Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 41
Chapter 36: Aqueles que se vão


Notas iniciais do capítulo

"There's no ending
There's no peace
The darkness is so close
The lights will quickly gone"

— Natalie Taylor (Come To This)



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BROOKE EVERN

 

 

Não podia ser real, foi o que passou na cabeça dela enquanto sustentava o olhar diabólico nas feições de Joey, sentindo todas as emoções que poderia sentir com a descoberta a acertando como um soco certeiro; o luto e a fúria se convertendo em uma espiral de ânsia que a fez separar os lábios e despejar os resíduos em seu estômago bem aos pés daquele homem que não reconhecia mais, embora fizesse sentido agora ser ele.

 

O inimigo ao lado, vestido de amigo.

 

Era Joey, no final das contas. Era ele o responsável por todo o caos e carnificina daquela cidade. Pelas inúmeras mortes e desaparecimentos, pelos ataques, por seu inferno pessoal. Era ele o responsável pela morte de Amália. Pelas mortes de seus colegas de escola. Pela morte de sua mãe. Sua mãe, que estava morta há alguns metros adiante.

 

Morta.

 

Algo se estilhaçou dentro de Brooke, queimando logo em seguida até virar cinzas. O sangue em sua boca se tornou amargo demais e seu corpo ferido já não doía, apenas tremia... Um tremor que ecoava no fundo de seus ossos, enquanto ela terminava de esvaziar o estômago e erguia a cabeça, fitando o olhar debochado que o Senhor das Sombras a lançava.

 

Aquele olhar... Ela queria arranca-lo daquele rosto dissimulado com as próprias mãos. Queria mata-lo com elas, do mesmo jeito que o desgraçado havia feito com Marcy. Queria incendiar o mundo por isso, destruindo tudo que fosse contra seus desejos de sangue. No entanto, não deveria estar parecendo tão ameaçadora quanto se sentia, visto que Joey soltou uma gargalhada alta e breve, como se estivesse se divertindo com o entretenimento que havia planejado.

 

 

Conheço esse olhar sanguinário que está me lançando, querida. Creio que tenha herdado do seu pai, aquele insolente estúpido disse Joey, percorrendo a distância entre eles e parou a cinco centímetros de onde Brooke estava encolhida, tremendo, evitando o vômito humilhante ao seu lado. Com uma careta enojada, ele completou: Mas sugiro que poupe suas forças e ódio. Terá tempo depois, conforme conto a história completa e lhe mostro algumas verdades que sua mãe se negou a conta-la durante todos esse anos e aí você decide se estará ao meu lado ou contra mim. Por enquanto, tenha bons sonhos.

 

 

Antes que Brooke pudesse absorver o sentido das palavra que Joey havia proferido, ele já estava erguendo o punho e o baixando na direção do rosto da morena, a nocauteando na velocidade de um piscar de olhos, deixando que a imagem de Marcy Evern morta fosse a última que a filha tivesse.

 

 

 

***

 

 

 

Estava quebrada. Totalmente quebrada e sangrando. A dor aguda se fazia presente, assim como a sensação esmagadora da morte e do luto em seu âmago no momento em que recuperou os sentidos e a luz bruxuleante do crepúsculo iluminou a clareira de Forks ao redor.

Primeiro, Brooke soube que estava viva, embora sua cabeça parecesse prestes a explodir e seus ossos tremessem de dor. Depois, foi acertada pelas memórias e descobertas das últimas horas e se sentiu como a casca oca de algo. Algo que não existia mais, que fora arrancando de si, assim como sua mãe havia sido tomada de sua vida. Porque Marcy estava morta e Joey a matara. Sua mãe estava morta para sempre.

E então, Brooke se estilhaçou. Pedaço por pedaço de seu coração, ela o sentiu se partindo. As lágrimas rolaram pelo rosto machucado, gélidas e incessantes e quando a dor foi tão grande que tentou sufoca-la, o grito agonizante perfurou o silêncio sepulcral que vagava entre as árvores espalhadas da clareira. O corpo machucado da morena balançou conforme os soluços lhe escapavam e ela não tentou parar. Não tentou nada, na verdade. Nada mais importava.

 

Estava sozinha agora. Sozinha e partida. Partida e morrendo. Estava morrendo, de uma forma ou de outra. Por isso, não fez nada quando o som proposital de galhos se quebrando sob sapatos, ecoou.

 

 

Se continuar chorando, vai ser difícil ouvir minha incrível história.

 

 

Era Joey. A familiar voz estava mais debochada agora, mais amaldiçoada. Ele soava como um demônio e, quando Brooke ergueu a cabeça e fitou o espaço em frente, percebeu que ele também se parecia com um.
Joey tinha adquirido olhos vermelhos opacos, a pele parecia ter desbotado uns dez anos até assumir aquele tom de madrepérola leitosa e a boca... Haviam presas bem visíveis agora, o que fez a morena se perguntar, entre um momento de seu luto tortuoso e outro, como nunca havia reparado na verdadeira essência daquele homem antes.

 

 

— Chama-se transfiguração disse Joey, ao perceber a dúvida no rosto transtornado dela. Seu rosto era uma muralha de pedra impenetrável enquanto falava, as mãos cruzadas atrás das costas como um general de guerra. Foi o melhor dom herdado da maldição que ganhei.

 

 

Brooke nem pestanejou. Não esboçou reação alguma. Não perguntou. Não fez nada. Ela somente continuou encarando seu padrinho por intermináveis segundos, vasculhando em sua mente alguma lembrança de todos aqueles anos que o conhecia que indicasse a real natureza dele; mas não havia nada. Ele sempre fora apenas Joey, seu padrinho e figura paterna. Alguém com quem podia contar e lhe ensinava piadas ruins.  Não do tipo cruel e demoníaco. Não alguém que mataria sua mãe.

 

Sua mãe.

 

O coração dela doeu, a fazendo se encolher. Sabia que deveria se levantar e partir para cima de Joey. Sabia que deveria enfrenta-lo, mata-lo. Fugir dali. Sabia que tinha que fazer alguma coisa, mas não queria. Não conseguia se mover sem sentir a dor da perda, sem pensar no olhar aterrorizado no rosto de Marcy, nos momentos que não viveram, nas coisas que não a dissera.

 

Era tudo sobre ela: desde do primeiro momento em que aceitara o acordo com os Cullen, fora para proteger sua mãe. Quando permitiu que Alec ditasse as regras e enviasse Marcy para um cruzeiro enquanto o mundo desabava sobre sua cabeça, também o fizera por ela. Todas as coisas que fez, que passou, que suportou... Brooke fizera tudo aquilo por sua mãe e agora ela havia partido. E não restava nada mais para ser salvo, para lutar.

 

 

 

Está pronta para ouvir toda a história, querida? A voz cínica de Joey voltou a pertuba-la, a arrancando dos devaneios.

 

 

Brooke o fitou, ódio genuíno despertando e brilhando em seus olhos embaçados pelas lágrimas. Ele estava a menos de cinco metros de distância, o terno substituído por peças limpas e pretas da cabeça aos pés, combinando perfeitamente com a noite sombria que descia sob o céu da clareira e o sorriso diabólico continuava lá, a fazendo perceber que ele era o próprio diabo encarnado.

 

 

Volte para o inferno Sibilou Brooke, a voz tão distante que nem se reconheceu.

 

 

Joey gargalhou.

 

 

Eu nunca saí dele, criança. Por dezoito anos, o vivi contido nas sombras, limitando meus poderes para não chamar atenção até chegar a hora de agir. Esperei dezoito anos até que você estivesse pronta e, agora que está aqui, poderei finalmente me libertar.

 

 

A morena cuspiu aos pés dele, sentindo o gosto do sangue preencher sua boca.

 

 

É uma pena que eu esteja morrendo, então.

 

 

— Você não está morrendo, querida.  rebateu Joey, com escárnio enquanto se agachava em frente a ela e erguia a mão: Essa sensação que você está sentindo agora? É apenas o luto pela vadia da sua mãe. Parece o mesmo, mas não é. Você pode sangrar e sofrer por horas, minha querida Brooke, mas não irá morrer enquanto eu não quiser.

 

 

Foi a vez da morena gargalhar, algo que pareceu tão errado e inumano que a fez parar um segundo depois. Ainda assim, ela encarou Joey com todo o desprezo que sentia em seu coração e perguntou, a voz tão fraca e baixa que ficou em dúvida se ele a entenderia:

 

 

Você sabe que não pode decidir isso, não sabe, Senhor das Sombras?

 

 

Talvez não. No entanto, depois de mexer tanto com sua cabeça por todos aqueles anos, manipulando todas as situações possíveis para você se afundar mais e mais até que a desgraça tomasse por completo sua vida e lhe tornasse algo frágil e fraco como você se tornou, acho que determinar o momento preciso do seu fim não vai ser muito difícil, criança Ele sorriu e deslizou a mão pelo topo da cabeça dela, afagando os fios sujos de sangue seco. Você sempre foi a minha peça favorita do tabuleiro, querida.

 

 

Ódio e raiva borbulharam nas veias de Brooke, a fazendo sentir algo de fato desde que acordara. E assim, em questão de segundos, aquele vazio devorador havia sido preenchido pelo desejo de vingança que percorria cada célula de seu corpo, a fazendo catar seus pedaços e segura-los firme o suficiente para colocá-los no lugar.

Ela encarou Joey de olhos estreitos, as narinas infladas, e sentiu o asco crescendo ao passo que a mão dele continuava com a carícia em seu cabelo de forma tão paternal. Ela sentiu a cabeça queimando junto com todo seu corpo, que parecia tremer por dentro. Joey estava tão perto que estrangula-lo poderia ser fácil se fosse rápida e forte o suficiente. Isso mesmo. Mata-lo. Porque era isso que Brooke Evern queria fazer com ele.

 

Faça-o pagar por todos seus pecados, sussurrou a familiar voz dentro de sua cabeça e ela saudou o espírito da Descendente com cautela, se questionando se conseguiria assumir o controle de seu próprio corpo quando transformasse Joey em um amontado de cinzas ou se valeria a pena o preço a pagar por deixá-la subir à superfície por aquilo.

 

Mate-o. Acabe com ele. Vingue sua amada mãe. Mate-o agora.

 

A resposta parecia ser bastante óbvia para a Evern enquanto ela baixava os escudos que havia aprendido a erguer em sua mente contra o espírito malévolo que habitava dentro de si.

 

 

— Se eu fosse você, não faria isso, Caro.

 

 

Brooke congelou enquanto raios e trovões atravessaram as nuvens cinzas do céu acima de sua cabeça e ela soube instantaneamente quem os trouxera.
Bastou erguer a cabeça e ela o viu, surgido de seus próprios encantamentos, materializado ao lado de Joey, com suas runas espalhadas pelo corpo mais vívidas que nunca, os olhos da cor de aço líquido brilhantes e vidrados nela.

 

 

— Você sempre esteve do lado dele disparou Brooke, entre dentes. A raiva percorrendo por suas veias. Você é um traidor, Kian. E o pior é que eu sempre soube.

 

 

Os olhos prateados faíscaram e o feiticeiro se limitou a esboçar um sorriso torto, cruzando os braços atrás das costas e permanecendo como o fiel escudeiro do Senhor das Sombras que era. O peito da Evern se apertou com a cena; as memórias dos escassos momentos de cumplicidade que tiveram se agitando dentro de sua mente. 

 

 

Na verdade, Ecanus é o melhor espião que eu poderia ter Retorquiu Joey, gesticulando para o feiticeiro ao seu lado. Havia um controle doentio em seu tom de voz conforme ele emendava: e ele estará ao nosso lado quando o mundo estiver abaixo de meus pés.

 

 

Ecanus. Aquele nome... não lhe era estranho. Em sua mente, a Evern vasculhou os cantos mais sombrios em busca de qualquer fragmento de memória sobre aquele simbólico nome e, como um clarão repentino, ela lembrou de uma das suas visões em que lhe era sussurrado como uma prece, assim como também lembrou do anel com a inicial da letra E no dedo do feiticeiro no dia do baile de primavera.
Então, tudo ficou claro. As pistas sempre estiveram bem ali, debaixo do nariz dela e ainda assim ela havia sido enganada. Traída. Havia se deixado enganar por Kian Archertti, seu guardião.

 

 

— Kian, o nome dele é Kian. — Bradou Brooke, se colocando de joelhos sob a relva molhada pelo sereno precedente, sentindo cada nervo e osso protestar, sangue fluindo para fora de seu corpo. Os olhos castanhos se cravaram na figura indiferente do feiticeiro adiante, prostado tal como um soldado obediente com seus raios e trovões que resplandeciam no céu acima de suas cabeças, as lágrimas de dor e ódio escorrendo pelo rosto pálido e escoriado: Nascido há um milênio atrás, sendo o mais forte de sua linhagem. Alguém que voltou para ser executado junto com seus melhores amigos e que foi designado pelo destino para ser o guardião de um espírito poderoso que habita neste mundo. É este o homem que conheço, embora me pergunte agora onde ele está. Porque, de fato, não é ele que estou encarando. Um traidor e mentiroso, é o que vejo. Alguém que nunca irei perdoar e que farei questão de pagar pelo seus pecados.

 

 

Brooke oscilou, sentindo o corpo protestar pelo esforço de se manter na posição que estava, mas permaneceu firme, sentindo as fagulhas de ódio queimando seu sistema, a voz demoníaca da Descendente voltando a lhe sussurrar suavemente ao pé do ouvido.

 

 

Mate todos eles. Os faça se arrependerem por tudo. Mate. Mate. Mate.

 

Joey gargalhou, o som tenebroso do riso ecoando por toda clareira até ser sufocado pelos trovões que cortavam o céu acima. Porém, não foi para ele quem Brooke deu atenção. Sua atenção se prendeu em Kian, que continuava imóvel como uma estátua ao lado de seu senhor, a encarando de volta de modo glacial e impenetravel mesmo após ouvir seu discurso e ameaça, como se não fosse culpado pelo ponto em que chegaram ali. Como se não tivesse enganado todos. Como se não tivesse triunfado as custas de inúmeras vidas perdidas, principalmente a de Marcy Evern.

 

A vida perdida de sua mãe.

 

 

— Deixemos as ameças para depois e vamos direto ao motivo de estarmos aqui — O Senhor das Sombras se manifestou, mantendo o sorriso diabólico nos lábios, indiferente ao fogo que queimava nos olhos da morena de joelhos em sua frente:— Preparada para ouvir minha versão da história e sua provável origem verdadeira, querida?

 

 

 

Brooke deixou escapar uma risada curta, cuspindo mais um pouco de sangue no processo enquanto seus dedos se enroscavam na relva molhada do chão, sentindo seu corpo febril. Ela não queria escuta-lo; ao contrário. Queria enfiar uma estaca em seu coração cruel e decepar sua cabeça e atear fogo logo em seguida. Ela queria vingança, tão intensamente que sentia o desejo borbulhar em suas veias e incendiar toda sua corrente sanguínea, envolvendo seus ossos e cartilagem.

 

 

Mate. Mate. Mate.

 

 

— Por acaso eu tenho opção?

 

 

A expressão de Joey se alterou, desagrado recaindo em seu semblante perverso.

 

 

— Sempre detestei esse seu comportamento insolente e intragável, mas nada que não possa ser resolvido com algumas sessões de tortura — Indagou Joey, cruzando as mãos em frente ao corpo, a olhando de cima. — Vamos lá, por onde começo? Ah, sim... Petrus. Seu pai e eu éramos amigos de infância. Crescemos juntos, lado a lado, apoiando um ao outro até mesmo nas insanidades cometidas. Petrus era historiador, e não um soldado qualquer que morreu em uma missão do exército, como sua mãe mentirosa lhe contou. Porque foi com isso que Marcy encheu sua cabeça insana, não foi? Algo parecido com "Seu pai morreu em campo de batalha em uma missão, querida. Ele a amava muito e sempre estará com você"? Pois saiba que nunca foi verdade. A obsessão e a paranóia sobre pesquisas de lendas e seres míticos foi o que tirou a vida de Petrus... A vida humana, ao menos. A vida imortal, eu tomei na primeira oportunidade que tive.

 

 

— Cale a boca e pare de mentir! — Berrou a Evern, arrancando alguns pedaços da relva com as mãos, os atirando aos pés do Senhor das Sombras.

 

 

Joey revirou os olhos e, em meio segundo, já estava agachado diante da morena, tão perto que a respiração gélida dele se misturou com a respiração quente dela enquanto fechava o punho em uma porção dos fios pretos e os puxava para trás, a fazendo gritar e olhar diretamente para as íris vermelhas.

 

 

— Irei esclarecer duas coisas para você. Primeira: os únicos mentirosos nessa história são os seus falecidos pais. Segunda: se voltar a me interromper de novo, irei fazer muito mais do que apenas arrasta-la pelos cabelos. Arranca-los um por um, quem sabe.

 

 

Joey a soltou, se afastando logo em seguida e recobrando a postura. Brooke se encolheu minimamente, lançando um olhar pelo canto do olho para onde Kian estava, ainda inabalável a observando. O ódio queimou mais intenso, mais poderoso, tão forte que conseguiu se sobrepor a dor dos ferimentos espalhados por seu corpo.

 

 

— Onde eu estava? — Indagou Joey, para ninguém em particular. Em um gesto dramático, ele tamborilou os dedos contra os lábios, falsamente contemplativo: — Ah, sim. Estava falando sobre o lixo do seu pai, pois bem. Petrus sempre foi um crédulo quando o assunto era o sobrenatural e, após se casar com Marcy e dar ouvidos as antigas lendas que Rupert Evern, o seu avô, contava nos almoços de família, foi como se ele tivesse ganhado na loteria. Quais as chances de um fanático como ele conhecer e se casar com alguém com sangue místico correndo nas veias? Penso que talvez tenha sido destino ou talvez Petrus apenas tenha sido muito perspicaz em sua busca pelo oculto e a paixão por sua mãe tenha sido consequência de uma jogada de mestre — A voz grave de Joey se alterou, se tornando agressiva e mais alta conforme seus olhos diabólicos se embaçavam conforme ele parecia ser tragado para dentro das lembranças que contava:
— Seja lá o que foi, não durou muito tempo. Petrus amava Marcy, era visível. Porém, eu também a amava. Muito. E ainda a amo, mas sempre foi ele. Até mesmo nos piores momentos que passou, era ele quem sua mãe carregava dentro daquele coração tolo e, quando você nasceu, perdi minhas esperanças de ser retribuído e aceitei permanecer ao lado da mulher que amava enquanto ela era feliz com meu melhor amigo, empurrando meus sentimentos para as sombras.
"Depois de anos pesquisando sobre as lendas, reunindo pistas e informações sobre profecias e rituais, algo mudou na relação deles. Seu pai estava tão obcecado em alcançar o sobrenatural que esqueceu de suas obrigações como marido e pai. Eu estava lá para sua mãe, é claro. E um dia, simplesmente acabamos juntos na cama deles. Nove meses depois, Penny nasceu. Sua falecida irmã, minha filha, sangue do meu sangue! E nunca pude dizer isso em voz alta já que prometi para Marcy que não revelaria nosso segredo... Então, me mantive por perto, como seu padrinho, como o melhor amigo da família, como um pai postiço que por muitas vezes desempenhou as funções que aquele imbecil do seu pai não pôde cumprir. Fui o seu pai quando tudo o que eu queria era ser esse tipo de pessoa para minha pequena Penélope... Quando ela morreu, eu quis matar você, Brooke. Porque era para ter sido você, sua vadia desgraçada, não a minha filha!

 

 

Brooke gritou, enfurecida, insana com o que ouvia. O ódio em suas veias a deu força o suficiente para levantar e se colocar em posição de ataque, sentindo a pólvora queimar dentro de si, a presença fantasma do espírito da Descendente se manifestando enquanto suas mãos se fechavam em punhos e um círculo de fogo vivo envolvia a clareira; o brilho das chamas refletindo em seus olhos da mesma cor.
Por fim, quando ela ergueu a cabeça e encarou fixamente o Senhor das Sombras, ainda era ela... Cheia de poder. E a Descendente, ainda que Brooke Evern estivesse no controle de seu corpo e mente, pronta para matar.

 

 

— Me matar? Você terá sorte se deixarmos alguma parte sua para incinerar no final, seu verme desgraçado — Disse ela, com uma voz que não era totalmente sua. O toque de inumanidade da Descendente estava presente, assim como todo o ódio que a morena sentia.

 

 

Joey rosnou, o som sendo abafado pelos trovões.
Brooke trincou os dentes e avançou na direção de seu padrinho, tudo a sua frente era apenas um borrão vermelho, porém, o corpo de Kian bloqueou seu caminho e o feiticeiro a segurou em um aperto de ferro, a imobilizando no lugar. Ela lutou para se libertar enquanto as gargalhadas cínicas de Joey ecoavam pela clareira parcialmente sombria e antes que conseguisse se livrar, ouviu claramente quando a familiar voz  do Archertti ricocheteou em sua mente:

 

 

"Quando ele terminar de falar, apenas espere o meu sinal e ataque com tudo. A espada, conjure a espada e o acerte no coração. Este é o momento".

 

 

Brooke sabia que não deveria lhe dar ouvidos, mas a forma que Kian usara para lhe dizer aquilo e a postura inabalável que sustentava aos olhos de Joey naquele momento, a fez parar de resistir e ficar imóvel em seus braços, fingindo redenção enquanto Joey os observava com atenção. Ela prendeu a respiração, cravando as unhas nas carnes dos antebraços de Kian, as rasgando, deixando uma mensagem clara sobre o desfecho daquele trágico teatro.

 

 

"Seja lá o que você estiver tramando ou de qual lado esteja, eu irei arrasta-lo para o inferno comigo", era o que a Evern gostaria de ter dito em voz alta, mas permaneceu inexpressiva conforme Joey voltava a se manifestar alguns metros adiante:

 

 

— Petrus descobriu sobre a traição. Ele já era louco naquela época, nas depois ficou insano e cruzou caminho com um Deathvux, uma das piores criaturas infernais que você poderia encontrar. Seu pai fez um pacto com a criatura e o levou para a casa de vocês e pediu para o Deathvux invocar a profecia de Drácula e transferir os poderes para ele. Para o azar de Petrus, eu já estava lá para cuidar de você enquanto sua mãe havia levado Penny para o pediatra e tentei impedir aquela insanidade, mas fracassei. Ele e eu nos envolvemos em uma briga enquanto a criatura realizava o ritual. O Deathvux perdeu o controle depois de ser atingido acidentalmente por um soco meu e a magia fugiu do alcance dele e tomou vida própria, escolhendo por si mesma alguém com o sangue da linhagem do espírito da Descendente. Você foi atingida, Brooke, e naquele momento eu presenciei um dos mais genuínos medos nos olhos de Petrus — Os lábios de Joey se esticaram em um sorriso sádico, os dentes afiados cortando o ar a cada de palavra cuspida, as pupilas dilatadas pelo ódio crescente: — Seu pai ficou tão irado que quis matar o Deathvux, mas a criatura ardilosa usou o pacto que eles haviam feito para se salvar e condenar Petrus a uma maldição eterna. Já eu, como não havia feito pacto nenhum, aproveitei que a criatura estava fraca pelo ritual e cortei sua garganta. O que eu não sabia, no entanto, é que ao matar um Deathvux, você se torna algo pior do que ele.

 

 

Joey gargalhou alto, abrindo os braços e erguendo o queixo, se exibindo. Garras surgiram em suas mãos.

 

 

— Depois de receber a maldição da morte, matei Petrus. Quis matar você também, mas me contive porque sabia que você portava os poderes, então os desejei. Arquitetei um plano a longo prazo e me disfarcei de humano novamente. Naquele dia, quando Marcy chegou, apaguei uma parte da memória dela e manipulei a outra. Vocês mudaram de cidade um dia depois e Petrus Evern nunca mais foi mencionado. Treze anos depois, aqui estamos nós. A questão, no entanto, é se devo matar você também ou não? Se você irá implorar pela vida da mesma forma como Petrus implorou? Ou se você será esperta o suficiente para ficar ao meu lado e sobreviver mais  um pouco? — Pausando, ele apreciou o efeito de suas palavras venenosas em Brooke. Quando por fim retomou a palavra, a confiança brilhava em seu semblante maligno: — A escolha é sua, querida.

 

 

 

Joey calou-se enquanto todo o sistema nervoso de Brooke parecia prestes a explodir de tanto ódio. Nunca, em momento nenhum de sua breve vida, ela havia sentido algo tão intenso e poderoso. Era como se estivesse inflamando por dentro, como se todo aquele rastro de fogo que envolvia a clareira a envolvesse também, mas sem ferir. Ela pensou que explodiria, porém não explodiu. Mas algo aconteceu. Foi sutil e efêmero, mas ela percebeu a mudança de postura de Kian atrás de si, a forma como o corpo dele balançou para longe sob a relva, se tornando uma pálida presença que por sua vez tinha sua voz ecoando na mente dela:

 

"Agora".

Brooke não pensou, apenas agiu por impulso. Instinto. E atacou. Com tudo o que tinha, com tudo o que era. Era fogo vivo e ódio puro e assim como o círculo das chamas em volta, ela ascendeu junto com a Descendente. Em um instante, a espada estava em sua mão, queimando na mesma intensidade e ela sabia que seus olhos não eram mais seus. Eram vermelho e dourado, como o fogo. Olhos que se fixaram em Joey e se estreitaram.

 

 

— Eu escolho matar você primeiro — Bradou Brooke — Mas não antes de ouvi-lo gritar, assim como meu pai.

 

 

Joey rosnou e a Evern avançou, rápida, hábil. Era seu corpo, sua carne, mas a forma como ela se movimentava... Era a de uma guerreira. Uma assassina. Uma predadora atrás de sua caça. No momento que o alcançou, desviou de seu bloqueio e agitou a espada no ar, a lâmina descendo certeira na mão esquerda do Senhor das Sombras, a decepando instantemente.
Os gritos de Joey retumbaram pela clareira, abafados pelos raios e trovões no céu. Ele a encarou, enlouquecido de fúria e  recolheu o braço mutilado junto do peito, se colocando em posição de ataque, a atacando logo em seguida. Como um animal ferido, ele a acertou pela direita, dessa vez desviando da lâmina e a arremessou do outro lado da clareira, lhe partindo mais alguns ossos.

 

 

As chamas diminuíram enquanto Brooke recuperava os sentidos e tentava se erguer da relva. A maioria de seus ossos doíam como o inferno e ela conseguia sentir o sangue escorrendo de muitos lugares, mas nada disso a deteve. Segundos depois já estava de pé, brandindo a espada, ignorando seu corpo quebrado e a dor da perda, do luto. Era vingança o que ela queria. Morte, mais especificamente a morte do Senhor das Sombras.

 

 

E ela teria aquele desejo realizado.

 

 

— Acha mesmo que pode me vencer, criança tola? — Rugiu Joey, expondo as presas que escorriam veneno. — Sou o Senhor Das Sombras, o Comandante do exército da Morte, algo pior do que um Deathvux.

 

 

— E eu sou Brooke Evern, filha de Marcy e Petrus Evern, cujo você matou — Disparou ela, fazendo um círculo no ar com a espada, formando um escudo de fogo vivo ao seu redor: — Matar você já é uma certeza, não uma crença, não uma tentativa. Matarei você e irei lhe mostrar quem realmente sou.

 

 

Joey rosnou, sendo a deixa da morena.
Ela avançou, o obrigando a recuar conforme o escudo de fogo se aproximava, porém foi quase em vão. Brooke correu atrás dele, deslizando pela relva, lançando faíscas com a espada pelos ares. O céu acima deles era um festival de cinza e preto, com alguns riscos de prateado dos trovões que retumbavam como trilha sonora de fundo.
Mesmo movendo-se mais rápido que o normal naquele momento, Joey era muito mais rápido. Brooke tentou alcança-lo incansavelmente, contudo, ele estava alguns passos a frente. E, quando tentou mirar a espada em seu coração e atirar, Brooke sentiu algo a acertando como uma flecha atingindo sua mão que segurava a lâmina, a derrubando longe, cessando o escudo de chamas.

Faíscas prateadas percorreram a mão dela, lhe causando pequenos espasmos, a fazendo gritar. A Evern cambaleou alguns metros a frente, caindo de joelhos e ergueu a cabeça, encontrando com os olhos irônicos de Kian a confrontando.

 

 

— Já ouviu a história do sapo e do escorpião, linda? Eis aqui a moral: O escorpião nunca deixará de ser um escorpião. Está na natureza dele, assim como está na minha servir o lado que sobrevive. Você já deveria ter aprendido isso — disse Kian, frio. Os traços de seu rosto estavam duros, cruéis, inumanos. Contudo, era uma postura falsa. Em seus olhos, Brooke viu a verdade. Uma verdade que estava direcionada a apenas ela, algo que ele fez questão de deixar ecoar na mente dela segundos depois: — Confie em mim.

 

 

Confiar no Archetti naquela altura do campeonato era tudo o que ela não deveria fazer. Não quando ele a desarmara na frente de seu inimigo, não quando as gargalhadas de deleite maníaco de Joey ressoavam pela clareira como uma orquestra sinfônica enquanto ele se aproximava lentamente dela fervilhando em ódio, não quando ela estava ferida. Confiar nele era uma decisão naquele momento, uma que poderia determinar o final daquele jogo que estavam jogando desde o início.

Uma decisão que Brooke não precisou tomar, porque, antes que um dos três pudesse se mover ou falar algo, o ruído de sirene de polícia se fez ouvir junto com pneus derrapando pela terra batida e em questão de segundos, socos e o baque de um corpo sendo arremessado e pousando violentamente na relva entre a morena e o Senhor das Sombras ecoou, sinalizando para a nova presença na clareira.

 

Assustada, a Evern fitou a silhueta se retorcendo aos seus pés e reconheceu o rosto de Kian gemendo de dor. Ela se virou, procurando o responsável pela agressão que surgira como um louco em um carro da polícia, e o alívio a atingiu imediatamente assim que os familiares repreensivos olhos vermelhos a encontraram na metade do caminho — furiosos naquele momento.

 

 

— Você não é um sobrevivente, Kian. É um covarde traidor que se arrasta a séculos atrás dos outros por migalhas que prolonguem sua maldita existência — A voz de Alec Volturi bradou, potente e enraivecida. O gelo que costumava estar presente em seus olhos havia sido derretido pelo calor da cólera que ele exibia enquanto encarava o ex-amigo no chão: — Mas está acabado. Irei acabar com você. E com você — O olhar dele se desviou para Joey. — E com qualquer um que encostar em um fio de cabelo da Evern ou do meu clã.

 

 

Brooke sentiu o amor que nutria por aquele Volturi percorrer cada célula de seu corpo quebrado. Enquanto o olhava, ameaçador e sanguinário onde estava, ela entendeu porque todos seus inimigos o temiam: porque ele era implacável em seus objetivos. Porque ele era forte e corajoso. E naquele momento, o amou ainda mais.
Alec desviou os olhos para os dela, os fitando com intensidade. Por alguns segundos, todo o corpo da morena esquentou, e não foi por conta do espírito presente da Descendente. Brooke assentiu com a cabeça, e separou os lábios para lhe mandar embora, mas o rosnado de Joey a interrompeu.

 

 

— Acabar comigo, garoto? Você não conseguiria nem em seus sonhos. Não sou como Ecanus ou qualquer outro inimigo seu. Sou sombras e pesadelos, o caos e a morte encarnada. Matei milhões ao longo dos anos e pretendo matar você agora, já que é o que parece que veio buscar aqui.

 

 

O rosnado de Alec foi como um convite. Ainda de joelhos na relva, Brooke observou horrorizada enquanto Joey a ignorava e avançava em direção a Alec, ao mesmo tempo que o Volturi corria na direção dele para o embate. Ela gritou para se afastarem, para o vampiro louro-acastanhado ir embora, mas já era tarde demais.
Joey o golpeou de primeira. Alec caiu para trás e voltou a se levantar um segundo depois, devolvendo o golpe com um chute certeiro no rosto do Senhor das Sombras. Ambos giraram pela clareira desferindo socos e empurrões, as garras de Joey rasgando o tecido da roupa do Volturi e o fazendo berrar.

A Evern começou a tremer. Dentro de si, ela conseguia sentir a Descendente brigando para sair. Para tomar o controle. Ela conseguia sentir a fogueira viva em suas veias e artérias, quase a consumindo. E ela queria. Queria ser consumida por aquele instinto agressivo e correr para a briga dos vampiros e acabar com Joey. Queria salvar Alec e a todos. Queria matar. Ela queria tudo aquilo, porém, antes que sequer tivesse ousado levantar, uma vertigem a acometeu e sua cabeça rodou, escuridão a envolvendo bruscamente e sendo substituída por cenas que pareciam ecoar dentro de sua própria mente: Alec sendo espancado por Joey na clareira repetidas vezes até por fim ter sua cabeça arrancada, Joey deixando um rastro de corpos por toda Forks, Os Cullen sendo massacrados, a tribo dos Quileutes sendo atacada e diversos lobos sendo torturados e mortos, fogo destruindo o mundo enquanto o Senhor das Sombras observava de seu trono forjado de ossos humanos...

 

 

Brooke arquejou, voltando a realidade. O gosto de sangue em sua boca se misturou com o sal das lágrimas que caiam de seus olhos quando fixou os olhos na luta que acontecia entre os dois vampiros, já sabendo do resultado.

 

 

— Não adianta — ela sussurrou para si mesma, estranhando a própria voz falha e áspera. Parecia oca, um corpo sem vida. Era assim que se sentia, ao menos. — Não adianta lutar, ele é poderoso demais. Estamos mortos, todos mortos.

 

 

— Você ainda não entendeu, não é mesmo? — Kian respondeu a pergunta dela com outra, a fazendo lembrar que ele ainda estava estatelado logo a frente, com um rio de sangue escorrendo do nariz. Brooke desviou os olhos para ele, odiando o sorriso esnobe que ele portava e pensando se não deveria lhe quebrar o nariz mais um pouco antes de ouvi-lo: — O Senhor das Sombras só é poderoso porque você é. O poder que existe dentro de você é o que o tornará indestrutível, porque sem isso, ele é apenas uma criatura amaldiçoada tanto quanto nós.

 

 

A mente de Brooke deu um giro de trezentos e sessenta graus. Por um breve momento, tudo ficou em silêncio. As engrenagens de seu cérebro rodaram, os pensamentos se alinhando, as informações se ajustando conforme o quebra-cabeças se montava perfeitamente.

 

 

—  "Apenas um homem designado por esta profecia será capaz de combater fogo contra fogo. Apenas ele cravarará a estaca da misericórdia..." —  A Evern recitou a profecia, finalmente começando a entender cada palavra: misericórdia para sua alma. Ela encarou Kian, lívida. — Em mim.

 

 

O Archetti balançou a cabeça, assentindo. Melancolia assentou em seus traços e algumas lágrimas se acumularam nos cantos dos olhos prateados quando ele olhou para a espada caída em meio a grama da clareira.

 

 

— Eu a vi nascer e crescer e se tornar essa mulher incrível que está em minha frente agora. E eu amo você, Brooke.  Aprendi a amar. Mas, amo ainda mais meu irmão, Alec. Sei que você quer salva-lo tanto quanto eu, que quer salvar todos nós, mesmo que isso signifique se sacrificar. Mas, se confiar em mim, prometo que encontrarei um jeito de consertar tudo.

 

 

— Eu não confio em você, Kian. Nem um pouco. Mas confio em mim e nas pessoas que estarei salvando ao fazer isso — Brooke o encarou, obstinada. Havia dor em seus olhos, assim como certeza: — Devo ser louca por isso.

 

 

O feiticeiro sorriu, genuíno. A sombra da tristeza ainda pairava em seu semblante quando ele balançou a cabeça e mirou os olhos em chamas da garota diante de si.

 

 

— Sim, porque você é Brooke Evern — Pontuou ele, se erguendo do chão. — E o que você faz?

 

 

Brooke nem piscou. Sua mão se ergueu no ar e instantâneamente a espada se acomodou entre seus dedos, o material frio da lâmina os ferindo.

 

 

— Eu sobrevivo — Ela respondeu, girando a espada na direção de seu coração. — Agora, me ajude a fazer isso antes que mais alguém morra.

 

 

Kian foi até ela e envolveu suas mãos com as dele no cabo da espada, e então a olhou. Brooke assentiu, sentindo uma onda crescente de desespero em seu interior, o espírito da Descente lutando contra a decisão que poria um fim na existência das duas.
Brooke apertou o maxilar, seu corpo começando a formigar. Pareciam que garras enormes a cortavam de dentro para fora, o monstro aprisionado procurando libertação.

Ela respirou fundo, sentindo que seu peito poderia se rasgar ao meio a qualquer instante e aquele espírito que a sondava por muitos anos, escapar.

 

 

— Irei arranjar uma forma de trazê-la de volta, eu prometo —  Kian sussurrou em seu ouvido, movendo lentamente as mãos.

 

 

Mas Brooke não o deu atenção.
Ela prendeu a respiração e desviou os olhos do feiticeiro, os deixando percorrer a clareira e se deterem na última imagem que teria de Alec Volturi, o homem que amava. Então lá estava ele: lutando uma luta perdida contra o Senhor das Sombras, sendo golpeado e golpeando o máximo que podia. Sua expressão, seus movimentos... Ela registrou tudo o que podia. Registrou aquele momento enquanto seu coração batia ensandecido, dando-se conta mais uma vez de como amava aquele homem de modos rudes e carícias apaixonantes. De como o queria. De tudo que estava disposta a abrir mão por ele.

 

Inclusive de si mesma. Ela o amava, afinal.

 

E, quando por um breve segundo os olhos dele se ergueram e encontraram com os dela, quando a enxergaram e perceberam o que ela estava prestes a fazer e pânico tomou sua habitual expressão capaz de congelar todo o inferno, a Evern soube que estava pronta para vencer aquele jogo. Pronta para o xeque-mate.

 

 

— Eu amo você — Sibilou ela, olhando para Alec.

 

 

Sem perder a coragem, ela moveu as mãos, junto com as de Kian, apunhalando seu próprio coração enquanto pensava em todas as escolhas que a levaram até aquele momento, em todas as pessoas que amava e havia pedido e em todas que estaria evitando perder ao abrir mão de sua vida. A lâmina a perfurou, certeira, arrancando um grito doloroso e estridente da Evern conforme grossas lágrimas escorriam pelos olhos que aos poucos, foi perdendo o brilho intenso das chamas até se apagarem e se tornarem opacos, vidrados.

Sua respiração cessou.

O corpo dela pendeu, inerte. Kian a segurou, trêmulo. Houve um breve instante de silêncio, de choque pela clareira. Joey virou-se para olhar, a descrença lhe tomando as feições enquanto Alec perdia o equilíbrio e cambaleava para trás como se alguém o tivesse puxado o mundo sob seus pés. E talvez o tivessem mesmo. Porque, de repente, era oficial.

Brooke Evern estava morta.














 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores. Como vocês estão?

Pois é, eis aqui o último capítulo dessa longa jornada. Após quase seis anos, chegamos ao final. Nem dá para acreditar, mas é verdade. Seis anos e, assim como a nossa protagonista, eu cresci e aprendi muito nesse tempo. Assim como a Brooke, perdi pessoas que amava e fiz escolhas importantes capaz de mudar uma vida toda. Muita coisa dela é minha e muita coisa nela eu gostaria de ter tido a oportunidade de ter. Não irei me estender muito e nem adiantar a despedida, pois ainda temos o epílogo e a continuação no segundo livro da fanfic.

Enfim.

Agradeço do fundo do meu coração por esses seis anos. Por cada um e cada uma. Pelos comentários e apoios. Por tudo. Espero que continuem por aqui e que não me matem pelo rumo final, quem sabe.

Até o próximo capítulo...

Bjs!



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