A colecionadora de cicatrizes escrita por Triz Quintal Dos Anjos


Capítulo 25
Pequena vida escura.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: Ontem eu terminei o cap e até postei no wattpad, mas aqui não deu tempo pq tive que sair chsbvfkhvbdfv Enfim, trouxe hoje esse cap, como agradecimento por vcs serem toppers ♥



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"Eu tenho tudo o que preciso quando você está comigo

Eu olho à minha volta, e vejo uma vida boa

Estou presa no escuro, mas você é minha lanterna

Você me guia, me guia pela noite"

— Flashlight - Jessie J

                                                       ❤ ❤ ❤

  O cheiro das flores, o sabor do vento, tudo parecia extremamente amargo e eu me sentia como um livro que foi queimado ou um brinquedo quebrado. Corria desesperadamente sem saber para onde ia. Não tinha nenhum local em mente, mas não pretendia ir longe, além dos muros do castelo. Queria ficar sozinha.

  Coisa que não seria possível se Killian continuasse a me perseguir. Contudo eu não parava, apesar de seus gritos esbaforidos e das lágrimas em meu rosto. Não podia voltar para casa, aquele não era meu lugar. Gostava da minha vida atual.

  Caí no chão de modo violento, sentindo meu pé latejar. Assustada, virei de barriga para cima, tentando fugir de Jones, quase que rastejando, porém ele já havia me alcançado.
—Mas que diabos foi isso Swan?! – Ele perguntou rudemente, a expressão se suavizando ao ver que eu havia me machucado. Desviei o olhar. – Por que correu daquele jeito? – Indagou preocupado, abaixando-se á minha frente para analisar meu tornozelo. Não me opus, estava atordoada demais.

   Ele ia me devolver. Depois de tudo o que havíamos passado ele ia me devolver pro meu pai. Eu ia voltar a ter minha vida triste e escura. Eu jamais veria Regina, Anna, Smee ou qualquer um deles.  Não havia esperança para mim, a vida jamais seria de fato boa. Jamais.

—Ei, o que foi? Está doendo tanto assim? – Jones perguntou, parecendo preocupado.
  Voltei meu olhar para ele, tentando controlar minha respiração.
—Eu ouvi a conversa. – Sussurrei enquanto as lágrimas banhavam meu rosto.
—Ah Emma...  – Lamentou com um suspiro.
  Provavelmente ele iria se explicar, mas continuei falando:
—Por favor, não faça isso. – Implorei.- – Eu não quero voltar. Sei que meu pai pode oferecer uma boa quantia, mas não me devolva. 
  Ele sentou-se bem onde estava, claramente confuso. Podia ver o turbilhão que se passava em seu interior.
—Não entendo. Você sempre comenta sobre a vida que tinha, pensei que talvez fosse melhor assim.

—Pensei que fôssemos amigos. – Falei, num fiapo de voz.

  Chorava tanto que fiquei surpresa quando Killian entendeu e respondeu:

—Exatamente por isso. Antes, bem, talvez você fosse minha amiga, mas não era recíproco. Quando enxerguei quem você é, Swan, quando percebi que no fundo gosto sim de você, eu não poderia te manter mais comigo. Te tirei da sua família, pensei que lhe levando de volta estaria reparando o erro.

  Assenti, soluçando.

—Eu não quero voltar! –Exclamei desesperada. – Por favor, me deixe permanecer aqui!

  O capitão estava prestes a dizer algo quando seus olhos recaíram sobre meus braços e a cor de seu rosto pareceu ir sumindo. Em um piscar de olhos ele os virava e observava, passando os dedos por cima das cicatrizes evidentes agora, enquanto eu, apavorada, tentava me esquivar, contudo não havia jeito, ele já tinha visto.

—Por Deus, Emma! O que é isso tudo? Quem fez isso em você? – Perguntou, com raiva, mas não de modo agressivo.

  Ele estava tão perto que podia sentir seu hálito quente de chocolate – que certamente tinha comido no café, afinal o que não faltava em Arendelle era chocolate.

—Eu não quero voltar, não quero, não quero! – Era a única coisa que saía de meus lábios, mesmo que eu quisesse explicar e contar toda a verdade. Não tinha controle sobre mais nada.

—Emma, olhe bem para mim. – Ele segurou meu rosto em suas mãos, obrigando-me a olhá-lo. – Eu já entendi, vou respeitar sua vontade, no entanto preciso que me responda e diga a verdade, tudo bem? – Assenti, devagar tentando me recompor. – Respire fundo e comece quando se sentir pronta.

  Eu obedeci e, assim que ele me soltou novamente, me vi despejando:

—Meu pai fez as cicatrizes. Cada uma delas exceto esta aqui do braço, – Apontei para a mais evidente. – que foi o senhor.

  Se o rosto de Jones já estava branco antes, agora não havia qualquer sinal de cor nele. Talvez fosse algo como “transparente”.

—Seu pai batia em você? – Assenti com a cabeça baixa, ainda chorando. – Isso explica muita coisa. Espere! Ele alguma vez chegou a te forçar a...?

—Não! – Cortei-o, a voz embargada e a visão embaçada. – De modo algum. Nunca chegou a me machucar desse modo.

  Ele meneou a cabeça, como que para se acalmar.

—Swan, sei que não deveria perguntar, então não sinta-se obrigada a responder se não desejar, mas, poderia haver algum motivo para seu pai te querer longe?

  Fiz que sim, engolindo um soluço e fechando os olhos.
—Tinha um garoto, – comecei com a voz trêmula. –  ele trabalhava pro meu pai. Eu sempre o via da janela do meu quarto e pensava "puxa, aquele garoto é diferente.". Um dia nós nos encontramos acidentalmente. Algo diferente aconteceu, não sabíamos como explicar, apenas sentir. Então passamos a nos encontrar sempre que possível, em um lago próximo á minha casa. Nós chamávamos de "o lago das borboletas". –  Dei uma risada sem humor, abrindo os olhos.
—Você se apaixonou por um camponês. Por isso ele te quer longe. – Killian concluiu.

—Não sei se me quer longe exatamente, Killy. Mas cheguei a pensar que iria morrer quando... – O choro cortou minha fala e o medo me invadiu, matando qualquer sentimento que não fosse ruim. – Sabe o garoto? O camponês? – Jones assentiu. – Um dia ele se declarou para mim, disse que me amava, que faria tudo para ficarmos juntos. E eu, tola, acreditei e ainda sugeri que fugíssemos. 
—Céus, Emma. – Killian comentou, num misto de choque e lamentação.
—No dia da fuga eu fui até o lago. Esperei por horas, mas ele não apareceu. Logo os soldados de meu pai me encontraram, me levaram até ele e... – Minha respiração era pesada. – ... só me lembro de estar deitada naquele chão frio, sentindo uma dor insuportável. Tudo era escuro e confuso, eu fechava os olhos rezando para que eles não se abrissem no dia seguinte. A tristeza engolia minha alma e era tão perturbador... – solucei algumas vezes antes de concluir. – ... quando eu conseguia dormir ele estava lá, me prometendo que estaria no lago, então sumia. Eu procurava ele como uma louca, mas então meu pai me encontrava, e tudo que eu sentia, via e ouvia eram as trevas. Foi o pior castigo que ele me deu em toda a minha vida. Minha mãe chorou por semanas achando que eu morreria. E eu estava tão devastada por ter sido abandonada pelo meu grande amor, que pensava que talvez a morte teria sido melhor.  –Foquei meus olhos verdes nos azuis de Killian. – Você já desejou nunca mais despertar? Já se sentiu como se ninguém se importasse com você, como se a sua presença em algum lugar não tivesse a mínima importância? Já sentiu como se sua vida fosse um enorme acúmulo de tristeza e solidão, como se você vivesse no escuro todos os dias? – Killian estava chocado demais para me dar uma resposta, então continuei. – Porque é assim que eu me sinto. Naquela noite, quando finalmente consegui dormir, a escuridão tomou conta de mim, porém, quando acordei ela continuava lá, não me abandonou desde então. Talvez ela seja a única que jamais me abandonará.

  E uma nova onda de tristeza e desespero me invadiu, tão forte quanto a anterior, me fazendo lembrar de todos os momentos ruins pelos quais havia passado. Cada pequena e dolorosa lembrança me abraçando, me algemando, me envenenando. E eu realmente me senti como costumava ser: uma garotinha perdida na escuridão.

—Emma, não fique assim. Você só tem pessoas boas ao seu redor, ninguém aqui vai te abandonar. – A voz do capitão ecoou, soando distante demais, todavia.

  Foi aí que senti o calor de seus braços me envolvendo e suas mãos grandes e ásperas subindo e descendo pelas minhas costas enquanto ele tentava me consolar. E a escuridão, como que por mágica, foi se dissipando e me deixando.

  Abri os olhos, afastando-me dele. Havia luz novamente.

—Tudo bem? – Perguntou-me, calmamente.

—Sim, agora sim.

—Swan, vamos combinar uma coisa, ok? Não quero que tenha medo ou se desespere desta maneira caso Rumple venha busca-la ou algo parecido.

  Neguei.

—Não vou conseguir.

—Vai sim. Não tenha medo dele, Swan, você é tão forte quanto aquele desgraçado. Além de que, enquanto eu estiver aqui, ninguém, nunca mais, te fará infeliz. Eu prometo.

  Eu podia ver a sinceridade no azul de seus olhos e como ele havia sido tocado pela minha história. Eu não sabia exatamente por qual motivo tinha me aberto e contado tanto sobre mim. Agora ele sabia tudo a meu respeito e eu não sabia nada sobre ele.

  Por algum motivo isso não me incomodava. Porque sentia que a verdade devia escapar pelos meus lábios naquela noite, estava escrito, e eu não poderia ter impedido.

  Logo Killian ajudou-me a me erguer, entretanto, quando percebeu que não conseguiria andar sozinha graças ao bendito tombo, tomou-me em seus braços e dirigiu-se á nosso quarto.

—Meu Deus do céu! – Exclamou Elsa assim que nos viu nas escadas, voltando a subir conosco. – Mas o que houve?!

—Emma caiu, acho que torceu o tornozelo. – Jones explicou, enquanto eu apenas me mantive de olhos fechados com a cabeça recostada em seu peito.

—Vou chamar Paula, ela vai dar um jeito nisso em um instante. Com licença.

  Assim que chegamos ao quarto, Killian me colocou na cama e em menos de cinco minutos Elsa voltou com Paula que tratou de me entregar uma compressa gelada para o inchaço, descendo para preparar um chá solicitado por Jones. Ele certamente estava assustado pelo meu recente ataque de nervos e achava que um chá poderia resolvê-lo. Pobre Killian.

—Aqui está, senhora. – Ela entregou-me a pequena bandeja, e eu logo comecei a tomar o líquido fumegante, enquanto a moça imobilizava o local ferido.

—Muito obrigada Paula, se precisarmos de algo, chamaremos. – Disse Elsa, polidamente.

—Paula, será que posso falar com a senhorita por um instante? – Indagou Jones, saindo com a criada.

  Perguntei-me o que poderia ser, mas Elsa perguntou logo em seguida:

—Emma, como isso aconteceu exatamente?

—Eu apenas caí, levei um tombo, sabe? Nada demais, acontece.

  Ela assentiu, desconfiada, e sentou-se na beirada da cama.

—Se quiser me contar algo, estou aqui. Qualquer coisa, viu? Anna gosta de muito de você e, apesar de quase não passarmos tempo juntas, eu também. Estarei aqui para o que der e vier.

  Meu peito se encheu de uma sensação boa e quentinha. Killian tinha razão, estava cercada por pessoas boas. Meu pai era passado e, infelizmente, meus amigos e minha mãe também. Eu devia seguir em frente. Tinha novos amigos, um novo lar.

—Não se preocupe, majestade. Está tudo bem, juro.

—Pode me chamar de Elsa, querida.

  Assenti com um sorrido e, assim que Killian entrou no local novamente, a rainha pediu licença e se retirou.

—Já soube da última? – Ele perguntou divertido e eu ergui uma sobrancelha, ainda tomando o chá. – Bem, outro dia Mike e Smee vieram visitar Regina e, adivinhe só, já são melhores amigos da rainha. Especialmente Mike.

  Sorri comigo mesma. Talvez fosse o momento que Anna disse que chegaria, quando Elsa finalmente encontrasse o amor. Quem sabe? Talvez fosse precipitação minha, afinal nem mesmo vira os dois, mas já torcia pelo casal. Mesmo que só pela amizade.

—O senhor acha que Regina já está pronta para aceitar Henry de volta? – Perguntei, repentinamente.

  Jones pareceu surpreso.

—Ahn, não sei. Robin continua vigiando ela, nem ouso me aproximar, aquele cara não gosta de mim e eu não quero brigar debaixo do teto de uma rainha.

  Ri dele. Lá estava o grande capitão gancho, fugindo de um confronto. Era muita ironia.

—Já conheceu Henry? Digo, de verdade, depois do acontecido?

  Ele negou.

—Robin deu ordens para a moça que está cuidando dele também.

  Revirei os olhos.

—Falarei com ele amanhã. O senhor irá amar o menino, é uma gracinha, parece um anjo.

  Ele assentiu, contudo não estava muito certo da minha opinião.

—Terminou? – Perguntou apontando a xícara, a qual eu prontamente o entreguei numa resposta positiva. – Acho que você deveria dormir um pouco, foi um dia cansativo. Tanto física como emocionalmente.

  Meneei a cabeça, sentindo todos os meus músculos doerem e o cansaço se fazer presente.

—Boa noite, Killy.

—Boa noite, Emm. Sonhe com esse pirata bonitão. – Brincou, fazendo-me rir.

  Naquela noite sonhei com a noite sem fim, com lágrimas e o frio do inverno interminável. Sonhei também com a luz quente e de um azul cálido de uma estrela, que me abraçava e iluminava cantando a música por mim tão conhecida. Aquela que minha mãe dizia afastar o medo e agora eu sabia que de fato afastava., porque tudo o que morrera em mim, começara a brotar novamente, com tamanha vitalidade e beleza. 

—Você é incrível, Emma Swan. Não acredite quando lhe disserem que és fraca, pois grande calúnia é. Não confie no ódio que pode vir a crescer em seu peito, confie no amor. Esse sim é a magia mais poderosa de todas.  – Disse a voz, um pouco antes de eu me entregar á profundidade do sono.

                                                        

  Acordei com o canto dos pássaros. O cheiro do outono invadindo minhas narinas fez eu me lembrar que logo seria meu aniversário. Talvez esse pudesse ser mais feliz que os outros.

  Sentei-me na cama, coçando os olhos e me espreguiçando. Primeiro pensei que estava sozinha, até olhar para o lado e ver Jones debruçado sobre o peitoril da sacada.

  Sem pensar duas vezes puxei a bengala que alguém havia deixado ao lado de minha cama e caminhei até o local.

—Bom dia, capitão. – Cumprimentei-o assim que apareci ao seu lado.

  O homem olhou-me espantado, como se eu não tivesse feito uma barulheira tentando não encostar o pé no chão.

—Bom dia, Swan.

—Não vai descer pro café? – Questionei, vendo que, assim como eu, ele ainda usava a mesma roupa d dia anterior e tinha os cabelos desarrumados.

  Killian negou.

—Na verdade sim. Só me distraí.

—Pude ver, o senhor está pensativo aí.

  Ele riu, mas tive certeza de que era apenas para fechar o assunto.

—Então... No que tano pensa?

  Ele cravou os orbes azuis em mim e um longo silencio se estendeu entre nós. Não era exatamente incomodo, parecia mais necessário, como se nós dois precisássemos dele para seguir adiante com a conversa.

—É só que... – Ele bufou, desviando o olhar novamente. – O que você me contou ontem. É muita informação para absorver. Até um tempo atrás eu acreditava que você era a pequena Rumple e, de repente, descubro tudo isso. Difícil de acreditar que ele tenha tido coragem de fazer algo assim com alguém como você.

  Suspirei, dando de ombros.

—Coisas ruins acontecem com todo mundo, até com os que são bons. E o senhor mesmo já me fez mal, caso não se lembre.

  A culpa recaiu sobre suas feições.

—Me perdoe por tudo o que fiz, Emma. Agora vejo que estava cego, só pensando em minha vingança.

—Vingança?

—Prefiro não falar sobre.

  Assenti.

—De qualquer modo, está perdoado. Vejo que está mudado, tentando ser alguém melhor.

—E espero que eu consiga. Quero resgatar o homem que um dia fui, e que se perdeu por essa imensidão confusa da vida.

  Estava prestes a dar continuidade ao assunto, todavia três delicadas batidas na porta soaram, revelando uma jovem loira usando o mesmo uniforme azul gelo e branco neve que todas as funcionárias do castelo usavam.

—Sr. e Sra Jones, bom dia! – Sua voz soou, como um eco repetiu-se diversas vezes até que eu compreendesse o que estava sendo dito.

  E então seus olhos bateram nos meus, parecendo orgulhosos, medrosos e determinados. Apesar dos traços mudados, céus, é ela.

—Tinker?! – Perguntei pasma.

  E a garota assentiu.

                                                                 


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Notas finais do capítulo

O que vcs acharam? Emma descobrindo que Tinker is back :v O que será que vai dar? Treta? Veremos hvdhkbdvb
E esses dois, hein? Killian e Emms super fofuchos muahahahahahhaha Podia ter tido beijo, mas eles disseram que não tava na hora, sorry galerou bnbj
ATÉ SÁBADO QUE VEM!



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