos iguais ao de Annabeth e vestia um vestido branco, mas agora possuía uma capa dourada.

Não tive tempo para reparar nas outras pessoas, pois escutei uma discussão começar. Me aproximei, com cuidado.

—Estamos perdendo tempo —o homem no trono ao lado de meu pai reclamou. Ele era enorme e musculoso, usava jeans preto, botas de combate e uma camisa vermelha sob um colete. Tinha uma faca de caça presa à coxa, o que o deixava mais assustador. Um óculos de sol vermelho cobria seus olhos, que eram na verdade órbitas em chamas. Ok, não gostei desse cara. —Enquanto esperamos o inimigo fica mais forte.

—Não temos certeza ainda, Ares —uma mulher do lado esquerdo de Atena disse, elevando a voz. Ela parecia uma garota de doze anos, tinha cabelos avermelhados e olhos amarelos prateados como a lua. Parecia implacável e mais perigosa que esse tal Ares. —Foi por isso que convocamos o filho de Hades primeiro, para obtermos mais informações.

O filho de Hades? Nico!?

—Mas se for verdade os rumores, estamos em desvantagem —um homem ao lado de Ares disse, era extremamente bonito e musculoso, tinha um bronzeado como se fosse um salva-vidas. Longos cabelos dourados estavam presos em um coque e seus olhos brilhavam como o sol. Ele brincava com uma flauta, que parecia mais um palito de dente em suas mãos. —Deuses menores estão se juntando a dois titãs, o que significa a nossa ruína.

—Apolo, não seja tão negativo, não é de sua natureza —a mulher mais bonita do salão disse. Tinha maquiagem perfeita, cabelos enrolados em uma cascata de cachos, olhos deslumbrantes e um sorriso esplendido. Mas quando ela sorria, eu via um pouco dos traços de Annabeth em seu rosto. —Temos nosso filhos para ajudar, não é mesmo querido?

—É claro! —Ares e outro homem concordou na hora. Conhecia esse, apenas de vista. Ele esteve presente no casamento de Leo, na verdade, era seu pai... Como era o nome mesmo? Hefesto? Enfim, ele era enorme, com o rosto deformado e ombros em alturas diferentes. Os dois se fuzilaram com o olhar e pude jurar ver faíscas saírem da barba de Hefesto.

—Adoro esse conflito —Apolo sorriu, em meio ao trono dos dois, fazendo surgir um balde de pipoca em sua mão.

—Vocês estão fugindo do assunto principal —a voz de Zeus ecoou pelo salão e todos ficaram quietos. Ele se levantou, com um ar majestoso e começou a andar. —Temos uma profecia e sabemos sobre o que ela se trata. Devemos evitá-la, para o bem de todos.

—Isso já foi discutido, Zeus —meu pai se levantou, com as sobrancelhas franzidas e o ar se tornou pesado.

As outras pessoas se olharam, com medo.

—Pois então discutiremos de novo —Zeus parou em frente a fogueira, encarando Poseidon.

Um cheiro de maresia e ozônio se misturaram no ambiente.

—E lá vamos nós —um sujeito gordinho, que tinha um nariz vermelho e cabelos pretos encaracolados, sentado no último trono, disse com tédio. Ah meu Deus... Ele era o meu diretor de Rosewood, Senhor D.!

Que tipo de sonho ridículo é esse?

—Não vamos discutir nada de novo —meu pai foi até Zeus, ficando cara a cara com ele. Seus passos fizeram o salão tremer. —Você acha que eu não sei o que fez?

—Vamos nos acalmar, por favor... —um homem ao lado de Hefesto disse. Também o conhecia por fotos, era o pai de Luke, Hermes.

—Acalmar? —Poseidon rangeu os dentes e cerrou o punho. Mesmo vivendo muito pouco com ele, nunca o vi tão irritado. —Nós temos uma regra! Uma, Zeus! Não ferir nossos filhos sem permissão!

—E eu feri alguém? —ele ergueu a cabeça, olhando Poseidon com superioridade, mas meu pai não recuou.

—Tentou, quando Percy foi para a Europa. Ou aquelas turbulências foram coincidência?

—Puro acaso —Zeus deu de ombros.

—Ótimo —meu pai o olhou com desprezo. —Pois se esse acaso acontecer novamente, saiba que terá consequências.

Pequenas faíscas saltaram de Zeus e ouvi um trovão ecoar.

—Isso é uma ameaça? —ele estendeu a mão para seu trono e aquele cilindro voou em sua direção. Ao o pegar, ele aumentou de tamanho, se tornando um raio clássico, de uns seis metros. Mesmo sendo um sonho, senti meus cabelos se eriçarem.

—Se encostar em Percy, sim —meu pai fez o mesmo gesto e o tridente foi até ele, também aumentando de tamanho.

Os dois estavam prestes a se matar, na minha opinião. Os trovões faziam mais barulho e o salão tremia.

—Basta! —Atena se levantou. —Já chega! Não podemos lutar entre nós, tenham senso!

Por mais que meu pai e Zeus se olhassem com ódio, eles recuaram.

—Pede senso a nós mesmo depois de ter interferido na vida de mortais —Zeus a encarou, sentando-se novamente no trono, com Poseidon ao seu lado. Senti Atena ficar tensa.

—Não fiz aquilo apenas pela minha filha. —ela se recompôs e voltou a se sentar. —Sua morte poderia significar nossa derrota.

—Ela não está na profecia, Atena —Ares olhou a mulher. —Ela não teria sobrevivido sem sua ajuda e ninguém aqui concordou com seus atos.

—Você é equilibrado, irmão —Atena se encostou no seu trono. —O que te sobra em bíceps, te falta em cérebro.

—Sua... —Ares se preparou para levantar, mas Zeus estendeu a mão e ele parou.

Irmão!?

—Atena, você ainda não se explicou para nós —Hera se manifestou pela primeira vez. —Sabemos que gosta da garota, mas isso não lhe dá direito de decidir sobre sua vida.

—Se as moiras permitiram que ela sobrevivesse, então o que fiz foi o certo —Atena disse calmamente. —Peço que pensem um pouco. O filho de Poseidon está destinado a nós destruir ou salvar. Como acham que ele agirá quando chegar a hora e descobrir que tínhamos todos os meios para salvar a mulher que ama e não fizemos nada?

Nenhum deles se pronunciou, o que fez um sorriso vitorioso surgir na boca de Atena, como se dissesse: eu sempre estou certa.

Meu coração ficou disparado. Eu sei que é só um sonho, mas isso estava real e esquisito demais. Eu não sou tão criativo para imaginar uma coisa dessas.

—Então você coloca o destino do nosso futuro na gratidão de um mortal? —Zeus disse depois de um tempo.

—Não temos outra escolha, pai. —ela respondeu. PAI!? Que merda tá acontecendo aqui? —Se matarmos o garoto —Atena continuou e Poseidon tossiu. —O que não vai acontecer, é claro...

—Devia ter pensado assim há sete anos atrás, quando quase o matou —Afrodite murmurou, lixando as unhas. Apolo e Senhor D. gargalharam.

—Foi um acidente! Era apenas para causar um... —ela revirou os olhos, como se aquilo não importasse. —Não vem ao caso. O que estou querendo dizer é que ao tentar evitar essa profecia, como o senhor sugeriu, pai, podemos estar assinando nossa morte. Sim, é um risco tê-lo vivo, mas Percy Jackson também está destinado a nos salvar. É a nossa esperança.

Ok, muita bizarrice para um sonho só.

Todos ficaram calados, parecendo pensar sobre.

—Então quando o recrutaremos, junto com seus amigos? —Hermes perguntou.

—O mais rápido possível —Hefesto respondeu. —Agora, se possível.

—Como você é tolo, meu filho —Hera o olhou com desaprovação. —Nunca concordarão em nos ajudar nesse momento. Acabaram de ter filhos, inclusive aquele seu Leo Valdez. São mortais, não pensam como nós.

—Hera está certa —Atena concordou. —E ainda temos tempo, não sabemos quando Cro... Quando ele retornará. Nem se sua esposa está ajudando.

—O que recomenda, então? Nossa aura está aumentando, isso os coloca em perigo —meu pai olhou para Atena.

Me senti completamente estranho, conversavam como se nada tivesse acontecido entre os dois... Ok, Percy, é um sonho. Nada disso faz sentido.

—Continuarão sendo protegidos até que a ameaça seja verdadeira.

—Traduzindo: vamos esperar que ele volte de vez. Não é muito inteligente —Hermes comentou e os outros concordaram, menos a mãe de Annabeth e Hera.

—Querem discutir inteligência comigo? —Atena retrucou, arqueando as sobrancelhas. —Mesmo que tentemos impedir, é inevitável que irá acontecer, vocês sabem disso. O acampamento já foi reaberto e estamos com um bom número de heróis. Nossos filhos ainda não reclamados são mais fortes que os outros e devem continuar escondidos para não chamar mais atenção.

—São a nossa carta da manga! —Apolo praticamente gritou e todos o olharam. —Ai, credo! É só uma expressão!

—Sim, Apolo —Atena sorriu. —São nossa vantagem e não devem correr perigo antes da hora. Além de que se forem levados para o acampamento agora, teríamos um ataque e não precisamos disso. Minha sugestão é: vamos continuar mantendo suas habilidades reprimidas, por mais difícil que esteja sendo. E quando chegar a hora, estarão preparados sem nem saber.

—Não vou discutir com Atena, ela é a melhor estrategista que temos —Zeus suspirou, parecendo não gostar da ideia. —Todos de acordo?

—Não, esperava aí. Tem algo a ser discutido também antes de encerrarmos —Poseidon levantou as mãos, pedindo atenção. —Você colocou Quíron, a filha de Belona e as Amazonas para protegerem seus filhos. —ele olhou para Zeus. —E o meu tem dois sátiros completamente duvidosos mantendo sua segurança. Quem concordou com isso?

Todos os deuses, exceto meu pai, esconderam um sorriso. Devem ter achado engraçado, pois até o semblante de Zeus mudou para um ar mais divertido.

—Ora irmão, os guardiões estão de acordo com o poder de seus protegidos —Zeus cruzou os braços.

—Se for assim um próprio deus deveria proteger Percy —Poseidon sorriu, o desafiando. —Você sabe que ele é o mais forte de milênios.

—Seria se não fosse por Jason —Zeus o encarou.

—Esse é molezinha —Poseidon bocejou. —Thalia talvez conseguisse, mas mesmo assim, a profecia é sobre um Filho do Oceano, não do Céu.

—Isso está ficando interessante —Ares se inclinou, prestando mais atenção.

—Não me provoque, Poseidon —Zeus cerrou os punhos.

—Tá nervoso porque sabe que é verdade —meu pai o olhou e o clima voltou a ficar tenso.

—Então todos concordam em continuar a busca e esperar um tempo para os convocar? —Atena elevou a voz, interrompendo a possível briga. Todos confirmaram com a cabeça. —Com a permissão de meu pai, eu encerro a reunião.

Ela olhou para o pai (?), que assentiu. Todos se levantaram, menos Hera e Zeus, e começam a caminhar em minha direção para sair do salão. Me senti uma formiga perante todos aqueles gigantes, que se quisessem, me espremeriam com o mindinho.

Vi meu pai se aproximando e a cada passo ele diminuía, até ficar do tamanho de uma pessoa normal. Ao passar por mim, ele parou brevemente ao meu lado.

—Esteja preparado quando eu o chamar —Poseidon disse, sem me olhar e saiu do salão.

Acordei com a respiração acelerada e suando frio.

Me sentei rápido e olhei para o lado, Annabeth e Safira não estavam na cama. Comecei a ficar aflito, mas vi a luz do escritório acesa, imaginei que Annie tinha levado nossa filha pro berço e me acalmei.

Fui até o banheiro e lavei meu rosto. O sonho foi real demais, parecia que eu estava naquele salão e que meu pai tinha falado comigo de verdade.

Esteja preparado quando eu o chamar. Sua voz ecoava em minha cabeça.

—Percy? —Annabeth me chamou, baixinho.

—Oi —encostei na porta do banheiro, enxugando meu rosto com a toalha.

—Que bom que está acordado —ela sorriu, se sentando na cama. —Já passa da meia noite, sabia?

—Ah é? —respondi, ainda distante. Não conseguia parar de pensar no meu sonho.

—Isso significa... —Annabeth continuou, para eu completar. Mas eu não respondi, estava muito perdido em meus pensamentos para prestar atenção. —Significa que é seu aniversário, Cabeça de Alga! Você está bem?

—Eu... —a olhei, balançando a cabeça. Foi só um sonho, Percy! —É claro que estou —sorri, indo até ela. —Então, hoje é meu aniversário...

—É sim —ela mordeu o lábio inferior, com um sorrisinho sexy. Naquele momento eu já a desejava mais do que tudo.

—E o que vai me dar de presente? —me inclinei, aproximando meu rosto do seu.

—Que tal eu todinha, só pra você? —ela sussurrou e levantou o rosto, encostando nossos lábios.

—Só pra mim? —sorri, me segurando para não a agarrar nesse momento.

—Toda sua —Annabeth passou os braços ao redor do meu pescoço e foi indo para trás, me puxando para a cama. —Até nossa menina resmungar —ela riu baixinho e eu a acompanhei.

—É tudo que eu preciso —passei a mão pelo seu corpo e a beijei.

O tempo se congela quando ela está em meus braços. Sua respiração se misturando a minha, nossos corpos se movendo juntos como se fosse um só me fazia sentir vivo. Apesar do sonho ainda estar na minha mente, o que eu estou vivendo agora é a minha realidade. Annabeth é e sempre será a minha realidade. Um sonho não poderia me machucar.

 

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que acompanharam!! Enfim chegamos ao fim!!
Um beijo a todos!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Loving Can Hurt" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.