Melanie arrumou os óculos pela quinta vez, incomodada com o barulho e as risadas constantes tentando manter-se sob controle.

        Por que era tão difícil deixarem ela ler em paz? Isso sem constar que todas as piadinhas de mal gosto do Alisson com os garotos no fundo da sala e da Kethleen com a Amanda eram sobre ela.

        Estava insuportável ficar na sala, simplesmente não se encaixava: Haviam os irritantes, os encrenqueiros, os funkeiros e as piriguetes, o grupinho das garotas divertidas do qual era excluída, algumas mais quietas, os que nunca falavam nada assim como ela.... Todos já tinham seus grupinhos de amigos, apenas ela sobrava ali. A aluna nova quieta e nerd, sobrinha da professora de artes. Ninguém falava com ela.

        Suspirou respirando fundo ao finalmente terminar a prova, ainda mais cedo que todo o resto e a entregou ao professor de matemática, um negro simpático com olhos pequenos chamado Luiz.

— Já terminou Melanie? – questionou alto, como de costume sempre com um jeito animado de moleque, sem perceber chamando a atenção dos demais.

— Sim, já terminei... – respondeu baixo incomodada com os olhares alheios – Am.....posso ir ao banheiro? – pediu.

— Pode. – o professor respondeu, já que ela já terminara a prova.

        A garota agradeceu mentalmente e saiu da sala se dirigindo ao banheiro o mais rápido possível. Retirando os óculos e lavando o rosto com um suspiro, encarando seu reflexo:

        Cabelo crespo castanho escuro num corte pelos ombros, olhos de um castanho quase negro, pele pálida...calça jeans comprida, all star, blusa preta de um anime e óculos grandes. Uma legitima nerd, nada chamativa e que com certeza era tímida demais para ir até os demais. Apenas a excluída da turma 9A1.

— As coisas estão difíceis, menina? – uma mulher perguntou, passando o pano no chão.

— Ah, só um pouco....sozinha, desculpe atrapalhar seu trabalho. – disse secando o rosto.

— Neh, eu também tinha problemas para conseguir amigos na sua idade. – a mulher comentou.

— É mesmo?....E o que fez? – perguntou ainda olhando a pia.

— Tomei coragem de falar com alguém que parecia gostar do mesmo que eu. – disse.

        A garota porém, apenas riu baixo.

— Desculpa, é que....sou meio tímida. Só consigo falar com os funcionários porque já me conhecem por causa da Lú. – disse referente a sua tia, a professora de artes.

— Bem, – a mulher parou o que fazia mexendo no bolso do uniforme – eu também era. Mas, quando ficava nervosa me apegava a algo que me desse confiança. – diz.

— Como o que? – questionou.

— Um colar que minha mãe me deu. – disse sorrindo, lhe entregando algo que não enxergava direito por falta dos óculos.

        A garota agradeceu o conselho, sorrindo e colocando os óculos. Logo vendo que o objeto era um colar.

— É realmente lindo... Mas espera, é pra mim? – virou para perguntar, porém ela já havia sumido.

        Estranhou o sumiço da funcionária, observando melhor a joia: era uma correntinha de prata delicada, com um pequeno pássaro de pedra negra reluzindo.

        “É realmente bonitinho” pensou, porém logo viu a hora e se assustou, guardando o colar no bolso e correndo de volta para a sala.

— Boa sorte, Dark Angel. — uma mulher disse para si mesma, a observando de longe logo sumindo da escola.