A colecionadora de cicatrizes escrita por Triz Quintal Dos Anjos


Capítulo 28
Quando o mal nos alcança.


Notas iniciais do capítulo

Eu prefiro deixar os comentários pra depois então, boa leitura vvbdfvhbd



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“Porque o medo mata tudo, Mo lhe dissera um dia, a razão, o coração e até mesmo a fantasia.”

— Cornelia Funke, Coração de tinta

                                                              ⚓ ⚓ ⚓

 Definitivamente todos estavam com um humor péssimo naquela manhã. Para começar, teríamos de partir no dia seguinte, porque Anna acordara doente e Elsa abandonara tudo para ficar ao lado da irmã.

  Eu não tinha nada contra o amor fraternal das duas, mas estava tenso e sabia que nada de bom podia vir daquele livro amaldiçoado. A situação piorava quando algo me dizia que aquele troço estava, de alguma forma, ligado a Emma, afinal, tinha ido parar em suas mãos e... Ah, era besteira. Eu só estava estressado e pronto, provavelmente era só um livro.

—Você não parece muito bem. – Emma comentou.

  A loira estava sentada de frente para mim, no sofá onde eu costumava dormir, mais uma vez com o tornozelo lesionado apoiado em algumas almofadas.

  Eu não a deixaria mais em paz enquanto não tivesse certeza de que estava seguindo as recomendações de Whale.

—Não esqueça do gelo. – Lembrei.

  Swan revirou os olhos.

—Eu estou colocando, Killian. Agora, veja bem, estamos todos uma pilha de nervos hoje, seria bom se conversasse um pouco comigo ao invés de viajar para um universo paralelo.

—Estou com você agora, não?

  Ela sorriu de lado.

—Não totalmente.

—Tuuuudo bem. – Soltei todo o ar dos pulmões, inclinando-me para frente. – Sobre o que quer conversar, monstrinha aloirada? 

  Emma fingiu estar ofendida.

—Então é isso o que acha de mim, senhor Jones?

—Sem dúvidas, minha cara.

 Ela riu, e eu senti como se todos os meus sentimentos ruins tivessem sido lavados por aquele singelo som.

—Certo. – Ela sussurrou ao parar de rir. – Agora, por que não me conta o que está acontecendo, Killy? Talvez eu possa ajudar.

—Eu estou ótimo, juro.

 Era óbvio que não estava. Mas também não podia dizer a verdade. Simplesmente por envolver Milah, alguém sobre o qual eu não estava pronto pra contar a Swan.

 A verdade é que as lembranças da vida que tínhamos pareciam muito mais fortes agora. E toda vez que me aproximava mais de Emma, me sentia traindo Milah. Como se ela estivesse se distanciando aos poucos, contudo não conseguia deixa-la ir.

—Isso, claramente, é uma mentira. – Observou.

—Sabe o que eu acho? Que quem não está nada bem é a senhorita.

  Ela negou.

—Estou bem.

—Ah, está? Então o que é isso aqui? – Perguntei, apontando as duas olheiras enormes em seu rosto.

—Nada demais, só não dormi bem.

—Dormiu mal, ou simplesmente nem chegou a tentar dormir? – Ela engoliu em seco. – Te vi sair do quarto, ontem de noite, Emma. E eu não acho que você tenha saído para dormir em outro lugar.

—Talvez eu tenha ido dormir com a Gina.

 Ergui a sobrancelha e foi o que bastou para que ela praticamente confessasse tudo, apenas desviando o olhar. Emma era muito transparente às vezes.

—Que tal me contar a verdade? – Pedi, puxando minha cadeira até estar ao seu lado.

 Ela não respondeu, o olhar estranhamente fixo na cama.

—Emm? – Chamei, botando minha mão sobre a dela.

 Esse gesto fez com que ela acordasse como se tivesse ouvido um barulho muito alto. Olhou para nossas mãos em seu colo, depois para mim e então colocou a outra mão sobre a minha, sorrindo.

  Uma sensação boa percorreu meu corpo, porém me senti culpado. Milah gostava de andar de mãos dadas.

—É meio idiota, sabe? – Ela me olhou, como se buscasse apoio para prosseguir.

—Parece ter te afetado muito para ser idiota.

Ela ficou em silêncio alguns minutos, antes de finalmente dizer:

—Eu tive um pesadelo, alguns dias atrás, e ele estava se repetindo, então eu pensei que, talvez, se não dormisse essa noite, não o teria mais.

—Esse é o motivo de eu não ter te visto no quarto pela manhã, nesses dias?

 Ela assentiu de cabeça baixa.

—Não gosto de você assim, ok? – Falei, erguendo seu olhar para mim. – Não a quero de cabeça baixa, Swan. Essa não é você.

  Ela suspirou.

—Bom, acho que é a sua vez de me dizer a verdade.

—Acho que devíamos dormir. – Mudei de assunto.

—São dez da manhã, não faz muito tempo que acordamos.

—Corrigindo: não faz muito tempo que você fingiu acordar quando sequer dormiu.

—Killian, você está fugindo da minha pergunta. – Ela revirou os olhos.

—Prometo contar toda a verdade se for para a cama comigo agora.

  O rosto de Emma adquiriu um tom avermelhado e ela me olhou de modo estranho por alguns minutos, até eu compreender o que tinha dito.

—Ah, droga! – Bati em minha testa. – Não desse jeito! Estava dizendo para irmos dormir, eu juro!

  Enquanto isso, a loira gargalhava de mim.

—Bom, talvez você pudesse me responder antes de irmos para a cama.

—Emma, minha querida, eu já fiz minha proposta.

—Tudo bem, vamos dormir então.

 Ela puxou a bengala e mancou algumas poucas vezes até a cama. Parecia preocupada e seu rosto foi perdendo a cor.

—Tudo bem? – Perguntei ao sentar ao seu lado.

  Ela negou, abraçando uma almofada.

—Não deveríamos esperar a noite?

—Se você se sentir mais confortável assim, podemos deixar para mais tarde.

—Talvez eu ainda esteja com um pouco de medo. – Sussurrou.

 Meu coração se apertou, porque não suportava ver aquela expressão nela.

—Veja, eu vou estar bem aqui, segurando a sua mão. –  Ajoelhei-me tomando sua mão e afastando algumas mechas douradas de rosto com o gancho. –  E quando nos deitarmos de noite, vou estar aqui de novo. E também estarei amanhã, depois de amanhã e depois de depois de amanhã, até ter certeza de que nada te atormenta mais. Não precisa ter medo, monstrinha.

—Obrigada, Killy. – Ela riu fraco.

  Eu ainda podia sentir o medo em sua voz, mas também havia gratidão e, mais que isso, havia um certo carinho.

  De repente nossos rostos estavam próximos demais, – Tentadoramente próximos, pensava – e mal conseguia me lembrar como aquilo acontecera.

  Olhei para os lábios finos e delicados de Emma, tão convidativos e tão perto dos meus...

  O par de esmeraldas que ela carregava no rosto, por sua vez, olhava com o mesmo desejo para minha boca. Nossas respirações irregulares e quentes se misturando, da mesma forma que as batidas de nossos corações. 

  Aproximei-me mais, com cuidado para não assustá-la, pois era essa a impressão que eu tinha: de que Swan poderia me escapar a qualquer instante. Mas os planos dela, naquele momento, eram claramente os mesmo que eu tinha.

  Seu cheiro – uma deliciosa mistura de maçã, livros e açúcar –  me envolvia e cegava, fazendo com que ela fosse tudo o que havia na minha frente.

   Naquele instante precioso e delicado o mundo não existia.

  Eu já podia sentir o sabor de seus lábios, seu corpo quente contra o meu, estava louco e implorando para que aquele pequeno instante em que me aproximava terminasse logo.

 Então Emma desviou o rosto um milésimo de segundo antes que isto pudesse acontecer.

—Hã, hm, me desculpe. – Ela fechou os olhos com força, se afastando. – Meu Deus.

  Algum tempo se passou até que eu conseguisse processar o acontecido e murmurar algo inteligível.

—Não... Não foi nada, Swan. Eu que me desculpo. – Falei, mas no fundo eu ainda queria beijá-la.

  Céus, como queria! E sabia que não iria esquecer, que não era momentâneo. Era verdade, eu estava louco por aquela mulher. E ao mesmo tempo não conseguia deixar que Milah fosse embora. Não por completo.

  O que estava acontecendo, pelo amor de tudo?! Eu tinha de escolher uma das duas. Sabia disso. Não poderia ser eternamente fiel a Milah se estava me apaixonando por outra mulher, o que tornava minha decisão óbvia, mas não fácil.

—Então...Ainda vamos dormir? – Swan perguntou, apreensiva.

  Ela mesma não estava certa se aquilo era uma boa ideia.

  Eu tinha certeza que não era. Mas, por favor, para o inferno com o que minha mente me dizia! Meu coração implorava por mais tempo com Emma e eu não estava em condições mentais de negar isso a ele.

—Sim, vamos.

  Ela deitou num piscar de olhos, virando-se pra o outro lado, nervosa, se enrolando nas cobertas – mesmo que não estivesse frio o suficiente para tal – e eu me deitei ao seu lado, mantendo uma distância que considerei segura.

  Não ia ficar ali, todavia. Porque Emma estava tensa e isso não iria melhorar nada. Tinha certeza de que ela não conseguiria dormir naquela condição, então me levantei.

  Emma resfolegou audivelmente.

—Aonde vai? 

—Não irei longe, acalme-se. – Garanti, procurando meu lenço. Eu dificilmente carregava outro que não um azul bem claro que me lembrava muito da paleta de cores do castelo. – Só um segundo... Aqui está! Emma, posso pegar uma de suas fitas? – Ela assentiu e eu peguei uma turquesa, que combinava com o lenço. Envolvi um pouco de algodão com o lenço e dei alguma voltas com a fita para segurar, finalizando com um pequeno laço. – Acho que nunca serei muito bom nessas coisas, mas aqui está.

  _Era para parecer uma boneca? – Tentou segurar o riso, agora já sentada na cama. – Granny fez uma dessas para Ruby uma vez. Eu morria de inveja, porque queria muito ter uma. Nem sei o motivo se tinha bonecas melhores.

  Eu ri.

—Essa nem tem olhos, coitada. Você terá de costurar uns botões nela.

  Ela me dirigiu um olhar travesso e levantou, abrindo uma das gavetas de sua penteadeira e tirando de lá dois botões verdes.

— Bem, esses servem. – Disse, voltando para a cama com agulha e linha.

—Não acredito que você vai mesmo fazer isso.

—Por que não? – Olhou-me, desafiadora. – Veja só, ela está ficando um amor! – Ergueu a boneca, já com um olho costurado. – Já sei! Podíamos fazer um cabelo para ela! Acho que vou ir buscar lã com Anna algum dia.

  Se Swan tinha um ponto fraco, esse era justamente o medo. Tinha a impressão de que quando ela se assustava o mundo passava a ser um grande pesadelo, seu sorriso morria e com ele ia junto qualquer possibilidade de raciocínio.

  Então talvez a melhor forma de ajuda-la com os pesadelos fosse fazê-la se sentir segura. Eu não estaria para sempre ao seu lado, por mais que quisesse, todavia talvez aquela boneca pudesse ajuda-la da mesma forma.

  Era idiota e até meio infantil, mas objetos podem adquirir muito valor emocional. Como se fossem grandes armazenadores de memória.

—Prontinho! O que achou? –  Ela me mostrou a boneca, que agora até tinha uma boca. – Que nome quer dar a ela?

  Eu ri.

—Não acredito que está me perguntando isso de verdade.

—Ah, vamos! Há algum problema em sermos crianças por alguns minutos?

—Ela é azul. Podia chama-la de azul.

  Emma revirou os olhos.

—É muito óbvio.

  Escrutinou a boneca por longos minutos e então disse:

—Verdinha. Sim, é perfeito!

—Ah, isso é quase uma cópia do que eu disse.

—Claro que não! Ela tem o corpo azul, mas os olhos são verdes. Não acha que os olhos chamam mais atenção? –  Seus olhos cravados nos meus, quase como se disse aquilo para mim. –  Além do mais, dizem que eles são a janela para a alma.

—Hã, com certeza.

  Ela sorriu.

—Obrigada, Killian. Mais uma vez.

—Mas eu não fiz nada.

  Ela tornou a deitar, abraçada a boneca.

—Podemos conversar sobre alguma coisa?

—Não é isso que estamos fazendo?

  Ela assentiu.

—Podia me contar um pouco sobre você. – Pediu.

—Claro. – Engoli em seco quando ela puxou meu gancho, deixando a bonequinha de lado. – O que quer saber?

—Eu não sei. –  Deu de ombros.  

  Assenti, parando para pensar, por alguns minutos até decidir o que ia fazer.

  Não entendia muito bem o rumo que as coisas estavam tomando, porque achava que ela ficaria chateada por ter tentado beijá-la. Contudo Swan estava agindo normalmente. Quase como se nada tivesse acontecido.

  Quase. Pois havia um brilho diferente em seu olhar.

  Por Deus, seria aquilo alguma espécie de sinal bom de que se eu tentasse beijá-la novamente, obteria êxito?

  Fechei os olhos com força. Não ia fazer aquilo novamente menos de vinte minutos depois. Não mesmo. Quando Emma quisesse, ela me deixaria saber.

  Concentrei-me no que ela havia me pedido.

—Quando eu era mais novo, – comecei – antes de ser capitão do Jolly Roger, eu gostava muito de ir a um lugar, na costa de Misthaven, perto da floresta. As pessoas não tinham o costume de ir lá e era como um lugar secreto, só meu.

—Como um esconderijo? – Indagou, curiosa. 

—Mais ou menos isso. – Passei a língua pelos lábios. –  Meu horário preferido era quando o sol estava se pondo. O céu parecia uma aquarela e o castelo, dava para ver muito bem de lá, se sobressaía por ser todo branco. Imagino que seja uma espécie louca de referência á rainha, Snow White.

—Por quê?

 Franzi o cenho.

—Você nunca ouviu falar dela?

—Não muito. – Respondeu, bocejando.

—Bem, ela tem a pele branca como a neve. – Cantarolei, em tom de brincadeira, deliciando-me com seu riso. – Está rindo do que? É verdade! E o cabelo é negro como ébano, e os lábios rubros como sangue!

—Parece ser uma mulher muito bela. – Comentou.

  Olhei para Emma por alguns segundos. Era verdade que eu nunca vira a tal rainha de perto, a não ser pelo enorme mosaico que havia em um vilarejo próximo ao castelo. E era daquela imagem, surpreendentemente, que eu me lembrava ao olhar para Swan.

  Como nunca tinha reparado? Elas tinham uma semelhança gigantesca! Os olhos, o rosto e até a postura!

—Pensando bem, você se parece bastante com ela, Emma.

  Ela gargalhou e eu permaneci sem entender por um bom tempo.

—Ah, Killy, mal me pareço com meus pais, imagine com essa rainha?

—É verdade, juro! Você lem...

—Podemos voltar ao assunto anterior? – Pediu, claramente querendo saber mais.

  E eu não era capaz de contrariá-la.

—Onde eu estava?

—Não lembro. – Confessou com uma risadinha. – Mas pode me contar como era seu esconderijo secreto de noite. Eu acho que algumas coisas são melhores de noite.

—Ah, era encantador! – Assegurei. – O mar refletia as estrelas, fazendo parecer que existiam dois céus. E o castelo da Rainha que disse antes, parecia ter luz própria por causa da lua. Também apareciam uns vagalumes, mas não era sempre, que deixavam tudo mais mágico, sabe?

  Ela assentiu, os olhos quase se fechando.

—Um dia eu gostaria de ir lá.

—Eu teria o maior prazer e leva-la.

  Ela sorriu fraco, fechando os olhos e se entregando ao sono. E eu não pude deixar de admirá-la, o semblante angelical calmo como raramente estava.

  Todavia isto não durou. Quase uma hora depois, quando começava a considerar pedir que trouxessem nosso almoço no quarto, Swan começou a ficar agitada. Remexia-se toda hora, a expressão num misto de medo e confusão. Ás vezes chamava pela mãe, baixinho, ou pedia por ajuda.

  Ao ouvi-la tão agoniada, não fui capaz de pensar direito e fiz o primeiro que me veio em mente: abracei-a com cuidado e sussurrei-lhe palavras carinhosas. Porque nada mais me importava. Quem era Milah? O que era o medo de aceitar o que obviamente sentíamos? Nada, diante de Emma e de seu bem-estar.

—Killy? Killy? – Murmurava, preocupada.

—Estou aqui com você, Emm. – Eu dizia em seu ouvido, lhe acariciando os cabelos. – Estou bem aqui, não há o que temer.

—Ele vai me pegar! – Chorava.

—Ninguém vai te pegar, viu? Eu prometo.

 E eu esqueci qualquer intenção minha de manter um pouco distância.

                                   ⚓

  Acordei com duas batidas fortes na porta. Por sorte Emma sequer se mexeu e eu, bem devagar e com cuidado, desvencilhei-me dela, caminhando rápido antes que resolvessem repetir o ato. Era o primeiro sono tranquilo de Swan –  ou quase isso –  em dias, merecia poder dormir até o momento que quisesse sem interrupções.

—Pois não? –  Falei mecanicamente, abrindo a porta.  

  Só quando voltei meu olhar para o sujeito a minha frente é que percebi de quem se tratava. Robin Hood.

  Um arrepio percorreu meu corpo. Sabia que o homem não simpatizava comigo e, sinceramente, não desejava arrumar confusão.

—Boa tarde, Sr. Jones. – Disse meio amargo.

—Já é boa tarde? Céus, parece que perdi um pouco a hora.

  Ele assentiu, de modo inquiridor.

—Vim saber de Emma, ela não apareceu para o almoço. Acabei desconfiando.

  Olhei para trás com a porta um pouco mais aberta, fazendo com que o ladrão me acompanhasse com o olhar.

  Após um suspiro saí do quarto, fechando a porta atrás de mim.

—Swan anda tendo problemas para dormir, estava tentando ajudar.

  Ele meneou a cabeça positivamente.

—Pude perceber, parece que chegou de uma guerra.

—Ah, sim. – Passei a mão pelo cabelo, tentando arrumá-lo. – Pode pedir que tragam algo para Swan comer? Vou acordá-la daqui a pouco.

  Ele fez que sim, adquirindo um semblante preocupado.

—Sei que foi o senhor que fez aquilo á Regina,  – Começou, e o arrependimento imediatamente me encontrou. Eu já havia feito tanta besteira, principalmente depois da morte de Milah, que não sabia se seria possível consertar as coisas. – contudo estou disposto a lhe dar uma segunda chance. Apenas por Emma, vejo o quanto ela o considera. E não deveria, já que fez mal a moça também.

  Mexi a cabeça, fechando os olhos.

—Acho que não devo aceitar, Sr. Hood. Não sou uma pessoa que mereça uma segunda chance. – Admiti.

 Robin negou.

—Regina diz o oposto. E Emma claramente já lhe deu outra chance há tempos. As duas gostam do senhor. E eu não vejo como poderiam estar erradas, sendo mulheres tão inteligentes.

—Não irei aceitar, mesmo assim. Não quero decepcionar mais ninguém.

  Pensei imediatamente em Emma. Se ela tinha me dado outra chance era por acreditar que eu poderia ter me tornado uma pessoa diferente, contudo, eu mesmo não acreditava naquilo.

  Eu queria ser a pessoa que ela merecia ter ao seu lado.

  Será que algum dia eu seria suficiente? Não. Definitivamente não.

  Então ali estava um ótimo motivo para eu desistir de Swan e de qualquer coisa que pudesse ter pensado em ter com ela. Nem amizade, nem um futuro cortejo. E precisaria me lembrar de nunca olhar para seus lábios novamente.

  Era assim que tinha de ser, não? Isso era o certo.

  Mas havia um problema, claro. Eu prometera para Emma que estaria com ela, que a ajudaria com os pesadelos. Acima de tudo, prometera que nunca a deixaria ser infeliz novamente.

  E ela não iria suportar perder outro amigo, quando já perdera a própria mãe.

—O senhor é quem sabe. – Robin quebrou meus pensamentos. –   Já lhe dei outra chance, aceite quando achar melhor.  

  E foi embora.

  Eu voltei para o quarto, sentei no sofá e passei séculos olhando para Emma sem saber o que fazer. Não podia me afastar, na verdade seria incapaz disso. Tinha certeza que nos primeiros dias de separação eu já estaria arrependido. Não duraria sequer uma semana.

  Sem contar que lhe causaria sofrimento e essa possibilidade destruía qualquer intenção que eu tivesse. Se Emma quisesse se afastar, eu iria respeitar. Mas, se não quisesse, não seria eu que o faria.

                                      ⚓

—Eu não vou sair daqui sem eles, Killian! – Milah ralhou. — São meus filhos!

—Com outro homem! – Lembrei-a, amargo.

  Milah sorriu, de modo amável.

—Então o maior capitão desses mares está com ciúmes?

  Bufei, revirando os olhos.

—Não seja tola, claro que não estou com ciúmes!

—Pois para mim está bem óbvio que o senhor andou esquecendo o que sempre lhe digo. – Ela colocou os braços ao redor do meu pescoço. – Eu amo de todo o coração, Killian.  Rumple é passado, mas meus filhos não. E eu preciso deles comigo, entende?

  Afastei-me, tentando esconder a tristeza e a raiva que sentia.

—Eu poderia lhe dar filhos.

—E eu iria amá-los tanto quanto o amo, porém Bae e Neal continuariam sendo meus filhos, amor. E eu não os amaria menos se tivesse outras crianças.

  Assenti. Tinha de admitir que ela estava certa. Só porque minha mãe tinha preferência entre os filhos, não significava que Milah era igual. Claro que não, ela era boa e justa, jamais faria algo parecido.

—Quando fugiu comigo eu prometi que voltaríamos para pegá-los, então, bem, é isso o que vamos fazer.

  Ela abriu um sorriso enorme e me abraçou forte. Tão forte que eu mal conseguia respirar.

—Obrigada, meu amor.

—Não tem que me agradecer. — Garanti. – É o mínimo que eu poderia fazer, minha obrigação. São seus filhos e está certa em quere-los por perto.

  Ela me beijou, e, ao se afastar disse:

—Finalmente terei a família com a qual sempre sonhei.

                                         ⚓

  A carruagem de Elsa era encantadora e extremamente confortável, eu devia confessar. O que não era confortável era o silêncio entre eu e Swan.

  Quando a chamei para comer um lanche – já que 4 da tarde não era hora para almoçar – Emma até conversara comigo, mas muito pouco. Aparentemente voltara a estar incomodada por causa do quase beijo.

  Na verdade ela parecia mais... Envergonhada. Meio tímida, até.

  Não era exatamente ruim, porém eu odiava que estivesse tão distante.

  E eu não iria obriga-la a nada. Estava chateado, principalmente porque achei que estava tudo bem entre nós dois e que o quase beijo não havia afetado em nada nosso relacionamento.

  Bem,  lá estava eu, sem ter dormido a noite, porque ficara remoendo o exato momento em que nossos lábios quase se encontraram. Céus, como aquele quase me doía.

  Ao mesmo tempo desejava nunca ter seguido adiante com aquela ideia.

  Pelo menos Emma dormira bem à noite. Observei-a do sofá – pois ela dissera que não havia necessidade de que eu me deitasse ao seu lado. – tranquila como um bebê.

   Obviamente olhar para Swan o tempo todo piorou minha consciência pesada.

—Acha que já estamos perto? – Perguntou baixinho.

—Não tenho como saber. – Dei de ombros.

  Ela engoliu em seco.

—Killian eu... Queria me desculpar por estar assim. É só que, não sei, acho que fiquei meio confusa. Talvez envergonhada.

  Olhei em seus olhos verdes, porém Emma logo os desviou, corando.

—Não tem que se desculpar. Eu que deveria na verdade. Então, me desculpe por ter tomado uma atitude daquelas sem que você quisesse o mesmo.

  Emma abriu a boca para responder, porém a carruagem parou no mesmo instante e a porta foi aberta pela própria Anna, –  que com certeza mentira para a irmã quando disse estar melhor e pronta para uma viagem como aquela – com o rosto ainda mais pálido que de costume.

—A partir de agora teremos de ir andando.

  Eu e Swan saímos imediatamente e eu não pude deixar de me preocupar quando vi a enorme montanha logo a frente.

—Sinto muito Emma, mas você devia ficar aqui. Killian pode levar o livro. – Elsa recomendou.

  Emma olhou para o pé imobilizado e depois para a trilha cinzenta e irregular.

—É muito longe?

—Cerca de meia hora andando. – Respondeu Kristoff. – Se Sven não tivesse crescido tanto a senhorita poder...

—Eu consigo. – Ela interrompeu.

  Todos olharam para Swan meio preocupados e rezando para que retirasse o que tinha dito.

—Só vou demorar mais tempo.

—Eu disse que devíamos tê-la deixado com Regina. – Murmurou Robin. – As duas são igualmente teimosas.

  Emma o fuzilou com o olhar.

—Eu consigo subir, sério.

—Acho muito arriscado. – Elsa se pronunciou.

—Emm, posso carrega-la até lá. – Sussurrei para que apenas ela pudesse ouvir.

  Mas obtive uma negativa como resposta.

—Não é muito longe e...

—Aquele troço está cheio de pedras deslizando. É difícil para mim, imagine para você que está mancando?

—Eu vou ir, Jones. – Grunhiu.

—Podem ir na frente. – Falei para todos os outros. – Estarei logo atrás com Emma.

  Ninguém estava muito feliz com tal decisão. Nem mesmo Swan, que aparentemente não queria minha ajuda – nem a de ninguém.

  Ainda assim seguimos todos pela pequena trilha, guiados por Elsa e Kristoff, que já conheciam o lugar.

  Anna logo se cansou e era evidente que estava péssima, ainda assim não estava tão atrapalhada quando a amiga. Emma mal conseguia dar dois passos sem praguejar ou quase cair, e foram incontáveis as vezes que tive de segurá-la ou apoiá-la – contra a sua vontade – para que não se machucasse ainda mais.

—Jones, me deixe, por favor! – Guinchou.

—Para cair e morrer?! Não, obrigado!

  Emma urrou, e eu sabia que se fosse possível teria saído de perto de mim batendo os pés.

—Eu agradeceria se as donzelas parassem de piorar minha dor de cabeça. – Reclamou Anna, cruzando os braços por causa do frio.

  Nós dois ficamos quietos. O que não significava que estávamos calmos. Na verdade eu continuava tentando ajudar a loira, enquanto ela me dava tapinhas malcriados toda vez que o fazia.

  Quando finalmente chegamos tive vontade de me jogar de lá de cima. Não que estivéssemos muito longe do chão, mas era o suficiente para morrer.

  O lugar era, simplesmente, um amontoado de pedras. Todas elas estavam cobertas de musgo, o que até as deixava mais bonitas, contudo me perguntava onde estavam os Trolls.

—Estamos no lugar certo? – Emma sussurrou, abraçando a capa com força.

  O vento era bem mais gelado ali.

—Espero que sim.

—Elsa? – Anna chamou. – Vocês dois não erraram o caminho, erraram?

  Kristoff riu, aproximando-se dela.

—Espere só um segundo. – Disse.

  E nós esperamos bem menos, já que as pedras começaram a rolar e... se levantar?

  As reações foram engraçadas, devo admitir.

  Emma deu um gritinho e se agarrou em mim logo depois que quase pulei e deixei meus pensamentos meio grosseiros saírem em forma de palavras.

   Robin praguejou alto e levou um beliscão de Elsa.

  Já Anna fez festa como uma criança de seis anos e Kristoff riu tanto de nós que teve de se sentar no chão.

—Meu Deeeeeeeeeeus! – Anna gritava. – Que bonitinhos, que bonitinhos, que bonitinhos!

—Eu tomei um susto? Acho que não. Você viu alguma coisa, Swan? – Ironizei, brincando.

—Não, senhor. – Ela riu se afastando de mim.

—Veja Anna, esse aqui é Cliff e esta é Bulda. – O loiro apresentava cada um dos Trolls a ruiva, que os cumprimentava animadamente.

  Era algo fofo de se ver. Eu desconfiava que os dois terminariam juntos, aliás.

—Ah, que lindas tranças! – Falava a Troll, que já não era assim tão jovem. – Kristoff, querido, não sabia que estava cortejando uma moça!

  Anna imediatamente corou e Kristoff começou a gaguejar, mas não pude ver como terminou a situação graças a Elsa:

 _Pabbie! – Ela gritou, desviando minha atenção do casal. – Que saudade!

—Ah, menina Elsa! – Um dos maiores Trolls, que carregava cristais amarelos no pescoço, gritou, vindo em sua direção. – É muito bom vê-la! E quem são esses?

—São meus amigos. – Disse, ajoelhada a sua frente. – Emma, Killian, Robin e Kristoff. E esta é minha irmã, Anna.

  A ruiva deu um aceno animado.

—A última vez que a vi você era um pinguinho de gente! – Ele disse para Anna. – Mas imagino que não estão aqui para uma visita, então, como posso ajuda-los?

  Emma caminhou até Elsa com alguma dificuldade, tirando o livro da bolsa que carregava e entregando ao Troll.

—Achamos que isto pode significar alguma coisa.

—Sim. – Concordou a rainha. – Minha história está aí, inclusive.

  O troll olhou para as duas, depois passou a mão pela capa do livro.

  Naquele instante eu tive certeza que ele sabia muito bem do que se tratava.

—Vamos dar um jeito nisto aqui primeiro, Srta. Emma. 

  Então ele passou uma das mãos gordinhas e rochosas sobre o tornozelo de Swan, que foi envolvido por uma delicada luz azul.

  Logo em seguida Emma deu alguns passos sem mancar. Céus, aquele Troll merecia meu respeito!

—Muito obrigada! – Falou um pouco alto, sua voz soando aguda demais.

—Não há de quê, criança. Agora se sente. O que tenho para falar não é fácil.

  E ela obedeceu, com o sorriso desaparecendo rapidamente, como se nunca tivesse existido.

—Muito bem, o senhor pode falar. Estamos todos prontos. – Elsa pediu, segurando as mãos de Swan.

  O ar parecia mais pesado e até os outros Trolls observavam quietos com os olhinhos esbugalhados.

—Terei que lhe dizer pouco, apenas o suficiente, porque grande perigo os aguarda e não poderão demorar aqui. –  Disse isso olhando para cada um de nós, demorando bem mais quando passou por mim. Não me deixou menos assustado, pelo contrário. –  Esse livro não está nas suas mãos atoa, Emma. Se chegou até você tem um motivo.

—Que motivo? – Perguntei.

—Ele é o ingrediente fundamental na luta da sua... hm... amiga.

—Como assim? – Emma indagou, ignorando a forma com a última palavra havia sido pronunciada. – Que luta?

  Pabbie suspirou e entregou o livro para Elsa.

—Seu pai planeja conseguir esse reino a força, já que não foi possível de um modo pacífico.

—Meu pai já tentou...?

—Ah, claro que já. Mas esta história é muito longa e suponho que Belle já tenha lhe contado.

  Ela negou e eu me perguntei como Pabbie sabia o nome da mãe dela.

—Está no livro, querida, claro que ela já contou. Ou não conhece seu próprio conto?

—A salvadora? Eu não sou ela.

  O Troll riu.

—Claro que é, criança. Tudo o que está escrito no livro é verdade, simplesmente porque são histórias reais. Todas já aconteceram. Bom, algumas ainda não.

  Emma perdeu toda a cor, coisa que já havia acontecido com Kristoff e Anna há muito tempo.

  E eu provavelmente já estava transparente.

—Rumple quer tomar não apenas o seu reino, mas todos os outros.

—Meu reino? O que nasci?

—Misthaven. Foi onde a senhorita nasceu.

—Não mesmo. Meus pais sequer possuem ligação com Misthaven.

—Emma, posso lhe adiantar que Belle e Rumple não são seus pais.

   A tensão se instalou no local. Ou talvez tivesse apenas aumentado rápido demais.

—O senhor está me dizendo que esse livro é uma espécie de arma contra meu pai que não é meu pai e... Por favor, me diga que isso é mais um pesadelo.

  Pabbie olhou-a carinhosamente, da mesma forma que um pai faria.

—Sinto muito mesmo, minha cara. Mas, se isso lhe servir como consolo, você possui  poder suficiente para vencer Rumplestiltskin e sua maldição.

  Emma riu.

—Não tenho poder algum, sou só uma menina.

—Uma hora irá perceber que é muito mais. Agora corram, corram! – Nos apressou. – Precisam ir para um lugar seguro, rápido!

  Emma estava assustada, assim como todos nós, então foi preciso que eu a segurasse pelo braço e a lembrasse de descer com calma e cuidado a menos que quisesse torcer o tornozelo outra vez.

  Anna descera agarrada com Kristoff, que passou o caminho todo contando histórias sobre sua infância com os Trolls, tentando acalmar a si mesmo e a ruiva.

  Elsa e Robin permaneceram calados assim como eu e Swan. Todos assustados e com medo demais para sentir qualquer outra coisa. 

  Rumple estava planejando uma maldição. Isso era a cara daquele crápula.

  Todavia a raiva não me deixava menos apreensivo. Sabia que o crocodilo era poderoso o suficiente para tomar o mundo todo pra si.

  Imaginava como devia estar a cabeça de Emma. Acabara de descobrir que a mãe, que tanto amava, havia mentido para ela por toda a sua vida. Que sofrera nas mãos de um homem que a fizera acreditar ser seu pai, quando nem havia tentado ser.

  A maldição podia ser um enorme medo para todos nós, mas a dor de uma vida inteira de sofrimento baseada em mentiras era mil vezes pior.

  Sendo assim, quando encontramos nossas carruagens, sequer chamamos os cocheiros que conversavam entre si debaixo de uma arvore, –  deixamos que Elsa fizesse isto – simplesmente entramos e nos sentamos. Porque respirar parecia mais importante.

—Você está bem? – Perguntei quando a carruagem começou a se mover.

  Emma negou.

—Eu não sei o que pensar.

—Nenhum de nós sabe.

—Não me deixa mais calma, Killy.  – Ela abraçou os joelhos, fechando os olhos com um suspiro. – Tinker disse a mesma coisa.

—O que?

—Que tenho magia.

—Pabbie disse isso?

  Ela assentiu.

—Não dá para vencer Rumple de outra forma.

  Swan estava certa, mas eu não achava que concordar a ajudaria, então a abracei.

  Permanecemos assim por muito tempo. Até que Emma se afastou de modo brusco.

—O que foi? – Perguntei, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

  Sem soltar meu gancho, ela curvou-se até a pequena janela, puxou a cortina bem devagar e espiou discretamente.

—Estamos sendo seguidos. – Choramingou. – Pelo meu pai.

—O que? Você está falando de Rumple?

  Ela assentiu, o queixo enrugando.

—Não, não, não. Escute Emma, isso não é possível. Ele nem sabe onde estamos.

  Ela gemeu, abraçando a si mesma novamente, com uma expressão de dor.

—Eu sei que é ele. – Sussurrou, e então jogou o corpo para frente com um urro.

—Meu Deus! – Gritei alarmado. – Emma, o que foi? Fale comigo!

—Nos tire daqui, Killian, por favor. – Arfou.

  E eu estava prestes a fazer alguma coisa, quando a carruagem parou.

  Emma começou a chorar compulsivamente, murmurando que não queria morrer. Aquilo tudo era demais para ela e não havia muito que eu pudesse fazer.

  Medo era seu ponto fraco. Claro! Rumple sabia disso! Se ela era a única que podia impedi-lo, amedronta-la resolveria tudo!

  Porque o medo era como o fogo: incendiava tudo, e nada que fosse bom restava.

  Puxei-a para trás, fazendo-a deitar no banco.

—Preste atenção, Emma, você não vai morrer, entendeu?

  Ela assentiu, chorando silenciosamente.

—JONES! – Robin gritou abrindo a porta de supetão. – Estamos sendo atacados, me ajude aqui! Emma vá para a carruagem de Elsa, rápido!

  Emma me olhou desesperada.

—Vou leva-la até lá, continue sem mim por uns minutos!

  Ele assentiu e antes que Emma pudesse protestar, peguei-a nos braços e corri para a carruagem de onde Elsa acenava, a única que não tinha sido danificada.

—Cuidado! – Anna gritou, impedindo que uma espada me acertasse. Olhei-a chocado, nunca imaginara Anna lutando com tanta habilidade. – Vá logo!

 Voltei a correr, entrando na carruagem sem nenhuma dificuldade.

  Kristoff estava logo ao lado de Anna, os dois com as costas quase coladas pareciam dividir os homens entre si. E eles não tinham piedade, devo revelar.

  Agora percebia que na verdade Elsa não estava acenando. Estava congelando os soldados de Rumple.

  Não fazia a mínima ideia de onde Robin estava, mas ele não era minha prioridade no momento.

—Não dá para congelar esses idiotas direito daqui! Eu vou ir lá fora, Emma, não pense em sair!

  Eu duvidava que Swan tivesse cogitado aquela possibilidade. Estava mais calma agora, porém não menos amedrontada. Rumple tinha um efeito negativo extremamente grande sobre ela. E não era pra menos.

  Estava prestes a sair para tentar ajudar quando um desgraçado enfiou a cara dentro do local, me perguntava como ele tinha passado por Elsa quando, antes que eu desembainhasse minha espada por completo, o homem atingiu-me em cheio, fazendo Swan gritar.

  Apesar da imensa dor, acertei um chute bem entre suas pernas, o que o afastou e deu a chance de Emma joga-lo para os céus com magia.

  Magia?

—Swan, que diabos foi isso?!

—Eu não sei! – Respondeu, num misto de choro e susto. – Meu Deus, Killian! Você é a droga de um pirata, não podia ser mais rápido na hora de lutar?

—Eu não sou rápido sempre, maldição!

  Emma praguejava e olhava para fora, tentando ver se as coisas estavam melhorando. Percebi que esse não era o caso quando fechou a porta e as cortinas.

—Certo, vai ficar tudo bem, ouviu? – Sussurrou, mais para si mesma que para mim.

  Suas mãos puxaram a espada e a jogaram longe – ou quase isso – e eu não consegui evitar um grito de dor.

—Por favor, aguente firme. – Murmurou colocando as mãos sobre o local ferido.

—Emma, não podemos demorar aqui. Chame Elsa, rápido.

  Ela assentiu, mas antes que pudesse fazer o que havia pedido, Robin apareceu com uma Tinker desesperada.

—NÃO! MAMÃE! MAMÃE, POR FAVOR! – Ela gritava e se debatia, o rosto vermelho e coberto por lágrimas.

  Swan tirou sua capa e pressionou-a sobre meu ferimento, praticamente ignorando o resto do mundo.

—Segure firme. – Disse, com uma força que me transmitiu certa segurança.

  Não parecia mais a menina desesperada de segundos atrás.

—É A MINHA MÃE, ME SOLTE, EU TENHO DE AJUDÁ-LA!

—Você não vai ajudar ninguém nesse estado, menina! – Ralhou Robin, praticamente jogando-a na carruagem.

  Emma segurou a moça antes que abrisse a porta e saísse.

—Tinker pare! – Ordenou e a outra obedeceu prontamente. – Sua mãe vai ficar bem, agora me ajude, por favor, Jones está ferido.

  Em prantos ela inclinou-se sobre mim e analisou a ferida em meu tórax por muito tempo. Tempo demais.

  Ou talvez tivesse demorado segundos, mas eu tinha a impressão de que as coisas se tornavam mais lentas.

—Eu não posso fazer nada.

—O que? Como assim?

  Swan  estava indignada e eu não tinha como fazer muita coisa, o que significava que Tinker podia estar ferrada.

—Eu não vou conseguir ajudar, Emma. Ele precisa de muito mais do que eu posso oferecer.

  Então ela se encolheu no canto da carruagem, como se quisesse sumir.

  Eu ia morrer naquela desgraça, que grande merda!

  A dor gritava em mim, impedindo-me de pensar em qualquer coisa que não fosse ela. Na verdade eu sentia cheiro de dor, ouvia dor e o ar tinha gosto de dor.

  Talvez estivesse sendo um pouco dramático, mas eu tinha o direito, não?

—Killy, olhe para mim. – A voz doce de Emma soou distante e abafada, mas foi o suficiente.  – Isso, muito bem. – Ela sorriu. Um sorriso lindo que eu jamais esquecerei. – Estou aqui com você, já vai passar. Aguente firme. Logo vamos estar em casa.

  Era incrível como ela mentia bem. E mais que isso, era incrível como eu acreditava. Tudo estava tão confuso, as coisas ao redor pareciam girar. O mundo parecia um caleidoscópio.

  Mas quando ela falava, quando me tocava, tudo parecia tão insignificante.

  Emma colocou a mão sobre a minha, pressionando o pano contra o ferimento, numa tentativa quase frustrada de estancar o sangue.

—Anna! –  Gritou, em algum momento. –  Temos de sair daqui, rápido!

  Então ela se debruçou sobre mim e beijou minha testa com ternura. Pôs a mão em minha nuca e começou a brincar com o cabelo negro que me pertencia.

—Já estamos saindo daqui, viu? –  E deitou a cabeça em meu peito por um milésimo de segundo.

  Eu tentava me concentrar nela, no som de sua voz, todavia as coisas pareciam escurecer, e os sons cada vez se distanciavam mais.

—Não, Killy, fique comigo. Fique acordado, certo?

 Tentei responder, mas a voz não saía.

—Shh, não faça esforço. Olhe, se eu cantar para você, acha que ajuda? 

  Duvidava muito, mas assenti ainda assim. Porque se era para partir dessa para a melhor, que fosse ouvindo Emma cantar.

 Ela passou a manga do vestido pelo meu rosto, secando o suor, recostou a cabeça em meu ombro e disse:

—Belle me dizia que essa música afasta o medo. Então, talvez sirva para todos nós.

  E começou a cantarolar baixinho, com uma voz não muito afinada, mas que eu amava.

  A música fora uma excelente ideia, porque apesar de ter me entregado a escuridão assim que a carruagem tornou a parar, fora a voz de Emma que me mantivera parcialmente acordado por todo o caminho.

                                   ⚓


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Notas finais do capítulo

Eu acho que talvez vocês queiram me matar por a) ter demorado dez anos para postar e b) por causa de certos acontecimentos desse cap rsrsrsrsrs

Mas eu demorei porque estava meio que bloqueada e porque eu sempre demoro mais nos caps do Killian vfbhdbh Ainda tenho que melhorar muito nos povs dele, mas tenho que me lembrar que já melhorei um bocado :p Enfim, A FIC JÁ FEZ UM ANO MEUS QUERIDOOOOOOS!

ISSO MESMO! Dia 25 vcs completaram um ano de trouxismo esperando pelo kiss desse enrolões vhfbhd D E S C U L P A!

Sério, eu não tinha me dado conta que já fazia tudo isso, scrr, sou uma pessoa horrível aaaaaa

De qualquer forma, como eu já disse para algumas pessoas que quase me mataram depois do último capítulo, você não serão trouxas por mais muito tempo...

Tchauzinho, gente, espero conseguir voltar logo, mesmo que as provas estejam batendo a porta :/



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