Bells of Notre-Dame escrita por Elvish Song


Capítulo 16
Atacada


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Sim, mais um capítulo; eu sei que tinha prometido um outro final para este capítulo, mas não percebi que o capítulo inteiro ia ficar com sete mil palavras... Então dividi em duas partes, ok? Desculpem por isso! Espero que isso não faça com que gostem menos dessa postagem.



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Não fora fácil para Esmeralda convencer Aaron a deixa-la ir sozinha de volta ao Pátio. Haviam ficado juntos até que o Sol começasse a descer no horizonte, quando então Grigoire viera avisar a ambos que seria melhor se a jovem não se demorasse mais, ou seria pega pela escuridão.

Assim, após uma breve discussão na qual a cigana prometera que faria uso das catacumbas, ela deixou a Catedral; devido às pessoas que entravam para a missa, não pôde tomar a passagem por sob a igreja, de modo que precisaria percorrer um bom trecho à luz do dia...

Agradecendo por ter tido o bom-senso de vir com um vestido marrom e sem adornos, ela baixou a cabeça e esperou se misturar aos passantes. Parecia funcionar bem, quando uma voz aguda e desesperada chamou por ela:

— Esmeralda! Esmeralda – Marie, uma das crianças com as quais brincava mais cedo, de apenas dez anos, correu chorando até a cigana: tinha o vestido simples imundo e rasgados nos joelhos, como se houvesse caído, e seu rosto guardava a clara marca de um tapa dado com força, a sobrancelha sangrando por um pequeno corte – Ele pegou Charlotte! Ele pegou minha irmãzinha! – e soluçava desesperadamente, angustiando também a cigana.

— Meu Deus, Marie, quem pegou Charlotte? – a irmã da garota tinha apenas seis anos, e era uma criaturinha delicada e inocente! Quem faria mal a ela?! Medo, asco e determinação se apossaram da cigana, e embora soubesse que certamente corria um grande risco, sequer passava por sua mente qualquer alternativa que não envolvesse ir em resgate da pequenina.

— O soldado! Ele pegou Charlotte, e disse que eu tinha de vir falar com você! Ele quer  te machucar, mas disse que vai machucar Charlie se você não for! – e mal conseguindo falar – desculpe! Desculpe!

— Não, não! Está tudo bem! – ela abraçou a menina, enxugando o sangue com a saia, tentando abrandar o choque e o terror da garota, enfurecida por já saber muito bem de quem se tratava o soldado: usar crianças?! Bater e apavorar duas garotinhas?! Não havia mais qualquer senso de honradez e virtude naquele mundo?!  – está tudo bem. Onde está sua irmã? Vamos, leve-me até ela!

— Mas o soldado... – choramingou Marie.

— Se eu não for, ele vai machucar sua irmãzinha, não foi o que ele disse?

— Mas não quero que ele machuque você, também!

— Não se preocupe, ele não vai – ela beijou a testa da pequena, grata pelo amor a ela dirigido, mas certa de que o Capitão não hesitaria em ferir ou mesmo matar Charlotte, se não fizesse o que ele dissera – vamos, Marie, leve-me até onde estão! – insistiu com urgência. Sabia que a amiga estava em choque, mas não podiam se dar o luxo de perder tempo. Ah, Aaron a mataria se soubesse, e Clopin mais ainda, mas não havia tempo para pensar em admoestações!

Ainda em pranto convulsivo, a garota puxou pela mão a cigana pela qual tinha tanto carinho, conduzindo-a por ruas cada vez mais estreitas. A mente da gitana estava alerta, e tudo lhe gritava “mau sinal! Péssima ideia”, mas o que poderia fazer? Alguém capaz de aterrorizar crianças para atraí-la certamente faria coisa pior à pequena Charlotte, e isso ela não podia permitir! Não! Jamais deixaria que alguém ferisse uma de suas crianças!

Correram quase um quilômetro antes de, finalmente, adentrarem um beco; ali, na penumbra criada pelos dois edifícios altos que ladeavam o enclave, um homem segurava pelo braço uma menininha que chorava. E aqueles cabelos claros e olhos zombeteiros a gypcia reconheceria em qualquer lugar: Phoebus, como já esperava. Com olhos fervendo de raiva, ela manteve Marie atrás de si e se dirigiu ao Capitão:

— Está tão desesperado que precisa usar criancinhas para me atrair, soldado?

— Parece ser o modo mais fácil, em vez de investir um longo tempo em sedução inútil. – respondeu ele, e pôs a espada contra o pescoço de Charlotte, que se encolhia e gritava – agora, venha calmamente, e nada acontecerá à criança.

— Fique aqui, Marie, até Charlotte estar livre. Pegue sua irmã e vá para casa. – ordenou Esmeralda, sem olhar para a pequena ao seu lado. Adiantou-se a passos falsamente hesitantes, sentindo o punhal bem preso contra a perna: Phoebus jamais esperaria que ela tivesse uma arma, e menos ainda que soubesse usá-la. Droga! Não podia matar o soldado, pois seria uma condenação certa... Mas feri-lo... Feri-lo parecia uma boa alternativa, se ninguém a visse correr dali, depois. De qualquer modo, que escolha tinha?! Um fio de sangue escorria pela garganta de Charlie, manchando o vestido da infante, e a única vontade da cigana era usar sua faca para estripar o militar como um porco abatido! Sabia que ele a estivera tentando cortejar por todos aqueles dias desde a prisão de Aaron, mas nunca pensara que o “gentil” soldado faria algo tão baixo!

Assim que estava a apenas um passo de Phoebus ela o fitou corajosamente nos olhos e, fria como uma nevasca, ordenou:

— Deixe-a ir. É a mim que você quer.

— Sim, de fato – ele empurrou grosseiramente a menina, que caiu no chão chorando; Esmeralda tentou se abaixar para ajuda-la, mas o capitão deslizou a ponta da espada sob seu queixo, ameaçando cortar a pele, o que a obrigou a se erguer – sem movimentos bruscos, senhora: sei bem o que sua laia faz. – e para as crianças – desapareçam daqui.

Marie olhava desesperadamente o soldado para Esmeralda, pedindo desculpas com os olhos enquanto amparava a irmã; a cigana forçou um sorriso e assegurou:

— Está tudo bem, meninas. Vão para casa. Corram, e não olhem para trás. – então fixou seus olhos verdes naquele que a ameaçava, e o viu apontar com a arma para o fundo do beco, onde este enviesava para o lado; ela se adiantou na direção indicada, e logo sentiu o aperto do capitão em seu antebraço, conduzindo-a pelo beco que se estreitava até que mal cabiam duas pessoas lado a lado, em sua largura.

A mão enluvada apertava dolorosamente o braço da cigana, que se alegrou por estarem em um recanto tão isolado dos olhos: ali perto havia um bueiro pelo qual podia acessar os esgotos e, de lá, fugir para fora da cidade. Só precisaria de um pouco de paciência e estômago forte para suportar as investidas de seu “pretendente”, até o momento certo para se livrar dele.

— Veja bem, cigana, tentei ser cortês e gentil, mas você não compreende essa linguagem. Então, chegamos a isso. – disse Phoebus, soltando a moça e encurralando-a contra a parede do beco, espada em riste – eu quero algo de você – e deslizou a ponta da arma do queixo até o ventre dela – sabe o que é. E terei o que quero.

— Ah, terá? – ironizou ela, fingindo não ter medo da lâmina que poderia cortá-la ao meio com um golpe só.

— Sim – ele parecia divertido com a irreverência de sua vítima – Eu sempre tenho o que desejo. Assim como terei você, agora. Está sozinha, acuada e longe de qualquer ajuda; a pergunta que lhe faço é: como vai ser? Faremos isso do modo fácil, ou do modo difícil?

— O que me impede de lhe dar um soco no nariz e sair correndo pela cidade? Por que eu não o deixaria inconsciente e fugiria? – ela imprimiu todo o seu desprezo na voz. Na verdade, queria apenas irritar e inflar a arrogância de Phoebus, de modo a aumentar ao máximo as próprias chances de escapar incólume à tentativa de violação que se seguiria.

— Acha que uma criaturinha mirrada assim desmaiaria um soldado do rei com um golpe? Você é muito autoconfiante. – ele se aproximou e enlaçou a cintura da cigana com o braço, colando seus corpos bruscamente. – Eu gosto disso. – passou o dedo por sobre os lábios rubros, acendendo a raiva de Esmeralda ainda mais – gosto dessa sua boca atrevida... - baixou o rosto para beijá-la, mas a cigana virou a cabeça, de modo que os lábios do soldado encontraram a lateral de seu pescoço. Ele sorriu contra a carne macia e inspirou o perfume de ervas que a garota desprendia – Seu perfume é único... Você é uma iguaria da qual eu nunca me fartaria o suficiente.

Descreveu-se no rosto moreno um esgar de nojo enquanto o soldado descia beijos molhados pelo pescoço da mulher, seguindo então até seus lábios, forçando-a a aceitar aquela situação absurda e invasiva, suas mãos descendo pela cintura esguia em direção aos quadris. Quando ele a prendeu pela cintura com um braço e subiu a outra mão para apertar-lhe o seio, porém, a moça não mais conseguiu se conter, e o empurrou com força, dando um tapa em seu rosto:

— Afaste-se, cria de uma vadia! – ela limpou com a mão a boca que ele beijara, numa posição defensiva; Phoebus sorriu maldosamente e rosnou:

— Se prefere do jeito difícil, será do jeito difícil. Para mim, tanto faz. – e avançou contra ela, as mãos rudes prendendo os pulsos da moça para impedi-la de unhá-lo; mas a gypsia era esquiva como um peixe, e deu uma forte joelhada na virilha de Phoebus. Ele se abaixou, grunhindo de dor, porém ainda teve tempo de agarrar o braço da cigana e empurrá-la de frente contra a parede, fazendo uso do próprio corpo para prendê-la contra a madeira áspera. Tateou a frente do vestido simples numa tentativa de rasgá-lo; pontadas de pânico e ódio se mesclaram ao asco da garota, que sentiu o próprio estômago se revirar com violência ante o toque mais do que indesejado!

Debatendo-se, ela conseguiu libertar as mãos e desferir arranhões no rosto de seu atacante, que gritou de dor quando as unhas dela acertaram seu olho com precisão. Agora já não queria apenas saciar seu desejo: queria subjugar e humilhar a estrangeira de todas as formas, feri-la dos modos mais dolorosos existentes e reduzi-la a um mero farrapo humano, um brinquedo para seu deleite!

A luta durou pouco: Esmeralda ganhou vários arranhões no peito, mas o tecido rústico e grosso que vestia era resistente o bastante para que os rápidos puxões de Phoebus não fizessem mais do que rasgos pequenos no decote alto de inverno; o soldado, por sua vez, tinha vários ferimentos no rosto retorcido de ódio. Finalmente conseguiu imobilizar a moça por trás e subiu apressadamente as saias dela, ansiando por possuir o corpo macio. Mas tratava-se apenas de uma farsa dela, pois, tão logo o tecido descobriu o punhal em sua perna, ela agarrou a arma e desferiu um golpe para trás: não mirou o peito ou a garganta, como realmente desejava fazer, mas a virilha: menos letal, porém mais fácil de acertar, e extremamente doloroso. O punhal não se enterrou, descrevendo um longo e profundo corte que ia do quadril até perigosamente perto do membro masculino... Dois centímetros mais abaixo, e ela o teria castrado.

Phoebus a soltou com um uivo de dor, amaldiçoando-a com pragas terríveis, olhando incrédulo para a mancha de sangue que se espalhava em suas calças. Ergueu o rosto para aquela que ousara feri-lo de tal modo, e pegou sua espada no chão: a ferida era dolorosa, mas nem de longe um ferimento realmente grave. Enfrentaram-se ambos, e Esmeralda tinha um sorriso vingativo e selvagem nos lábios:

— Boa sorte tentando violentar outras moças, depois que o veneno fizer efeito, capitão.

— Veneno?! – ele empalideceu bruscamente – você me envenenou, bruxa maldita?!

— Ah, não se preocupe: essa dose só é letal perto do coração... Mas acho que vai ter problemas permanentes com suas “funções masculinas”, se é que me entende. – de fato, uma dormência se espalhava pelo topo das pernas de Phoebus, que sentiu apavorado enquanto o amortecimento estendia-se como uma queimação por seu corpo, uma dor intensa! Em pânico, desferiu um golpe contra a mulher, que se desviou habilmente. Para seu espanto, o que parou a investida foi um par de mãos grandes e fortes, que o arrancaram do chão pelo pescoço antes mesmo que pudesse ver quem o atacava.

— Suas últimas palavras, sim? – perguntou uma voz masculina, enquanto olhos que pareciam duas gotas de ouro fitavam o soldado das profundezas de uma máscara negra.

Mesmo surpresa ao ver Aaron ali, a cigana não perdeu o sangue frio, e falou em alto e bom som:

— Aaron, não. – o mascarado a fitou, seus olhos cheios de um ódio que ela nunca vira tão de perto, e perguntou:

— Deixá-lo viver? Depois do que tentou lhe fazer?! – e empurrou Phoebus contra a parede, com um olhar assassino que em nada parecia o Aaron gentil e carinhoso que a cigana conhecia... Ali, naquele momento, ele era em tudo A Sombra, e ainda pior, pois desta vez não cumpria uma ordem: hoje, ele queria matar. – prefiro esmagar a garganta dele. Bem. Lentamente. – Esmeralda quase estremeceu de susto ao perceber que Aaron agora usava apenas uma das mãos para manter o capitão fora do chão! Por Deus, o homem devia pesar uns oitenta quilos ou mais, e o gigante o segurava como se não pesasse nada! Ainda assim, a moça se aproximou e pousou as mãos no ombro do mascarado, tentando se mostrar serena e firme, ainda que serenidade fosse a última coisa dentro de si:

— Se ele for achado morto, aqueles que o viram atrás de mim poderão me culpar.

— Só se encontrarem o corpo. – rosnou o gigante, apertando com mais força. – E não vai restar muita coisa dele para ser encontrada!.

— Aaron! – exclamou a mulher, seu tom de súplica arrancando-o parcialmente da fúria assassina em que se encontrava – Não o mate. Por favor. Por mim.

A expressão do organista se abrandou, e mesmo com um semblante ameaçador, ele considerou. Olhou de sua presa quase inconsciente para a mulher a quem amava e, com um rosnado de derrota, abriu a mão, deixando que o soldado caísse pesadamente no chão.

Semiconsciente, Phoebus tentou rastejar ao se sentir livre daquele aperto, mas logo um enorme peso se distribuiu sobre seu peito, e ele viu o joelho do oponente sobre si, enquanto o rosto semiencoberto assomava-se alguns palmos acima; a voz d’A Sombra soava gelada e perigosa ao dizer:

— Se contar a alguém o que houve aqui, ou se aproximar outra vez de Esmeralda, eu o caçarei até o último círculo do Inferno, e o que farei com você fará inveja a qualquer torturador profissional da Inquisição. Fui claro? – ante a mudez do outro, golpeou os dedos pousados no chão, quebrando um ou dois, o que arrancou um grito ao capitão – fui claro?!

— Como água, monsieur – gemeu Phoebus, arfante ao sentir o peso de Aaron sair de cima de seu peito. Com ódio, fitou a imagem da cigana e sibilou:

— Vai pagar por isso, vagabunda...

— É melhor moderar a língua, capitão – alertou ela, sem preocupação na voz, abraçando Aaron pela cintura e pousando a cabeça no braço dele – afinal, salvei sua vida: tem uma dívida de sangue para comigo. – ele parecia a ponto de dizer algo, mas a gypsia não permitiu – é melhor sair daqui... Sabe o quanto é difícil controlar A Sombra? Se monsieur falar muitas bobagens mais, ele pode decidir não atender meus pedidos, e isso não seria bom para sua pessoa, que acabaria numa vala rasa com abutres a lhe comer os olhos.

Phoebus sabia que era verdade; e ao fitar o casal, sabia que acabaria morto se ali continuasse: a cigana e o inquisidor possuíam uma postura cúmplice ao fitá-lo de modo igualmente ameaçador, e se havia algo que um soldado sabia era reconhecer uma batalha perdida. Por hora, Esmeralda, podia cantar vitória. Por hora o monstro vassalo de Frollo podia sorrir debaixo da máscara... Mas nenhum dos dois perdia por esperar! Afinal, ela o atacara! Era a palavra dela, e do maldito inquisidor, contra a de um soldado do rei! Assim que estivesse curado, haveria de se vingar!

Malmente conseguindo ficar em pé, ele mancou pateticamente beco abaixo à procura de seu cavalo e de qualquer conhecido que pudesse ajudá-lo. Enquanto isso, Aaron se voltou para Esmeralda e, sem pedido ou explicação, jogou a moça sobre o ombro; ela teria protestado, mas isso não seria inteligente, de modo que se contentou com gemidos abafados a cada vez que sentia o ombro do organista pressionar seu estômago num sacolejo. Ele enveredou por duas ou três ruas e, para o desespero da cigana, começou a escalar um prédio.

Em pânico, uma vez que tinha pavor de altura, ela cerrou os olhos com força e agarrou-se às costas das vestes de seu precipitado aliado, fazendo em sussurros todas as orações que conhecia e outras mais. Só abriu os olhos quando sentiu seus pés tocarem algo firme e, mesmo assim, ainda se agarrava aos braços do homem, que a fitava de modo severo:

— Por que não foi direto para o Pátio, Esmeralda?!

— O cretino pegou uma de minhas crianças. Ameaçou mata-la! O que acha que eu podia fazer?! – ela ainda estava furiosa, não com Aaron, mas com a covardia de Phoebus – não podia deixar que ele machucasse Charlie! Por Deus, ele ia cortar a garganta de uma menina de seis anos!

— E deixar-se violentar era sua brilhante alternativa?! – perguntou A Sombra, furioso.

— Você acha realmente que ele teria conseguido? Eu sei me defender muito bem!

— Aquele corte na virilha não incapacitaria nem um garotinho!

— Não o corte... Mas o veneno sim.

— Veneno? – Aaron tinha um tom apreensivo na voz – que veneno?

— Peçonha de víbora. – respondeu ela – difícil de conseguir, mas passado na lâmina compensa os inconvenientes da extração. Se eu houvesse cravado o punhal, ele estaria morto... Com um arranhão, ele sentirá muita dor, ficará paralisado por alguns dias e talvez tenha necrose de algumas partes. Com sorte, ficará impotente. Mas não irá morrer. – ela fitou o olhar desesperado de seu amado, e compreendeu: aquilo seria motivo suficiente para uma acusação de bruxaria. – Ele não vai contar a ninguém.

— Não mesmo. – concordou A Sombra, pegando uma faca oculta por sob a capa – vou mata-lo antes que conte.

— Aaron...

— Fiz o que me pediu, antes, Esmeralda... Poupei a vida dele. Mas deixar que ele viva será condenação para nós dois! – ela fechou os olhos e suspirou, reconhecendo a razão nas palavras dele.

— Perdoe-me.

— Sua única culpa foi correr para ajudar uma criança. Ainda tenho ganas de lhe dar uns bons tapas por ser tão imprudente, mas sei que você jamais agiria de outra forma... – ele cerrou os olhos e punhos com força, resmungando algo que ela não ouviu, e declarou – vou levá-la até longe do centro. Você vai pegar o caminho mais curto para o pátio e, se eu a vir na cidade, vou arrastá-la até Notre-Dame e coloca-la sob a lei de Santuário por todo o inverno! Mesmo que eu tenha de trancá-la em meu quarto para isso!

— Você não pode... – ela começou a protestar, mas ele a jogou sobre o ombro novamente, e o que seria o final de uma frase transformou-se num choramingar de pavor quando ele se deixou escorregar pelo telhado até o beiral e saltou para o telhado seguinte. – Aaron, pelo amor de Deus, deixe-me ir andando!

— Se ele alertou alguém, os guardas estarão procurando por você.

— Ele não seria idiota de alertar quem fosse, agora! Você acabou de o ameaçar! – outro salto a fez berrar e esconder o rosto entre os braços novamente.

— Mesmo que a chance de o ter feito seja mínima, eu não vou correr o risco de outro idiota colocar as mãos... Em você. – ele corou ao perceber que quase dissera “no que é meu”.

Sem conseguir escapar dos braços de Aaron, ela apenas fechou os olhos e começou a rezar baixinho, até finalmente senti-lo coloca-la no chão; suas pernas tremiam violentamente, e a cigana levou vários segundos para conseguir ficar em pé sozinha, percebendo que estava nas ruas, outra vez.

— Você está bem? – perguntou Aaron, percebendo a extrema palidez da jovem, o que o preocupou.

— Vou me recuperar... – sussurrou ela, sentindo o estômago se revirar – tenho pavor de altura.

— Perdoe-me por isso, mas era o caminho mais seguro. – ele acariciou seus cabelos, e quando ela ergueu os olhos para fita-lo, viu ali um olhar duro como pedra, uma raiva contida que, quando se libertasse, seria devastadora, e compreendeu o quão perigoso ele realmente era. Não para ela. Mas ainda assim, era um assassino. – Estamos longe do centro. Vá para o Pátio, antes que algo de ruim aconteça.

— O que você vai fazer? – perguntou a moça, preocupada com aquela raiva que nunca antes vira de perto em seu amado.

— Silenciar uma praga. – respondeu ele – e antes que diga qualquer coisa, Esmeralda: eu não vou ouvir. Phoebus vai morrer, e a culpa por isso é apenas dele. – O organista beijou a testa da moça, e sussurrou – amanhã à noite irei até o pátio, minha cigana. – por um instante seus olhos se abrandaram – amo você.

Aquelas palavras derreteram a raiva de Esmerala, que deu um breve sorriso e beijou os lábios de Aaron:

— Eu também amo você, por mais assustador que consiga ser.

Um último olhar, um último beijo breve, e ele escalou com movimentos ágeis o prédio mais próximo, enquanto Esmeralda tomava o caminho de seu lar. Em seu coração, tinha a certeza de que as coisas não terminariam tão facilmente... Mas o que poderia fazer? Apenas esperar.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Primeira vez que Aaron e Esmeralda mostram seus piores lados um para o outro. Esmeralda é aquela diva maravilhosa, mas pode ser uma leoa para defender outra pessoa, ou sua própria integridade. E Phoebus realmente se deu mal, rsrsrsrsrs.
Digam-me o que acharam, por favor!
Kisses!