Ele a negou, uma, duas, três, tantas foram às vezes. Mas ela não era do tipo que desistia fácil, não podia aceitar um não em resposta. Sabia que no fundo ele também a queria.

Homem sério esse Remo, sério demais para se permitir uma paixão, uma aventura. Será que ele não podia perceber sua vida fugindo pelos dedos enquanto ele se recusava a viver? Ela pensava que poderia sim, ser capaz de cuidar dele, de cada cicatriz, cada arranhão, colaria todos os caquinhos de seu coração e tomaria todos os cuidados necessários para mantê-lo inteiro e bem. Ela o colocaria em um potinho se isso garantisse que ele iria ficar a salvo.

Adorava a forma como as mechas grisalhas começavam a surgir no cabelo dele, os olhos gentis, as palavras cordiais e certeiras, adorava cada parte dele, como ele ainda podia não aceitar isso?

Era noite de reunião da Ordem, já havia uma hora que todos haviam ido embora, exceto ele. Ficara responsável por analisar algumas informações, ela prontamente se ofereceu para ajudar. Eles estavam sentados à mesa na pequena cozinha da casa dela, ele lia alguns pergaminhos, o semblante extremamente sério e concentrado. Alguns arranhões deixavam suas bochechas pálidas com tons de rosa. Ela suspirou pesarosa imaginando que a qualquer instante ele iria a encarar e beijar, tocar, notar todas as suas intenções. A cada dia era mais difícil se manter distante.

− Ninfadora, você precisa de algo? – Ele disse baixando o documento e a encarando.

− Não. Me. Chame. Assim. – Ela disse pausadamente enquanto seus cabelos mudavam de um tom rosa para roxo.

Ele deu um pequeno risinho, o que era incomum de se presenciar.

− Você podia sorrir mais vezes, não me incomodaria. – Ela disse esperançosa.

− Tenho tido poucos motivos para sorrir. – Ele disse tornando a ficar sério outra vez.

− Deixe de bobagens, tem motivos mais do que suficientes para ficar alegre. Não seja rabugento.

− Como um velho? – Ele a questionou, ignorando toda a conversa sobre alegria.

− Não sei, eu até que gosto de velhos. – Deu uma delicada piscadela para ele, que corou e tornou a se concentrar no pergaminho.

Ela esperou alguns instantes para que ele a notasse novamente, mas sem resposta. Levantou-se da mesa em silêncio e deu a volta parando atrás da figura de Remo Lupin. Esperou até ter certeza de que ele estava mesmo distraído.

Com as mãos ágeis tratou de tapar os olhos dele, enquanto sussurrou em seu ouvido. Remo assustou-se com a súbita proximidade de Tonks, vulnerável.

− Eu tenho trabalho muito a minha imaginação. Você iria se surpreender com as coisas que posso imaginar.

− Você deveria parar. – Ele chateou-se.

− Eu ainda nem comecei... – Deixou as palavras morrerem na boca quando sentiu as mãos grandes e fortes dele segurando as suas e forçando-as a destapar os olhos dele.

Levantou e girou o corpo de maneira a encurralar contra a mesa, a seriedade sem abandonar seu rosto por um segundo sequer.

− O que você tem? Por que não entende? – Ele suplicou a encarando nos olhos.

− Eu tenho algumas más intenções, não sou criança, sei no que estou me metendo, por que você não entende? – Ela rebateu sem quebrar o contato visual, suas mãos ainda presas à dele.

− Você me tortura, eu  não posso.

− Isso não é segredo, não negue, está entre nós, só me deixe guiar você.

Suas mãos frouxaram o aperto que a segurava, ela levantou as mãos, os dedos gelados tocaram seu rosto, fizeram o contorno dos lábios dele. Lupin fechou os olhos ao sentir seu toque. Suspirou cansado, e abriu os olhos.

− É perigoso.

− Não.

− Poderia machucar você.

− Não vai.

− Você não tem como saber.

− Eu sei. Não vai me machucar, nunca.

− Sou velho demais, está perdendo seu tempo comigo.

− Tempo é relativo.

− Ninfadora...

Os cabelos dela tingiram tons escarlates ao ouvir o nome que ela tanto detestava. Cansou de ser paciente e aproximou-se dele, perigosamente. Não pensou antes de agir, e antes que fosse tarde demais ela colou seus lábios ao dele, suas mãos tremiam de nervosismo, as borboletas em seu estômago faziam acrobacias. Sentiu-se como se estivesse em um vôo descontrolado de vassoura.

Segundo, minutos, séculos, ela não saberia dizer a medida de tempo que se passou enquanto estava ali nos braços dele, um beijo eterno, câmera lenta e coração disparado. Ele afastou-se dela quando o ar lhe faltou, recuou um passo atrás.

− Ainda consegue negar de alguma forma? – Ela perguntou fazendo-o o recuar ainda mais.

− Sabe ás vezes também as tenho. – Ele disse enquanto caminhava até a porta que dava para o quintal da casa.

− O que? – Ela perguntou chamando sua atenção.

Ele parou segurando a maçaneta e antes de sair pela porta, a encarou demoradamente antes de dizer:

− As más intenções, com você. – Dito isso ele se foi, deixando uma Tonks sorridente e confusa para trás. Remo Lupin podia ser difícil de convencer, mas ela era persistente e lutaria até o fim para viver esse amor. Não havia nada que pudesse a separar dele, até o fim, nada.