Águas Passadas escrita por Yasmusic98


Capítulo 4
Bote Salva Vidas


Notas iniciais do capítulo

Hey Guys
I'm back! :D

Sentiram minha falta? Se sim, não sintam mais, pois eu voltei U.U

Os últimos dias foram bem corridos, então foi bem difícil tanto escrever esse capítulo, quanto termina-lo, principalmente por causa do tamanho...

Aliás, ele deveria ter sido postado ontem, porém não deu tempo e hoje houve um blackout após um chuva bem violente que houve aqui no litoral...

Enfim, venho aqui trazer mais um capitulo fresquinho pra começar bem esse 2017 ;P

Sem mais delongas,
Boa leitura! :D



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~ Quinto Andar, Sala Executiva Da Cruise Control ~

Recostando a cabeça em sua cadeira acolchoada, encontrava-se um homem de meia idade massageando a têmpora violentamente, enquanto procurava por alguma aspirina que por acaso estivesse perdida em uma das gavetas de sua mesa de escritório...

Não encontrando nenhuma, o executivo apenas franziu o cenho e fez uma careta de desgosto, balançando sua perna direita freneticamente quando a única coisa que poderia fazer no momento era revezar olhares céticos entre os para ele vagarosos ponteiros do relógio, e a papelada espalhada em sua mesa, cujo conteúdo incomodava-lhe profundamente...

— Senhor? Seus convidados chegaram e já estão a sua espera na sala de reunião - Alguns tediosos minutos depois, uma mulher que beirava aproximadamente os seus vinte e cinco anos de idade surgiu através da porta: era Selina Smoak, sua assistente pessoal

— Finalmente, achei que iria ficar aqui para a semente! - Exclamou o homem jogando as mãos para o alto, mostrando-se significativamente mais desperto - Obrigado Selina, diga a todos que já estou a caminho...

— Certamente senhor Connor, irei avisa-los que estará pronto em alguns instantes... - E ajeitando seus óculos, a mulher de cabelos negros apenas meneou a cabeça em concordância e saiu do local

Após arrumar a gravata uma última vez em frente ao espelho, Michael Connor principiou a caminhar calmamente em direção a sala de reunião, verificando esporadicamente se seu cabelo estava devidamente arrumado. De fato, os anos que a vida lhe proporcionou até o momento não diminuíram nem um pouco o seu senso de vaidade...

Ao abrir as portas do dito cômodo, vários olhares dirigiram-se até ele, seguidos de uma série de cumprimentos: alguns inaudíveis, outros não verbais... E de forma similar, o CEO da Cruise Control também cumprimentou os demais executivos com um balançar de cabeça, portando uma expressão indescritível, apenas para esboçar um sorriso mecânico logo após:

— Senhoras e senhores, agradeço a todos por terem vindo. Creio que temos muita coisa a discutir diante das estatísticas que foram apresentadas nos últimos meses...

— Creio que nós que deveríamos estar dizendo isso, não é mesmo, Michael? - Desdenhou Sarah West, responsável pelo setor de relações internacionais

— Também é um prazer vê-la novamente, Sarah - Respondeu ele no mesmo tom - Creio que não preciso perguntar o motivo da indireta, certo?

— Sejamos sinceros Connor, os gráficos já dizem por si mesmos! Os negócios estão indo de mal a pior, a última vez que tivemos um contrato assinado foi a seis meses atrás!

— Contrato esse que por acaso ainda está em vigor, e que por sinal ainda está sendo muito lucrativo!

— E quando acabar Reynolds? O que faremos? Mudaremos o logo da Cruise Control para Titanic? Porque em breve estaremos afundando como ele!

— Por favor senhoria West, não seja tão dramati...

— Desculpe Michael, mas dessa vez tenho que concordar com a Sarah...

— Jura? Isso é novo pra mim! - Indagou a nomeada retoricamente esboçando espanto

— Enfim, continuando... Encare os fatos Reynolds, o contrato que fechamos com a Destiny Wave foi ótimo, mas ele também já está chegando ao fim junto com a temporada de cruzeiros. E adivinhe o que estava nas manchetes do jornal de hoje? A Past Waters não só já renovou três contratos para a nova temporada, como Fredward Benson anunciou o projeto de um novo navio que ele batizou de Purple Ship... Perdoe a minha sinceridade, mas o projeto do senhor Benson é incrível! - Desta vez Steven Blake, responsável pelo setor de turismo e entretenimento, tomou a palavra

— Nós não somos a Past Waters! - Esbravejou o Diretor Executivo em uma explosão de raiva repentina, para o espanto de todos os presentes - Perdoem o meu destempero senhores, mas parece que o senhor Blake esqueceu de três coisas importantes: nós não somos a Past Waters, e nem precisamos ser, Freddie Benson é apenas um pirralho, e jamais, eu disse jamais, me chame de Reynolds. - Sentenciou o homem friamente, encarando de soslaio seu parceiro de negócios

— Tem razão Michael, já que prefere assim. Fredward pode ser apenas um pirralho, mas um pirralho que projetou aquilo que pode ser o mais lucrativo e inovador navio de Miami... Versátil, moderno, ecológico, luxuoso. E nós, o que temos? Estamos utilizando o mesmo modelo pelos últimos dez anos! Em quase anos trinta anos de existência da Cruise Control, sabe quantas modelos de navio os seus engenheiros projetaram? Três modelos Michael, três!

— Sabe Steven, a sabedoria popular pode ser muito subestimada, mas as vezes precisamos dar ouvidos a ela. Já ouviu falar no ditado: "não se mexe em time que está ganhando?"

— E você já ouviu falar em líder do campeonato?! Já que quer tanto usar metáforas sobre futebol, que assim seja, vamos fazer isso! Senhorita West, você conseguiu a papelada que eu havia lhe pedido mais cedo?

— Certamente, Steven. O Richards encontrou-se incapaz de estar conosco hoje, mas ele providenciou toda a papelada a qual precisamos - Explanou ela retirando um envelope pardo de sua pasta

— Excelente! obrigado, Sarah...

— O que significa isso? - Indagou o CEO atônito

— Veja você mesmo, "técnico". - E dizendo isso, lançou uma pilha de papéis sobre a mesa, contendo estatísticas sobre os lucros e baixas que a Cruise Control contraiu nos últimos meses. Não recebendo nenhuma reação verbal de seu sócio, que apenas corria os olhos furiosamente pelas folhas, o empresário prosseguiu com seu argumento - Entende agora o que estou falando? A Cruise Control pode até ter nome e uma bela história, mas apenas títulos não são o suficiente quando estamos isso aqui de ir parar na "zona de rebaixamento". E sabe o que é pior, Connor? Só não fomos parar lá ainda, porque os navios dos nossos rivais tiveram a infelicidade de afundar misteriosamente, o que sinceramente me preocupa muito... É isso o quer? Depender da desgraça alheia para continuar no topo? E se um de nossos navios também sofrer do mesmo mal? Desculpe Michael, mas se os seus engenheiros não derem um jeito de projetar algo a altura da Past Waters, a situação vai ficar insustentável...

— Que coisa mais estranha, acho que acabei de descobrir que estou sofrendo de amnésia! - De forma surpreendente, a carranca explícita que antes assumia a expressão do homem transformou-se em uma gargalhada fria e sarcástica, apenas acompanhada de um par de olhos arregalados que simbolizavam descrença - Desculpem-me, e corrijam-me se eu estiver enganado. Mas, até onde me lembro, essa reunião foi marcada justamente para encontrarmos as soluções! Se eu estivesse procurando por alguém que jogasse na minha cara todos os problemas que tenho, eu teria ligado para a minha mãe. E garanto que ela teria feito isso de uma forma melhor do que qualquer um que está nesse sala! E sabem por que? Porque a senhora Connor pode até trazer a tona o problemas, mas diferente de vocês, ela também fornece soluções! Então, vamos fazer assim: os meus engenheiros são bons, aliás, eles são ótimos. Porém, não podem fazer milagres, não sozinhos... Por isso, eu exijo que seja realizada uma pesquisa de campo: infraestrutura, entretenimento, visual, e qualquer outra coisa sobre esse novo projeto da Past Waters. Se ele for ecológico, o nosso será a verdadeira Amazônia, se for iluminado, faremos até mesmo a cidade das luzes conhecer o verdadeiro significado da palavra inveja. No que quer que seja, faremos o navio roxinho do Fredward parecer um barquinho de brinquedo...

— Mas, Michael...

— Nada de mas! E é senhor Connor pra você... Eu não deveria lembra-los desse fato, mas, ao mesmo tempo, é prazeroso para mim. Então, eu gostaria de lembrar as senhoras e os senhores que não sou eu quem trabalho pra vocês, são vocês quem trabalham para mim! Fui eu quem projetei a Cruise Control desde que ela era apenas uma tenda na praia que vendia canos, fui eu quem construi os botes salva vidas quando eles eram apenas pequenas canoas de bambu! Então se não conseguirem aprender a me respeitar, creio que dez dias de aviso prévio irão ensinar isso na prática... Sendo assim, vou perguntar uma última vez: então entendidos?

— Sim, senhor Connor... - Responderam ambos em um fio de voz, porém não de forma ordenada

— Ótimo! É muito bom saber que posso contar com a colaboração de todos, estão todos dispensados... Ah sim, só mais uma coisa: retornem apenas quando tiverem respostas ou soluções. Caso não as possuam, não precisam mais voltar...

Imediatamente, todos os presentes levantaram-se de forma apressada, ao perceberem que o humor de seu patrão com certeza estava ainda pior do que em ocasiões anteriores. Os que tinham questionamentos, decidiram engolir suas perguntas, e aqueles que até mesmo possuíam sugestões, concluíram que diante de tamanhas exigências, suas ideais provavelmente não seriam boas o suficientes aos olhos de Michael Connor...

O consagrado empresário sempre tivera a fama de ser tempestuoso, de possuir uma personalidade tão forte que tentar desafia-lo, seria como entornar uma dose puríssima da temida *Everclear. Mas, o mais surpreendente, é que por mais que sua reputação não fosse uma das melhores, ele orgulhava-se disso e procurava mantê-la. De fato, um mero mortal jamais seria capaz de compreender o que se passa na mente de um homem que por mais pecador e simplório que também seja, possui um complexo de deus...

Por fim, após deixar a sala de reunião, o homem de meia idade caminhou em toda a sua prepotência até seu escritório reservado, onde passou a maquinar formas de alcançar o único objetivo que importava-lhe no momento: descobrir como ele poderia ser o maior e o melhor naquilo que muitos faziam, mas que ao seu próprio ver, apenas o próprio poderia triunfar...

Recostando-se novamente em sua cadeira acolchoada, entretanto dessa vez com a cabeça mais leve, retirou um abridor de garrafas do bolso de seu paletó, afim de finalmente saborear o espumante que havia recebido de um de seus sócios comerciais. Porém, antes mesmo de derramar o conteúdo na taça, três batidas consecutivas foram dadas na porta obrigando-o a parar o que estava fazendo:

— Ótimo, espero que não seja algum publicitário tentando tirar o meu bom humor - Murmurou ele entre o dentes - Entre!

Imediatamente, um homem caucasiano, alto, e bem vestido adentrou no cômodo, portando uma expressão sorridente que exalava satisfação:

— Lamento interromper o seu encontro com a Aurora, mas não me contive e tive de saber pessoalmente como foi a reunião com os incompetentes - Desdenhou Max Hunter, um dos mais jovens porém prodigiosos acionistas da localidade, apontando para o espumante que agora estava sobre a mesa

— Vejam só, Maxwell Hunter, justamente quem eu queria ver! Sente-se, temos muito o que conversar... Servido?

— Bem, você sabe o que dizem os russos, certo?

— Jamais rejeite um drink?

— Jamais rejeite um drink! Sabe, nunca estive a Rússia, mas tenho a impressão de que eu me daria muito bem na cultura de lá... - Exclamou o rapaz levantando a taça que lhe fora oferecida, como que simulando um brinde indireto - Mas, agora vamos ao que interessa: infelizmente eu não pude comparecer na reunião, o imprestável do meu motorista, ou melhor, ex motorista esqueceu de buscar a Mercedes no lava a jato, além do engarrafamento que estava uma lástima... Mas, mesmo assim parece a prensa foi ótima, eu encontrei Sarah e Steven no corredor, eles pareciam apavorados!

— Derrubaram as pasta?

— As três!

— Fantástico! - Exclamou o homem regozijando-se, como se tivesse vencido uma grande batalha - Isso vai ensinar aqueles simplórios a se colocarem no lugar deles. Porém, não tenho muita coisa a contar...

— Como assim?

— Resumindo todos os eventos posteriores, o assunto girou em torno de três coisas: baixas, contratos, e o novo projeto do Benson...

— Past Waters?

— A famigerada, a própria.

— Infelizmente, o projeto do garoto é bom, é inovador. O que sinceramente me preocupa um pouco, porém, não me apavora. Sei que seus engenheiros darão um jeito eles são dão. Afinal, a Cruise Control veio primeiro, e sempre será a melhor...

— Finalmente alguém sensato por aqui! Maxwell Hunter, quinze anos mais novo do que eu, e mesmo assim quase tão sábio quanto a minha pessoa. Talvez você seja mais do que apenas o playboy milionário que a mídia diz que você é. Quem diria, não?

— E talvez você seja mais do que apenas o empresário arrogante e mulherengo que dizem que você é, estou certo? Ou melhor, não importa quem ou o que seja, você simplesmente não se importa com o que dizem!

— Touché, meu amigo! Touché! - Exclamou o homem de meia idade triunfante. Deveras, nada o agradava mais do que presenciar outra pessoa dando-lhe razão. Exceto a fama e o dinheiro, é claro - Além do mais, você também está certo sobre outra coisa. A Cruise Control é e sempre será o maior império náutico que Miami já viu, embora esta geração alienada e controlada pela mídia acredite que estamos ultrapassados. Eu só sei que esse reinado repentino de Leonard e sua prole não irão durar muito tempo, acredite em mim. E quando isso acontecer, eu irei fazer com que esses caluniadores engulam palavra por palavra, como uma escaldante sopa de letrinhas...

— Já tem alguma coisa em mente?

— No momento, nada de especial. Porém, guarde as minhas palavras: chegará a hora em que a Past Waters irá afundar. Seja de um jeito, ou de outro...

[...]

~ Sunshine Plaza, 8ºC, Apartamento dos Shay's ~

— "Sim, eu gostaria de encomendar um bolo recheado de bolo gordo para hoje a noite. Será que seria possível? Não, não meu senhor, eu não quero vários bolos gordos em forma de bolo, eu quero literalmente um bolo feito de bolo gordo... Isso, isso mesmo, um bolo gordo gigante de aproximadamente três andares. Certo... Sim... Aham, isso mesmo... Obrigada senhor Henshaw, buscaremos a encomenda por volta das 19 horas... Não, que isso, eu agradeço. Muito obrigada, e até mais tarde"...

— Finalmente... Encomendar bolo gordo gigante, feito!

Sentada na banqueta de costas para o balcão, encontrava-se uma morena concentrada, verificando os itens ticados na prancheta que encontrava-se em sua mão e ainda segurando um telefone entre seu ombro e sua orelha... O curto período de tempo que fora deixado para a organização que a Shay mais tinha em mente, não era muito favorável. Porém, isso não era um empecilho para que as coisas saíssem perfeitas. Nas palavras na própria Carly Shay: "Se não é para sair perfeito, então não deve nem ao menos ser feito"...

Com a maioria das coisas encaminhadas, faltava apenas confirmar com Griffin o andamento da preparação dos alimentos. Não que fosse difícil agradar Sam Puckett com comida, algumas fatias de bacon bem fritas por si só, já seriam o suficiente. Porém, agradar uma consultora gastronômica soava como um desafio pessoal para ela... Assim que já estava prestes a discar o número de seu namorado, a repórter escutou um ranger de maçanetas, relevando uma loira descabelada e visivelmente sonolenta:

— Bom dia, Carls... - Cumprimentou ela com uma lerdeza impressionante

— Bom dia, bela adormecida! - Ironizou a morena - Vai querer o almoço, a jantar, ou os dois juntos?

— O que?... Espera, que horas são?

— São exatamente duas horas da tarde...

— Duas horas?! - Exclamou a sommelier espantada

— Sim, é exatamente disso que estou falando!

— Isso é um avanço, achei que já eram quatro da tarde...

— Ha! Finalmente você me... Espera, o que?! Você não pode estar falando sério!

— Mas, é verdade! Nós meus dias de folga eu nem ao menos via o sol. Sabe, ir dormir quando estava amanhecendo, e acordar quando o sol estava se pondo...

— Mas... Mas... Você é inacreditável, sabia?

— É, eu sei. Mas é sempre bom ouvir de outras pessoas... - Respondeu a loira em um tom convencido, fazendo a morena apenas sorrir e revirar os olhos

— Ei, o que é isso? - E sem que a Shay mais nova pudesse ao menos perceber o que tinha acontecido, havia uma criatura subindo em cima dela, afim de ler o conteúdo que estava na prancheta. Impressionada com tamanha rapidez, ela perguntou-se se a amiga havia desenvolvido super velocidade enquanto estava em alto mar. Afinal, sabe-se lá que coisas acontecem em meio aquela imensidão de águas...

— Não, não, não, nem pense em ler o que está escrito aqui! - E em um reflexo igualmente rápido, ela levantou a prancheta para o alto afim de que a loira não pudesse ler seu conteúdo. De fato, haviam algumas vantagens em ser levemente mais alta

— Qual é Carls, deixa eu ver!

— Sem chance, Puckett!

— Mas eu já sei sobre a minha festa surpresa, que não verdade não é surpresa, mas, é como se fosse... Enfim, eu já sei de tudo, agora me deixa ver!

— Há, touché! Você sabe de quase tudo. Afinal, não é porque você sabe sobre a festa, que necessariamente precisa saber tudo o que vai acontecer nela...

— Carlotta Taylor Shay, o que você está aprontando?! - Indagou a sommelier em um misto de urgência e curiosidade

— Boa tentativa, mas eu não vou dizer! Digamos apenas que estou dando um pequeno toque meu... Agora, eu quero que você vá fazer qualquer coisa, desde que não tenha envolvimento com a festa. E ai de você se sequer pensar em passar no Sun And Sea, porque acredite, eu vou saber!

— Droga Shay, você está ficando boa nisso... - Bufou a consultora gastronômica em um tom levemente irritado

— Obrigada, aprendi com a melhor - Respondeu ela com seu amplo e típico sorriso

— Bem, então eu vou aproveitar e ir no armazém Meekalito, já faz alguns meses que não vejo minha moto e já está na hora de buscá-la...

— No armazém do Meekalito? Oh sim, é verdade! Você alugou uma garagem só pra guardar a sua moto, ao invés de simplesmente guarda-la aqui no térreo...

— Mas é claro que sim! E se alguém tentasse roubá-la vendo que ela estava a tanto tempo parada? Eu não poderia correr esse risco!

— Mas o Spencer e eu iríamos olha-la durante o dia!

— Exatamente, durante o dia! E se agissem de noite? Os amantes de veículos matariam e morreriam por aquela belezinha. Então quanto mais segura, melhor...

— Bem, se você diz... - Respondeu a morena com o cenho franzido, que na verdade simbolizava admiração. Ela jamais entenderia porque a loira possuía um amor incondicional por aquela moto desde os seus dezoito anos, mas ao mesmo tempo sentia-se satisfeita com isso - Divirta-se com sua "belezinha", o dia hoje está maravilhoso. E nem pense em aparecer aqui antes das sete das horas, se não eu vou te expulsar te novo!

— Tudo bem, tudo bem, amiga, amiga... Eu só vou chamar o táxi para levar-me até o centro. O dia pode estar maravilhoso, mas também está maravilhosamente quente, e não estou nem um pouco afim de derreter até chegar lá...

Antes que a repórter pudesse responder, o Shay mais velho apareceu descendo as escadas, enquanto vaidosamente arrumava seus óculos e seu jaleco:

— Boa tarde, muídas!

— Boa! - Responderam elas em uníssono

— Aonde vai assim? Eu achei que estivesse de folga hoje... - Indagou a morena confusa

— E estou, mas vou dar uma passadinha na ótica da Jenna Hamilton...

— Jenna Hamilton, a oculista?

— A própria!

— Espera... Desde quando você precisa usar óculos? - Perguntou a loira desviando a atenção de seu Pear Phone

— Não preciso, mas você dizer que Jenna se amarra em um cientista bonitão! O óculos não tem grau, é apenas uma desculpa para vê-la, e também dar um ar um pouco mais intelectual... - Exclamou o cientista forense em um tom orgulhoso

— Você está saindo com ela?!

— Não...

— Conseguiu o número telefone?

— Também não...

— Então, não tem nada?

— Eu não diria, "nada". Eu tenho um endereço!

— Deixe-me ver... - Exigiu a redatora puxando o pedaço de papel da mão de seu irmão mais velho - Tudo o que você tem é o endereço da ótica?! - De repente, a sala tornou-se uma explosão de risos, para o ceticismo do CSI

— Não, tudo que eu tenho é uma oportunidade, que por sinal será muito bem aproveitada, vocês vão ver!

— Tudo bem, tudo bem, fica calmo maninho, tenho certeza que ela não resistirá ao seus encantos e ficará caidinha por você!

— Obrigado - Respondeu ele voltando ao seu tom habitual - E vocês, o que vão fazer agora?

— Eu vou terminar de organizar a festa de boas vindas atrasadas da Sam.

— E eu estou chamando um táxi que me levará até o centro, já que sua irmã neurótica me expulsou de casa para não descobrir o que ela anda aprontando...

— Você vai para o centro?

— Sim, vou buscar minha moto no armazém do Meekalito.

— Então cancele o taxi, porque eu estou indo para lá e você vai pegar uma carona comigo!

— Sério?

— Seríssimo!

— Maravilha, então vamo bora!

— Opa, agora! Bom trabalho pra você maninha, estarei de volta antes da festa começar...

— Eu digo o mesmo, já que não tenho outra escolha, não é mesmo?

— Meu Deus, que drama...

— Aprendi com a melhor! - Respondeu a sommelier em um tom desafiador

— Touché Puckett, touché... Até mais tarde, e divirtam-se!

— Até!

Assim que saíram a morena prosseguiu com seu projeto de organização, afim de quem tudo ficasse perfeito no final contas. E assim como os Puckett, uma Shay sempre cumpre as suas promessas...

[...]


~ Restaurante Praiano Sun And Sea, 23 horas, Miami Beach ~

 

Música, dança, e comida. Já haviam passado três horas desde que a festa havia começado, e de fato, estava tudo perfeito. Mas, o que era mais surpreendente é que estava do jeito mais Carly Shay possível, porém, ao estilo Sam Puckett...

Havia literalmente um bolo gordo gigante, de aproximadamente três andares, poções de fritas com queijo cheddar cremoso, poções de calabresa com bacon, batatinhas a vinagrete, e etc... Além da comida, também havia disponível um karaokê para quem quisesse soltar a voz, uma pista de dança para quem quisesse arriscar uns passos, e claro, não poderia faltar os melhores e mais variados drinks na festa de uma sommelier...

Mas, o mais impressionante é que por incrível que pareça, estava tudo na mais barulhenta e perfeita harmonia: a brisa batendo no rosto proveniente do mar, algumas crianças brincando ao longe na areia da praia, e dentro do restaurante apenas amigos e colegas de trabalho usufruindo de uma recreação com gosto de nostalgia...

A loira estava distraidamente fitando o horizonte, enquanto saboreava o seu drink de piña colada, que pelos céus! Estava formidável... Quando de repente, sentiu uma mão familiar encostar em seu ombro:

— Desculpe a demora Puckett, fui buscar alguns relatórios no escritório e acabei ficando preso no trânsito...

— Freddie?! - Indagou ela espantada

— O primeiro e único!

— Graças a Deus, o mundo não aguentaria dois de você!

— Ha ha ha, muito engraçado Sam... - Respondeu ele com um revirar de olhos

— É, eu sei sou... - Respondeu ela em um tom convencido

— Posso, é... Me sentar aí? - Indagou ele apontando para a cadeira em frente a dela

— Fique a vontade, Benson.

— Obrigado... E então, é... Como está a festa?

— Ótima, na verdade! Você sabe, foi a Carls quem organizou, então o resultado não poderia ser diferente.

— É verdade, a Carly sempre soube como dar uma festa... Lembra quando fizemos a festa do chapéu doido?

— E como esquecer?! Aquela foi a primeira festa de verdade que demos, aquele dia épico vai entrar pra história! Lembra também da festa carma?

— Meu Deus, a festa carma, nós tínhamos até uma planta de festa! Lembro-me também que nós servimos...

— Só sobremesas! - Responderam ambos em uníssono

E por um momento, ambos apenas sorriram timidamente um para o outro, como que resgatando um pouco daquilo que sempre os uniu: a amizade. Mesmo com tanto problemas que colecionaram ao longo do caminho, também haviam muitas histórias que haviam colecionado e compartilhado, isso era inegável.

Por um momento sentiram toda a estranheza ir embora, toda a tensão evaporar para a atmosfera, todas as inseguranças desaparecerem. Por um momento eram apenas dois amigos relembrando os velhos tempos, como suas piadas e xingamentos recíprocos que soavam de forma natural e inocente para eles...

Ao longe, a morena apenas observava os amigos conversando pacificamente, e sentiu uma imensa alegria crescer dentro de si. Por um momento, pensou em juntar-se a eles, como sempre faziam. Mas decidiu que faria isso depois, não ousaria interromper de maneira alguma o que estava acontecendo naquele momento, eles precisavam daquilo...

Por um momento também, agradeceu internamente pelo fato do Brad não ter aparecido. Havia convidado-o com a intenção de fazer com que a Sam se divertisse, para distrai-la caso a presença de Fredward a incomodasse profundamente. Mas, pelo contrário, estava acontecendo justamente o oposto, eles estavam mais do que bem. Entretanto, talvez ela tivesse comemorado cedo demais...

Após um longo tempo de conversa, agora os eternos rivais estavam disputando quem conseguia beber a maior quantidade de drinks em um curto período de tempo como sempre faziam, e sem nenhuma surpresa, o engenheiro sempre perdia. Oito a quatro em cinco minutos, já era a segunda rodada do melhor de três e a loira estava vencendo de lavada:

— Então nerd, como se sente por estar destinado a eternamente perder pra mim?

— Qual é, os meus drinks eram mais fortes que o seu, eu estava em desvantagem!

— Mas foi você que os escolheu!

— Eu sei, mas, mas... Ah, não importa! Pode ir se preparando Puckett, que eu vou te detonar nessa segunda rodada!

— Aham, claro, estou tremendo de medo! Não esquece pedir algumas caixinhas de achocolatado dessa vez, quem sabe assim você tem a chance de me vencer!

Assim que estava prestes a chamar o garçom, foi impedida ao sentir duas mãos tamparem a sua visão. A loira sabia muito bem quem possuía o costume de fazer isso com ela, por isso temia a visão que teria assim que pudesse ver novamente:

— Adivinha quem é? - Indagou o rapaz com o entusiasmo evidente em sua voz

— Bradley Cristopher Connor, acha mesmo que eu não iria reconhecer a sua voz mesmo com o barulho desses gritos? - Exclamou ela retirando as mãos dele de seu rosto, apenas para ver a carranca visivelmente explícita no rosto do moreno que estava em sua frente

— Desculpe a demora, meu pai pediu que eu fosse ajuda-lo a descarregar alguns materiais na empresa, que por algum motivo eram incrivelmente pesados. Se não fosse por isso eu teria chegado antes... E aí Freddie, beleza?

— Eaí, Brad... - Respondeu ele um tom seco

— É, é, sempre problemas, Brad! Na verdade eu nem sabia que você viria...

— Na verdade, nem eu! Eu encontrei a Carly quando eu estava indo para o porto, e foi lá que ela me convidou. Ela disse que havia esquecido de pegar o número do meu telefone com você, por isso não havia conseguido entrar em contato comigo antes...

— Bem, fico feliz que você tenha vindo...

— Eu estou fico, não perderia a oportunidade de te ver por nada nesse mundo...

— O-Obrigada... Bem, é... Freddie, quer ir pedindo a outra rodada de drinks?

— Não, obrigado Puckett. Eu já bebi demais, acho que vou dar um tempo...

— Claro, tudo bem... E quanto a você Brad, vai querer alguma coisa?

— Oh não, não se preocupe comigo, Sam. Hoje eu voltarei dirigindo, então irei optar pelos drinks sem álcool...

E novamente, era verdade o que dizem: alegria para uns, e pesar para o outros. Enquanto o jovem capitão conversava animadamente com a loira, o engenheiro naval apenas observava ambos de soslaio, sem dizer nenhuma palavra. Abria a boca apenas para devorar a porção de fritas, devorando-as violentamente sem dó, nem piedade...

Até que de repente, alguém chegou novamente para oferecer-lhes alguns drinks. Mas dessa vez, quem veio foi uma garçonete:

— Boa noite, algum de vocês gostaria de pedir alguma coisa no momento? - Perguntou a mulher sorridente

— Nunca pensei que fosse dizer isso, mas no momento estou satisfeita! - Exclamou a loira soltando um gargalhada

— Eu também estou satisfeito, só quero um porção de bacon mais tarde... - Acrescentou o herdeiro da Cruise Control

— E quanto a você, vai querer algo? - Ao ver que a pergunta tinha sido direcionada a ele, o moreno levantou a cabeça e vez menção de responder, porém foi interrompido pela própria barwoman - Ai meu Deus! Você é Fredward Benson?!

— Sim, sou eu mesmo. E você, como se chama?

— Meu nome é Lexie Lane, e eu sou muito fã do seu trabalho!

— Lane, eu amo esse sobrenome... - Respondeu ele mais desperto, dessa vez endireitando a postura

— Obrigada, e, eu também. Na verdade eu queria que minha mãe tivesse me batizado de "Lois".

— Lois Lane... Você gosta das histórias do Superman?!

— Muito! Na verdade, eu sou uma grande nerd! - Exclamou a ruiva seguido de um riso tímido - Posso dizer que fora da faculdade a minha vida social é fazer uma maratona Star Wars com a minha pipoqueira do R2-D2...

— Meu Deus, isso é incrível! E eu tenho uma cafeteria do Darth Vader... Qual é a faculdade que você cursa?

— Engenharia civil, eu sempre fui apaixonada por construções...

— Lexie Lane, eu te conheço por dez minutos, mas já te acho uma mulher incrível!

— Que nada, bondade sua Fredward, você é quem possui uma incrível. A estrutura do Puple Ship, é uma das coisas mais belas e complexas que já vi!

— Por favor, me chame de Freddie.

— Certo, tudo bem Freddie...

— Então, Lexie. Se está cursando engenharia, então porque trabalha aqui?

— Eu me mudei recentemente para cá, eu era de Chicago. Então resolvi trabalhar um pouco como barwoman no tempo livre. Sabe, pra conseguir dar um upgrade no novo apartamento...

— Nerd, Lane, engenheira, e barwoman. Com certeza é um prazer te conhecer! Espere, então é você quem faz aquele mojito maravilhoso?

— Bem, eu não diria que é maravilhoso, mas, sou eu sim!

— Sendo assim, prepare um de pêssego pra mim, por favor. Mas, não incomodo-se em trazer, eu mesmo irei acompanha-la - Exclamou o engenheiro em um tom galante, levantando-se rapidamente - Talvez um dia eu possa te mostrar alguns do meus projetos antigos, creio que isso poderia ajuda-la a ganhar uns pontinhos a mais nas provas do final do semestre.

— Isso é sério? Eu iria amar!

— Achei que havia dito que já tinha bebido demais... - Exclamou a loira impulsivamente, ao ver ambos dirigindo-se em direção ao balcão

— Sim, eu disse. Mas já estou pronto para outra, e para recomeçar com outra também...

E ela ficou ali, boquiaberta, apenas observando-os indo em direção ao bar. Não que fora proposital o silêncio da parte dela, mas era porque a loira realmente não sabia o que dizer. E deveras, como era difícil para um mero mortal deixar Sam Puckett sem palavras... Tudo o que havia restado para ela era amaldiçoar-se, amaldiçoar-se por ter perdido a oportunidade de ar uma resposta afiada, por novamente não saber o que dizer...

E assim o tempo foi passando, com ela alternando olhares entre o engenheiro, e o capitão, mesmo que contra a sua vontade. Pois, por mais que tentasse concentrar toda a sua atenção no rapaz que estava na sua frente, tudo o que conseguia oferecer a ele eram olhares sem foco e respostas mecânicas. Maldito sejas Fredward Benson e seu poder de pirraçar alguém...

Depois de apenas ouvir palavras e mais palavras que para ela não passavam de sons desconexos, a sommelier abaixou o olhar, onde encontrou no chão um pequeno chaveiro, cujo objeto assemelhava-se a uma pequena canoa:

— Hey, acho que você deixou cair isso - Exclamou ela estendendo a mão com o chaveiro em direção ao rapaz em sua frente

— Minhas chaves? Estive procurando por elas a noite toda feito um louco!

— Bem, acho que não precisa mais surtar, porque elas estavam bem aqui ao pé da mesa.

— Obrigado, meu pai me mataria se eu perdesse isso!

— Disponha... Hey, o seu chaveiro, ele parece um...

— Um bote salva vidas?

— Sim, isso mesmo... Eu já vi muitos desses na minha vida quando estava embarcando. Mas graças a Deus nunca precisei pegar um, pelo menos não até agora.

— E sinceramente, espero que nunca precise! Esse é o meu chaveiro favorito, eu o adquiri em uma maquina de brinquedos quando fizemos uma pausa em Illinois.

— Naquela máquina do shopping? Eu também joguei com aquela garra, mas consegui pegar um navio de primeira - Explicou a loira retirando um molho de chaves do bolso e colocando-a sobre a mesa

— De primeira?! Ensine-me seus truques, mestres! - Gesticulou o comandante simulando uma reverência - Eu também tentei tira-lo vários vezes, mas só conseguia pegar botes e âncoras. Entretanto, desisti de tentar pegar o navio assim que me explicaram o significado do bote salva vidas...

— Sério? E qual é?

— Bem, depois de várias tentativas frustradas de conseguir pegar o meu tão sonhado barquinho, eu iria solta-lo durante a última tentativa quando um senhor, que havia se aposentado da marinha, passou por mim. Ele disse que estava me observando desde o corredor, e perguntou o porque de eu não querer o pequeno bote. Eu disse que era muito simples, e que eu preferiria algo um pouco mais bonito. Foi quando o senhor de cabelos grisalhos parafraseou que a simplicidade, é o que torna as coisas mais bonitas, assim como o seu significado... O bote salva vidas poderias ser simples, mas ele significava salvação. Era onde as pessoas procuravam abrigo, onde as pessoas procuravam refúgio quando o navio onde haviam embarcado, estivesse afundando...

— Essa realmente é uma bela explicação...

— Sim, é mesmo. E por mais que eu não saiba qual era o nome daquele senhor, ele me ensinou o valor de um bote salva vidas. A verdade é que dentro ou fora da água, uma hora nós temos de recorrer ao nosso próprio bote salva vidas, quando tudo o que conhecemos começa a afundar...

— Tem certeza que você não é um poeta, ao invés de um capitão?

— É, quem sabe um dia eu não lance um livro sobre as minhas reflexões em alto mar? - Exclamou ele em um tomo brincalhão

— E quem sabe eu não vá compra-lo um dia? Eu não costumo ler com muita frequência, mas, pra isso eu faria um esforço! - Respondeu ela no mesmo tom

Mas, não muito tempo depois, o sorriso que antes tomava conta da expressão decaiu novamente, assim que ela lembrou-se do motivo de seu naufrágio e permitiu que tais águas entrassem novamente. Ela não deveria incomodar-se com esse fato, mas a visão dos dois conversando como se fossem velhos amigos, era como uma âncora afundando em seu estômago....

— Brad, eu, acho que já vou vindo...

— Tudo bem? Eu, eu disse alguma coisa errada?

— Não! Não você não fez nada de errado, eu apenas me lembrei que eu deixei a chave da garagem com o síndico, e se eu não busca-la em 5 minutos, com certeza ele vai me esganar!

— Oh sim, se está tudo bem, então eu fico mais aliviado. Quer uma carona até lá? Eu estou de carro e te garanto que não consumi nem um pingo de álcool!

— Não, sem problemas Brad, não precisa se preocupar. Eu também deixei minha moto no estacionamento, e vou matar minha saudade de andar com ela. Mas, agradeço o convite... Nos vemos depois, certo?

— Claro, com certeza...

E despedindo-se dele com um beijo no rosto, a consultora gastronômica saiu do local, dando apenas um único e definitivo olha para trás...

Foi quando ela desceu até o estacionamento e colocou seu capacete, que a loira percebeu que já havia sim, ?utilizado o bote salva vidas. Na verdade, ela já havia usado-o várias vezes. Não em alto mar, o que deveras soou como um alívio em sua mente. Mas, sim, nos diversos naufrágios do dia a dia que sofreu em sua vida...

Visto que os redemoinhos que a assombravam tornavam a vida da loira um ciclo vicioso, já era de se esperar mais uma coisa não havia mudado: sempre que percebesse que o navio iria afundar, ela correria para o bote salva vidas. Em outras palavras, sempre que percebesse que as ações e palavras do Benson estavam atingindo-a como um míssil, e fazendo-a afundar, ela sairia em busca de um lugar seguro, onde pudesse salvar a sua sanidade...

Mas, não. A loira definitivamente não iria chorar as mágoas como a maioria da pessoas fariam. Ela não era uma mulher comum, nunca fora, e jamais cogitou ser. Definitivamente, Sam Puckett não era como as outras... Ao invés disso, resolvera pegar sua moto, uma Sterling 1964 que havia ganhado do Shay mais velho no dia de sua formatura, e sair dirigindo sem rumo pelas ruas, apenas sentindo aquela brisa familiar batendo em seu rosto...

De fato, realmente não deveria importar-lhe com quem o moreno relacionava-se ou quem deixara de visitar. Entretanto, isso estava além do seu poder, além da sua compreensão. E pelos céus, se havia uma coisa que Samantha não suportava, era lidar com algo que ela não poderia controlar... Odiava a sensação de vê-lo contar vantagens ou flertando com outras a esmo. Mas, odiava ainda mais o fato de sentir-se incomodada com isso. Não deveria, nem ao menos queria, mas era uma coisa com a qual a sommelier teria de aprender a conviver...

Porém, mal sabia ela que do outro lado do oceano havia alguém que também estava buscando refúgio em seu próprio bote salva vidas, alguém absurdamente familiar tentado massagear o seu ego ainda ferido e inflado. Deveras, por mais bela, inteligente, e incrivelmente parecida que Lexie Lane fosse com ele, Fredward Benson sorria para a imagem que estava diante dos seus olhos, mas, no fundo, não via graça nem magia no que estava acontecendo...

Era maravilhoso para ele saber que poderia ter a mulher que quisesse e quando quisesse, isso era algo que jamais deixaria de ser novo. Porém, ele não precisava disso, nem era o que desejava, apenas sentia ímpetos de de mostrar a ele que ele estava bem, que não precisava mais dela e que havia seguido em frente. E para a sua vergonha, o moreno cedia a essa fraqueza...


E novamente, mal sabia ela que no final da noite ele dispensaria a moça da vez, levando-a até um ponto de taxi onde pagaria a corrida para casa. Após isso, o engenheiro apenas caminharia pela estrada solitária até seu apartamento, onde entre pilha e mais pilhas de livros, relatórios, e plantas, usufruiria de umas noites de sono afim de recarregar as energias para o trabalho no dia seguinte...

Não que ele tivesse a pretensão de convidar moças solteiras para sair apenas para dispensá-las depois. Fredward poderia ter lá os seus defeitos, mas se havia algo que seu pai Leonard havia lhe ensinado, era como ser um homem de respeito. A verdade é que no tempo em que a loira esteve ausente, ele realmente tentou por várias vezes seguir em frente. E em todas as vezes, sem sucesso. Para ele, não era difícil encontrar uma moça "perfeita" segundo os padrões da sociedade. Mas, por mais belas que aquelas mulheres fossem, o rapaz era incapaz de sentir uma pequena coisa: o amor...

De fato, Freddie era capaz de entender tudo o que sentia por aquelas moças, era então quando percebia que havia algo errado: jamais tente entender o coração com a mente. Sentimento não se explica, apenas se sente. E se ele era capaz de entende-lo, deveras, não era amor...

E por mais que fosse acostumado com rotinas, o moreno odiava ceder a monotonia, e era por isso que os dias que havia passado com ela, haviam sido os melhores da sua vida. Encontrar um alguém igual, é garantir aquilo que você espera. Mas, encontrar um alguém diferente, que vire o seu mundo de cabeça para baixo, é sempre esperar pelo inesperado, e receber de fato aquilo que se merece. Como dizem, as melhores coisas acontecem por acaso, mas não fora nem um pouco por acaso, que as melhores coisas aconteceram ao lado dela...

E assim prosseguiam as coisas no dia a dia: cada um remando em seu bote salva vidas, em uma competição cega de até aonde o outro aguentaria remar. E novamente, mal sabiam eles que estavam apenas drenando suas energias ao nadar sem rumo, até chegar ao ponto onde ficariam apenas os dois perdidos no meio do oceano, sem ter a quem recorrer, sem ter como obter ajuda, apenas contando com a sorte de que as onde as quais estavam a mercê, não tentassem engoli-los...


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Notas finais do capítulo

E então?
Gostaram? Odiaram?

Por favor, sempre que possível deixem seus comentários para que eu saibam se estão e gostando, eu irei amar responder a cada um deles...

Até o próximo capítulo! ♥



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