How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 29
Um instante de clareza


Notas iniciais do capítulo

É com imenso prazer que lhes apresento o último capítulo da fanfic. Notas ao final. :)



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Era três e quinze da manhã quando Pierre voltava para a ala da maternidade, sonolento e com um capuccino pela metade. Pelo lado oposto, vinham dois enfermeiros, que conversavam de forma despreocupada:

–Não sabia que tinham contrato um novo pediatra.

–Na verdade, não contrataram.

–Então quem era aquele cara que vi no berçário agora há pouco?

Pierre sentiu seu coração gelar. Chuck não seria capaz, seria? O capuccino que levava escapou de suas mãos, e ele correu até o berçário, ignorando os protestos de indignação dos enfermeiros por ter sujado o chão de café.

Seu olhar recaiu sobre o berço vazio, e ele sentiu algo despencar dentro de si em um misto de pânico e impotência.

–Não! Isso não. Não!

–O que está fazendo? Vai acordar o hospital inteiro com essa baderna – os enfermeiros haviam voltado para censurá-lo.

Pierre agarrou um deles pelo colarinho, o encarando de olhos vidrados e desesperados:

–Escute, aquele homem, ele levou o meu filho! Ele o sequestrou! Vocês têm que fazer alguma coisa! Ele tem que ser encontrado!

O homem o afastou com os braços, em choque.

–Acalme-se, senhor. Vamos avisar a segurança do hospital. Se ele ainda estiver no prédio, não há como escapar.

***

Em plena madrugada, o hospital inteiro estava em polvorosa atrás do sequestrador. Os policias estavam nos corredores, junto de enfermeiros e funcionários, mas o homem parecia simplesmente ter evaporado. No meio daquela confusão toda, Peggy estava acordada.

–O que está acontecendo? - questionou para Bel, muito assustada.

–Não se preocupe, vai ficar tudo bem – respondeu ela de forma evasiva.

–Não tente me enganar, eu sei que algo está errado!

Nesse momento a porta foi escancarada e um desesperado Pierre entrou.

–Pierre?

–Peggy, você está bem? - disse ele, tocando em seus ombros.

–Eu vi um policial passando pelo corredor, por favor, me diga o que está havendo! Sei que algo ruim aconteceu, eu preciso saber o que é!

Pierre suspirou profundamente, encarando aqueles olhos castanhos amedrontados. Não adiantava mentir.

–Nós falhamos, ele o levou…

–O que? - seus olhos arregalaram, tentando absorver a terrível verdade. - Chuck?

Pierre assentiu solenemente.

–Você tem que ir atrás dele, Pierre! Tem que achá-lo de qualquer jeito! Por favor, salve-o!

–Apenas me prometa que não vai sair daqui e que vai ficar bem.

As lágrimas já lhe imundavam a face.

–Eu vou… - disse ela involuntariamente, mal conseguindo organizar seus próprios pensamentos. Sentia que tinha sido jogada a um turbilhão e que seu coração seria triturado a qualquer instante.

–Cuide dela – pediu ele a Bel, saindo assim que a moça assentiu.

***

Havia gente por toda a parte, mas nem sinal de Chuck. Pierre percorrera os mesmos corredores dezenas de vezes, sem encontrar um resquício sequer. Segundo a segurança do prédio, as câmeras não haviam capturado ninguém saindo com um bebê nas mãos. Ele tinha que estar ali em algum lugar.

Pense, Pierre. Pense! Disse ele mentalmente, enquanto andava por mais um dos intermináveis corredores. Para onde você iria se fosse um louco psicopata e estivesse com um bebê sequestrado nas mãos?

A resposta lhe veio quando passou por uma porta entreaberta, de onde podia-se ver uma escada que levava até o piso superior do hospital. Uma luz se acendeu em sua mente e ele correu escadas a cima, rezando para que não fosse tarde demais.

***

Os primeiros raios do dia já ameaçavam a sair quando ele finalmente alcançou a cobertura. Um choro abafado de bebê invadiu seus ouvidos e ele suspirou, procurando pela origem do som. Havia esperança.

Tubos e restos de construção estavam por toda parte, fazendo-o se desviar duas ou três vezes antes que pudesse ver com clareza: Chuck estava sentado na borda da cobertura, com as pernas dependuradas para o lado da rua e o bebê no colo. Olhava para ele com olhos vidrados, com se nunca tivesse visto nada igual.

–Chuck?

–É o fim da linha, Pierre – disse Chuck com a voz embargada. Pierre assustou-se ao perceber que ele estava chorando.

–Não sei o que está pensando, mas por favor, saia da beirada.

O bebê continuava a chorar, parecendo pressentir o risco que corria.

–Não, preste atenção! - exclamou ele, balançando o corpo pra frente e pra trás. Pierre deu um passo a frente, sem tirar os olhos do filho. Qualquer movimento que fizesse, poderia ser fatal. - Eu estava disposto a levar isso até o fim, sem me importar com as consequências, mas agora… quando coloquei os olhos nele, eu vi… não posso mais fazer isso, Pierre… esse bebê sou eu… eu era uma criança inocente até que meus pais me fizeram ser o que sou hoje. Eu me transformei em um monstro! Sem alma, sem coração… achei que o amor de Peggy pudesse me salvar, mas estive tão cego que não percebi que só estava cavando a minha própria cova esse tempo todo… as coisas poderiam ter sido diferentes, eu tinha uma vida boa, mas o passado… o passado sempre volta para atormentar, Pierre, e aí… tudo está perdido…

–Nós éramos amigos, Chuck. Quase irmãos. Se tivesse confiado em mim e compartilhado suas coisas comigo, nada disso estaria acontecendo agora.

–Sempre o considerei como um rival a ser derrotado…

–Não era, Chuck… Nunca foi…

–Veja todas as coisas que acabei fazendo… tanta dor, tanto sofrimento… me converti em uma cópia barata dos meus pais, tudo o que sempre detestei e desprezei quando era criança. Sei que nunca vai me perdoar, Pierre, porque não há perdão para tudo o que fiz, mas esse bebê… essa criança… ela é pura… nunca deixe que sujem sua alma, lute para preservar sua inocência…

–Então por que você não me entrega ela? Prometo que farei o meu melhor – disse Pierre, escolhendo cada palavra com cautela.

Chuck olhou-o pela última vez, secando as lágrimas com as costas das mãos.

–Vamos descer, poderemos conversar com calma lá em baixo – tentou convencer ele mais uma vez.

Chuck finalmente recolheu as pernas para o interior do piso, erguendo-se com dificuldade. Pierre fechou a distância entre eles, amparando-o para não se desequilibrar. Só então olhou de verdade para o ex-amigo, reparando na enorme cicatriz que havia ficado em seu lábio inferior. Sua expressão era de tortura quando passou Julian para os braços do pai.

–É muito tarde para mim, Pierre – disse ele. - Vá e salve o seu filho.

Pierre o olhou pela última vez, espantado com o que tinha acontecido. Sem dizer uma única palavra, deu-lhe as costas, abandonando Chuck ao seu tormento particular. Chuck escorou o corpo em uma das vigas, deixando-se cair de joelhos, derrotado. O olhar que Pierre lhe lançara era o mesmo olhar que Peggy lhe lançara anos atrás, quando ainda era um simples adolescente em busca de respostas. Um olhar de compaixão. O mesmo olhar que o havia destruído…

***

–Me deixem ir, eu preciso ir atrás dele! Talvez, se ele me ver, eu consiga convencê-lo… - ia dizendo Peggy, em seu desespero, tentando se levantar da cama.

–Você não vai. Não pode – tornava David, a impedindo de sair da cama.

–Pierre disse para que ficasse aqui – emendou Bel. - Você está muito fraca, Peggy, não pode sair.

–Não importa! - gritou ela. - Eu só quero o meu bebê de volta… - as lágrimas voltaram a lhe assaltar a face e ela cobriu o rosto com as mãos, já pensando que àquela altura Chuck provavelmente tinha cumprido sua promessa e matado seu filho.

–Não precisa mais chorar – disse de repente a voz de Pierre, que havia acabado de entrar no quarto. - Ele está bem aqui!

–Pierre? - surpreendeu-se Peggy, erguendo o rosto novamente e constatando que ele estava mesmo com o filho nos braços. Bel e David o olharam, igualmente surpresos.

Ele exibia um sorriso de alívio e vitória ao levá-lo para a mãe. Peggy o segurou como uma joia preciosa que pudesse quebrar a qualquer movimento errado. As lágrimas lhe desciam fartas, desta vez de emoção por ter o filho novamente nos braços.

–Meu bebê! Meu Julian! Você conseguiu! Você o salvou, Pierre!

–Eu disse que salvaria – respondeu ele, ainda sorrindo e plantando um beijo na testa de Peggy.

–Nunca mais vou me separar dele! Vai ficar comigo o tempo todo…

–Certo, mas procure descansar um pouco agora. Você já passou por emoções demais por hoje – disse ele, acariciando-lhe a nuca antes de afastar e tocar David e Bel nos ombros.

–E Chuck? - quis saber Peggy. - A polícia o pegou?

Pierre virou-se para olhá-la. Ele não sorria mais.

–Fique tranquila, ele se foi. Não virá mais atrás de nós.

–Tem certeza?

–Absoluta.

***

O hall do hospital estava calmo naquela manhã. O balcão de atendimento apresentava alguns poucos pacientes, que eram atendidos pelas moças educadas e bem-vestidas por trás dele. A porta de vidro automática eventualmente se abria para dar passagem para um novo paciente que chegava. De longe, a silhueta de três pessoas começou a se desenhar. Eles vinham sem pressa e levavam na cadeira de rodas uma mulher com um bebê no colo.

Peggy estava mais que feliz por finalmente poder deixar aquele hospital. Depois de tudo que passara, era como se tivesse acabado de acordar de um terrível pesadelo. Pierre a empurrava, igualmente feliz e ladeado por David e Bel. Eles eram amigos fiéis, os quais seriam eternamente gratos. Iam andando e falando coisas à toa, quando foram interrompidos antes que pudessem chegar até a porta automática.

–Me desculpe, senhora – disse uma das moças do balcão, que ao avistá-los tinha vindo correndo, com uma carta nas mãos, a qual agora ela estendia para Peggy. - Mas alguém lhe deixou esta carta.

–Uma carta? Pra mim? - ela correu os olhos da mulher para Pierre, David e Bel, que demonstravam o mesmo ar de surpresa e curiosidade que ela.

–Abra – incentivou Bel, pegando Julian no colo para que a amiga tivesse mais liberdade de movimentos.

Tratavam-se, na verdade, de dois envelopes. Um maior, mais pesado e amarelo, com uma aparência formal de negócios. Deixou este de lado e pegou o outro, menor e mais leve, descobrindo uma folha de caderno manuscrita em seu interior.

–É do Chuck! - chocou-se ela. - O que faço com isso?

Peggy olhava para o papel como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.

–Por que você não lê? - incentivou Pierre. - Ele deve ter te mandado por algum motivo.

Peggy o olhou com incredulidade. O que mais havia para ser dito? Enfim a curiosidade falou mais alto e ela passou os olhos pelo papel, enquanto os outros esperavam que terminasse de ler.

Peggy,

Quando estiver lendo isso, provavelmente eu já estarei muito longe daqui. Não peço que me perdoe, porque sei que não há perdão para tudo o que fiz. Apenas espero que algum dia possa entender que, da minha maneira torta, eu sempre te amei, e acho que nunca vou deixar de amar. Vou para algum lugar onde ninguém me conheça, tentar reconstruir minha vida, embora isso me pareça impossível agora. No outro envelope que estou mandando você vai encontrar a escritura da casa de Pierre junto com as chaves. Sim, também foi eu quem contatou Alicia no exterior e a fiz vender a casa para mim. Quero que você a devolva para Pierre por mim, como uma tentativa de amenizar o estrago que fiz em sua vida. Cuide bem de Julian, ele é um bom bebê.

Com esperança,

Chuck!

Ao terminar a leitura, Peggy exibia um sorriso de gratidão que Chuck gostaria de ter visto. Aquele sim, era o verdadeiro Chuck que ela conhecera em seu primeiro dia de aula.

–Acho que isso é seu – disse ela, estendendo o envelope amarelo para Pierre.

Ao abri-lo, um molho de chaves caiu aos seus pés. Antes de pegá-lo, ele puxou as folhas para fora, mal acreditando no que estava vendo.

–Não é possível! - exclamou ele, um sorriso crescendo em seu rosto.

–Você tem a sua casa de volta, parabéns!

–Vamos pra lá imediatamente – ele falou, pegando as chaves. - Para a nossa casa. - acrescentou, beijando Peggy nos lábios.

–Mas, Pierre! - protestou Bel. - Os pais de Peggy já estão nos esperando em sua casa!

–Me desculpe, Bel, mas eu tenho que ver isso com os meus próprios olhos. É um milagre!

–Você concorda com isso, Peggy?

–Bel, o que Pierre diz pra mim é lei…

Eles riram em seu momento de felicidade plena. David passou os braços em torno dos ombros de sua mais recente esposa, a beijando de forma apaixonada. E então eles deixaram o hospital. Uma vida inteira por escrever os aguardava do lado de fora…

FIM


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Notas finais do capítulo

E por aqui encerro a primeira longfic que eu tenho a satisfação de finalizar. Tanta coisa aconteceu desde que eu decidi começar a escrever essa história, que é praticamente um milagre chegar até aqui. Mesmo sabendo que ninguém mais lê, continuei escrevendo mais por teimosia e para provar a mim mesma que eu era capaz de terminar uma longfic. Bem, agora sei que sou e estou pronta para partir para novos projetos. Mas antes, gostaria de agradecer a cada uma de minhas leitoras que me acompanharam nesta jornada. Se não fosse por vocês, eu não teria saído do terceiro capítulo da história. Então, se algum dia alguma de vocês por acaso chegar a ler isso, saibam que cada uma de vocês é especial pra mim e serei eternamente grata pela leitura e pelos comentários que me deixaram, sempre me incentivando a continuar. Por isso, obrigada Anah, Jessy93, Miss Desrosiers, Flavinha, Bittersweet, Maah Podolski, Jehh Desrosiers, Carolzita, Vicky_sf, Sakura Sura, Marianna (que apesar de não ter conta do nyah, sempre falava comigo no msn e orkut), e principalmente Anna Peixoto (obrigada por tudo o que fez por mim, nunca me esquecerei de você!).



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