Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 6
6




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MURILO

“Ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança é preciso mudar.”

— Como assim um quiz? — Perguntou Murilo com o pé atrás. O garoto era meio atrasado para tudo do mundo atual dos jovens. Nunca foi de ter amigos e isso sempre dificultou sua maneira de socializar com as outras pessoas.

— Você já brincou de verdade ou desafio? — Perguntou Tomaz encarando Murilo e sem retirar as mãos das coxas do rapaz.

Murilo balançou a cabeça afirmativamente mentindo. Ele nunca havia brincado, mas sabia do que se tratava o jogo.

— Então é basicamente isso, só que sem os desafios, vai ser mais um: verdade e verdade, nós vamos comentar sobre nossas vidas, vamos nos conhecer, fazer essas coisas que amigos fazem. Nós precisamos saber um do outro para nossos laços ficarem mais unidos e não parecer que somos dois estranhos. Entende?

Murilo balançou a cabeça em afirmativa.

— Esta sendo fácil enganar meus pais, mas enganar os meus amigos vai ser bem mais difícil. Eles são mais espertos e sabem muito mais sobre o Rafael. Então nós precisamos estar unidos para driblar tudo isso. — Falou o garoto ajoelhado e apertou a coxa de Murilo sem força.

Murilo por sua vez encolheu o corpo e tentou se levantar.

— Eu preciso tomar um banho antes, me sentir mais limpo. Eu estava naquele chão sujo da rodoviária. Queria poder tomar um banho, trocar de roupa e então conversamos o que acha? — Murilo falou baixo tentando convencer o colega em sua frente a se levantar.

— Mas é claro estou totalmente de acordo. Acho válido, enquanto você toma banho eu vou lá à sala sondar minha família. — Tomaz gargalhou e se levantou do chão. Arrumou a calça que estava caindo e mostrando o cós de sua cueca.

Murilo desviou o olhar e fitou o quarto. “Uma cama de casal.” Pensou o garoto. “Isso quer dizer que...”.

— Onde é que eu vou dormir? — Ele perguntou sério e aflito.

Tomaz sorriu debochado e apontou para a própria cama. O garoto pareceu estar se divertindo com a carranca conturbada e confusa que o amigo fez.

— Antes eu tinha uma cama de solteiro, mas meus pais insistiram para que colocar uma de casal aqui no quarto. Eles acharam que o Rafael ficaria mais confortável dormindo comigo que num quarto de hóspedes. Eles são tão liberais, né? Às vezes isso me irrita. — Tomaz falou rindo e passando a mãos nos cabelos novamente.

Murilo não deixou de notar que o amigo estava sempre fazendo aquilo. Era uma mania então.

— Eu entendi então tudo bem, né? Não tem problema. — Ele disse baixo e sem graça ao pensar que teria que dormir na mesma cama junto a uma pessoa que havia acabado de conhecer.

Tomaz gargalhou novamente vendo o amigo constrangido, porém preferiu apenas dar espaço.

— O banheiro fica atrás daquela porta! — Ele indicou uma porta marrom escura no canto do quarto e olhou de volta para Murilo. — Lá na gaveta esquerda embaixo da pia, tem tudo que você vai precisar, mas se quiser usar suas próprias coisas fique a vontade. Eu vou deixa-lo um pouco sozinho, você está ficando verde e parece querer desmaiar.

O garoto riu e saiu do quarto.

Murilo sentou-se na cama e inclinou o corpo para frente colocando a cabeça entre as pernas. Ele parecia mesmo querer vomitar. O garoto passou a respirar profundamente e lentamente. Estava sentindo-se sobrecarregado eram informações demais para um dia só, ele não estava conseguindo lidar com tudo aquilo. Primeiro tomou um fora do namorado, o cara que ele amou por um ano inteiro. O cara que ele esperou para estar nos braços por cada maldito dia horrível que teve no último ano, e então o imbecil apenas foi embora. Ele não aguentou e deitou-se na cama de costa, olhou o teto e passou a chorar. Murilo virou de lado e se encolheu em posição fetal abraçando as próprias pernas. Ele precisava aliviar. Murilo naquele momento sentiu-se como o fracassado que todos o julgaram todos esses anos da sua vida. O que ele estava pensando? Acreditou mesmo que um cara bonito como Daniel fosse dar bola para ele na realidade?

Como você é idiota, Murilo ficou cego de amores e realmente acreditou que alguém fosse capaz de te amar além do mundo virtual. Você é mesmo um fracasso, a bichinha fracassada que todos dizem que você é!” Ele gritou para si mesmo em pensamento. Abraçou um dos travesseiros que estavam sobre a cama, mas logo o colocou em seu rosto, tentando abafar seus soluços. “E agora? O que você está fazendo? Está se passando por outra pessoa só para não voltar para casa e encarar seus problemas? Você é só um derrotado, Murilo. A porra de um derrotado.”

 

 

TOMAZ

“Vai dar certo. Eu sei que tudo isso vai dar certo, nós só precisamos nos empenhar.”

É nisso que Tomaz está pensando enquanto desce as escadas e encontra sua família esparramada pelos sofás da sala de estar, é um momento realmente histórico. Nunca viu a família toda reunida naquela sala assistindo a comédias românticas. Ele ri e caminhava até um lugar vago do sofá entre sua irmã e uma de suas sobrinhas.

— Ué, mas cadê o Rafael? — Pergunta Joyce que levava uma das mãos até o braço do irmão e acaricia de leve.

— Ele resolveu tomar um banho. Está cansado da viagem! — Tomaz diz baixo para não atrapalhar o filme que os outros estão vendo.

— Ele é meio esquisitão, não é? — A irmã mais velha de Tomaz diz rindo. — Sem ofensas é claro. Mas o garoto é meio disperso, parece estar no mundo da lua. Aquela hora que a mãe ficou chamando ele e ele não respondia nada, eu senti vontade de rir.

Tomaz faz uma carranca e se sente incomodado com o comentário da irmã.

— Ele apenas está tímido. Ele não se adaptou a toda essa nossa vida. Lá no Rio é somente ele e a mãe. Não deve estar habituado a ter uma família inteira reunida à mesa para um almoço e se sentiu deslocado, dá um desconto pra o cara, o Muri... Rafael é super gente fina. Você vai gostar dele se deixar ele te conhecer. — Ele argumenta enquanto olha para a irmã.

Ela sente-se confusa e apenas sorri.

— Cadê o menino? Você o largou sozinho no quarto? Que coisa mais feia, pudim. Você deveria estar com ele agora mesmo. É a primeira vez que vocês se veem, o que foi? Não gostou tanto dele por fora das telas da internet? — Pergunta o pai meio sério.

Telas da internet, como o senhor está integrado ao mundo virtual paizinho. Pensa Tomaz e faz uma cara de desgosto. Ele encara o pai e está preparando seu discurso quando a fala de sua mãe o assusta.

— Pois eu acho ótimo, pra ser sincera filho. Eu não gostei muito dele não. Ele é meio estranho e mal educado, que coisa horrível me deixar falando sozinha. — Marta fala e franze a testa. — Eu achei muito deselegante. E que história é essa dele ter acabado o fundamental agora? É repetente? Você não disse que ele era mais velho que você?

Porra. Estou fodido. Ele sorri sem graça e encara a mãe.

— Eu apenas me enganei, mãe. Ele queria parecer mais interessante e inventou essa pequena mentirinha, nada demais. — Ele comete seu maior erro.

— Vou te falar viu, um relacionamento que começa com mentiras não vai dar certo mesmo. — A mulher fala séria.

— Não liga pra isso, a mamãe só é implicante mesmo. — Fala Joyce encarando o irmão sem graça.

— Você gostou mesmo desse menino? Porque se não tiver gostado seria uma ótima ideia você manda-lo embora. — A mulher diz fazendo uma cara de nojo e então vira a cabeça para a televisão novamente. — Pense nisso.

— Eu vou pensar, se me deram licença eu vou voltar pro quarto o clima aqui tá bem diferente de horas antes no almoço. — Tomaz fala triste e levanta.

— Eu não quis ser chata, meu filho. O garoto é legal. É realmente legal. E se você gosta dele eu apoio totalmente. Eu sempre te apoio em tudo, você sabe disso. — A mulher diz tentando consertar seu erro.

— É mãe, apoia sim!

Tomaz sai da sala e resolve ir lá fora fumar. Precisa pensar no que está fazendo, será que o Murilo tinha razão? Esse foi mesmo o meu maior erro? Ele indaga enquanto caminha em direção o jardim da casa. Não, não foi. Estou certo do que fiz. Minha mãe provavelmente diria coisas piores se soubesse que fui chutado por um cara que conheci na internet. Eu só preciso fazer com que ela goste do Murilo. Não do Murilo. Ela tem que gostar do Rafael. Porra, que caralho eu estou fazendo?


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