Nancy Ahlert - Vivendo o medo Segunda temporada escrita por Letícia Pontes
Notas iniciais do capítulo
Faltam apenas mais cinco capítulos. Que está achando?
Esperei eles sumirem e corri até a cozinha procurando por meu pai. Ele estava na dispensa e ainda continuava amarrado e amordaçado. Não parecia ter feito esforço para tirar.
—Pai...
Desamarrei rapidamente seus braços e tirei a mordaça de sua boca.
—Pai... Vai ficar tudo bem!
Ele levantou a cabeça e me encarou assustado.
—Quem é você¿
—Pai, sou eu. A Nancy!
—Não! Minha filha é uma humana normal. Uma garota que estava fazendo faculdade e que apesar de um pouco rebelde, não matava ninguém nem sumia por meses e voltava com a roupa ensanguentada.
Olhei para minhas roupas e estavam realmente assustadoras. Não conseguia conter as lágrimas. Como explicar para seus pais que você é um ser mitológico assustador e sanguinário¿ Como explicar que você é um demônio¿
— Eu posso te explicar tudo papai. Por favor, me ouça!
Ele caiu em um choro como se fosse uma criança que acabara de cair de um brinquedo e precisava da mãe por perto consolando. Eu não sabia o que fazer e apenas o abracei e consolei.
Alguns minutos se passaram até que eu dissesse algo.
— Tinha terminado meu namoro e estava arrasada voltando para casa. Fiquei um tempão estacionada lá na frente sem sair do carro e decidi que iria dar uma volta. Fui até a ponte e voltei, mas percebi que estava sendo seguida. – Fiz uma pausa para ver se ele dizia algo mas ele apenas soluçou – Eu corri o mais depressa que pude mas me atacaram. Senti algo caindo em cima de mim e depois desmaiei. Acordei um tempo mais tarde toda suja e me sentindo estranha. Estava jogada na chuva, na lama e não sabia o que tinha acontecido então fui pra casa. – Fez mais uma pausa me lembrando da sensação que eu estava naquele dia. Me lembrando da última noite em que fui humana. - Depois disso as coisas começaram a mudar. Estavam estranhas. Eu não sentia fome e mesmo que comece parecia emborrachado.
Ele continuava em silencio e havia parado de chorar mas ainda podia sentir seus soluços fracos.
— Então teve a situação da Vilma, ela tentou se matar e eu a internei. Depois um cara com uma garota apareceram na minha faculdade e me levaram até um local. Tudo estava tão estranho e eu estava pirando, mas quando achei que obteria respostas que me satisfizessem...me jogaram mais uma bomba! Disseram que eu era uma Nosferatu.
—O que é uma Nosferatu¿ - Ele falou pela primeira vez depois de minutos
—É o que vocês chamam de vampiros. – Uma voz veio da porta da dispensa e nós dois olhamos rapidamente. O velho Arnoldo estava parado com Vilma do seu lado. Provavelmente estavam ouvindo a minha história fantástica – Continue, criança.
Voltei minha visão a meu pai e continuei da maneira que pude.
—Eles me soltaram isso e depois disseram que eu teria que ir embora. Mataram a garota. Ela se chamava Yo-Yo. Mataram na minha frente. – Passou na minha mente como um filme os últimos segundos de Yo-Yo. – O conselho a matou – olhei para o velho com faíscas em meus olhos – tudo porque me queriam morta.
— Porque¿ - meu pai falava quase sussurrando
— Porque nunca ninguém foi transformado de humana pra Nosferatu. Eu fui a primeira. E eles não aceitavam ninguém diferente deles. – Respirei fundo e continuei – E então fui visitar a Vilma no hospital – olhei para ela que apareceu incomodada e desviou o olhar – eu estava conversando com ela mesmo que ela estivesse inconsciente – continuei olhando para ela – mas eu estava transformada há alguns dias já, e estava com muita fome. Eu perdi o controle. Não sei o que houve em seguida, quando eu me dei conta... Vilma estava morta. – Vi os olhos dela vidrados em algum produto da dispensa e cheios de agua. – Mas assim como eu...Vilma não morreu ali. Ela continuou andando pela terra. E... Eu não faço a menor ideia de como.
Todos estávamos em silencio e eu sentia que o velho me encarava apesar de eu não ter olhado para ele em nenhum momento.
—Muito bonita a sua história – ele começou – mas você esta enganada sobre uma coisinha. Não queríamos te matar. Não acha que já estaria morta a essas horas¿
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