Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 38
Chapter 33: Família e sangue (PARTE II)


Notas iniciais do capítulo

''Spin me around, knock me off my feet
Try to stay dry but you rain on me
You know, you can be my hurricane''

— Midnight Cinema (Hurricane)



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BROOKE EVERN

 

 

 

— Brooke? Onde você está, querida? 

A voz doce de Marcy Evern ecoou pela pequena casa, se misturando com o som de seus passos rápidos contra o assoalho. Havia uma leve nota de preocupação em seu tom, ocasionada assim que se deu conta da ausência da filha na sala do jardim de infância, onde deveria estar junto com as outras crianças terminando de se  preparar para o início das apresentações. 

O fato da pequena Brooke ser uma garotinha muito curiosa e disposta a descobrir coisas novas ao seu alcance, só acentuava a preocupação de Marcy. Porém, a mulher não precisou ir muito longe para encontrar a pequena. Atrás de um dos armários de pastas, no final do corredor daquela área da escola, o caule da fantasia de girassol entregou o esconderijo da procurada, e dando um sorriso aliviado, a Evern mais velha foi até lá. 

Encolhida contra a parede, a garotinha estava abraçada á cabeça com pétalas amarelas de sua fantasia, o rostinho molhado por lágrimas gordas que escorriam pelas bochechas salientes. Calmamente, Marcy contornou o armário e se agachou em frente a filha, juntando as saias de seu longo vestido, tocando os longos cabelos negros e chamando sua atenção. 

— O que a senhorita está fazendo aqui, pode me contar? 

— Mamãe... - A Brooke de sete anos fungou, o lábio inferior tremendo pelo esforço em reprimir o choro. - Acho que não quero mais participar da peça. 

— Por que não? - O questionamento de Marcy foi acompanhado pelas sobrancelhas arqueadas. - Você ensaiou tanto, querida! O quaconteceu?

A pequena garotinha apenas balançou a cabeça, apertando ainda mais forte a cabeça de girassol, deixando mais algumas lágrimas escaparem

— Brooke

— Acho que não vou conseguir, mamãe. Tina disse que não sou boa o suficiente para ser o girassol. E acho que não sou mesmo. - O sussurro da pequena foi quase inaudível e difícil de compreender, mas no momento em que ela ergueu os grandes olhos castanhos, Marcy viu todo o medo e pânico que eles continham. - Estou com medo de ir até lá e estragar tudo. 

Por alguns segundos, Marcy Evern ficou quieta, apenas olhando para a filha amedrontada e pensando no quanto ela era especial. No quanto o mundo era injusto por assustar garotinhas como ela e o quão necessário era faze—la enxergar o contrário. Engolindo o nó na garganta e entrelaçando as mãozinhas de Brooke com as suas, ela exibiu seu melhor sorriso encorajador e olhou no fundo dos olhos castanhos que eram idênticos aos do pai. 

— Querida, ouça o que eu irei falar com bastante atenção, sim? - Brooke assentiu, o que fez Marcy prosseguir: - Sentir medo é normal. Todos nós teríamos algo de errado se não sentíssemos, mas o que realmente importa é supera-los. Medo não é sinal de fraqueza, é ser humano. A coragem ás vezes vem quando menos esperamos, e existe dentro de cada um, as pessoas apenas a encontram em momentos e situações diferentes. E sobre você ser boa ou não, eu sei que você é, assim como você também sabe. Só está assustada demais para enxergar isso e deixando Tina ou seja lá quem seja, te dizer o contrário. Não é algo típico de você, meu amor, porque você sabe quem é e de onde veio, não sabe? 

— Eu sou uma Evern .

— Sim, você é. E tenho muito orgulho disso, assim como o seu avo e seu pai, mesmo ele não estando aqui. Qualquer pessoa em sã consciência teria, porque você é uma menina incrível. Só precisa deixar que as pessoas saibam disso e deixa-las aplaudi-la de pé. Então, o que acha de colocar a cabeça de pétalas e se transformar num lindo girassol? O jardim precisa de você para a peça, cá entre nós. E tenho certeza que Joey deve estar um pouco desesperado com sua irmã no colo lá na plateia. 

A pequena Brooke sorriu largamente, um sorriso banguela, e assentiu energicamente, abraçando a mãe logo em seguida.

— Eu amo você, mamãe.

Marcy sorriu carinhosamente, retribuindo o abraço da filha e acariciando o topo de sua cabeça. Naquele momento, ela sentiu-se completa, disposta a fazer de tudo para que o sorriso nunca saísse dos lábios de sua garotinha, disposta até mesmo a ir contra o mundo e todas as Tinas que pudessem existir. E ela iria, porque era mãe, porque era uma Evern, porque a pequena Brooke merecia alguém que lutasse por ela. 

— Eu também amo você, meu amor. Todos que tiverem a oportunidade de conhece-la, irão amar. 

 

 A lembrança de onze anos atrás parecia uma memória de outra vida. Da vida de outra pessoa, não da garota que caminhava lentamente pelo jardim da mansão Cullen, sendo escoltada por tres vampiras e uma híbrida perfeitas. Mas, mesmo assim, ela sentia toda a nostalgia e amor que aquela lembrança trazia. E sabia o significado dela. 

Ser corajosa. Era o que Brooke Evern tentava fazer todos os dias, ao acordar e ao dormir. Na maioria das vezes, falhava, mas, continuava tentando. Porque era o que fazia, porque era um ensinamento de sua mãe e, porque, no fim das contas, era uma atitude humana. E Brooke, com todas suas falhas e qualidades, ainda era humana. E estava disposta a ser corajosa e enfrentar o mundo e os monstros que nele existiam aquela noite abafada e festiva.

O ruído dos saltos de seus sapatos em contato com os três degraus da escada que levava a varanda afastou a nuvem de pensamentos em sua cabeça, a fazendo prestar atenção no caminho a frente e nos cochichos das mulheres em seu encalço.

— Vocês sabem que estão agindo estranho, não é? - Brooke perguntou enquanto erguia a barra do vestido branco com cuidado para não tropeçar, tentando não soar tão suspeita e estragar a surpresa.

— Somos vampiras vegetarianas e seres imortais que frequentam uma escola de adolescentes hormonais. Agir estranho é nossa função - respondeu Rosalie, ao passo que Alice, Bella e Renesmee concordaram logo em seguida.

— Hoje  vocês estão a desempenhando muito bem, então.

Rosalie torceu os lábios, arrancando uma gargalhada da Evern. 

— Chega de papo! Brooke, solte a barra do vestido antes que a amasse e abra a porta, querida - A ordem de Alice as silenciou, tal qual um general se dirigia aos seus soldados. 

— Até onde eu sei, vocês são as donas da casa.

Renesmee tentou disfarçar a risada, fingindo uma crise de tosse, e Bella se precipitou e a cutucou com o cotovelo antes que a vampira com aparência de fada a lançasse um olhar repreensivo. 

Alice escorregou as mãos para a cintura e mirou Brooke com o nariz empinado. Com aquele jeito autoritário que apenas ela tinha quando o assunto em questão lhe interessava, se balançou em cima dos saltos agulhas e piscou lentamente. 

— Gastamos três horas experimentando roupas e maquiagens para o que está lá dentro. Então, vá em frente e abra a porta, Brooke. 

Ciente das intenções dela e de todos os Cullen (e porque sabia reconhecer uma batalha perdida), Brooke decidiu não insistir e se resignou a acatar a ordem de Alice, que abriu um espetacular sorriso ao perceber isto. Daquela forma, Brooke girou em cima dos saltos altos e esticou a mão até a maçaneta, a rodando e abrindo a porta da mansão.

Foi como nos filmes ou nas séries de televisão. Primeiro, você entra e se depara com a escuridão total, que dura por apenas cinco segundos. Depois, você percebe que algo está errado e então as luzes se acendem, revelando o propósito daquele momento incomum que está acontecendo.  

Brooke lembrava-se de algumas festas surpresas que tivera em sua infância, mas nunca havia sido com a proporção daquele momento. Lembrava-se da presença de sua mãe, de sua irmã, de seu avo e de Joey, apenas. Nunca com tantas pessoas, como aquele momento. O momento em que as luzes nos lustres da mansão foram acessas e vários rostos familiares surgiram no hall de entrada, segurando balões, usando chapéus de aniversário e uma faixa a parabenizando. Onde palmas ecoaram enquanto gritavam ''SURPRESA'' com tamanha empolgação que a deixaram realmente daquele jeito, mesmo já sabendo de toda trama. 

Foi um dos melhores momentos que Brooke Evern já havia vivido em toda sua vida, aquele onde a sensação de pertencimento e afeto tocou seu coração e se espalhou por todo seu sistema, ao ponto de escorrer por seus olhos em sutis lágrimas de felicidade. E enquanto limpava os vestígios de sua emoção, aproveitou para analisar os rostos que a cercavam. Ela viu cada um dos Cullen, empenhados na canção do ''parabéns para você'', a fitando como se fosse um deles, como se ela realmente fosse parte da família. Alice, Rosalie, Bella e Renesmee haviam se juntado a eles, os sorrisos de cumplicidade nos rostos iluminados.

 Emmett estava com uma língua de sogra e era responsável pela maior parte do barulho e animação da canção, do jeito que deveria ser. De onde estava, Brooke entendeu enfim porque todos aqueles vampiros formavam uma família, e não um clã de vampiros unidos por uma causa. Eram diferentes e parecidos ao mesmo tempo, mas no final do dia, estavam juntos. 

 Próximos aos Cullen, a Evern reconheceu a pele morena e os traços nativos que apenas os Quileutes tinham. Com choque e felicidade, ela observou Jacob e todos os outros meninos, incluindo Sam e até mesmo Leah, cantarolando alto com os narizes franzidos. Talvez sua descrença estivesse explícita, pois, quando seu olhar  encontrou com o de Jacob, ele apenas encolheu os ombros e apontou para o chapéu em formato de cone em sua cabeça, um gesto que respondia a sua pergunta silenciosa sobre o tratado entre as duas espécies. 

Havia sido por ela. Os Quileutes estavam ali por ela. Haviam feito uma trégua no tratado pelo seu aniversário, aparentemente. Brooke nunca se considerou uma pessoa merecedora de gestos importantes, muito menos um com tanto significado como aquele. Porém, enquanto assistia de olhos arregalados o gesto se desenrolando diante de seus olhos - o marco histórico dos lobos debaixo do teto dos vampiros, sem sangue ou cabeças decepadas -, um pensamento a ocorreu: ela amava sua família. Amava o lar em que havia crescido, apesar de tudo. Mas, segundas famílias existiam, assim como terceiras. E as suas estavam bem ali, a cercando, compostas por seres lendários e que a aplaudiam de pé. 

— Isso parece um enterro - A melódica voz soou em um tom aborrecido, repentinamente, levando embora todo o clima leve e emocionado, quando a canção terminou.

Virando o rosto para a esquerda, no canto mais afastado possível, a figura irritada de Jane Volturi com sua habitual capa negra e expressão fechada contrastava com todo o resto da festa. Atrás dela, Demetri e Felix também se destoavam, embora não carregassem o mesmo ar aborrecido, apenas desconfortável. 

Em um misto de incredulidade e diversão, Brooke os saudou com um sorriso sincero, sendo incapaz de impedir que seus olhos vagueassem em busca do quarto Volturi. E foi ainda mais incapaz de não se sentir decepcionada quando não encontrou Alec. Ele não estava lá, não tinha se dado ao trabalho de comparecer em sua festa de aniversário, diferente de todos os outros vampiros que conhecia. Contudo, ele também era diferente dos outros vampiros que conhecia, embora tivesse todos os mesmos traços. A verdade era que Alec Volturi era diferente do resto do mundo para ela, o que a fazia se importar com mais intensidade.

— Por que está me olhando com sofrimento? Eu ainda nem a presenteei com a tortura - A voz de Jane a tirou do caos de seus pensamentos. Brooke piscou e a encarou, recolhendo o sorriso. 

Ela se recompôs, alinhando os ombros e suspirando exclusivamente para a loira.

— É um presente muito charmoso. Coloque junto com os outros, por favor - replicou, apontando para a mesa entulhada de pacotes embrulhados que viu de relance.

Jane rosnou, rolando os olhos, e focou a atenção no balão cor de rosa que segurava a contra gosto.

— Considere um presente - disse Demetri, balançando uma garrafa de whisky Macallan no alto. - que eu mesmo irei usufruir, senhorita.

Brooke riu, apenas balançando a cabeça. Então, se voltou para o último vampiro de olhos vermelhos, que já a encarava. Diferente dos outros, parecia até mesmo a vontade ali e se deu ao trabalho de ir até ela.

— Sinto informar que não trouxe um presente - falou Felix, cruzando as mãos em frente ao corpo.

— Está tudo bem, eu não me importo. Fico feliz que tenha vindo - As palavras de Brooke reproduziram um arquear de sobrancelhas nele.

— Na verdade, tenho algo. Mas considero mais como uma informação.

Curiosa, ela esperou enquanto Felix puxava um envelope do bolso de sua capa e a entregava. Ela aceitou e abriu, tirando de dentro um papel. Leu o que estava escrito. A primeira frase dizia se tratar do boletim escolar.

— Aprovada - murmurou Brooke, desviando os olhos do papel para encarar o vampiro grandalhão diante de si. - Eu passei! Como?

— Como participante efetivo do corpo docente da sua instituição escolar, eu dei meu jeito - Felix deu de ombros. - Como pode ver, você foi cem por cento aprovada, parabéns.

Uma salva de palmas soou. Levada por uma onda de adrenalina mesclada com impulsividade, Brooke se jogou em cima do Volturi, o abraçando sem jeito. Felix ficou estático por uns cinco segundos, e sob o olhar atento de todos, encostou o dedo indicador na testa da morena e a empurrou para longe, esticando os braços para frente, como se fosse uma barreira de limites.

— Bem, não precisa se exceder - Ele pigarreou, fechando a expressão. - Apenas saiba que você foi a pior aluna que já tive.

— É, eu imagino - Pigarreando e corada pela vergonha, a Evern limpou uma sujeira inexistente no vampiro. - Mas obrigada.

Felix se limitou a um aceno mínimo de cabeça, mas em seus olhos cobertos por lentes esverdeadas, estava explícito o contentamento e a simpatia que sentia pela Evern. E era recíproco. Ela sentia que as relações que tinha com todos ali, era recíproco. Desde das ofensas até os sorrisos acolhedores. 
Durante aqueles longos meses, foram eles - vampiros, lobos e híbrida - que a deram apoio e a acompanharam. Eles a ensinaram a dor, mas também a apresentaram diversos modos de se curar para seguir em frente.

Clã ou tribo. Para Brooke, aquilo era sinônimo de família. Uma família que sem pretensão, foi se formando e a dando sustentação naquela fria e chuvosa cidade. Eles a aplaudiam de pé, literalmente.

— Quando vamos comer o bolo? - A pergunta partiu de Seth, que recebeu dois tapas na cabeça: um da irmã e outro de Jacob. 

— Você me mata de vergonha - resmungou Leah, lançando olhares fulminantes para o Clearwater mais novo, que apenas massageou o local golpeado. 

Brooke gargalhou, colocando-se ao lado de Seth e entrelaçando seus braços.

— Bem, vamos começar essa festa! - Declarou, sorridente. 

— É por isso que você é a minha garota dos vampiros favorita, Brooks. 

— Ei! - Bella estreitou os olhos, com uma falsa expressão irritada. - Achei que esse cargo fosse meu, Seth. 

— Era, mas voce nunca teve uma festa com bolo grátis para os carinhas da tribo - O lobo retrucou, um largo sorriso maroto aparecendo no rosto que logo foi apagado por uma cotovelada da Evern.

— Okay, pessoal. Vamos começar com a diversão antes que mais alguém agrida o pequeno Seth - disse Emmett, batendo palmas enquanto abria caminho até a mesa de centro que havia sido arrastada para baixo da televisão fixada na parede, onde dois microfones jaziam. - E, para os interessados, temos karaokê hoje. 

Gritos e palmas soaram e, em seguida, a Evern observou os vampiros e lobos se agitarem, dando início a sua festa de aniversário.

Os microfones foram ligados, alguns móveis arrastados e, antes que ela se desse conta, já estava assistindo times opostos compostos por Emmett e Alice cantando Don't Stop Believin, com direito a performance e o coral especial de Renesmee, Rosalie e Esme. Carlisle, Bella e Jasper optaram por uma versão acanhada de Everything I Do, que acabou sendo melhor do que o esperado.

Quando a rodada dos vampiros chegou ao fim - depois que os Volturi passaram a vez rudemente, como o esperado -, chegou a vez dos Quileutes, que se juntaram em um canto para discutir o repertório.

— Sendo a única aqui presente que não tem uma super audição, espero que vocês mandem ver — disse Brooke, entre uma mordida e outra nos salgadinhos que havia roubado da mesa.

Vários pares de olhos negros a olharam torto, o que a fez gargalhar. Então, observou todos os Quileutes — até mesmo Sam — se posicionarem lado a lado. Jacob e Leah ficaram com os microfones, e pareciam odiar aquilo. Após dez segundos, todos eles começaram a bater os pés no chão encerado, em um ritmo conhecido. Em seguida, Seth puxou o coro das palmas, e a plateia, mais especificamente Brooke e Renesmee, foi a loucura. 
Jacob começou a cantar a letra de We Will Rock You, e Leah entrou no refrão, parecendo estrelas do Rock.

Foi uma performance incrível e no final da primeira rodada, os lobos levaram a melhor. Outras se seguiram após aquela, com novos times, porém com a mesma rivalidade entre as espécies. Brooke perdeu a conta de quantas vezes chorou de rir com as coreografias e comentários dos adversários, além de tomar cuidado com o seu voto decisivo de juíza. Ela não resistiu á câmera de Alice com toda aquela decoração incrível e acabou pousando para alguns flashes.

 Tudo estava correndo tão naturalmente, que depois de um tempo, a Evern se permitiu relaxar e aproveitar o momento de felicidade. Ela riu, cantou, dançou, comeu e pulou. Ela se divertiu, livre de qualquer pensamento sobre perdas ou mortes. Ela viveu e deixou que o tempo corresse enquanto estava presa na espiral de sentimentos bons com as pessoas que amava. Foi bonito, tão bonito, que muito tempo depois, quando parou de dançar uma música da Katy Perry para tomar um copo d'água na mesa dos aperitivos, a morena respirou fundo e olhou ao redor da sala de estar da mansão Cullen, observando e absorvendo cada mínimo detalhe daquele instante. 

 Ela via sorrisos espalhados pelo cômodo e sentia o afeto dos donos deles, até mesmo daqueles mais sombrios que usavam um manto negro. Ela sabia que todos eles estavam felizes, assim como ela, e gostaria de poder congelar aquele momento e nunca mais sair dele. Mas não podia. A vida tinha que continuar e possivelmente as coisas sairiam fora do controle em breve, mas ainda tinha aquele momento. Ainda tinha aquela certeza que floresceu em seu amago e se enraizou pelo seu sistema até alcançar seu coração: finalmente, estava no lugar certo, com as pessoas certas.

E aquilo era o suficiente para continuar. 

— Com licença, pessoal — Manifestou-se Brooke, atraindo a atenção dos vampiros e lobos. Alguém abaixou o volume da música, o que a fez agradecer. — Acho que tá todo mundo se divertindo e eu sinto muito atrapalhar isso, mas tem algumas coisas que preciso falar. Na verdade, são muitas, mas felizmente a maioria aqui não dorme... — Risadas soaram, o que a fez rir de nervoso antes de pigarrear e retomar a fala, ainda parada diante a mesa dos aperitivos: —  Obrigada. Muito obrigada, de verdade. Pela festa, pelos presentes, por estarem aqui, por tudo. Quando eu acordei hoje, pensei que seria um dia como qualquer outro porque não vi motivo de comemorações. Mas então Alice e Renesmee me arrastaram para uma super produção e bem, aqui estamos. Acho que devo muito a vocês, não só pela festa. Cada um aqui presente me ajudou de alguma forma durante todos esses meses e me fez sentir acolhida, até mesmo aqueles que tinham a intenção de fazer o oposto — Diversos pares de olhos se voltaram para Jane, que apenas bufou e encolheu os ombros. Brooke riu fraco, sentindo os olhos marejados. — Enfim. Sei que sou uma pessoa difícil de lidar e que tenho muitos defeitos, mas sou grata por te-los aqui. Carlisle, você tem o seu clã. Jane, você tem o seu. E você, Jacob, a sua matilha. Antes de conhece-los, eu não sabia o que as duas coisas significavam com exatidão, mas agora eu sei. Família, para mim. É um conceito para humanos, mas tenho certeza que todos vocês entendem. Não entendem?

 Em um segundo, Brooke teve sua resposta. As silhuetas se locomoveram como sombras e, logo, ela estava sendo sufocada em um abraço coletivo de lobos e vampiros, com alguns rosnados grátis. Ela sentiu o tapinha amigável de Félix em suas costas e sorriu, percebendo que estava certa. Risadas ecoaram se misturando com os rosnados de provocação, porém, o ruído da porta da entrada batendo e de passos contra o assoalho, se sobressaiu. E não demorou muito para a familiar voz rouca ecoar:

— Eu perdi o bolo?

Brooke soube que era Alec Volturi antes mesmo de se desvencilhar dos inúmeros braços ao seu redor e erguer a cabeça na direção do hall de entrada.

O riso ficou preso em sua garganta, a deixando muda, e seus olhos não conseguiram parar de percorrer a silhueta do vampiro, tentando convence-la de que ele realmente estava ali. Era ele, embora não vestisse o manto negro dos Volturi e estivesse de lentes azuis e calça jeans. A forma conflituosa que ele a fitava, com uma mescla de indiferença e intensidade e o sorriso de lado, comprovava que era ele mesmo ali de pé, acelerando a pulsação da morena e transformando suas pernas em gelatinas.

Ela piscou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto sentia os olhos dos outros vampiros e lobos acompanharem seus movimentos. Seu olhar confrontou o de Alec, tentando avisá-lo por aquele gesto que estava furiosa com ele por ter lhe abandonado depois de salva-la mais uma vez noite passada, mas não conseguiu. Sua raiva se dissolveu em meros segundos quando o viu erguer as sobrancelhas, lhe provocando em busca de uma reação.

Era assim que funcionava entre eles, afinal.

— Alec... Você está atrasado — Foi o que saiu dos lábios da Evern, por fim. Ela odiou ser tão óbvia, mas a parte que deveria formular frases coerentes em seu cérebro parecia ter se desligado.

—  Certamente. Mas tenho uma boa justificativa — retorquiu ele, ignorando os olhares atentos dos demais vampiros e lobos. 

A Evern engoliu em seco as emoções.

—  E qual é? 

—  O seu presente atrasou. Mas, valerá a pena a espera — Alec abriu um sorriso ínfimo, dando um passo para o lado e abrindo caminho na entrada da mansão. Seus olhos nunca deixaram os da morena: — Ao menos, foi o que ela apostou comigo.

Brooke franziu o cenho e olhou confusa para o vampiro, assim como todos os outros presentes. Ninguém disse nada, o que fez com que os passos apressados se aproximando ecoassem pela mansão silenciosa. Três segundos depois, a porta voltou a se abrir e uma cabeleira loura com saias bufantes e colares de miçangas cruzou o arco da entrada, arrastando uma mala cor de violeta.

Brooke arfou, sentindo todo o oxigênio em seus pulmões fugir ao reconhecer a mulher parada atrás de Alec.

— Mãe?

Os grandes olhos esverdeados a fitaram da maneira materna de sempre, a localizando. E então Marcy Evern sorriu carinhosamente para a filha, soltando a mala de qualquer maneira e abriu os braços. Em menos de dois segundos Brooke já estava correndo até ela, se lançando no braços da mulher que a deu a vida, tentando se convencer que aquele momento era real.

E era. A maneira acolhedora como a mulher a abraçou e a forma carinhosa como a olhava, comprovava que era sua mãe. Marcy estava ali, a sufocando em um abraço apertado enquanto fungava emocionada.

— Aí, meu Deus. Eu estava morrendo de saudades, querida — disse, distribuindo beijos estalados pelo rosto da filha. Tomando-lhe a face entre as mãos, a fitou com um sorriso enorme: — Como você está?

— Bem. Também tive saudades, mãe. Mas... Como? — Gaguejou Brooke, ainda surpresa, ainda agarrada com a mais velha. Um leque de pensamentos sobre os meses sem ela e os acontecimentos entre eles se abriu em sua mente, a deixando com um nó formado na garganta e lágrimas nos cantos dos olhos. Por um instante, esquecer de tudo que havia vivenciado e que estava vivenciando e ficar nos braços de sua mãe era tudo o que queria para sempre. — Como a senhora está aqui? Ainda faltam dias para o Cruzeiro acabar.

Com um sorriso matreiro, Marcy balançou a cabeça e acariciou o rosto da morena.

— Eu sei, querida. Mas eu não perderia o seu aniversário por nada no mundo, então antes mesmo de receber a ligação do seu amigo sobre a festa surpresa eu já estava de malas prontas. Mas foi ótimo receber a ajuda dele com a papelada das passagens. — Marcy desviou os olhos para o hall de entrada, para a figura imóvel de Alec que as observava: — A propósito, Alec Volturi é de longe o melhor pretendente que você já teve.

— Mãe! — Repreendeu Brooke, corando sob os olhares de todos. Ela riu. — Eu estou feliz que esteja aqui. Eu amo você.

— Eu também amo você, querida. E feliz aniversário. Agora, venha aqui. Temos muitos abraços para colocar em dia.

Enquanto se deixava permanecer em mais um abraço materno, Brooke lançou um olhar para o hall, encontrando com os olhos inexpressivos de Alec no meio do caminho. A expressão dele era ilegível naquele momento, mais inacessível do que uma folha em branco, mas ela arriscou um ínfimo sorriso  sibilando um "obrigada" inaudível. 
O Volturi se limitou a assentir quase imperceptivelmente, sem mover um músculo. Os dois continuaram se encarando por longos segundos, presos na bolha que continuava a aparecer em momentos como aquele e os separava do resto do mundo. Eram apenas eles e as emoções confusas que alimentavam a estranha relação que tinham. 

No entanto, a bolha foi estourada pelo som da porta batendo novamente e de novos passos se aproximando. O contato visual entre eles foi quebrado e assim que Brooke levantou a vista, se deparou com a silhueta de Kian parando ao lado do Volturi, tirando o chapéu Fedora da cabeça.

O estomago dela revirou enquanto a lembrança do que descobrira mais cedo no chalé a acertou como uma pancada. Kian a fitou e sorriu exacerbadamente, a fazendo resistir ao impulso de avançar sobre ele e feri-lo dolorosamente até que confessasse suas verdadeiras intenções. A respiração da morena pesou, o sangue começando a ferver em suas veias, e todos os salgadinhos de antes pareciam querer tomar o caminho de volta do seu sistema digestivo. 

A mais remota possibilidade de Kian Archetti ser o Senhor das Sombras, mudava tudo. E Brooke não sabia até que ponto gostaria de aceitar aquela mudança. Iria se sentir traída se fosse verdade, mas não tanto quanto Alec e Jane. Não havia modo de colocar as cartas na mesa e revelar a possibilidade sem causar um conflito maior na relação que os três amigos de infância tinham. Fosse como fosse, quando a verdade viesse a tona, alguém sairia inevitavelmente machucado e as coisas ficariam mais difíceis.

Porém, aquele não era o momento certo. Não quando sua mãe alheia ao mundo sobrenatural, estava ali. Não quando todos estavam apreciando o raro momento de comemoração. Por tanto, Brooke mastigou e engoliu todas as emoções e forçou um sorriso falso para o feiticeiro, prometendo para si mesma que o confrontaria depois.

Deus sabia que estava esperando por aquele momento há algum tempo. Dentro de alguma horas, iria descobrir se Kian Archetti era seu inimigo ou não.

— Você trouxe a mãe, Alecssandro? Vai ser difícil superar esse presente — A voz grave e retumbante do feiticeiro provocou arrepios na nuca da morena enquanto os ávidos olhos de Ônix a observavam fixamente e ele cruzava os braços elegantemente, absolutamente ciente dos olhares sobre si. — Mas eu posso tentar.

Pela quarta vez no dia, mais passos se aproximando repercutiram e Joey Lynd surgiu pela entrada do hall e se deteve entre Alec e Kian. Carregava uma maleta de executivo e trajava um terno cor de giz com uma gravata de bolinhas pretas. O sorriso branco quase lhe rasgava a face, mas alcançava os cantos dos olhos esverdeados. 

Brooke ficou boquiaberta, sentindo a alegria lhe transbordar ainda mais no peito, ao ponto de até esquecer da presença traiçoeira do feiticeiro, como se fosse possível. Fazia algum tempo que eles não se viam; mas as mensagens de seu padrinho nunca paravam de chegar, em um lembrete claro de que ele estava ali por ela. Mas agora ali estava ele em carne e osso, a surpreendendo novamente.

— Soube que a pessoa mais simpática deste país está ficando mais velha — Joey gracejou enquanto deixava o hall e se aproximava da morena, a mirando fixamente. 

— Achei que você não viesse — retorquiu Brooke, os olhos estreitados e um sorriso se formando nos lábios. Ela riu quando foi acolhida pelos braços do padrinho e mais ainda quando ele a tirou do chão, a girando no ar conforme soltava grunhidos dramáticos. 

— Dezoito anos. E não perderia esse aniversário por nada — As sobrancelhas grisalhas dele se elevaram após os dois se separarem. — Eu nunca perderia, querida. É um acontecimento importante.

Foi inevitável Brooke não sorrir. Ela murmurou um agradecimento e pensou em todas as coisas que queria dizer para Joey Lynd naquele momento, o homem que havia assumido o papel de seu segundo pai. Porém, enquanto pensava, reparou no momento em que os olhos dele se deslocaram para o lado e seu semblante se modificou. E então, de repente, Joey era o homem quebrado de algumas semanas atrás que havia dito coisas desconexas. 

E Brooke entendeu que o motivo era Marcy. 

A expressão dolorosa de sua mãe confirmou suas suspeitas. E Brooke observou calada enquanto as figuras adultas que havia tido em toda sua vida, se encaravam com tensão. Havia tanta coisa não dita naquela troca de olhares, tanta expressividade e emoções contidas, que Brooke começou a questionar o significado por trás de tudo aquilo. Assim, como um estalo, as estranhas palavras de Joey de algumas semanas atrás sobre Penny, voltaram a sua mente, e tudo ficou confuso. 

Ninguém disse nada.

— Acho que vocês dois precisam conversar — Pronunciou Brooke, após uma longa pausa onde ninguém se mexeu e as coisas começaram a ficar estranhas. — Voce veio até Forks para isso, afinal — Ela lançou um olhar afiado para Joey, que piscou diversas vezes. — E você talvez tenha deixado Denver por isso — Desviou os olhos para Marcy, que abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não conseguiu formular nenhuma resposta boa o suficiente. No final, Brooke apenas suspirou longa e audivelmente: — Seja lá o que for, estarei pronta para ouvir depois. 

Marcy e Joey se entreolharam por alguns segundos até assentirem como crianças contrariadas. 

— Ela puxou o seu lado da famíilia — O Lynd murmurou, se colocando ao lado da Evern mais velha.

— Decididamente. — Marcy deu de ombros, deixando um meio sorriso tenso aparecer. Estalando dois beijos na bochecha da filha, se despediu: — Volto já. 

Carlisle ofereceu o escritório para os dois terem mais privacidade. Assim, sob os olhares curiosos de todos, os dois deixaram a sala da mansão alheios ao fato de estarem cercados por criaturas sobrenaturais e focados na futura conversa sobre a realidade que partilhavam. 

Brooke os acompanhou com os olhos até sumirem pelo arco da porta. Então, respirou fundo e se virou, dando-se conta que agora todos os olhares estavam recaídos sobre si. A preocupação de estar sendo deixada de fora de algo a estava consumindo, mas ela tentou a refrear em nome dos bons modos de uma anfitriã. Então, forçando um sorriso amarelo, ela chamou a atenção de todos.

— Drama familiar finalizado, gente. Vamos continuar a festa de onde paramos.

Assobios soaram. Emmett jogou mais confete no ar. Paul exigiu uma nova rodada de karaokê e Demetri se voluntariou para a próxima canção. Renesmee deixou Jacob por alguns segundos e foi até Brooke, jogando o braço por cima dos ombros da morena e arrancando algumas gargalhadas com comentários engraçados. Todos voltaram a se divertir e então a Evern soube que tudo estava bem, por hora.

 

 

***

 

 

Algum tempo depois, a conversa entre Marcy e Joey ainda durava. Brooke não ousou incomoda-los, mas não podia negar que estava lutando bravamente contra o impulso de ir até o escritório e ouvir atrás da porta. A festa de aniversário também durava e infelizmente os goles furtivos do Macallan de Demetri misturado com refrigerante ainda não haviam tido efeito.

Brooke estava se esquivando de Kian que continuava tentando começar um diálogo, quando esbarrou em Jane.

— Ai, foi mal. 

— Cegueira não combina com estupidez — Grunhiu a Volturi. Sem esperar por uma resposta, a olhou indiferente e continuou: — Ele está te esperando na varanda há quinze minutos.

O cenho da Evern se franziu.

—  Quem? 

— Quem mais seria além do meu irmão?

— Ah. — Soltou Brooke, pestanejando. Havia pensado que ela não era a única evitando alguém ali desde do momento em que Alec sumira de vista algumas horas atrás sem nem falar oi. — Por que?

Jane pareceu rosnar e bufar ao mesmo tempo, como se estivesse muito cansada e irritada para expressar algo mais. Ainda assim, ela inclinou o corpo para frente, invadindo abruptamente o espaço pessoal de Brooke, e por alguns breves segundos, a olhou sem o costumeiro desprezo e superioridade.

— Você realmente não sabe ou, assim como meu irmão, está dissimulando? — Questionou, sussurrando apenas entre elas. Os pequenos lábios se curvaram em um sorriso áspero: — Seja lá o que for, se resolvam. O tempo de vocês está acabando, e não é justo ser abandonada duas vezes pelos dois caras que valem a pena. Aliás, Gaz Julions pediu para te dizer que sente muito por tudo. 

Assim que proferiu a última palavra, Jane endireitou a postura e desmanchou o sorriso, erguendo o copo no ar em um brinde imaginário e virou as costas, se afastando em um piscar de olhos. Brooke apenas pestanejou, confusa e abalada com o que ouvira. Não entendia as atitudes da Volturi, mas daquela vez mais do que nunca. Ao que se referia sobre o tempo entre si e Alec? E a Gaz... De repente, enquanto fitava o lugar em sua frente onde Jane estava minutos antes, todos os sentimentos que estivera tentando conter durante o dia, voltaram a superfície com a adição da dúvida. 

E Brooke se recusou a quebrar mais  uma vez. 

Ao invés disso, ela resolveu enfrentar tudo aquilo de frente e entrar na espiral de emoções que a tragava para o caos, mesmo que aquilo significasse confrontar a pessoa cujo deixava seu mundo caótico: Alec Volturi. Como a força da natureza que era, ela respirou fundo e ordenou que as pernas se movessem, correndo até a porta e atraindo a atenção dos vampiros e lobos do cômodo. 

— Broo, está tudo bem? — Ouviu a voz de Renesmee perguntar com uma nota de preocupação.

— Vai ficar — respondeu, sem se deter ou olhar para trás. Então alcançou a maçaneta e abriu a porta, a batendo atrás de si assim  que colocou o pé na varanda. 

Deparou-se com a silhueta do vampiro curvado sob a mureta, aparentemente contemplando a noite a fora. Ela sabia que ele sabia  que ela estava ali, mas levou um minuto inteiro até que ele exprimisse alguma reação e quando o fez, endireitou a postura e virou para trás lentamente, mantendo-se encostado na mureta e cruzando os braços sob o peito. Os incomuns olhos azuis a fitaram inexpressivamente enquanto os dela deveriam exibir todo o seu descontentamento. Eles a analisaram dos pés a cabeça e se detiveram em seu pescoço, onde a marca da mordida de Gaz deveria estar se não fosse pela maquiagem milagrosa de Alice. Alec desviou os olhos logo mais, indiferente.

Pois bem. Lá estavam eles, mais  uma vez. 

— Por que, Alec? — Emitiu Brooke, impaciente, adotando a postura dos braços cruzados também. 

— Geralmente este é o tipo de pergunta que vem após uma breve ou longa conversa sobre determinado assunto, Evern — replicou Alec, arqueando as sobrancelhas de um jeito sarcástico: — e não me lembro de termos tido nenhuma delas recentemente.

Brooke sufocou um palavrão e bufou, descruzando os braços e os deixando cair ao lado do corpo. Com um suspiro cansado, olhou imóvel para o vampiro enquanto ambos ouviam o seu coração ribombando dentro do peito.

— Para com isso. Você não pode fazer tudo o que fez por mim e depois se arrepender. Não pode se aproximar e depois sair correndo como se fosse errado, porque você está a tempo o suficiente nesse mundo para saber que não é assim que as coisas funcionam — Ela gesticulou entre eles. — Você praticamente se declarou no baile e salvou a minha vida e então quase morremos no incêndio. Achei que você estaria lá quando eu acordasse, mas não estava. Também não ligou, o que faz parecer que não se importa, mas eu sei que sim. O mesmo aconteceu no dia da boate. Acontece sempre e já estou cansada de lidar com isso sozinha. 

— Falando desse jeito até parece que  temos  uma relação, o que tenho a plena convicção de não ser o caso — Atalhou Alec, a indiferença dando lugar a irritação em seu semblante, os olhos cobertos por lentes se tornando duros. 

Brooke deixou escapar uma risada ácida e deu alguns passos em frente, sentindo o rosto ruborizar ao ouvir tal afirmação. 

— Eu sei que não, mas é o que parece quando sua irmã joga piadinhas pra cima de mim e fala sobre enigmas de tempo ou sei lá o que enquanto estou tentando aproveitar o único dia que posso não pensar sobre profecias, vampiros querendo destruir o mundo ou mortes! — a Evern bradou, apontando o indicador rente ao rosto do Volturi, que estreitou os olhos. — Você me salvou incontáveis vezes, cuidou e me protegeu quando precisei e falou coisas que eu queria ouvir, embora pareça ter sido tudo da boca para fora! Então, perdoe-me se compreendi mal os sinais e estimei demais a droga da responsabilidade afetiva, Alec Volturi.

O maxilar do vampiro trincou e a morena foi capaz de ouvir os dentes dele rangendo. Ele abriu e fechou a boca para refutar, uma, duas, três vezes, mas em nenhuma das tentativas formulou algo que valesse a pena ser dito. Brooke esperou pelas palavras afiadas, pelo ataque de ira ou por qualquer reação que levasse os dois ao limite da sensatez. Ela esperou, com o coração enlouquecido e o corpo tremulo, contudo, recebeu algo totalmente distinto. 

 Alec apenas relaxou os músculos e suspirou profunda e superficialmente, alinhando os ombros. Então, contrariando todas as expectativas do universo, ele recuou. 

— Sim, você compreendeu mal.

 

Brooke observou, estupefata, Alec a lançar um último olhar duro e dar-lhe as costas, caminhando para longe da mansão debaixo da fina garoa que caía naquela noite. 

As palavras dele retumbaram na mente dela, como ecos ensurdecedores em uma casa vazia. Aquilo não estava certo, ela sabia. Sentia. Havia pensado sobre aquele momento algumas vezes, onde colocaria seus sentimentos em evidencia para ele. Nenhuma versão de sua imaginação conseguia se comparar a realidade, talvez porque fosse inimaginável o fato de Alec Volturi rejeita-la simplesmente. Não quando ele demonstrara sentir o mesmo. Não quando ela sentia aquilo. Não aquela noite, no seu aniversário. 

Poderia ser seu ego ferido falando mais alto que o bom senso que tinha, mas Brooke se deu conta que pior que ser rejeitada por alguém como Alec Volturi, era ser rejeitada por Alec Volturi sem uma explicação plausível exceto um ''sim, você compreendeu mal'' originado de suas próprias acusações.

E isso a irritou profundamente. Tão profundo que a ideia de ir atrás do vampiro noite a fora pareceu perfeita. E foi o que a Evern fez: livrando-se dos saltos e juntando a saia do vestido com as mãos, ela correu em disparada pelo caminho que o Volturi havia tomado, o que a levou a percorrer os limites do terreno dos Cullens e se embrenhar no início da floresta de Forks. 

Para sua sorte, Alec não havia ido muito longe em sua velocidade supérflua de humano, e depois de passar por duas trilhas de ramificações e árvores, Brooke vislumbrou sua silhueta partindo o tronco de uma árvore em vários pedaços com um chute. 

Era bom que ele estivesse tão furioso quanto ela estava, assim os dois se enfrentariam nas mesmas condições!

 

 — Não me dê as costas enquanto falo com você, Alec Volturi! Não seja covarde só porque não quer falar sobre o que temos! — Vociferou Brooke, as palavras ecoando entre as folhas das árvores, carregadas de ira e frustração enquanto se aproximava bruscamente, os pés afundando na terra que virava lama da floresta. 

 

 

Alec virou-se, parecendo brevemente chocado por ela o ter seguido para continuar com a discussão. Ele estreitou os olhos perigosamente e, como o esperado, refez o caminho de volta marchando, quase em posição de ataque. Ele parou alguns centímetros da morena, mas perto o suficiente para analisa-la perfeitamente e sentir a respiração dela contra seu rosto e seu cheiro que o deixava à beira de um ataque de nervos, se é que vampiros podiam ter um.

 

— Eu, covarde? Isso é uma blasfêmia, Evern, e você sabe disso! Assim como sabe que se falarmos sobre nós, é você quem sairá machucada! — Alec apontou o indicador em riste na direção dela, desejando percorrer todo o rosto de boneca com ele.

— Então me deixe ser machucada! — gritou Brooke, sentindo todo o corpo vibrar em adrenalina e emoção enquanto a garoa grudava os fios de cabelo ao redor de seu rosto. Ela semicerrou os olhos que começavam a embaçar por conta da chuva e das lágrimas que surgiram sem avisar: — Fale comigo! Se importe comigo! Me abrace! Me beije! Fique comigo! Até quebre o meu coração, se quiser. Mas faça algo e mostre que sente alguma coisa consistente, real. Porque, se eu tiver que suportar mais um dia com esses sentimentos que dizem respeito à você, aqui dentro, temendo estar enganada sobre eles, eu juro como vou explodir.

Brooke calou-se, ouvindo a própria respiração ofegante. Sentia seus olhos marejados, assim como sentia o coração prestes a voar do peito e um calor excessivo lhe percorrendo o corpo, embora o clima estivesse frio. Ela sentia o vento da noite lhe golpeando a pele e a garoa fina encharcado seu cabelo. Queria gritar e chorar ao mesmo tempo. Chutar o vampiro diante de si e abraça-lo juntamente. O breu da floresta era intenso, mas o fio prateado de luz da lua a permitia enxergar o contorno do corpo do vampiro e sua expressão com precisão. 


Foi por isso que ela soube que ele sentia o mesmo, no exato momento em que o viu engolir em seco e abrir e fechar a boca diversas vezes, as mãos fechadas em punhos se abrindo lentamente, prestes a aceitar a derrota. 

— Se eu fizer todas essas coisas, não posso prometer que irei parar algum dia — sibilou Alec, a voz mais rouca que o normal, os olhos vermelhos tornando-se escuros de desejo.

— Não quero suas promessas — sussurrou Brooke, passando a língua entre os lábios secos, sentindo-se a garota mais corajosa do mundo: — Eu quero você. Sempre quis. Sempre vou querer.

Ela terminou, demarcado o fim do juízo do Volturi, que soltou um rosnado sensual e venceu a distância entre os dois, desistindo de todos os seus argumentos e destruindo as barreiras, avançando sobre ela e a pegando nos braços como se fosse sua, a reivindicando como sua naquela floresta escura e tempestiva.

Em um instante, os lábios dos dois já estavam selados, as línguas se conectando, os corpos se tocando. Alec a pegou pela cintura e a suspendeu, fazendo Brooke envolver as pernas em volta de seu quadril, e a empurrou contra o tronco grosso de uma das árvores, a fazendo gemer de dor e prazer quando o sentiu descer os beijos para o pescoço alvo, as veias pulsantes expostas para ele, que rosnou ensandecido e tentou se afastar ao perceber isto, mas foi impedido pela Evern, que o segurou pela barra da camisa, o mantendo exatamente no mesmo lugar.

— Voce não gosta de mim apenas porque deseja o meu sangue, não é? — Ela perguntou, o fitando diretamente, sentindo contrações no baixe ventre conforme as mãos fortes do vampiro a mantinham firme contra a árvore.

— Evern... — Advertiu Alec, trilhando beijos até o ouvido dela, o tom perigoso ao notar as intenções explícitas ali. — Você sabe a resposta.

— E ainda assim quero ouvi-la. — retrucou.— Ou vê-la.

Tomada por uma ousadia alucinante, Brooke arrastou a mão até a lateral do pescoço e pressionou as unhas afiadas na carne, rasgando a pele até sentir a ardência e o filete de sangue escorrendo. Ela nunca desviou os olhos do rosto pétreo do Volturi, o observando estremecer conforme ela melava as pontas dos dedos com o líquido escarlate e os levantava no ar, o oferecendo.

O confronto direto entre a sede e o desejo era nítido, e Brooke temeu por um instante que a primeira ganhasse, porém, o temor se foi assim que ouviu o grunhido sensual do Volturi e o viu aproximar o rosto de seus dedos, próximo o suficiente para deslizar a língua, provando o sangue. 
A luz da lua foi o suficiente para revelar a expressão de deleite no rosto do vampiro e, para Brooke, aquela era uma visão perfeita. De alguma forma muito estranha e deturpada, a imagem de Alec provando de seu próprio sangue a deixou excitada e molhada o suficiente para arrancar um gemido seu.

Gemido que foi respondido com um sorriso malicioso do vampiro louro-acastanhado assim que ele afastou a boca dos dedos dela. Os olhares se encontraram, faísca contra labaredas e se fundiram em um grande incêndio no coração da floresta.

— Você já tem a sua reposta. Mas ainda assim, quer que eu a diga, alto e claro?

Brooke balançou a cabeça que sim.

— O seu sangue me excita, Evern. Mas apenas você, e somente você com essa língua afiada e coragem estúpida, me fazem querer ser um homem um pouco menos pior, porque não é apenas o seu corpo que eu quero, garota... — Ele pausou, colando a testa na dela, arrastando as mãos até alcançar sua nuca, onde emaranhou os dedos entre os fios de cabelo: — Eu a quero por completo. Eu quero a Brooke Evern sem reservas que fez meu coração paralisado voltar a bater, de modo figurativo, é claro.

A risada da morena ecoou pela floresta enquanto ela roçava os lábios avermelhados nos lábios gélidos do Volturi e o abraçava com todas as partes de seu corpo.

— Você já me tem, Alec. Desde do primeiro minuto em que me encontrou.

Como resposta, Alec atacou os lábios dela, tomando tudo dela para si. Brooke o correspondeu na mesma intensidade, percorrendo as mãos pelos braços definidos dele, procurando os botões da camisa social. O Volturi a ajudou a se livrar da peça, a tirando pelo pescoço em um único puxão, ficando com o tórax nu, dando passe livre à morena para percorrer com as pontas dos dedos a pele fria como mármore.

A Evern contornou o peitoral dele, sem nunca desviar o olhar, e pensou que iria enlouquecer quando o viu rosnar baixinho e levar uma mão até seu ombro, abaixando as alças do vestido e deixando a parte da frente cair até a cintura, revelando sua lingerie preta de renda.

Brooke prendeu a respiração. Estar em foco do olhar de Alec naquele momento era o mesmo de estar diante do fogo, e ela logo pensou que entraria em combustão ao encara-lo fixamente e se dar conta do tamanho do desejo que via refletido nas íris escuras dele. Nenhum dos dois se mexeu, o que a deixou em agonia por dentro. O queria. Com desespero. E pelo volume que sentia do jeans dele, sabia que era recíproco. Porém, percebeu que o vampiro estava esperando uma autorização para ir em frente, coisa que ela concedeu sem pensar duas vezes.

Então, da mesma forma, Alec deslizou a mão até as coxas dela e levantou a saia do vestido, se controlando para não rasgar o tanto de pano que o atrapalhava. Com agilidade, ele enroscou os dedos no elástico da calcinha de Brooke e a rasgou, a fazendo resmungar, mas aquilo não o deteve. 

O Volturi subiu a mão mais um pouco e finalmente encontrou a intimidade dela, tão úmida quanto imaginava.

— Se eu soubesse que a deixava tão molhada, já teria feito alguma coisa por você antes, Evern — grunhiu Alec, observando o sangue subir para as bochechas dela.

— Não seja tão conven... Ah!

Alec emitiu uma risada ao ouvir o arquejo da morena ao toca-la em seu ponto sensível. Ele a sentiu contrair e, quando começou a movimentar os dedos, a sentiu lançar o corpo contra a árvore.

— Desculpe, você por acaso ia me insultar?

Brooke estreitou os olhos, o mirando com um misto de tesão e irritação.

— Você é terrível! — Ofegou, sentindo todas as moléculas de seu corpo entrando em combustão no ritmo em que os dedos do vampiro ditavam. Ele parou com os movimentos por um breve segundo, mas foi tempo o suficiente para a sensação abandona-la e faze-la protestar: — Não ouse parar, Alec!

— Parar nunca foi a minha intenção, Evern. Eu estou apenas começando.

Um brilho de diversão passou pelos olhos dele, e Brooke não precisou perguntar o motivo ou protestar mais uma vez pela falta de movimento . Antes mesmo que pudesse separar os lábios, o Volturi já tinha se ajoelhado, segurando seus joelhos acima dos próprios ombros, e aproximado o rosto entre o meio das pernas dela.

Brooke quase se engasgou, escandalizada. Sentiu-o respirar fundo uma vez, a respiração gelada provocando arrepios por todo seu corpo. Naquela altura, seu coração já deveria ter voado do peito de tão frenético que batia. Porém, ele ainda estava lá; transbordando de adrenalina, paixão e ansiedade pelo que iria acontecer. Era loucura. Estava a um passo de ter sexo oral no meio de uma floresta, não tão distante da casa onde seus amigos e sua mãe estavam aproveitando a festa que era dela. E estava fazendo isso com um vampiro milenário.

Qual era o problema dela, afinal?

No entanto, Brooke esqueceu de todos os questionamentos e fatos quando sentiu os dedos de Alec a percorrendo mais uma vez, a fazendo lutar bravamente para conter os gemidos e grunhidos. Não daria mais um ponto á ele, não quando parecia que apenas ela estava perdendo o controle aquela noite. Talvez fosse pelo fato de Alec ser um jogador experiente ou talvez fosse por ele ser bom demais naquele tipo de jogo, mas, ainda assim, a Evern não entregaria todos os pontos a ele.

Ela jogou a cabeça contra o tronco da árvore, sentindo que poderia explodir a qualquer momento, segurando a vontade de gritar. Tinha a plena consciência de que o Volturi estava se divertindo com a agonia prazerosa dela, o que a fez tentar empurra-lo pelos ombros no exato momento em que ele fechou a distancia entre si mesmo e a intimidade dela, a tocando com a língua, iniciando um belo trabalho.

— Alec! — O gemido de Brooke ecoou entre as copas das árvores, repercutindo pela floresta e noite a dentro. A garoa, antes fina, tornou-se chuva de verdade e rapidamente já estava deixando ambos ensopados, embora nenhum dos dois estivesse remotamente interessado naquele fato. Com urgência, a morena levou as mãos até a cabeça dele, enterrando os dedos entre os fios de cabelo e os puxando. 

A risada do Volturi foi abafada pelo som da chuva caindo e pelos gemidos da morena que, alguns minutos depois, chegou ao limite do prazer e se deixou ficar nas mãos do vampiro do jeito que estavam, sentindo-se fora de órbita.

 

— Feliz aniversário, Evern — Ela o ouviu murmurando alguns segundos depois, enquanto se afastava do meio de suas pernas e se colocava de pé, passando a língua pelos lábios esticados num sorriso glorioso.

 

Brooke sentiu o rosto arder de vergonha, mas não conseguiu evitar o sorriso ao observa-lo apanhando a camisa jazida alguns metros adiante. Então, sem tira-lo do rosto e tentando não pensar na loucura que tudo aquilo era, com as pernas ainda tremulas, ela arrumou as saias do vestido e colocou tudo que tinha para colocar no lugar, embora não houvesse muito o que fazer pelo seu cabelo. Por fim, quando os dois pareciam já recompostos, se encararam.

 

— Deveríamos sair da chuva antes que um de nós fique doente — disse Alec, as sobrancelhas elevadas em diversão enquanto estendia a mão. — E sabemos que não será eu.

 

Brooke  riu fraco e assentiu. Porém, franziu o cenho quando a dúvida aflorou em seu coração e ela precisou manifesta-la:

 

— Agora que nós... nos entendemos, você acha que as coisas irão mudar, Alec? 

 

O Volturi anuiu com a cabeça.

 

— As coisas já mudaram há muito tempo, Brooke. 

 

Os dois sorriram um para o outro e ela aceitou a mão dele, a segurando com a sua. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

NOTA DA AUTORA (IMPORTANTTE): Olá, amores! Como Vocês estão?

Venho neste site hoje com a cara e a coragem após ressuscitar dos mortos, mas aqui estou eu. Como sempre, peço desculpas pelo sumiço de meses e pela falta de capítulos, mas é aquilo: minha vida não permite um estabelecimento de escrita descomplicada, desde o processo da escrita dos capítulos até as postagens aqui na plataforma. Depois de meses de cobrança da minha própria parte e tentativas árduas, eu consegui finalizar a segunda parte do capítulo anterior e acabei adiantando algumas coisas no enredo.

A fanfiction está caminhando para os capítulos finais, sim. Felizmente, tenho planos para uma continuação, mas pretendo decidir isso seguramente mais para frente. A propósito, este foi um dos capítulos mais emocionantes que já escrevi e tenho orgulho de ter feito meu shipp acontecer nele haha.

Gostaria de agradecer imensamente pelos comentários e apoio que a história recebeu nesses últimos meses e me desculpar se deixei de responder alguma mensagem privada. Tudo isso é muito importante para mim, principalmente com tudo o que está acontecendo. Também gostaria de agradecer a Polly Volturi pela linda recomendação. Esse capítulo é dedicado a ti.

Provavelmente não vai ter capítulo antes do fim do ano, então já antecipo boas festas e energias maravilhosas para todos. Muito obrigada mesmo por tudo. Espero que tenham gostado dos últimos acontecimentos e que continuem por aqui.

Até o próximo capítulo, Brê...

Bjs!



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