Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 17
XVII




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MURILO

“Você não sabe como é ruim, desejo pra ninguém, viver nesse calor infernal. E todo mundo te usar, como garoto propagando para todo mal que existe nesse mundo. Será que alguém me entende? Mesmo eu sendo um camundongo em meio de serpentes, ninguém me convidou. Eu quero subir e já chegar chegando à festa dos que já acham que vão subir pro céu, só pra ver geral caindo de tobogã. Você não sabe como é legal viver com sete bilhões de dedos apontados na sua cara. E todo mundo te odiar, em nome do amor. E todo bem que existe nesse mundo. Será que alguém me ouve? Mesmo eu sendo um espantalho dentro dessa creche, ninguém me convidou... Eu quero subir e já chegar chegando à festa dos que já acham que vão subir pro céu, só pra ver geral caindo de tobogã. Eu quero um pouco de atenção, já sofri demais, amassando o pão, nada justifica o ódio. Eu quero subir e arrombar a porta da festa dos que já acham que vão subir pra subir pro céu só pra ver geral caindo... à festa dos que já acham que vão subir pro céu, só pra ver geral caindo...”.

— Eu não entendo qual o problema desses garotos. Eu nunca fiz nada para ninguém, eu ser diferente influência em algo na vida deles? — Perguntou Murilo para mulher a sua frente. O garoto estava na sala da diretora. Era um lugar grande espaço. Ele se sentia sozinho ali dentro. Odiava aquele lugar no início, mas nos últimos meses tinha passado maior parte ali dentro.

— Não, Murilo. Nada justifica essas brincadeiras que seus amigos andam fazendo com você! — A loira disse séria e tocou os cabelos lisos e soltos com as mãos como se não ligasse muito para aquilo.

— Brincadeira? Você acha mesmo que esse ódio gratuito que meus amigos vêm cometendo comigo é uma brincadeira? — Ele perguntou bravo. — Você acha mesmo que ser apontado o tempo todo, que ser xingado de nomes horríveis simplesmente por não gostar das mesmas coisas que ele é uma brincadeira?

— Sim, claro que são brincadeiras. É coisa de adolescente. Nós todos já passamos por isso um dia, qualquer pessoa já passou por isso. — Ela disse ainda mais entediada com aquele assunto.

— Acredita mesmo que estou apenas sendo zoado pelos meus amigos? Ou você não quer fazer o seu trabalho direito por que sabe que vai sobrar pra você? Eu juro Dona Carmem. Eu vou denunciar você e sua escola por negligência. Você vai ter que explicar para a polícia e para o conselho tutelar que meus amigos apenas estavam brincando quando me trancaram no banheiro e tentaram me fazer água da privada só por eu ser uma bichinha. Acho melhor você arrumar seu cabelo de novo para estar bonita quando os policias chegaram. — Ele levantou e começou a caminhar para fora da sala.

— Ei, espere aí mocinho. Não pode me ameaçar e me virar às costas! — A mulher gritou e bateu na mesa.

Ele parou e congelou. Não sabia por que tinha enfrentado a diretora, não sabia por que tinha dito aquelas coisas. Será que poderia voltar atrás? Ele queria voltar atrás? Eram as maiores dúvidas dele no momento. Engoliu em seco e tentou ficar calmo.

 

 

“E nesse silêncio profundo, se esconde a minha vontade de gritar.”

Murilo não conseguia parar de pensar. Faltavam apenas duas semanas para ele ir embora. Apenas duas semanas para as férias acabarem, para ele voltar para o interior e aguardar notícias de Tomaz. Era tudo tão incerto em sua cabeça. Ele não fazia ideia do que iria acontecer depois que saísse pela porta da frente e deixasse de ser Rafael. Eram tantas coisas para ele se preocupar. Já fazia dois dias que Tomaz estava estranho, isso havia acontecido logo depois do garoto ter conversado com o amigo. Ele, Murilo, sabia que tinha algo errado, que tinha algo que Tomaz estava escondendo. “Será que ele preferiu acreditar em alguma versão que o melhor amigo contou?” Não podia ser possível.

Ele sentou-se sobre a cama. Estavam todos reunidos lá embaixo. A sogra estava arrumando tudo para a ceia de natal. “Natal!” Pensou. Esse seria o primeiro natal longe de casa, longe das famílias e sem a comida e as previsões da avó. Aqui era tudo diferente, ele não aguentava mais ouvir aqueles instrumentais de músicas natalinas. Era um porre o gosto musical de sua sogra. Ele pulou da cama e caminhou em passos lentos para o banheiro.

Olhou-se no espelho. O que estava diferente? Por fora quase nada, o cabelo talvez estivesse um pouco maior, mas era só isso. Mas por dentro ele se sentia uma pessoa totalmente diferente. Nunca tinha mentido e agora mentia o tempo todo, nunca havia batido em ninguém e agora batia. Porém sentiu-se bem ao lembrar-se dos tapas que deu no outro garoto. Era a prova real de que estava mudando. Os roxos na cara do garoto era a prova que Murilo estava crescendo, aprendendo a se virar. Talvez não fosse da maneira certa, mas era uma batalha vencida para alguém que sempre abaixou a cabeça.

Olhou de novo para seu reflexo no espelho e sorriu. “Eu posso sair daqui como um mentiroso, mas não como um fracote que se deixa ameaçar.” Ele tocou o próprio coração e sorriu.

— O que está fazendo? — Falou Tomaz. Murilo não se virou, estava vendo o garoto pelo espelho.

— Estou apenas pensando, por quê? — Ele perguntou olhando para o outro pelo espelho. Estava odiando o fato de estarem em atrito nos últimos dias.

— E eu posso saber no que está pensando? — O garoto atrás perguntou baixo e levou a mão ao ombro de Murilo. — Eu vim busca-lo, vamos descer, estão todos lá embaixo preparando a festa de hoje à noite. Minha mãe perguntou por você.

— E perguntou por que mesmo? Para eu dar minha opinião e se eu falar que gostei ela mudar tudo? — Ele perguntou irônico. — Você sabe que a sua mãe não gosta de mim, ela estava esperando um genro rico, que entende de arquitetura e de festas, porém quem chegou fui eu.

— Ei por que está falando assim comigo? — Tomaz falou sério e olhando para o garoto pelo espelho também.

— Eu não tenho nenhum motivo, apenas que você está estranho comigo nos últimos dias. Sequer me tocou desde a conversa com seu amigo. Então sinceramente? Eu estou sendo bem bonzinho. — Ele diz sentindo o coração ficar mais lento, a alegria de poucos segundos antes acabando.

— Eu não estou estranho com você. Eu estou estranho comigo. Estava totalmente seguro do que tínhamos conversado, do que tínhamos combinado, e fui... Eu conversei com o Augusto, e ele negou tudo. E fez um drama do cacete. E sinceramente? Eu fiquei confuso com tudo. Isso não quer dizer que não goste ou não confie em você, mas sei lá cara... Ele tem um pouco de razão nas coisas que disse vocês dois têm. — Tomaz disse baixo.

— Há dois dias na piscina você disse que gostava de mim, acreditou em mim, e agora você está achando que eu inventei tudo isso. O que eu ganharia com isso? — Murilo perguntou virando e tirando a mão do outro do seu braço.

— Eu não disse que você inventou tudo isso. E essa foi à pergunta que ele me fez também. E sinceramente? Nenhum dos dois iria ganhar nada com isso. E é por isso que eu estou tão confuso em relação a toda essa bosta. — Tomaz se afastou um pouco e Murilo ficou o encarando.

— Então você resolveu jogar todas aquelas coisas que dissemos no lixo, só pra se dar ao luxo de ficar confuso e não perder o seu amigo? — Murilo perguntou abraçando o próprio corpo. Sentia que nunca estava tudo certo quando se tratava do que ele e o outro tinham.

— Eu não... Não é isso, cara! — Disse Tomaz caminhando para frente e ficando cara a cara com Murilo. — Eu acredito em você, porém acredito nele também, ele não ganharia nada com isso.

— Ele ganharia o Daniel. Ele acha que se eu estiver fora do caminho, o namorado vai olhar só pra ele. Eu acho que é isso! — Murilo confessa. — Eu não sei e pouco me importa o que ele ganharia. Em duas semanas essa farsa vai acabar e eu vou voltar pra casa e nada disso irá importar mais.

Ele viu que Tomaz não gostou da frase que ele acabou de pronunciar, porém não se importa com isso. É a verdade, ele logo vai embora, logo tudo isso vai acabar e além de que ele quer magoar o outro, assim como ele está magoado. Não está conseguindo lidar com a bagunça que Tomaz é. Num dia eles estão bem, parece apaixonados ele vê um futuro ao lado do outro, porém no dia seguinte, ele sente como se tudo fosse acabar imediatamente.

— Me desculpe Murilo. — Tomaz disse baixo. E Murilo viu o mesmo filme que vinha vivendo há dias. — Eu sei que estive sendo um babaca nos últimos dias e andei realmente distante, porém não é assim que eu quero passar o natal com você. — Tomaz falou baixo e levou a mão ao rosto do outro.

Murilo sentiu e não ligou muito para o gesto. — Já percebeu que é isso que você vem fazendo desde que nos conhecemos? Você erra, faz algo que me magoa e depois pede desculpas, você me beija, nós ficamos bem por um tempo e logo em seguida tem algo para nos afastar de novo. Eu nunca curti as novelas mexicanas do sbt, é drama demais, então você poderia nos poupar disso.

Ele olhou para o amigo que parecia indignado, suas palavras haviam soado feito um soco no nariz. Mas ele não ligou. “Ele escolheu isso, ele escolheu acreditar em mim e depois voltar atrás. Ele está escolhendo brincar de vai e volta.”

— Você está diferente. — Falou Tomaz tirando a mão do rosto de Murilo e trazendo de volta para perto do seu corpo.

“Eu realmente estou diferente, e eu tenho que agradecer a alguém por isso!” Pensou calmo. Ele sabia a quem tinha que agradecer por ser mais forte hoje.

— Eu sei que estou, e me sinto bem com isso. Eu levantei a cabeça. Você não sabe o que é passar o tempo todo de cabeça baixa, ouvindo tudo de todos e não poder fazer nada, sentir medo de fazer algo. Você sempre deve ter sido “o cara” na sua escola e na sua roda de amigos, eu nunca tive amigos e na escola eu era o veadinho que só era maltratado. E eu não quero isso pra mim, não mais. — Ele respirou fundo. — Eu pretendo fazer faculdade aqui em São Paulo no ano que vem, pretendo me mudar, e quero que minha vida seja diferente na faculdade. Eu não quero deixar que todos façam comigo o que julgam certo como se isso não tivesse consequências. Eu não vou mais baixar a cabeça e chorar. Eu sei o que sou e o que quero. Eu realmente beijo garotos. E eu não sinto mais vergonha disso. Eu estou fingindo ser outra pessoa, mas sei quem eu realmente sou. Agora eu sei!

Ele não faz ideia do porque está tendo esse papo todo com o outro. “Eu quero mesmo ir embora? Eu quero mesmo acabar tudo isso antes de começar? Eu posso achar que sei o que vai acontecer sem viver?”

— Eu sei sobre como você sempre se sentiu. Eu sempre fui o bambambã na escola porque em casa eu era o fracassado. Os monstros que me assombravam ao dormir sempre foram os meus pais. Eu vivi a sombra da minha irmã inteligente, eu sempre fui quebrado, errado. Então eu sei como você se sente sobre isso, ser adolescente nunca foi fácil pra mim também. Na rua era em casa não. Eu sou o inverso de você. Você se sente bem em casa, eu me sinto bem na rua. — Falou Tomaz totalmente sério e encarando o outro.

— E por que estamos tendo essa conversa mesmo? Nossa pauta era outra! — Ele diz tentando mudar o assunto. Ele começou, porém não quer dar brechas para o outro.

— Estamos tendo essa conversa, Murilo, para que você entenda que todos têm problemas, e que lidamos de várias formas. Eu estou lidando com essa loucura toda que aconteceu de uma forma diferente de você, só fiquei um pouco mais quieto. Mas não quero ficar nesse clima pra sempre. Eu quero ficar ao seu lado e ficar bem.

— Eu também quero ficar bem, mas eu preciso que você passe a me encarar, que volte a me ver. Não que fale comigo porque estou no quarto com você. Ou que se mantenha distante. Como eu já disse antes, eu não escolhi isso. Essa ideia foi sua.

Eles se encaram por um tempo. Ele tem razão e o outro parece perceber, porém ele não sabe se quer ficar bem ou se quer ir embora.

— Desde que você veio morar minha vida é um inferno, o inferno mais bonito que se há no planeta terra, às vezes eu reclamo, mas eu sempre de pé. — Falou Tomaz encarando o outro. — Eu sei que preciso parar de ser um imbecil com você. Eu sei que tenho que parar de agir feito um bobo quando se trata de você. Eu prometi que iria agir certo, que iriamos lutar para não deixar os outros e nem o Augusto nos separar, porém eu deixei. E eu quero me desculpar, e vai depender só de você. Você quer ficar bem ou continuar numa discussão sem sentindo.

— O que eu quero? Eu não sei o que quero. Às vezes eu acredito que quero ser o Murilo e quero ficar ao seu lado, porém às vezes eu só quero que isso acabe logo. Quero continuar sendo o Rafael e depois ir embora. — Ele foi sincero. “Quando me tornei tão seguro assim?” Se perguntou olhando para o outro. — Mas nesse momento eu não quero pensar nisso. Eu só quero um tempo pra mim, quero ficar sozinho, então você poderia dizer que estou com dor de cabeça? E eu sei que o quarto é seu, mas eu quero ficar sozinho...

Tomaz balançou a cabeça afirmativamente. Parecia triste, porém não fazia sentindo. Ele tinha escolhido aquilo. Ele foi idiota quando não precisava ser. Murilo tinha motivos para estar chateado. Ele acompanhou o outro sair do banheiro com os olhos atentos e depois ouviu a porta batendo. Ele saiu do banheiro também e sentou na cama. Olhou o quarto. O lugar era bonito e ele já tinha se adaptado com ele. Os tons brancos, as miniaturas de aviões espalhados por cada lugar. Sorriu triste. “Como vai ser quando eu tomar minha decisão?”

Ele ficou em silêncio observando cada canto do quarto. Queria guardar tudo. Não queria esquecer nunca. “Duas semanas!” Ele pensou, foi quando ouviu o som do facebook. Estava ficando louco? Então olhou para o notebook do amigo aberto. Seria feio se por acaso ele visse? Foi o que se perguntou, e teve sua resposta mais rápido do que se perguntou. Puxou o notebook para o colo. Era uma mensagem dele.

Rafael.

Murilo ficou quieto, queria ver, mas sentiu medo do que veria.

Rafael então...

Murilo passou os olhos na mensagem que tinha chegado.

“— Eu sei que errei, mas posso consertar se você quiser, é só me dizer que podemos nos encontrar! Você só deve estar confuso, esperamos muito por isso, você está confuso”.

Murilo então subiu a janela. Ele pulou as mensagens anteriores a essa, queria ver as mensagens do começo e quando havia se iniciado. Dois dias atrás! Havia outras mensagens, muitas.

“— Não consigo entender as suas razões para não explicado, você simplesmente disse que não poderia vir.”

 Essa era de Tomaz.

“— Me desculpe está bem? Eu não pensei direito. Meu pai estava sendo levado para o hospital. Eu mandei meu irmão digitar uma mensagem para mim e corri. Não levei celular nada. Eu sei que errei, mas eu não consegui. Me entenda!”

“— Eu posso até entender, mas não sei se posso perdoar. É difícil pra mim! Eu fiquei sozinho na porra daquela rodoviária.”

“— E eu fiquei sozinho naquela porra de hospital!”

Ele respirou fundo e puxou o cursor para baixo, queria ver outras mensagens, essas mensagens eram mais recentes. Eram de ontem.

“— Eu também sinto a sua falta Rafael!”

Ele bateu o notebook fechando o mesmo. Não deveria ter lido essas mensagens. O que estivera pensando? Ele balançou a cabeça em negativa e pensou em chorar. Mas esse novo Murilo não iria chorar. Ele respirou fundo e levantou da cama, caminhou até a varanda. Então era isso, não era pelo Augusto. Era apenas que ele tinha voltado a se comunicar com o ex. Eles iriam voltar! Murilo sabia disso. Tomaz já não o beijava. Já não o tocava, nem olhava como antes. Então se lembrou das palavras da mãe de Tomaz. “Ele só quer você. E mesmo que fique com outro garoto isso não diminuirá o amor que ele sente por você.” Ela tinha acertado, a bruxa tinha razão nisso.

— Eu vou embora! — Ele disse para si mesmo. Então ouviu a porta do quarto se abrir.

Virou e encarou Tomaz. O garoto estava sorrindo, porém seu sorriso mudou. Ele entendeu porque, sua cara não estava melhor que minutos atrás.

— Eu vou embora, Tomaz! — Ele falou direto, na lata.

— O que? — Tomaz perguntou sério, assustado.

“Falso!” Pensou Murilo. “Como se atreve?”

— É isso que você ouviu, eu vou embora. Isso já chega pra mim, eu não vou continuar com isso. Que tal você chamar o verdadeiro Rafael? Vocês estão conversando mesmo...

— O que? — Perguntou Tomaz, então olhou para cama e viu o notebook fechado. Murilo acompanhou seu olhar e depois olhou para cima para encarar o amigo. Viu-o ficar bravo. — Você mexeu nas minhas coisas?

— Estava aberto, me desculpa se bati o olho sem querer. Mas foda-se isso não importa. Não importa mesmo. Não mais. Você é um babaca. O Augusto o deixou confuso, não foi? — Ele perguntou sentindo raiva. — Você é um babaca.

Assistiu Tomaz caminhar até o travesseiro e socar o mesmo com força.

— Você não tinha o direito de mexer nas minhas coisas e tirar suas próprias conclusões, porra. — Explodiu o outro.

— E você não deveria mentir pra mim! Por que não me disse a verdade? — Ele perguntou gritando.

— Por que não existe uma verdade caralho. Eu conversei com ele sim, porém isso não muda nada. Eu não quero mais nada com ele. Eu só conversei com ele. Ele tentou me explicar às coisas.

— Eu vi! Eu o vi explicando essas coisas e você dizendo que sente saudade dele.

— E você leu o resto do que disse? Eu contei de você pra ele. Eu disse que sentia a maldita falta dele, porém eu conheci outro cara. E esse cara é quem eu gosto.

Murilo riu.

— Gosta? Gosta dele mentindo?

— Eu não menti porra. Não me tira do sério. — Gritou Tomaz, como se estivesse calmo.

— Eu...

— Cala a boca, Murilo. Cala a porra da sua boca. Porque eu te amo. Eu não menti em nada. Eu não menti em nada. Eu sinto saudade do Rafael, mas eu amo você e eu expliquei isso pra ele. Eu te amo, Murilo. Você escutou essa porra? Escutou o que eu disse? Eu amo você...

Murilo ficou em silêncio. Muitas informações. Ele sentiu o corpo girar. “Eu vou desmaiar?” Ele pensou. “Eu te amo!” Ele pensou. “Você está louco, Tomaz...”.

— Eu amo você e é você que eu quero. Então enxerga as coisas, porra. Eu iria te dizer isso hoje à noite. Não foi assim que eu pensei, eu não pretendia fazer dessa forma.

— Você me ama? — Perguntou Murilo. A raiva foi embora. “Foi?” Perguntou-se encarando o outro.

— Eu amo...

Os dois se olharam.

— Eu vou voltar a ajudar a minha mãe! — Falou Tomaz e virou saindo do quarto.

— Espera... — Falou Murilo. Porém Tomaz não ligou.

“Droga!”

 

A noite caiu. E depois da discussão o dia pareceu passar mais rápido para Murilo e ele não pode deixar de pensar nas palavras ditas pelo outro. Eles não se falaram. Tomaz estava com raiva, Murilo também estava, mas sabia que tinha dado mancada. Tomaz não se arrumou no quarto, não foi ao quarto, só quando necessário para pedir que ele descesse para a sala porque os convidados haviam chegado. Murilo se sentiu mal e triste.

— Nós precisamos conversar. — Murilo disse baixo quando saiu do quarto ao lado do outro.

Tomaz ficou calado. Desceu as escadas em silêncio. Murilo resolveu calar também, não iria forçar nada.

“O que você pensaria? Como iria agir se visse mensagens minhas com o Daniel?” Ele se perguntou, mas queria mesmo era perguntar ao outro.

Chegou à sala ao lado de Tomaz. Estavam todos juntos, os familiares. Alguns que Murilo nem conhecia ainda. A noite foi passando e Tomaz o estava evitando de todas as formas possíveis, sempre se mantendo longe e bebendo. Ele sentiu-se triste. Não tinha mais motivos para continuar ali, não olhou mais para Tomaz e caminhou para fora da casa, não tinha ninguém lá fora. Era uma noite quente e abafada. Ele ouviu as risadas e a música mais baixa agora. Estavam todos entretidos com a troca de presente. Ele se sentiu um estranho nesse momento, então resolveu sair. Arrancou os tênis e as meias e sentou-se na borda da piscina, ficou olhando o céu, parecia que iria chover. Ele fechou os olhos...

— Eu trouxe um presente pra você! — Falou Tomaz se aproximando.

Murilo se assustou e olhou para trás. Tomaz tinha uma caixa embrulhada nas mãos.

— Não posso aceitar, não comprei nada pra você! — Ele falou baixo, realmente não tinha pensado que deveria ter comprado algo para ele. O único presente que tinha em sua bolsa era um que comprou para Daniel, não faria sentido dar para Tomaz.

— Não ligo, mas esse é pra você! — Falou Tomaz meio bêbado e emburrado. O garoto se sentou ao lado do outro. — Abre.

Murilo abriu a caixa.

— Um notebook? — Ele perguntou sério e olhou para o amigo ao seu lado. Não poderia mesmo aceitar.

— Sim, você me disse que não tinha um, que usava um pc velho e eu resolvi lhe dar, espero que seja do seu agrado! — Tomaz disse tomando mais um gole da bebida em sua taça.

— Eu não posso aceitar, me desculpe! Mas isso deve ter sido caro. — Ele balançou a cabeça em negativa.  — Não posso aceitar.

— Não importa o valor. Você merece os presentes mais caros do mundo. Você é incrível. — Falou Tomaz e soluçou. Estava bêbado, notou Murilo.

— Tomaz...

— Murilo... Eu te amo! — Repetiu Tomaz, dessa vez olhando Murilo nos olhos. — Eu não ligo se você não acreditar em mim, eu não ligo que tenha mexido nas minhas coisas. Eu não ligo que você também não me ame, mas eu preciso te beijar. E preciso que fique comigo. Não vá embora. Fique pelo menos até as férias acabarem...

Murilo sentiu um aperto no peito. “Eu o amo?” Ele encontrou a resposta. “Ainda não o amo, eu gosto muito!” Porém se fez outra pergunta. “Você gosta mesmo dele? Seria capaz de ama-lo? Está disposto a enfrentar essa loucura que tem sido nos últimos dias?” Ele já tinha a resposta. “Sim!”

Inclinou o corpo para frente e beijou o homem. Esse tinha gosto de vinho, os lábios doces e com um leve odor de álcool eram gostosos. Ele sorriu pequeno. Chupou os lábios do outro com vontade aproveitando o gosto bom. Parou o beijo com mordidas. Estava bom nisso agora. Sorriu ao ver Tomaz sorrindo.

— Eu tenho um presente pra você. Vamos ao seu quarto? Podemos ir? Ou precisamos ficar na festa? — Ele perguntou nervoso.

— Podemos ir! — Falou Tomaz sorrindo. — Vamos pelos fundos.

Murilo riu quando entraram pela porta dos fundos, precisariam passar pela sala para subir as escadas, mas não quis contraria Tomaz que estava bêbado e sorrindo. Eles estavam parecendo dois delinquentes fazendo algo errado, subiram a escadas correndo, mas ele viu alguns convidados sem entender. Entraram no quarto.

— Cadê o presente? — Perguntou Tomaz ansioso.

Murilo sorriu e colocou a caixa do notebook na poltrona do quarto e voltou-se até a porta, trancou a mesma, não queria ser incomodado. Estava nervoso, seria sua primeira nisso. Ele respirou fundo. Então olhou para Tomaz.

— Qual é o presente? Eu estou ansioso... — Falou Tomaz meio impaciente.

Murilo caminhou até seu celular, ele ligou o reprodutor musical. Sorriu sentindo-se bobo por ter escolhido uma música para aquele momento, mas sempre imaginou que seria isso. Colocou Say You Love Me da Jessie Ware para tocar. A música lenta o tomando por completo.

— O que posso dizer? Eu nunca fui bom com palavras, mas eu quero isso faz tempos, e estive esperando que você soubesse o tempo todo que eu queria somente com você. — Ele disse baixo e ficou olhando para Tomaz que parecia ainda mais confuso agora. Ele caminhou e apagou as luzes, somente a luz da lua grande clareava o quarto. Ele respirou fundo e sorriu.

Arrancou a camiseta e tirou a calça. Fechou os olhos e ficou respirando fundo.

— Eu quero você...

Não precisou terminar a frase. Sentiu o corpo quente de Tomaz o tomar. Os lábios beijaram os seus, o corpo colado, as mãos percorrem seu corpo com vontade. Murilo ofegou e gemeu quando sentiu a boca quente por seu pescoço. Estava sentindo.

Os corpos caíram sobre a cama, sem roupa. Ele fechou os olhos, estava pronto... Sentiu o peso do corpo sobre o seu. Tudo carinhoso. Cada toque, cada palavra de amor sussurrada no ouvido.

A sensação depois da imensa dor era melhor do que ele imaginou que seria. Sentiu o corpo suar. Seu corpo dançar a música que Tomaz estava cantando. Ele ofegou e gemeu alto.

Estavam entregues um ao outro. E ele tinha certeza de uma coisa agora. Era melhor fazer as pazes depois de uma briga.

 

 

Murilo acordou com o balanço do peito de Tomaz subindo e descendo abaixo de si. Sorriu manhoso e deu beijos no peito do outro. Havia sido a melhor noite de sua vida. O garoto tocou os próprios lábios lembrando de cada chupão e mordida que levou ali na noite passada. Sorriu apaixonado. Tomaz se mexeu e acordou.

— Bom dia! — Falou o garoto bocejando.

Murilo sorriu e olhou o outro. Ele estava lindo mesmo acordando e com cara de ressaca.

— Bom dia, Tomaz...

Murilo ouviu seu celular notificar. “Droga!” Pensou, deveria ser seus pais, ele havia esquecido de mandar feliz natal para eles, mandaria agora rapidinho e voltaria a trocar amores. Pegou o celular e abriu o Messenger. Era a mensagem de sua mãe. Ele sorriu, tinha acertado. Abriu a mensagem e se deparou com uma foto de uma página de revista que a mãe tinha tirado. Na foto estava Tomaz, a sogra e ele. Era a foto que haviam tirado na festa.

Ele leu assustado.

“— Murilo o que significa isso? Por que estão te chamando de Rafael nessa foto, e porque você está na foto desses Archetti? Eles não são uma família da elite da cidade de São Paulo? Estou preocupada, poderia explicar?”

Ele sentiu o coração disparar, por que não pensou nisso antes?

— O que houve? — Perguntou Tomaz sentando na cama.


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