Pov Peeta.

— Soldado Hawthorne? – Ouço o rádio na vestimenta de Gale soar a voz de um soldado.

— Na escuta. – Gale responde.

— Encontramos uma movimentação.  – Ele fala e eu me coloco à espreita.

— Quais as coordenadas? – Gale pergunta pegando a bussola.

— Latitude: —18.5794, Longitude: —46.5184, 18° 34′ 46″ Sul, 46° 31′ 6″ Oeste – O soldado fala.

— Por aqui. – Gale aponta e logo estamos correndo na direção que Gale vai.

Não é perto de onde estávamos, por isso, as coordenadas mudam de acordo com o que vamos nos movendo. Porém, quando finalmente estamos de frente para a movimentação tudo o que vemos é um servo comendo grama despreocupadamente.

— Um servo? – Haymitch pergunta. — Estou velho demais para ficar correndo esse tanto para ver um servo comendo.

— Alarme falso. – Gale fala no rádio. — Era apenas um maldito servo! Observem melhor antes de falarem. Podemos estar mais longe do paradeiro de Katniss agora. – Ele fala. Saio de perto deles, iluminando com o caminho com a lanterna.

— Ou não. — Digo, olhando para os sapatos bonitos que Johanna escolheu para suas madrinhas. — Vejam isso!

— Os sapatos da docinho. – Haymitch fala.

— Achamos uma pista. – Gale fala no rádio. — É bom mapearmos os arredores, Katniss pode estar por perto, ou ao menos, seu sequestrador.

— Será que ela conseguiu fugir dele? – Pergunto, com um misto de esperança e desespero crescendo no peito. — Ou será que isso caiu enquanto Ramon estava levando ela para algum lugar?

— Katniss é esperta, Peeta. – Gale coloca sua mão em meu ombro. — Com certeza deve ter escapado.

— E se tiver, aonde ela está agora? – Falo. — Está escuro, ela pode estar ferida e...

— Ela é Katniss Everdeen Mellark. – Haymitch revira os olhos. — Tenham dó. Aquela menina é invencível.

— Sem dúvidas estamos perto de onde Katniss está ou estava. – Gale guarda o rádio. — Mas não vamos achar nenhum esconderijo nessa escuridão e precisamos nos recompor.

— Não podemos parar agora, ela pode estar em perigo. Mesmo se tiver fugido, ele pode estará trás dela e pode acha-la antes de nós. – Digo em desespero. Não podemos parar agora, de jeito nenhum.

— Peeta – Haymitch pega em meus ombros. — Não vamos conseguir achar ela agora. Olha como está escuro. Precisamos parar, nos alimentar e descansar um pouco, assim que o sol começar a clarear o céu, nós levantamos e voltamos a procurar pela docinho.

— Eu não sei. – Balanço a cabaça em negação.

— Vamos garoto. Confie em mim. – Ele olha em meus olhos.

— Tudo bem. – Me dou por vencido. — Mas assim que o dia clarear, nós vamos atrás dela.

— Não precisa nem falar. – Ele dá um sorriso orgulhoso e um tapinha em meu rosto saindo de perto de mim em seguida.

— Estamos perto. – Gale sorri fraco e sai logo depois.

Sim, estamos perto. Mas a questão é: “O quão perto estamos? Estamos perto o suficiente?”. E incrivelmente, eu penso que a resposta é “Não”.

*-*

Estamos andando novamente, a noite passou incrivelmente rápido, e precisamos ser ainda mais rápidos, se quisermos achar Katniss com vida. Estamos em mais pessoas agora também, todos bem armados e equipados para qualquer situação que encontrarmos. Meu coração está batendo muito rápido desde que começamos a andar, a adrenalina está tomando espaço e eu sinto que vamos encontrar o lugar onde ela estava ou está em breve.

— AQUI! – Um oficial grita e todos corremos em direção à ele, assim que eu me aproximo, vejo uma abertura para uma caverna. Todos os policiais se colocam em posição e Gale está na linha da frente. Eu e Haymitch também estamos armados, por isso, ficamos ao seu lado e assim, invadimos a caverna e para minha surpresa, ou não tanta surpresa assim, ela está vazia. Complemente vazia.

— Droga! – Gale diz.

— Olha isso. – Haymitch nos mostra uma cadeira e cordas, existe gotas de sangue no chão também.

— Ela deve estar ferida. – Digo, sinto aquele desespero voltando novamente. Ela está em perigo.

— Ou talvez ele esteja. – Gale fala. — Ela é esperta Peeta.

— Sim, ela é. Mas é menos forte, e deve estar fraca. – Digo.

— Vamos continuar procurando. – Haymitch fala.

— Sim, vamos lá. – Digo, olhando tudo pela última vez antes de sair da caverna.

Pov Katniss.

Coloco a mão sobre o ferimento tentando fazer o sangue estancar. Mas é inútil, eu nunca fui boa com enfermagem nem medicina, e eu estou com a leve sensação de que vou morrer. E minha cabeça está doendo, e eu estou quase sentando nesse chão e chorando. Mas não posso parar, e nem vou. Ninguém garante que Ramon não está atrás de mim agora, e eu claramente estou em desvantagem. Sinto o ferimento arder, isso deve estar péssimo mas eu nem sequer tenho tempo de dar uma olhada nele, sinto o pano do vestido grudar na pele da minha barriga, eu estou perdendo muito sangue e nem faço ideia de onde estou. Meus pés falham, e eu caio de joelhos no chão, deixo meu corpo tombar para o lado e me sento no chão. Olho o vestido azul manchado de sangue e rasgo um pedaço da barra para limpar melhor a área. Arranco o pedaço do vestido que havia sido rasgado na hora que eu me feri e joguei ele no chão. Colocando o pedaço limpo no lugar e pressionando. Olhei ao redor, mas minha visão estava embaçada e eu estava tonta. Levei minha mão à testa sentindo-a dolorida, e minha cabeça automaticamente voltou a doer. Eu não estava aguentando mais, eu estava muito fraca, tudo o que eu quero é um lugar para deitar e dormir. Meu corpo tomba para trás, sei que estou cometendo um erro, talvez Ramon me ache aqui. Mas, sinceramente, eu não ligo. Fecho os olhos com força e deixo o cansaço e a fraqueza me domar.

Pov Peeta.

— Estamos andando há horas, e nada. – Haymitch reclama.

— Não vamos acha-los tão facilmente, se é o que está pensando. – Gale fala andando na frente.

— Estou ficando mais preocupado. – Digo. — Precisamos achar ela logo.

— E nós vamos. – Gale fala.

“Nós vamos”, é isso que eu penso, um ótimo pensamento otimista, mas já passamos do meio dia, provavelmente, posso ver isso pela altura do sol, e não temos nenhuma pista a mais de Katniss, o que me deixa bem desesperado. Ainda mais saber que Ramon pode estar com ela. Penso em como me deixei confiar tão fácil nele, afinal, ele parecia ser um bom rapaz, mas aí está o problema, todos parecem ser bons até mostrarem o contrario, no final, tudo se trata de você confiar nas pessoas ou não, talvez se eu fosse um pouco mais como Katniss nada disso estaria acontecendo, mas não, eu tenho que ser assim, tão ingênuo e idiota.

Chuto um galho que estava a minha frente longe, atraindo a atenção de Haymitch e Gale.

— Não é nada. – Dou de ombros.

— Descansar. – Um sargento fala.

Ótimo, se continuarmos parando assim vamos achar Katniss é nunca mesmo. Tenho que dar razão ao Haymitch as vezes, mesmo odiando isso.

Pov. Katniss.

Sinto algo mexer em meus cabelos, depois em meu braço e por último tentar puxar o meu vestido. Eu estou fraca, mas meu cérebro insiste em querer acordar e ver quem está mexendo comigo. Um súbito desespero me ataca ao pensar que pode ser Ramon e eu abro os olhos abruptamente. Minha visão está embaçada, então eu juro que vejo um vulto amarelado ao meu lado. Mas não é nada garantido. Fecho os olhos de novo, espero alguns segundos e então os abro novamente, minha visão está bem melhor, mas o vulto sumiu da minha frente, passo a língua sobre os lábios, estou com sede. Muita sede. Preciso levantar e sair daqui, mas ainda não sinto que tenho forças. Sinto algo lamber o meu braço, olho para o lado, mas não acredito.

— Buttercup? – Minha voz sai fina e falha, mas o gato entende bem, já que me olha com seus grandes olhos alaranjados. — O que você faz aqui?

Ele continua me olhando, e então, garra suas unhas em meu vestido e puxa, como se pedisse para que eu me levantasse. Sento no chão com dificuldade e coloco a mão sobre o pedaço de vestido encima do ferimento, está encharcado de sangue, retiro ele e rasgo outra parte limpa do meu vestido, colocando por cima e pressionando novamente. Buttercup continua me olhando, com os olhos baixos, como se pedisse para que eu me levantasse, e assim eu o faço, ou tento. Mas no fim, consigo ficar de pé.

Começo a andar com passos lentos e vacilantes, o gato vai na minha frente, como se quisesse me guiar para algum lugar, e eu não questiono muito, apenas o sigo, quão louca eu posso ter ficado? Mas bom, é o Buttercup, espero que ele esteja ao menos me levando para um lugar tranquilo onde eu possa morrer em paz.

Andamos, andamos e andamos, eu devo estar muito louca para estar indo para algum lugar que Buttercup está me levando, mas de qualquer forma eu ia estar andando sozinha por aí, então não faz muita diferença, sozinha ou com ele, não faço ideia de onde estou indo. O sangue continua saindo pela ferida causada pelo meu tombo, e isso me deixa cada vez mais fraca, estou andando inclinada para frente e meus pés quase não saem do chão, de forma que estou quase arrastando. Eu preciso achar uma forma de sair daqui logo, encontrar o caminho de casa e ir para um hospital.

Olho para o céu, o sol está quase se pondo e tudo está escurecendo levemente, preciso achar um abrigo para passar a noite, estou cansada e com sede, mas não sinto fome, o que só torna tudo pior. Também não vejo nenhuma arvore frutífera por aqui, então não ajuda muito. E de repente, tudo está escuro, o sol já foi embora, e eu não vejo muita coisa na minha frente, paro de andar por alguns minutos, mas sinto Buttercup passar entre minhas pernas, como se dissesse para eu seguir em frente, sinto algo quente subir por minha garganta e vomito um pouco, como se eu tivesse algo para vomitar, só espero não ser sangue.

Forço minhas pernas a andarem um pouco mais, ainda não achei nenhuma caverna onde eu possa me esconder e..., fogueira? Fecho os olhos e abro novamente, eu só posso estar vendo uma miragem, ou não, é mesmo uma fogueira. Ando mais devagar, me aproximando do local. E então, eu vejo alguns soldados em volta de uma fogueira, mas é uma cabeleira loira sentada na pedra ao lado de uma arvore que chama minha atenção.

— Peeta? – Chamo, mas minha voz não passa de um sussurro. Todo o meu corpo pesa, e eu sinto que vou cair a qualquer momento. Buttercup passa por mim e se aproxima do loiro.

— Buttercup? – Ouço a voz de Peeta chamar o gato, ele está surpreso.

— Peeta! – Chamo um pouco mais alto, ele olha em minha direção, e toda sua feição se ilumina.

— Katniss? – Ele corre na minha direção. Dou um meio sorriso, eu achei ele. Graças a Deus. — Katniss. – Quando ele já está perto o suficiente, eu me deixo cair em seus braços. Sinto algo escorrer de minha boca. — Gale, Haymitch, me ajudem aqui, ela está sangrando. – Ele me pega em seus braços e eu deixo minha cabeça descansar em seu peito. Eu poderia morrer aqui e agora, e talvez eu morra mesmo, não poderia haver lugar melhor no mundo do que nos braços de Peeta Mellark, então, eu poderia morrer, mas apesar de estar fraca e com a morte cuspindo seu poder em minha cara, eu me sinto completamente protegida e salva. Então, eu sei que de certa forma, tudo vai ficar bem.

— Katniss? – Peeta me chama assim que me deita sobre uma lona. — Você vai ficar bem, está me ouvindo? Nós vamos ficar bem. – Ele acaricia meu rosto e beija minha testa.

— Não a deixe dormir, ela não pode dormir agora. – O soldado fala com Peeta. Mas eu me sinto tão cansada, minhas pálpebras pesam muito.

— Amor? – Peeta chama. — Katniss, você não pode dormir, ouviu ele? Não pode. – A imagem de Peeta vai ficando borrada, e eu tento manter meus olhos abertos, mas é como se uma força sobrenatural os fizesse fechar. — Katniss, fica comigo.

Meu cérebro se ilumina levemente.

— Sempre. – Sussurro, antes de tudo se apagar.

*-*

 Sinto minha cabeça doer, abro os olhos levemente para me acostumar com a luz forte, onde eu estou? Olho ao redor e vejo Peeta, ele está segurando minha mão e sua cabeça está baixa e apoiada em meu braço.

— Peeta? – Chamo baixo, mas ele escuta e levanta sua cabeça encarando meus olhos, e os seus estão péssimos, com olheiras e sem brilho.

— Graças a Deus você acordou. – Seus olhos se enchem de lágrimas. — Eu tive tanto medo de perder você.

— Nunca vai me perder. – Murmurei com a voz falha. — Quanto tempo eu dormi?

— Dois dias. – Ele responde e desvia o olhar, como se para sair de uma lembrança ruim. — Você perdeu muito sangue e...

— Acharam o Ramon? – Pergunto preocupada.

— Não, ainda não. – Ele diz. — Mas vão achar em breve, ele não vai escapar assim.

— Tudo bem.

— Eu vou chamar o Doutor, ele disse que queria falar com você quando acordasse. – Ele fala se levantando e indo em direção a porta do quarto.

Ele sai e volta minutos depois com minha mãe e um doutor.

— Como vai Katniss? – O doutor pergunta.

— Estou bem. – Respondo.

— Perfeito. – Ele fala. — Fizemos alguns exames em você. Você sofreu algumas agressões certo? – Ele pergunta.

— Sim, ele me deu alguns tapas, apenas no rosto. – Respondo.

— Senhor Mellark, pode nos dar licença por alguns minutos? – O médico pergunta e Peeta o encara.

— Por que? – Peeta questiona.

— Quero fazer umas perguntas para ela a sós. – Ele fala.

— Vou estar lá fora. – Ele fala me olhando e eu apenas assinto.

— Algum problema doutor? – Pergunto assim que Peeta sai.

— Você sofreu algum tipo de abuso ou algo do gênero? – Ele questiona olhando minha ficha.

— Não, eu fugi antes. – Respondo e vejo o rosto do médico suavizar. — Eu tenho algo grave doutor?

— Então...