O fantástico mundo de Eldarya escrita por Tsukikage Yuri


Capítulo 12
Capítulo 11- Fluxo de cogumelos


Notas iniciais do capítulo

Sim, outro. Essa garota aqui virou uma máquina!
Enfim, espero que gostem.
Até loguinho ♥



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— Fala sério! Faz mais de uma semana que eu cheguei e to aqui, plantado igual idiota. Que saco!

 

E começamos esse episódio assim, com o cheira cu já reclamando.

 

— Se achou ruim, devia ter falado com a puta das chamas na hora. Se bem que a sua moral tá abaixo da da Geléia.

— Você não sabe o que eu passei! Chegou só ontem!

— O Oráculo tem seus favoritos._ digo, dando de ombros.

— Eu vou reclamar, isso não vai ficar assim. Vou falar com ele quando voltar.

— Que o Oráculo esteja com você._ levantei as mãos para os céus.

— Você não botou fé, né?

— Você pode até reclamar, mas ser levado a sério já é outra história. Já disse, tá sem moral.

— ..._ o cachorrinho me olhou, deprimido.

— Como estou muito bondosa, vou até te fazer carinho._ digo, fazendo cafuné na cabeça do ruivo._ Vamos ter que esperar mesmo. Você disse que já fizeram buscas na caverna e não acharam nada. A não ser que sejam todos incompetentes, o que eu não duvido.

— Eu já sei disso, mas mesmo assim é um saco.

— Paciência não é o nosso forte, pelo que to vendo._ suspirei.

— Você tá diferente de quando te conheci._ disse, me olhando.

— Hm, por acaso estou mais sexy?_ pisquei.

— Não._ ele respondeu, entediado._ Parece mais... madura. Não sei se seria a palavra certa.

— Eu sempre fui madura.

— Acsa, nós dois sabemos que é mentira.

— Foda-se.

— É, nessa parte, você ainda continua a mesma.

— E nunca vou mudar._ sorri._ Vamos voltar pra descansar, eu sou sedentária.

 

Nós andamos até a estalagem, que era uma caminhadazinha não muito longa. E não conseguimos ficar em paz lá dentro.

 

— Sua cara vai ficar assim pra sempre?_ perguntei.

— Te incomoda?

— Não é o avatar maldito, mas chega a ser um pouco repugnante, sim.

— Você que é repugnante.

— Ai, nossa. To triste. Acho que vou chorar._ fingi que uma lágrima caía do meu olho.

— Blá blá blá.

— Buááááá!

— Você é tão besta...

— E você adora essa besta aqui._ sorri.

— Você tem sorte. Bom, vou dormir.

— Vai comer nada?

— Não, é noite sem lua. Prefiro ficar em jejum._ após a fala do ruivo, minha barriga roncou.

— Ok, acho que isso não é opção pra mim.

 

Ele sumiu, provavelmente pra ir dormir. Enquanto isso, eu procurei algo pra saciar minha fome de caminhoneiro. Depois, fui dormir porque sempre tenho sono. Como vi no dia anterior, o céu ficou mais escuro e parecia ter uma neblina fluorescente bem longe, parecia até que tava rolando baladinha. A gruta era mais ou menos à 3 quilômetros. Enfim, capotei e acordei logo de manhãzinha, por causa de um animal FILHO DA PUTA que cantou alto e me atrapalhou.

 

— Mas é uma porra, nem aqui posso dormir em paz.

 

Desci as escadas para encontrar o cheira cu na frente da estalagem. Ele parecia mais animado. Ao menos um de nós, né?

 

— Oi, Acsa!_ sorriu.

— Oi... Parece que sua noite foi boa.

— Sim, bem. E você?

— Foi uma merda.

— Deixando isso de lado, você viu a neblina ontem?

— Rolou baladinha mesmo, né? Como eu pensei...

— Acho que não é isso. Mas os moradores veem e nem se preocupam.

— Ah, meu amigo, se for como os fluxos que rolavam perto da minha casa, é questão de costume mesmo. Tem que agradecer que não tem babacão fazendo randandan por aqui de madrugada. Mas deixando isso de lado, alguma notícia sobre as explorações?

— Nada. Mas faz dez minutos que um monte de gente tá se reunindo em volta da anciã, e me olham como se eu fosse um monstro.

— Imagina se vissem o muro. Vamo lá ver.

 

No centro do bairro, a véia envergada tentava dar um jeito de dibrar as pessoas na lábia. Pareceu que não tava dando muito certo.

 

— O que aconteceu com Wylfried é horrível, mas a Guarda de Eel prometeu ajuda. Tudo vai se acertar. Querida Emília, seu noivo voltará com saúde. A doença não é definitiva, podemos curá-la e à ele também.

— "Política ela, en."

— Ainda bem que encontramos ele à tempo. Vamos Emília, vamos preparar alguns cocheiros e uma caravana. Assim que a jovem elfa voltar, vocês pegam a estrada em direção ao QG.

— "Acho que não foi uma simples baladinha."

 

Pelo que entendi chegando lá, o guarda dos portões da aldeia, chamado Wyl alguma coisa, foi contaminado pelo vírus do fluxo. Sim, esse é o nome agora. Foi ele quem nos recebeu quando chegamos. Bom, é difícil se manter impassível no meio de tanto nóia.

 

— Desse jeito, a Ewelein não vai aguentar. Ela deveria ficar na aldeia enquanto outra pessoa acompanha os doentes na caravana.

— Logo mais ela que vai ter que fumar cogumelo pra se manter de pé.

— Que cogumelos você tá falando?_ me olhou, como se eu fosse doida.

— Muda essa cara. A gente tem que ver esse lance com ele, porque se continuar assim, os fluxos vão continuar e vai todo mundo ficar noiado.

— Vamos lá. Ele me disse que estaria perto das grutas hoje de manhã.

— Beleza, bora.

 

Na hora que começamos a andar, minha vista ficou preta. De novo. Mano, eu tinha que ir pra um oftalmo, o negócio tava foda. Então, uma voz começou a falar.

 

— Cuidado! Você só poderá passar seu episódio com um dos três rapazes: Ezarel, Nevra ou Valkyon. Se você não cair no seu personagem preferido, você deverá mesmo assim terminar seu episódio ou seu replay. Quando o episódio tiver sido feito uma vez com cada rapaz, você poderá escolher com qual deles passar os próximos replays.

— E como eu faria replay se to literalmente vivendo aqui dentro, porra?

— Você entendeu tudo?

— Entendi entendi, agora devolve a minha visão.

 

Minha vista voltou ao normal, e dei de cara com quem menos queria.

 

— Por que tinha que ser justo ele?_ perguntei para o universo, apontando para o elfo.

— Feliz em ver você também._ disse, entediado.

— Eu te odeio do fundo da minha alma._ digo, trincando os dentes.

— Então, o casal vai continuar brigando ou vamos mudar de assunto?_ o ruivo se pronunciou.

— Se você falar isso de novo, juro que vou arrancar o seu rabo. De um jeito bem doloroso._ digo, fuzilando ele com os olhos. Aparentemente, o avatar fez a mesma coisa, porque o cheira cu ficou amuado.

— O que querem comigo?

— Acabamos de ver mais um afetado pelo vírus do fluxo. Você quem o encontrou?

— Vírus do quê? Tá, fui eu. Ele estava perto da gruta, mesmo a gente proibindo os passeios noturnos lá. Foi idiota.

— Deixando de lado o QI do indivíduo, o que vamos fazer? A gente explora agora pela manhã?

— Nem ferrando! Vocês vão interrogar os habitantes, encontrar pistas sobre o que pode estar acontecendo... sem entrar na gruta.

— Você sabe que a gente não vai avançar assim, né?_ perguntei, cruzando os braços.

— E o que você vai fazer?_ o ruivo questionou para o avatar.

— Explorar a gruta em busca de respostas.

— Por mais que eu queira que você morra, não acha arriscado ir sozinho?

— Preocupada comigo?

— Foda-se, tomara que morra bem lentamente.

— Acha que vamos aprender algo, só ficando plantados sem fazer nada?

— Ei! Vocês vão fazer o que eu mandar e ponto._ disse de forma autoritária.

— Ui, que medo._ digo, fingindo uma tremedinha.

— A situação vem piorando. Vocês não vão ser contaminados sob minhas ordens. Agora, saiam.

 

Pra mim, parecia que o ego dele de líder de guarda seria ferido. Bom, eu não seria contaminada. É vírus do fluxo, já to imune há tempos. Eu e o cachorro nos afastamos, ele bem mais frustrado do que eu. Decidimos voltar a investigar, não tinha muito mais o que fazer. O ruivo ia perguntar sobre o guarda que ficou noiado e eu encontrei restos do fluxo de ontem, ia questionar o pessoal sobre isso. Sim, momento CSI. Inclusive, to atrasada algumas temporadas. Enfim, desde que a Chihuahua foi embora algumas semanas atrás, eu não fiquei mais de boa. Acho que ela deve ter falado alguma coisa pra himedere. Me ferrou, agora não podia mais vadiar. Bom, e vamos de flashback para alguns dias atrás, pra vocês entenderem minha situação. Eu estava de boa, lendo um livro de datas importantes que o Keroshana tinha enfim terminado pra me emprestar.

 

— Desculpe, não é muito exato. Demoramos pra desenvolver um arquivamento eficaz.

— Relaxa, Keroshana. Não me importo com isso.

— Nos primeiros séculos, nossos ancestrais não eram muito organizados...

— Eu to vendo._ digo, lendo um pouco._ Calma, aqui diz criação de Eldarya. Vocês criaram esse lugar do zero?

— Achei que você já sabia dessa parte. Nossos antepassados criaram Eldarya algumas décadas antes do Grande Exílio.

— Eu nunca fui boa em história._ respondi, folheando mais algumas páginas.

— Você deveria ir assistir algumas aulas no Refúgio.

— Isso se a kitsune largar do meu pé. Vocês não tem boletim aqui não né? Notas pra passar de ano e tal... porque talvez eu repita.

— Não temos esse sistema aqui._ respondeu, rindo.

— Ótimo, já basta no meu mundo.

— Posso te matricular, se quiser.

— Ia me ajudar muito!

— Bem, temos poucas vagas porque os professores são voluntários. Você precisará entrar no nível iniciante e principalmente particular.

— Eu vou ter aulas particulares? O Nevra dá aulas?_ perguntei, ansiosa.

— Acho que não... mas aulas particulares serão melhores, já que os iniciantes são crianças.

— Ah, então é melhor mesmo. Não quero ter aulas com o pivete chorão do meu lado.

— Olha, por enquanto vai ser complicado. As pessoas aptas estão ocupadas em missão ou prestes a partir.

— Ah tudo bem, não é minha prioridade também.

— Nossa história não te interessa?

— Olha, tá na listinha de coisas a fazer. Eu não faria, mas a madame me disse pra não abandonar nada. Vou levar em consideração esse conselho.

— Entendi. Bem, vou te avisar quando tivermos aulas disponíveis.

— Tá, beleza.

 

Agradeci e voltei para o matagal do meu quarto, com alguns livros em mãos. Ia adiantar o que conseguia com livros. Nunca pensei que chegaria o dia que estudaria com livros. A vida tem dessas né? Com a saída da Chihuahua, tivemos várias tarefas pequenas: arrumar a cozinha (se fodeu, Naruto), limpar os quartos... Eu tive que preparar comida para o inverno. Ou seja, tive que ir ver o puxa-saco.

 

— É verdade que será daqui a bastante tempo, mas melhor prevenir, não acha?_ perguntou, se referindo ao inverno.

— Ah sim, nunca se sabe que merda pode dar.

 

Ele começou a folhear um livro de receitas bem velho, bem velho mesmo. As folhas quase desintegravam quando ele passava os dedos. Eu levantei a cabeça um pouco pra curiá, e ele pigarreou pra me chamar atenção. Eu dei de ombros.

 

— Ei, vocês não tem livros mais recentes?

— Não. Meus livros tem alguns séculos...

— Putz, tá até bom, então.

— A cozinha dos nossos ancestrais é sagrada, temos ela no sangue, sabe?

— Hm, mas vocês poderiam incrementar também. Manter o antigo e adicionar o novo, sei lá.

— A gente pega o que aparece. O que a gente rouba... quer dizer, compra dos camponeses da Terra.

— ... Você rouba? E tem agilidade pra isso?

— Eu nunca disse isso! Não é verdade, não roubamos nada._ refutou, emburrado. É um péssimo mentiroso.

— Tá, vou fingir que não ouvi.

— Você me enche o saco.

— Você também não é a melhor das companhias. Nem tá na lista de candidatos, na verdade.

 

Depois de deixar claro que só aturamos um ao outro, de novo, o Keroshana apareceu e me requisitou. O Naruto praticamente me empurrou pra fora.

 

— Então, pra que precisa de mim?

— É a Miiko, na verdade. Ela tem uma missão pra você.

— Meu Deus, de novo? Vou ter que ser anfitriã de quem agora?

— Na verdade, foi a Huang Hua mesmo quem te recomendou. Ela ficou impressionada com você.

— Fato, isso é normal.

— Bom, é melhor ver a Miiko, ela vai te dar mais detalhes.

— To indo, to indo._ caminhei em passos lentos até a sala do cristal._ Licença sem licença. Vou ganhar quantas maanas pela missão?

— Bom te ver também, Acsa._ respondeu, entediada. Do seu lado, estava o elfo.

— O que esse puto tá fazendo aqui também?

— Calma.

— "Irônico você me pedir isso né."_ pensei, cruzando os braços.

— Como você sabe, antes da chegada da Huang Hua, o Ezarel aqui foi convocado pra uma missão na aldeia de-

— Balenvia. É, to lembrada.

— Enfiiim, continuando... Nós confiamos a ele a missão para que possa continuar e queremos que você vá junto.

— Foi pra isso que eu fui recomendada? Com ele ainda?_ reclamei, apontando para o avatar com a cabeça.

— Estou tão feliz quanto você, acredite._ respondeu, entediado.

— Você aceita?

— E as maanas?

— Falamos sobre isso depois.

— "Hm, sinto que to sendo enrolada."

— Arrume-se, você parte agora pela tarde.

— Porra!_ saí correndo da sala, indo para o meu quarto.

 

Peguei algumas coisas, tipo saco de dormir, comida, roupas... Não sabia em que condições tava o lugar né? Achei bom levar minha espada e um kit de primeiros socorros também. E não, não iria usar no avatar maldito. Colocando tudo em um mochilão no meio do corredor, encontrei a Karenn.

 

— Ei, como você está?

— Com pressa. Me jogaram em uma missão e vou partir agora a tarde.

— Sério? Aquela missão que o Ezarel estava antes, na aldeia?

— Essa mesmo.

— Ah, boa sorte. Estou meio triste, já que acabaram as fofocas.

— Hm, que peninha en. Eu tenho que ir agora. Tchau._ digo, correndo.

 

E na sala das múltiplas portas, encontrei o homem com quem eu queria passar o episódio. E não foi dessa vez.

 

— Acsa..._ disse, sorrindo.

— Uhum, eu mesma. A única._ respondi, sorrindo.

— Está contente com a sua missão em Balenvia?

— Sim e não, mais não do que sim. Você poderia ir comigo, em vez dele.

— É verdade, você vai com o Ezarel..._ disse, um pouco mais pra ele do que pra mim.

— Com ciúmes? Juro que não vou te trair._ digo, levando uma mão ao coração.

— Haha eu sei, conheço bem essa sua parte._ sorriu._ Mas ele vai adorar te torturar.

— Isso se ele estiver vivo. Mas deixando isso de lado, o que você vai fazer enquanto eu estou fora?

— Nada...

— Hm, tente não ficar tão depressivo na minha ausência. Vou tentar voltar logo pra você._ sorri, indo embora. Ele sorriu.

 

Ah, como estávamos indo bem. Antes que eu pudesse ir para a parte do mercadinho e Refúgio do QG, ouvi outra voz, que não me agradou em nada.

 

— Olha quem está aí.

— Uau, você sabe usar seus olhos.

— Minha querida parceira!_ sorriu.

— Avatar de merda que eu detesto mais que tudo._ sorri.

— A pior notícia do dia foi descobrir que você vai comigo em Balenvia.

— Ah, assim você me ofende._ fingi tristeza.

— Sabe o quanto eu vou sofrer, aguentando você 24hrs por dia?

— Posso acabar com isso, arrancando o seu coração. Seria um favor até pra mim._ cruzei os braços.

— Teremos uma missão bem agitada._ sorriu.

— Ah sim, isso eu concordo._ sorri em resposta.

 

E com o foco total no ódio que temos um pelo outro, não percebi que estávamos nos encarando tão perto até sentir a franja dele na minha testa. Com um susto, dei um puxão em uma das suas orelhas e continuei a caminhar.

 

— Você é insuportável.

— Você é melhor nisso do que eu._ respondi, saindo do QG._ "Ah droga, não sei onde preciso esperar. Vou ter que voltar pra sala do cristal."_ pensei, desanimada.

 

A possibilidade de reencontrar o elfo maldito deixava tudo ainda pior. Com a sorte que tenho as vezes, consegui ir pra lá sem ver esse puto. Dentro da sala do cristal, descobri que minha sorte estava melhor do que esperava.

 

— Nevra, eu sei que é contra os seus princípios, mas não tem muito o que fazer.

— Só quero que você pense nos riscos disso. Se souberem que roubamos deles, seremos atacados. Realmente vale a pena?

— "Hm, tretinha. Tava demorando até."_ fiquei no cantinho, assistindo.

— Espero que sim..._ a kitsune respondeu, preocupada._ Acsa, o que foi?

— Bom, eu to pronta pra partir. Onde preciso esperar?

— O Ezarel está pronto também. Pode encontrá-lo na entrada da floresta.

— E lá vamos nós._ comecei a andar, mas logo me virei._ Tchauzinho, mozão. Volto logo._ mandei um beijinho e saí da sala.

 

Ouvi um 'Volte bem' do moreno e caminhei sorrindo, até chegar na entrada da floresta. Quando vi o azulado, meu sorriso sumiu na hora.

 

— Então, pronta?

— É é, vamo acabar logo com isso._ acenei com a mão, sem muito interesse.

 

Então, voltamos para os tempos atuais. Onde estamos na bosta. Rodei o lugar em busca de pistas ou pessoas pra interrogar. Isso me mostrou como é difícil ser detetive e tal. Encontrei algumas pessoas, fiz umas perguntas, mas nada muito concreto. Decidi ir encontrar o cheira cu, pra ver se ele tinha alguma novidade.

 

— Nada aqui, acho que não consigo mais nenhuma informação com ninguém. E você?

— Ééé... Um pouco, acho.

 

Mostrei as pegadas que consegui, que todo mundo disse que não conhece nem sabe de quem ou o que pode ser. Sobre os desmoronamentos de rochas, que achamos ter uma outra explicação. Enfim, teorias. Nós juntamos nossas informações e ele tentou jogar o relatório nas minhas costas.

 

— Lindo você, en? Vem ajudar.

— Tá bom...

 

Sem muito ânimo, fomos até o avatar maldito. Infelizmente, o relatório seria por fala. Como eu queria os formulários agora, pra evitar ver aquele puto.

 

— Ó o gááás!!_ gritei.

— Como é discreta._ o azulado disse.

— Eis-me aqui para vos passar o estimado relatório da vossa investigação._ me curvei._ Vamos resumir para o princeso.

 

Eu e o ruivo intercalamos a explicação, entregando nossas anotações pra ele. Parecia até bem concentrado, coisa que eu não esperava. Assim que terminamos, ele sorriu.

 

— Parece que pelo menos dessa vez, fizeram bem o seu trabalho.

— Cuidado, vou pensar que está sendo gentil. Ah não, você não consegue.

— Vocês podem ir descansar.

— Acabou?

— Quer mais alguma coisa?

— Sim, ir nas grutas seria um bom começo. As informações que as pessoas daqui passam não batem, tá bem claro que tem algo lá. Até você deve ter percebido isso. Ou te superestimei demais?_ perguntei, cruzando os braços.

— Você acha que com isso vou te deixar ir sozinha pra se envenenar e eu me responsabilizar por isso? Quem acha que é?

— Eu sou a Acsa._ dei de ombros._ Só se faz uma pergunta. Quanto tempo você acha que temos até você ter culhão suficiente pra nos deixar ir lá?_ soltando essa, me virei para o ruivo._ Vou deixar sua mente trabalhar. Vamo, cheira cu._ digo, começando a andar.

— Esse não é o meu nome!_ reclamou, me seguindo.

— Foda-se.

 

Voltamos para a estalagem e o ruivo veio ao meu lado.

 

— Você acha que foi o melhor falar daquele jeito?

— E como você acha que aquele cabeça dura vai entender?

— Eu sei porque ele disse o que disse.

— Não vem me dizer que ele tá preocupado, porque não vai colar.

— Enquanto vocês estavam discutindo, eu olhei o caderno dele. Discretamente.

— Hm, e?

— Ele falou de envenenamento. Quando conversei com os habitantes das grutas, me disseram que lá podemos ver longas galerias...

— Vai direto ao ponto.

— O Ezarel anotou no caderno #!@$_ e eu não entendi nada, ele falou em outra língua.

— Tradução.

— É grego arcaico. É o basilisco, como na história que você me contou uma vez.

— Ainda não entendi onde você quer chegar.

— O Ezarel escreveu o nome da Huang Hua ao lado da palavra 'antídoto'. E se as minhas memórias sobre as aulas não me falham, só um Fenghuang consegue curar os males do basilisco.

— Ele quer que eu vá buscar a madame lá nas terras da puta que pariu?

— A gente devia falar com ele, de novo.

— Ah não, vai sobrar pra mim. Eu não vou.

 

E depois dessa, fui dar uma volta na floresta. Voltei quase a noite para a estalagem, e só dormi. Esperava que o cheira cu não tivesse adiantado esse assunto com o elfo, porque se tivesse, pelos iriam voar. Meu sono foi interrompido mais uma vez, agora foi no meio da madrugada.

 

— Mas que caralho, que foi, porra?_ me remexi na cama.

— Acsa, desça imediatamente. Preciso te ver._ o azulado exigiu.

— A saudade bateu forte, en._ me vesti, encontrando-o na frente da estalagem._ Que que você quer?

— Se prepare, vamos explorar as grutas essa tarde.

— Ah, finalmente o culhão está aí. Mas podia ter me acordado depois, né?

— Eu estava esperando o retorno da Ewelein com alguns amuletos e poções, para nos proteger de possíveis venenos que podem ter lá dentro.

— Você podia ter falado né? Gosta de uma treta sem sentido, parece.

— Você já é chata sem saber o que acontece, imagina sabendo.

— Ah, vou voltar a dormir. Te encontro de tarde._ respondi, bocejando.

— Te espero na frente da aldeia. Não demore.

— Tá tá, vou avisar o cheira cu também.

— Não, ele tem outra coisa pra fazer. Vai me acompanhar amanhã.

— Espera, então somos só nós dois em uma gruta?

— Não fique imaginando coisas.

— Você não vai me assassinar assim tão fácil. Seu corpo vai acabar estirado em uma pedra, no final do dia._ disse, voltando para a estalagem._ Poderia ser com o Nevra... Aaah, Oráculo de cu!

 

Dormi o tanto que consegui, me levantei e fui para a entrada da aldeia. Esperei só alguns minutos e já vi ele de longe.

 

— Coloca isso e bebe isso. Dessa vez, o gosto é bom.

— Não confio em você._ digo, colocando um colar e logo depois bebendo a poção. Fiz cara de nojo._ Se não fosse necessário, cuspiria na sua cara.

— Hehe.

 

E seguimos em direção as grutas. Encontramos a enfermeira dos cogumelos no caminho.

 

— Ei, ainda viva? Tá se matando de trabalhar esses dias.

— Sim, mas estou exausta. O talismã te serviu?

— Como uma luva.

— Quis dizer se você sentiu alguma mudança. Bebeu a poção?

— Nadinha de diferente. Bebi a poção sim.

— Hmm, certo..._ disse, um pouco decepcionada.

— Tá certo mesmo?

— Você deveria ter mais energia.

— Bom, talvez seja porque eu dormi até agora pouco.

— Pode ser._ ela se aproximou._ Cá entre nós, tem um veneno circulando por aqui sim. Mas não acho que os amuletos ou poções vão ajudar.

— Então estão todos condenados. Podemos jogar uma bomba, talvez seja mais fácil.

— Acsa, eu preciso do veneno original pra trabalhar no antídoto.

— Então manda só o avatar maldito, já que corremos risco de vida.

— Não vamos fazer isso._ se aproximou mais._ Embora eu queira um pouco._ ela sorriu e eu ri.

— Vou tentar trazer uma amostra generosa pra você.

— Obrigada.

 

Continuamos nossa caminhada até as grutas e finalmente entramos. Ele para logo após entrarmos, dando instruções.

 

— Vamos começar explorando a entrada e os arredores, nada de ir muito fundo. É para conhecermos a área um pouco, entendeu?

— Sim, senhor.

— Como? Pode dizer de novo?_ perguntou, sorrindo.

— Vai tomar nesse teu cu._ respondi, deixando ele pra trás.

 

E lá vou eu para a aventura de exploração na gruta. Cada lugar que eu passei, imaginei como seria se eu estivesse com o mozão. A gruta teria que ser fechada. Enfim, colhi alguns musgos pra entregar pra enfermeira. Acabei chutando uma pedrinha sem querer, e fiz um barulhão, porque ricocheteou nas paredes.

 

— Super discreta, você.

— Não tem outro lugar que você possa ir?

— Não, te atormentar é mais divertido._ sorriu._ Ei, olha.

— O que? Sua cara de arrombado?

— Eu queria pedir desculpas por ontem...

— Já disse que não confio em você. Pode enfiar suas desculpas no teu cu.

— Tsk. Eu não sou assim. Você estava certa em não querer ficar quieta. Mesmo eu sendo líder dessa missão, não deve me obedecer sem refletir.

— Não diga o óbvio, sempre vou fazer assim. Ninguém precisa me dar permissão.

— Não exagere também.

— Você merece isso e muito mais.

— Nunca perde a fala... Está andando muito comigo, não acha?

— Eu sou muito melhor do que você.

 

Nós sorrimos e continuamos a exploração. Ok, esse momento foi estranho. Entre várias andanças, acabo quase esbarrando no cachorrinho.

 

— Cheira cu?

— O que você está fazendo aqui? Devia estar com a Ewelein, trabalhando nas vacinas e remédios.

— Eu sei, ela precisa de uma amostra da fonte do veneno pra fazer um antídoto eficaz.

— E ela te pediu ou você quem decidiu por conta própria?

— Eu... eu pensei que podia ajudar.

— Sério... O que fazer com você?

 

Os dois me encararam, percebendo que eu estava sentada em uma rocha qualquer, com as pernas cruzadas.

 

— Ah, não se incomodem. Continuem, está interessante._ o azulado suspirou.

— Volte imediatamente para a aldeia e ajude a Ewelein. Não quero te ver enrolando!

— Desculpa!_ e foi embora com o rabinho entre as pernas. Ok, parei.

 

O elfo parecia resmungar sozinho, reclamando. É a idade, a velhice faz isso com a maioria mesmo. Continuamos a exploração, quando ouvi alguém me chamando.

 

— Isso não deu muito certo, da última vez que alguém me chamou.

— Ei, Acsa. Aqui!_ o ruivo acenou de trás de uma rocha um pouco distante. Eu fui até lá, discreta pro avatar não me ver.

— Tá, o que você tá fazendo aqui ainda?

— Fala baixo!_ sussurrou. Eu me agachei e continuei.

— Você quer morrer, por acaso?

— Não, mas não tem nada pra fazer na aldeia. A Ewelein já explorou todas as opções.

— Você podia esperar, to levando uns musgos pra ela analisar.

— Sabemos que é um basilisco. Eu tenho uma ideia para uma poção, mas preciso de suas secreções.

— Não, você ACHA que é um basilisco.

— Mais baixo!!_ ele sussurrou, um pouco mais alto. Eu me ajoelhei no chão._ Eu tenho certeza que é basilisco.

— Vai lá então, biomédico.

— Posso te pedir um favor?

— Depende. Você tem quantas maanas?

— Você não está pedindo...

— Ah, to sim. O que você quer?_ o ruivo suspirou.

— Pode dizer a minha teoria para o Ezarel?

— Eu posso dizer que a ideia é sua.

— Obrigado!

— Não é de graça. Já vai preparando as minhas maanas._ digo, voltando para onde o elfo estava._ Com esse encontro repentino com o cheira cu, me lembrei de uma coisa que ele me contou. Uma teoria sobre a identidade do que sejá lá que está envenenando o povo com vírus do fluxo. Ele diz que é um basilisco.

— O que fez ele pensar isso?

— Bom, um veneno na história, as galerias da gruta que são passeio de festa de criaturas estranhas e a chegada da Chihuahua. Ele acha que a visita dela não foi coincidência._ ele riu.

— Interessante, quase me impressionei. É uma das minhas hipóteses, mas tem coisas que não batem.

— Que seriam?

— Nada de mordida. Eu esperava encontrar também secreções no chão ou muros, mas nada.

— Hm... É, trabalho de detetive é meio chato mesmo.

— De qualquer forma, já pedi pra Ewelein entrar em contato com a Huang Hua pra preparar as Lágrimas de Fênix. Vai que né.

— Pra que isso?

— É um remédio raro conhecido só pelos fenghuangs. Burra._ sorriu. Eu bufei.

— Impossível ter um diálogo de mais de cinco minutos contigo. Foda viu.

 

Voltei a andar, deixando ele pra trás. Vadio desgraçado. Nós ficamos mais alguns minutos, mas não fomos muito ao fundo. Quando estávamos pensando em ir embora, a gruta tremeu. Como se algum bicho tivesse rugido.

 

— Você ouviu isso?

— Tem como não ouvir?_ perguntei, olhando ao redor._ Acho melhor dar uma olhada.

— Não. A gruta está desmoronando. Vamos embora._ e como para enfatizar a fala do azulado, uma rocha caiu do meu lado.

— Caralho! Corre!_ digo, correndo apressada pra saída.

 

Mas antes que eu alcançasse a liberdade, um brilho no teto acertou meu olho, me deixando meio cegueta por um momento. Eu olhei e percebi que tinha uma passagem. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, o avatar me interrompeu.

 

— Se você for, eu te sigo.

— Botei fé. Bora.

 

Fomos rápidos até o lugar. Tinha alguns rochedos no caminho, mas tirei e passei de boa. E lá dentro, meus amigos, encontrei uma rocha. Tinha várias rochas, mas essa era... uma criatura, acho.

 

— "Que porra é essa?" Ow desgraçado, tinha cogumelos na poção da Ewelein?

— Não que eu saiba.

— Ok então, estou sã.

— É um grookhan, um mascote. Me pergunto o que ele faz aqui.

— Vou levar ele pra brincar com o Senpai. O nome dele vai ser Kouhai. Vem, vou te levar pra um lugar melhor que esse._ digo, pegando ele no colo.

— Terminou de brincar? Podemos retomar o trabalho?

— Isso foi uma missão de resgate, seu monstro insensível._ fingi drama.

 

Conseguimos sair da gruta, sem acidentes com rochas na cabeça. Uma pena, queria que alguma tivesse caído no elfo.

 

— Não acho que tenha sido um grande deslizamento.

— Então você foi bem dramático lá dentro.

— Eu não estava com medo, se é o que está insinuando.

— Eu não disse nada._ dei de ombros, fazendo carinho no mascote.

— Sinto que algo não está certo. Esse deslizamento foi conveniente demais, para irmos embora.

— Então eu vou voltar, leva o Kouhai pra estalagem._ digo, prestes a soltar a rochinha.

— Ei ei, aonde pensa que vai? E sozinha ainda?_ perguntou, segurando meu braço com uma estranha delicadeza.

— Não te dei essa intimidade. Solta._ ele me largou._ Qual sua grande ideia, líder?

— Observar, por enquanto. Tem alguma teoria?

— Hm, criaturas estranhas. Algo nesse sentido, acho.

— O que seria estranho na sua definição?

— Algo parecido com você._ ele sorriu, mas em seguida suspirou.

— Não viu nada enquanto estávamos nas grutas?

— Não. Mas procura por plantas, vegetais, legumes, algo do tipo. Pra ser vírus do fluxo, tem que ter essas drogas aí. Maconha é uma das principais.

— Suas ideias são loucas, como você. Deixando isso de lado, parece que a gruta estava bem cuidada demais.

— Como se alguém vivesse lá.

— Exato.

— Enfim, vou falar com a Haglaé. Entregue as amostras que conseguimos pra Ewelein.

— Sim sim._ respondi, andando para a estalagem.

 

A caminhadazinha foi boa, e não encontrei ela com o melhor dos humores.

 

— Espero que você fique menos estressada com as amostras que pegamos nas grutas.

 

Entreguei tudo enquanto expliquei as coisas que encontramos lá dentro. E apontei pro mascote rochoso. Descobri que o ruivo tinha voltado pra aldeia depois que me pediu o favor. Ia cobrar as maanas mais tarde. Decidi voltar pro meu quarto, o dia foi de muita caminhada e, como sabem, sou sedentária. E no meio do meu sono, alguém bateu na minha porta.

 

— Chega, to puta._ digo, me levantando com tudo da cama. Abri a porta sem delicadeza._ Se bater aqui de novo, eu arranco seus braços!_ encontrei a anciã, assustada._ Não vou me desculpar. O que você quer?

— Me encontre na entrada da aldeia, por favor._ ela saiu, sem dizer mais nada.

— Acho que choquei a velha.

 

Entrei no quarto e coloquei qualquer roupa. Saí com fome, caminhando até a entrada da aldeia, onde encontrei ela me esperando.

 

— O que que é?

— Como eu disse antes da Acsa chegar, vamos estabelecer um relatório do local._ disse o azulado.

— Podiam ter me chamado pra isso depois, não acham?

— Tomem cuidado._ a anciã disse.

— Não se preocupe.

— Conheço vocês, elfos. São orgulhosos, mas quando presos, viram crianças outra vez._ o elfo se calou._ Se quer ir, vá._ soltou essa e só foi embora.

— Ei ei, o que acha de avisar a pessoa aqui, antes de fazer as coisas?

— Preciso lembrar quem é o líder?

— Tá bravinho porque foi agredido verbalmente pela velha. Ela tem meu respeito agora.

 

Enquanto caminhamos, ele me explicou que o cheira cu e outro cara da guarda nos acompanhariam, mas ficariam para trás. Disse também que os desmoronamentos começaram coincidentemente quando o cristal quebrou. E aí, meus amigos, minha cabeça começou a teorizar um pouco. Só um pouco, porque deu pane. Fiquei com preguiça de pensar mais. O elfo me apressou e caminhamos mais rápido, até chegarmos de novo na entrada da gruta. Os dois babacões ficaram pra trás, pra avisar os habitantes se tivéssemos qualquer problema. Eu e o Ezarel seguimos mais a fundo das grutas.

 

— É, fizeram uma boa faxina aqui. Nem parece que teve um deslizamento._ do nada, um barulhão alto._ Que porra foi essa?

— Não sei, mas fica atrás de mim.

— Prefiro lutar com seja lá o que for._ respondi, tocando de leve a bainha da minha espada. O azulado suspirou, ficando alerta ao meu lado.

— Não sei de onde vem, mas tenho a impressão de que estamos sendo observados.

— Idem._ olhei ao redor. E então, senti algo roçando meu braço. Tentei segurar, mas não consegui._ Volta aqui, caralho!

— Acsa?

— Alguma coisa acabou de passar por mim.

— Eu não vi nada.

— Não tem muito o que eu possa fazer se você é cego._ continuei a andar, alerta a qualquer coisa que passasse.

— Mas como é medrosa...

— Falou aquele que não queria que eu explorasse as grutas, pra começo de conversa.

— Me espere aqui._ disse, interrompendo nossa exploração.

— Ué, por quê?

— Como você disse antes de entrarmos, é estranho realmente não ter nada diferente depois de um desmoronamento. Eu vou verificar e te chamo se tiver algum problema.

— ... Tá, e o que acontece se você não voltar?_ ele me olhou, descrente._ Nunca se sabe, né? Não confio em você.

— Então, diga à minha mulher que eu a amava._ respondeu, com fingida tristeza.

— Qual?

— Não seja pessimista, eu vou voltar logo. Temos o Chrome e o Valarian aqui, de qualquer forma.

— Na verdade, estou esperando que você não volte._ digo, cruzando os braços.

 

Ele sorriu antes de entrar mais fundo na gruta. E esperei, esperei, esperei... Ok, tinha algo muito errado. Fui atrás do avatar maldito e encontrei ele caído no chão.

 

— Tá, não vou cair nessa. Levanta logo, palhação._ ele não deu nenhuma reação._ Ish, foi de arrasta pra cima?_ me aproximei e percebi que ele tava todo molenga. Mas vivo._ Anda, acorda. Não te matei ainda._ dei bofetadas na cara dele. Ficou vermelho, mas nenhum sinal de lucidez._ É sério que eu vou ter que te carregar até a entrada da gruta? Puta que pariu..._ suspirei.

— Acsa... não encosta... eu... não concordo._ resmungou, perdendo a consciência de novo.

— E como eu vou fazer pra te tirar daqui, princeso? Larga de frescura. Bora._ peguei ele pelos pés e fiquei arrastando-o pela gruta. Com sorte, ele iria bater a cabeça em alguma rocha.

 

E depois de um tempo considerável, consegui nos tirar da gruta. Encontrei o ruivo e o outro que não importa o nome, é figurante descartável.

 

— Acsa, você já... CARAMBA!

— Surpreenda-se depois, me ajuda aqui que o cara é pesado._ movi ele para um canto, com ajuda do ruivo.

— O que aconteceu?!

— Ele foi sozinho explorar mais a fundo, mas não voltava. Tive que ir buscar a Bela Adormecida. Ainda reclamou que encostei nele. Hunf.

— Val, vamos levar ele pra ver a Ewelein. Agora!

 

O carinha colocou o elfo no ombro como se fosse um saco. Fomos até a estalagem, encontrando a elfa logo na entrada. Ela ficou bem assustada quando nos viu. Ela mediu o pulso e ficou mais tranquila quando viu que ele estava vivo. Uma pena. Enfim, tive que explicar tudo pra ela.

 

— Que idiota!_ disse, antes de entrar no quarto e cuidar do princeso.

 

O cheira cu também foi ajudar. Senti que estava sobrando e fui caminhar. A anciã veio até mim, assim que me viu.

 

— Você se sente culpada?

— Claro que não, ele que foi burro. Ainda salvei ele._ ela riu.

— Você é um espírito livre.

— Não sei bem se sou livre, mas faço o que quero. Se eu erro, eu assumo.

 

Ela sorriu antes de me deixar sozinha de novo. Não entendi nada, mas continuei caminhando. Logo, um montão dos habitantes se reuniu, aflitos.

 

— Se um deles se contaminou, estamos condenados.

 

Bufei e segui minha caminhada. Por onde eu passava, ouvia o desespero e as fofocas. E enquanto eu andava entre eles, me olhavam assustados. Ótimo, mais espaço pra eu andar. Logo o ruivo apareceu e veio até mim.

 

— E aí, alguma novidade do doente?

— Não. Mas vou pedir para a Ewelein te dar notícias assim que puder.

— Ah, sem pressa.

 

E tiveram pressa, porque não demorou muito pra Ewelein me atualizar sobre a situação do princeso.

 

— Acsa, que bom te ver!

— Ei, e aí? Como tá as coisas?

— Não vou mentir, ele não está na melhor forma.

— Mas por causa do veneno ou por causa da pancada na cabeça?

— Pancada? Que pancada?

— Ué, ele caiu né? Imagino que ele bateu a cabeça na rocha.

— Não, nada de pancada na cabeça.

— Então ele precisa melhorar. "Se ele morrer, não vai ter sido pelas minhas mãos. E fiz de tudo pra acertar a cabeça dele quando carreguei esse puto."

— Sim, é o que todos queremos. Mas diferente dos outros, ele... está mais crítico. A dose de veneno foi mais forte que os outros.

— Então agora eu tenho certeza de que algo ou alguém tá nisso. E não vai roubar minha kill.

— O que você vai fazer?

— Vou dar um jeito de pegar a amostra desse veneno pra você salvar o avatar maldito. Se eu tiver sorte, ainda encontro o responsável.

— Você tem certeza?

— Muita._ sorri, andando com passos firmes. Até chegar na frente das grutas, de novo. Não aguentava mais._ Só saio daqui agora quando resolver toda essa porra._ entrei, irritada.

 

Dentro das várias passagens, ouvi choros e risadas. Até que um grupo de criaturas passou por mim, bem rápido. Eu os segui e encontrei eles discutindo, pelo menos alguns deles.

 

— Me devolve meu urso!

— Nem pensar! Agora que conseguimos!

— É! Se quiser, vem buscar!

— Maaaas! Vou reclamar...

— "Cogumelos que falam. Acho que foi o auge do auge."

— Me deixem em paz! Bando de malvados!

— Certo, quem aqui sabe de veneno?_ digo.

— AAAHHH! Um intruso!!_ gritaram, correndo.

— Claro, uma corrida. Por que não?_ bufei.

 

Corri e alcancei um, que se assustou ao me ver.

 

— Ei! Quem é você?

— Acsa, a única. E uma boa corredora, por sinal. "Mesmo sendo sedentária e preguiçosa."

— Minha mãe me disse pra não falar com estranhos, mas... pode me ajudar? Meu amigo está preso.

— Você tem maanas?

— Não...

— Então, sem ajuda.

— Eu posso te ajudar em outra coisa.

— Hm... tá, vamos.

 

Eu o segui e tirei outro cogumelo que estava preso entre duas rochas. Ele ainda reclamou, ficou se balançando.

 

— Se não ficar quieto, eu te cozinho e sirvo com batatas._ e olha só, ficou mansinho._ Então, onde eu te levo?

— No fundo da gruta, onde é bem azul.

 

Fui seguindo mais fundo, até que realmente chegamos num lugar bem azul. Parecia até magia.

 

— É aqui que rola os fluxos?

— Me larga! Meus amigos estão aqui.

— Ah é, esqueci de você._ soltei ele no chão.

— Você é muito gentil, senhora. São seus amigos que passam por nossa casa, as vezes?

— Senhora não. Acsa. E sim, podemos dizer que são.

— Eu tenho medo deles.

— Bem, eu sou a pior deles. Os outros são muito frouxos.

— Crianças, venham por..._ outra criatura falou, se interrompendo ao me ver._ Quem é você? O que está fazendo em nossa casa?

— Eu sou a Acsa, pela centésima vez... Os habitantes da aldeia me chamaram, junto com outras pessoas.

— E daí? Você não deveria estar aqui...

— Primeiramente, você quem perguntou. Segundamente, pessoas estão sendo envenenadas. Uma delas inclusive é minha kill, então eu vim resolver isso.

— Ah, desculpe... você deveria falar com nosso patriarca, o Ethel._ disse, de uma forma não muito amigável. Caminhei com ela até o que parecia ser o Ethel.

— Bom dia, senhorita.

— "Educado, pelo menos." Bom dia. Acho que você é o patriarca, certo?

— Sou eu mesmo. Mas o que faz aqui? Normalmente ninguém vem até nossa casa. Deve partir antes que lhe aconteça alguma desgraça.

— Bom, eu faço parte da Guarda de Eel e vim porque os habitantes da aldeia estão sendo envenenados. Inclusive, um dos meus 'colegas' foi envenenado hoje. Você pode me dizer o que tá acontecendo?

— Acredito que é por nossa culpa.

— Eu imaginei...

— Não precisa se assustar, minha jovem.

— Bom, isso eu vou descobrir daqui há alguns minutos.

 

Ele começou a me contar a história do povo dele. Resumindo, desde o Grande Exílio eles estavam lá, naquelas grutas. Eles ajudavam a fornecer rochas e musgos, sem que ninguém soubesse que eles existiam. E quem descobrisse, eles soltavam um pouco de veneno e adormeciam a pessoa. Só que com o tempo, eles enferrujaram e soltaram muito veneno.

 

— É, precisam praticar né? Enfim, você pode ajudar.

— Como?

— Me dá um pouco desse veneno do fluxo, e eu vou levar pra conseguirmos o antídoto lá na aldeia.

 

Estava ficando com pressa, porque estava ficando muito cansada. E não era pelo sedentarismo. Eu ia virar nóia logo logo.

 

— Nós soltamos muito mais veneno durante a noite do que durante o dia. Não queremos te ferir, então volte amanhã pela manhã.

— Vou confiar, en?

 

Caminhei em passos preguiçosos até a entrada da gruta, onde dei um inspirada longa no ar livre. Não ajudou muito, porque comecei a ficar com problema de vista. Era desfoque mesmo. Eu continuei tentando caminhar, mas logo comecei a ouvir a voz do ruivo.

 

— Acsa? O que está fazendo aqui? Te procuramos há horas...

— Ah, a mimir._ e desmaiei.

 

Não sabia onde tava, o que tinha acontecido, se tava sonhando...

 

— Dormiu bem?_ perguntou um azulado que eu odeio.

— É um pesadelo, pelo menos isso eu já sei._ resmunguei.

— É, você parece melhor._ sorriu, e ao fundo vi meu quarto. Me sentei de sopetão.

— O que? Como eu...

— Fomos trazidos de Balenvia pela Ewelein, então... obrigado.

— Espera, o que? Repete._ digo, me aproximando.

— Não vou repetir.

— Tudo bem, estamos quites. Sua cara de indignado por ter sido salvo por mim é o melhor preço._ sorri._ Então, o que que aconteceu?

 

Ele ficou com um rosto sombrio, enquanto me contou. Pra começar, os cogumelos cumpriram a palavra e deixaram o veneno na entrada da gruta. Mas mesmo assim, ela não conseguiu criar um antídoto porque era muito volátil. Enfim, ciência. Entendo porra nenhuma. Mas a merda não parava por aí.

 

— Tivemos muita sorte por conseguirmos nos curar...

— E o povo da aldeia?

— Eu não posso te responder.

— Ué, por quê?

— É melhor ir ver a Miiko, ela vai te contar._ disse, parecendo preocupado.

— Ih, lá vem merda._ me levantei da cama e saí do quarto, indo até a sala do cristal sozinha.

 

Quando abri a porta, vi todo mundo da Guarda Reluzente. Todo mundo mesmo. Menos os três trouxas e o suíno.

 

— Acsa, é você!

— To fraca demais pra responder com ironia.

— Kero, pode nos deixar?

— ... Acsa... Que bom que está bem. Senti sua falta._ o unicórnio me deu um abraço e foi embora.

— Aah... tá..._ depois de me recuperar do abraço, voltei minha atenção para a himedere._ O avatar maldito me disse pra vir aqui. O que que rolou, afinal?

— É melhor sentar.

 

Eu me sentei no chão, de frente pra ela. Contei sobre o que eu me lembrava e do acordo que fiz com os cogumelos.

 

— Eles parecem ser de boas.

— Eu sei. Conseguimos falar com eles antes de...

— Antes de o que? Foram de base?

— Bom, o Chrome foi lá pra se vingar de quem te fez mal.

— Por mais que eu fique emocionada, eles não fizeram nada.

— Eu sei. Quando ele chegou lá, um deles estava na frente da gruta esperando com um frasco. Primeiro testamos no Ezarel, e ele se recuperou bem rápido.

— Fala logo o que aconteceu.

— Foi difícil intermediar os dois lados. Os balenvianos e os myconides, nenhum queria deixar o lugar. É ainda pior para os myconides, que dependem do lugar para viver. Se tornou vital pra eles.

— Tenso.

— Piorou depois que uma das habitantes da aldeia foi encontrada morta diante das grutas.

— Porra, morta? O fluxo foi forte...

— O Ethel disse que ela foi até lá em busca de remédio para a tosse da irmã ou cunhada, algo assim. Os moradores ficaram revoltados e queriam matar as criaturas.

— E aí?_ perguntei, curiosa.

— Estão vivos mas não sei se bem. Ethel fechou a gruta pra ninguém ir lá e nem se deparar com o veneno.

— E o que vamos fazer?

— Nada.

— Ah, ótimo._ me levantei._ Não entendi então o porquê de todo esse drama. Tá tudo certo pra Guarda.

— Acsa, sei o que está tentando fazer...

— Então sabe que eu tenho razão.

— Nós vamos observar, porque é o que podemos fazer nessa situação. Não podemos nos intrometer. Balenvia pediu nossa ajuda, mas se mostraram bem incomodados com a nossa presença.

— Foda-se eles! Pedem ajuda e olham feio, então deviam resolver sozinhos!

— Acsa, eu sei que é difícil. Mas temos que saber o nosso lugar. Acredite, eu vou intervir assim que eu puder._ a kitsune me disse, séria.

— Eu vou confiar. Nisso que me disse agora._ saí da sala do cristal e decidi voltar para o meu quarto.

 

Lá, fiquei relembrando sobre os cogumelos falantes. Eles não mereciam isso. É o primeiro fluxo que eu conheci que não tinha más intenções. De repente, alguém me chamou de fora do meu quarto e entrou em seguida.

 

— Me autorizei a entrar. Te vi na sala do cristal. Está tudo bem?_ era o loiro meio moreno.

— Primeiramente, não faça isso de novo. Segundamente, to um pouco decepcionada. Com a situação toda.

— É só isso? Decepção?_ perguntou, sentando ao meu lado.

— Você pode ir levantando do meu colchão, agora. Anda, circula._ ele riu e se levantou em seguida.

— Acho que não preciso me preocupar com você. É forte.

— Sou mesmo. Agora pode ir embora.

 

Ele sorriu e saiu do meu quarto. Quando me vi sozinha de novo, deitei na cama e encarei o teto. Suspirei.

 

— Ah, que saudade da minha casa...


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Notas finais do capítulo

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