Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 35
Chapter 31: Mudança de planos (Parte II)


Notas iniciais do capítulo

''Tonight is the night, we'll fight 'til it's over
So we put our hands up like the ceiling can't hold us''

- Macklemore & Ryan Lewis (Can't Hold Us)



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StefanO nome saiu dos lábios dela com incerteza.

 

Ele balançou a cabeça afirmativamente.

 

— Vejo que já ouviu falar sobre mim. E provavelmente já conheceu Vladimir - Stefan a analisou de cima à baixo, erguendo as sobrancelhas. - Espero que esteja sendo uma honra, assim como está sendo conhecê-la.

 

Brooke girou os olhos.

 

— Não há honra em conhecer alguém que trai sua própria espécie e se junta à uma que pretende devastar tudo o que conhecemos.

 

— Estas são suas palavras ou são as palavras de Alec Volturi?

 

— Corta esse papo furado. Não quero ouvi-lo.- A Evern refutou, erguendo o queixo ao tentar parecer plácida. - Quero saber onde está o Senhor das Sombras.

 

Stefan riu mais uma vez, batendo com o dedo indicador no queixo.

 

— Tsc. Tsc. Presumo que Alec ou até mesmo você tenham cogitado a hipótese de uma armadilha, garotinha. Sinto informar, mas o Lorde das sombras não está aqui. Mas você, por outro lado, está. Porque você é previsível, o que torna todo o trabalho mais fácil: muitas mortes, sua captura.

 

Sim, eles tinham cogitado. E era exatamente por isso que ela era a isca da armadilha deles, uma que havia falhado agora que sabia que o líder de todo o caos e massacre não estava ali. E como uma bofetada que a desorientou, Brooke finalmente percebeu a grande verdade da noite que não tinha sido capaz de perceber: o massacre do baile teria acontecido com ela presente ou não. E o plano de salvar a noite tinha fracassado antes mesmo de começar, pois além dela, o Senhor das Sombras também queria ceifar vidas. E havia conseguido. 

A revolta e a responsabilidade pesaram sobre seus ombros, a deixando fora de órbita com seus próprios sentimentos ruins por alguns instantes. Até a voz de Stefan a trazer de volta para a realidade sangrenta:

 

— O soberano ficará muito satisfeito quando eu lhe levar até ele - A voz do vampiro estava carregada de presunção e fanatismo.

Brooke ergueu os olhos até os dele, cerrando os punhos.

 

— E quem foi que disse que eu irei com você?- Inquiriu, grunhindo, colocando-se em posição de defesa. - Dentro daquele ginásio há dezenas de pessoas mortas. Então, você só conseguirá que eu saia daqui assim.

 

— Não seja estúpida... - Stefan avançou contra ela, esticando os braços para segura-la.

 

Mentalizando todo o treinamento de luta, rapidamente a Evern segurou as laterais do vestido e ergueu a perna, girando habilmente enquanto tirava outro punhal escondido dentro das meias da parte da saia do vestido e acertou um chute no rosto do vampiro romeno e abriu um corte no braço dele, que pareceu surpreso com o ataque. 

Brooke devolveu o sorriso presunçoso dele de antes, o vendo perder o controle. 

Como esperava, Stefan rosnou e num piscar de olhos a segurou pelo pescoço e a atirou contra uma parede dos armários. O impacto machucou mais do que ela esperava, as estruturas de ferro se chocando contra suas costelas. A morena gemeu, tonta, sentindo o sangue escorrer de sua cabeça. 
Antes que pudesse se recuperar, viu o vislumbre dos olhos vermelhos do vampiro diante de si, e sem perder tempo, ele a colocou de joelhos e a segurou pelos cabelos, os puxando violentamente. Os gritos de dor dela fizeram eco pelo corredor.

 

— Fui instruído a leva-la viva, mas o Lorde não disse nada sobre machucados - sussurrou Stefan, abaixando-se até ficar com o rosto próximo ao dela. Os lábios dele fizeram uma curva perversa ao arrancar o punhal da mão dela. - O que você acha que Alec faria se me visse machucando esse seu delicado rostinho, arrancando sua pele e quebrando seus ossos?

— Você diz isso pressupondo que Alec se importaria - Rebateu Brooke, com os dentes cerrados. - Acredite, ele não iria.

 

Ela não tinha mais tanta certeza sobre isso depois do momento que eles dois tiveram na pista de dança, e por isso queria rir e chorar ao mesmo tempo.

 

— Eu não teria tanta certeza, garotinha. - Stefan deslizou os dedos pela pele do pescoço dela, parando no ponto da jugular, onde apertou com significativa pressão. - Mas acredito que ele procuraria vingança, tomado pela fúria de ter algo que pertencia à ele roubado, assim como o clã dele e ele fizeram comigo há eras atrás!

 

— Então é disso que se trata, Stefan? Do seu trauma centenário de ter perdido o trono e ter sido expulso do castelinho onde você brincava de ser rei? Cara, você deveria superar logo isso - Comentou Brooke, movendo os braços atrás das costas discretamente. - E só para esclarecer, Alec não é o meu dono. E você é patético.

Os olhos do vampiro romeno brilharam perigosamente.

— Você é igualzinha à eles: uma farsa. Ultimamente tenho ouvido histórias sobre o espírito da Descendente do grande Drácula habitar dentro de você, mas vejo que as histórias apenas a superestimam demasiadamente. Tudo o que vejo agora é uma adolescente fraca e idiota, tentando lidar com assuntos maiores do que a própria existência - rosnou Stefan, a sacudindo. O olhar dele desviou até o punhal em sua mão, e ele o balançou em frente ao rosto da Evern. - Quem é você sem seu punhal estúpido?

 

Brooke abriu um sorriso cínico.

 

— Uma garota com lâminas extras.

 

Habilidosamente como sempre fora com objetos cortantes, a Evern moveu os braços livres e tocou a nuca, puxando as adagas pequenas que prendiam seu penteado, o desfazendo, e as cravou nos olhos do vampiro com todo o ódio que corria em suas veias. 
Stefan berrou e a soltou, levando as mãos até as têmporas esfaqueadas. Sem perder tempo, ela se pôs em pé meio vacilante e o chutou na cabeça, o derrubando no chão. Quando o romeno começou a sacudir as mãos, tentando alcança-la no escuro, a morena virou as costas e disparou em toda velocidade para o fim do corredor, com a absoluta certeza de que aquela era sua única chance de escapar.

 

— EU VOU ACABAR COM VOCÊ! - Ouviu a voz de Stefan retumbar, cheia de cólera e dor.

 

Brooke não precisou virar para trás para saber que ele estava se recuperando do ataque. Então, mais desesperada que nunca, ela forçou as pernas à irem mais rápido enquanto sentia o sangue escorrer da nuca e dos braços. No escuro, tudo era muito diferente, mas ela conhecia aquela escola já que passara a maior parte do tempo se escondendo das pessoas pelos cantos, o que lhe estava vindo a calhar muito bem naquele momento. 

Seus pulmões queimavam quando ela virou à esquerda no final do corredor, desembocando em outro com um lance de escadas. A mínima iluminação que tinha acabou ali, o que a fez pensar rápido. Precisava de um plano. Conhecia a escola. Não tinha mais nenhuma lâmina ou arma para se defender. Stefan estava indo atrás de si e a alcançaria brevemente. Estava ferrada, basicamente.

Conhecia a escola. Estava no prédio do ginásio, que por sinal, era o mesmo prédio do laboratório de química. Uma ideia a ocorreu. 
Forçando-se a continuar, Brooke tateou em busca do corrimão da escada e quando o encontrou, esmagou os dedos em volta dele e começou a subir os degraus, pulando de dois em dois, praticamente correndo, sem enxergar nada. 

Sua cabeça parecia que ia explodir, e o enjoo e a tontura a atingiram, mas ela seguiu em frente. Por sorte, o lance da escada não era muito grande, e logo ela já estava no segundo andar. Assim que pulou o último degrau aos tropeços, ouviu os rosnados do vampiro romeno se aproximando, o que a fez se arrastar com os dentes trincados pelo corredor. 
A primeira porta do lado direito era do laboratório. A Evern chegou até a porta e rodou a maçaneta, torcendo para não estar trancada. Felizmente, não estava, e ela abriu, se lançando para dentro da sala. Procurou o interruptor na parede e ascendeu as luzes, revelando o laboratório decadente que a escola tinha, com suas mesas descascadas e equipamento e reagentes em falta.

Mas Brooke só precisava de um. E sabia onde o professor de química o guardava, longe e escondido de todos os outros. O mais rápido que conseguia se mover, ela contornou a bancada com os equipamentos e foi até a última gaveta do armário branco na parede e a vasculhou atrás do frasco que vira uma vez. Não demorou muito e o encontrou. No rótulo, em letras garrafais, a palavra COMBUSTÍVEL, se destacava. 

A garota se lembrava da aula que tivera sobre o triângulo do fogo, poucos meses antes. Felizmente, gostava de química. E tirar nove na prova significava que sabia como criar um incêndio. 
Desse modo, Brooke se apressou a abrir o frasco e espalhar o combustível por locais estratégicos da sala, agradecendo por o sistema de segurança contra fogo e explosões não estar funcionando há alguns anos. Quando derrubou a última gota do frasco, ela puxou o isqueiro com o V dos Volturi, do sutiã e o ascendeu. Stefan passou pela porta no mesmo segundo.

 

— Você não pode ser tão estúpida à esse ponto - disse ele, ao entender o que a garota estava prestes a fazer. O cheiro de combustível impregnava a sala. Haviam dois buracos onde costumavam ficar suas retinas, mas de algum jeito ele ainda conseguia ver, mesmo sem os olhos. Com os sentidos aguçados. A raiva ainda estava presente em seu tom, mas começava a ceder e dar lugar à hesitação.

 

— Eu posso. Porque sei que vocês não vão parar até terem o que querem - Brooke cuspiu, sentindo o calor da chama do isqueiro aquecer seus dedos. Ela fitou o vampiro do outro lado da bancada, notando que apenas isso os separava. Uma risada sem humor a escapou. - Mas a questão é essa, Stefan. Eu não sei o que vocês querem.

O romeno exibiu um sorriso desdenhoso no rosto medonho.

— É bem simples na verdade, garotinha. Eu quero vingança dos Volturi, assim como Vladimir. Já o Senhor das Sombras, o responsável por todo esse grande show de assassinatos, quer você.

— Por quê?!

— Porque ele a acha especial. Porque você tem o poder que ele quer, ou que seja - Stefan deu de ombros. - O que importa é que nós conseguiremos o que queremos. Porque é assim que será daqui para frente: o mundo terá uma nova ordem, uma onde os vampiros se erguerão e apenas os merecedores estarão no topo. E quando isso acontecer, Brooke Evern, todos que você ama ou conhece irão desaparecer, pois nós iremos caça-los e mata-los até que não reste nenhum. E nunca iremos parar.

 

As palavras acertaram Brooke como um soco no estômago, a deixando muito, muito irritada. E com medo, porque sabia que continha verdade em cada sílaba dita por ele. E enquanto encarava Stefan, percebendo que ele analisava seus movimentos, calculando uma forma de atacar e pegar o isqueiro, ela lembrou de todos os caminhos e escolhas que a levaram até aquele momento; de todas as memórias feitas ao lado dos vampiros que considerava seus aliados; de tudo que tinha aprendido e esperava ter ensinado. 

Fora uma caminhada longa, regada com muita dor e brigas, mas também tivera suas alegrias e diversões, de uma maneira única que nunca teria vivenciado sem os responsáveis envolvidos: os Cullen e os Volturi. E estando ciente disto, sabia o que deveria fazer.

Renesmee merecia descobrir o que a vida tinha de melhor para oferecer. Mesmo sendo chato e arrogante, Edward tinha direito a cuidar de sua família. Bella merecia ser feliz ao lado das pessoas que batalhou tanto para conquistar. Rosalie e Emmett tinham que continuar sendo o casal apaixonado e disfuncional que eram. Alice deveria continuar arrumando os guarda-roupas das pessoas e amando Jasper no processo. Carlisle precisava salvar mais vidas enquanto Esme mantinha tudo sob controle na mansão.

Felix merecia fazer o que mais gostava e lecionar do jeito só dele. Demetri provavelmente ainda tinha muitas mulheres para conhecer e Jane tinha descobrir que há como sobreviver a um coração partido. E Alec... ele deveria saber que por mais que tentasse provar o contrário, ele não era uma pessoa ruim. Ele era capaz de fazer alguém ama-lo do jeito que era, com todos os seus lados e demônios, e merecia acima de tudo, viver em um mundo onde tivesse a chance de descobrir tudo isso.

Todos eles mereciam algo. Contudo, não o teriam se a Evern não pusesse um fim na ameaça, mesmo que isso significasse o seu próprio fim.

 

— Você vai parar agora - falou ela, determinada, dando um passo para trás.

Stefan rosnou, balançando a cabeça.

 

— Não seja estúpida! Se eu morrer, você vai junto!

 

— Então a gente se vê no inferno.

 


 

Brooke abriu a mão e deixou que o isqueiro deslizasse para o chão, no mesmo momento que Stefan se moveu feito um borrão e pulou em cima dela. Porém, enquanto ele rolava no chão com ela, o isqueiro caiu em um estrépito, e a chama se misturou ao combustível, se alastrando rapidamente pela trilha que a garota havia feito com o reagente.
 A Evern chutou o vampiro e o socou diversas vezes, mas ele parecia nem sentir. Ao invés disso, ele a agarrou pelos pulsos e a virou como uma boneca de pano, a deixando com o rosto pressionado contra o chão frio e os braços torcidos atrás das costas. O cheiro de fumaça e o ruído do fogo a fizeram girar os olhos e vislumbrar as chamas bloqueando a porta e se espalhando pela trilha, formando um círculo ao redor dos dois, impossibilitando a passagem de ambos.

 

— Você vai pagar caro por isso, sua cadela - gritou Stefan em seu ouvido, a fazendo estremecer.

 

Ele estava com medo, ela podia sentir. E agora que estava tomando pelo sentimento, iria mata-la. Mas antes, a faria sofrer.
Brooke gritou quando o romeno puxou seus cabelos e entortou uma de suas mãos, a quebrando.

 

— É isto o que você ganha por querer salvar os desgraçados dos Volturi. É isto o que você merece por ser tão ingênua. Acredita mesmo que eles valem a pena o seu sacrifício? Que eles não são monstros frios e calculistas que irão descartar você quando precisarem? Pois eles vão, garotinha. E você terá desejado nunca te-los conhecido, principalmente Alec Volturi, depois que ele partir o seu coração e saciar a sede pelo seu sangue.

 

As lágrimas começaram a escorrer dos olhos da Evern, misturando-se ao suor frio e pegajoso em seu corpo. Tudo o que ela conseguia fazer era se debater, mas Stefan a segurava com tanta força que parecia que a qualquer momento iria quebrar seus ossos. E ele iria. Só que por sorte, quando ele bateu a cabeça dela contra o chão, os sentidos a deixaram e ela se deixou cair no vazio escuro; os rosnados e o calor do fogo se tornando longe demais para se preocupar com ambos, abraçando a inconsciência de sua mente.

 

Era um lugar frio e sombrio. Um grande nada cujo ali ela estava. E mesmo inerte, Brooke conseguia sentir a posição encolhida em que seu corpo estava, os joelhos dobrados contra o peito. Parecia estar perdida em algum lugar dentro de si mesma, um onde nunca estivera antes... não parcialmente consciente.

"Não tenha medo".

Era a voz de Penny. Brooke tentou se agarrar à ela, desejando que o rosto da irmã mais nova fosse a última coisa que pudesse ver antes de encontrar seu fim.

"Você não vai morrer".

Em seu íntimo, Brooke riu. Já estava morrendo. Se não fosse pelas mãos de Stefan, seria pelas chamas que consumiriam o seu corpo. Por sorte, não sentiria nada já que estava perdida em algum lugar inóspito de seu âmago.


"Desista de uma vez por todas. Ambas sabemos que você não tem o que é necessário para me vencer; ter o seu corpo é apenas questão de tempo para mim. A profecia irá se cumprir, e seria melhor para você se render e sumir do jeito fácil".

Agora era a Descendente. A voz despida de emoções e as palavras ameaçadoras eram inconfundíveis. O rosto dela - o mesmo da própria Brooke -, surgiu no ar, como o rosto de um fantasma com olhos em chamas. Ela sorria de um jeito cruel e mortal, fazendo a verdadeira Brooke se afundar ainda mais nas sombras, balançando a cabeça freneticamente na tentativa de afastar o espírito maligno.

Brooke só queria paz.

"Se cair, levante. Se doer, ignore. Se parecer impossível, faça o impossível acontecer. Os Evern's nunca desistem, eles persistem. Lembre-se disso, pequena".

Não era mais a voz de Penny ou da Descendente. Era uma voz madura e masculina, uma que provocou uma reação instantânea na Evern: a sensação de perda a assolou. Ela conhecia aquela voz de algum lugar, mas sentia que não a ouvia há muito tempo... A imagem de uma garotinha em uma bicicleta ao lado de um homem que a segurava para não cair, preencheu o lugar escuro, envolvendo Brooke em um flash repetitivo que começou a rodar ao seu redor.

Levante. Ignore. Faça o possível acontecer. Nunca desistem. Persistem. Lembre-se... Desista. A profecia irá se cumprirSumir do jeito fácil... Não tenha medo. Você não vai morrer...

Todas as vozes se misturaram, começando a ecoarem diversas vezes em uma velocidade tonteante. Brooke tapou os ouvidos com as mãos, procurando escapatória de onde estava, tentando levantar-se e correr. A cena da garotinha na bicicleta e o homem ainda a cercava, a deixando tonta. De repente, as sombras começaram a se aproximar, prontas para engoli-la finalmente. Tudo pareceu diminuir e o ar ficou rarefeito. 
As vozes de Penny e da Descendente ainda sussurravam, a deixando louca. Precisava de uma saída. Se ainda não tivesse morrido, então precisava acordar.

"Os Evern's nunca desistem".

Brooke também não iria. Ela fechou os olhos e cravou as unhas na pele do próprio braço, arrastando para cima o couro e sangue e gritou com todas as forças, sentindo tudo ao seu redor tremer.

Arfante, abriu os olhos e encontrou o teto do laboratório de química sendo chamuscado pelas labaredas. Estava de volta.

As chamas lançavam sombras em todas as direções, mas ela conseguiu distinguir a silhueta de Stefan alguns metros adiante, tentando atravessar o fogo até as enormes janelas da sala. O corpo dolorido da Evern protestou quando ela se mexeu e se içou para cima, sentindo a mão e todas as outras partes quebradas de seu corpo e os machucados. Mas, de alguma maneira, sentia-se forte.
Assim que se firmou, jogou o cabelo que caía em seu rosto para trás e cuspiu no chão o sangue em sua boca. A ação fez o vampiro se virar e a encontrar no meio das chamas, que naquele momento começaram a formar um círculo em sua volta, próximas demais para a garota sentir o calor, mas longe o suficiente para não queima-la. 
 

Em seguida, Brooke sentiu algo pesar em sua mão que não estava quebrada, e quando desceu o olhar, encontrou a espada familiar cravejada de pedras. A espada da Descendente e tecnicamente, sua espada também. A lâmina afiada brilhava, e no metal reluzente, a morena viu o próprio reflexo ali, e se assustou momentaneamente com a imagem. Seus olhos estavam de duas cores: o direito, castanho como sempre fora. Porém, o esquerdo, havia adquirido a pigmentação avermelhada e dourada, com pequenos raios de chamas em movimento.

 

— Descendente? — O espanto na voz de Stefan a fez tirar a atenção de seu próprio, a levando a olha-lo diretamente.

O vampiro estava imóvel, parecendo temeroso e ao mesmo tempo admirado com o que via em sua frente. O que fez Brooke, em sua latente raiva por ele, abrir um sorriso irônico por cima das caretas de dores.

— Para o seu azar, ainda sou Brooke Evern, a primeira e única. — disse ela, erguendo a espada. — E você está ferrado.

 

Sentindo-se mais forte que nunca,  Brooke cortou o ar com a espada, golpeando o chão, e quebrou o círculo de fogo ao seu redor, absorvendo um pouco das chamas para sua lâmina.
A expressão estarrecida do romeno deu lugar ao desespero enquanto ele se agachava em posição de defesa.
A Evern não esperou muito e atacou, correndo na direção do vampiro com todo o corpo vibrando em adrenalina e raiva, sentindo-se como uma águia em voo: veloz e inalcançável.

Stefan se esquivou para a esquerda e esticou os braços para bloqueá-la, mas ela lançou a espada flamejante no ar e derrapou no chão, se jogando por entre as pernas dele. Brooke ergueu os braços e pegou a espada no ar, a cravando nas costas do vampiro antes que ele se virasse. O romeno gritou em agonia quando as chamas da lâmina atravessada em suas costas começaram a se espalhar pelo seu tronco, mas ainda assim conseguiu retribuir o golpe e lançou o braço para trás, arrastando Brooke pelos cabelos para sua frente.

 

— Foi surpreendente, mas você errou o lugar — rosnou ele, entre os gritos de dor enquanto as chamas se arrastavam pelo seu corpo.

— Talvez eu apenas queira ver você sofrer um pouco antes de mata-lo — A Evern respondeu, arranhando a mão dele que segurava seu cabelo.

Stefan sorriu, um sorriso sádico.

— Ou talvez você apenas não tenha o que é preciso para matar. Frieza. Ódio. Vontade. Deve ser porque você é igual aos Cullen: uma tola movida pela bondade.

 

Brooke rangeu os dentes. Uma parte sua, concordava com as palavras de Stefan. A outra, aquela que ficava escondida atrás de várias camadas em seu interior, discordava fervorosamente. Ela não sabia se aquela outra parte era sua ou um resquício da Descendente, mas sabia que a existência dela era palpável. 
 Após entrar no mundo sobrenatural, Brooke Evern sempre se perguntara se conseguiria tirar a vida de alguém, visto que essa parecia ser o tipo de qualificação que precisava-se ter para sobreviver naquele mundo. Sempre achara que a resposta era não. Porém, no presente momento, sentia que sim, ela conseguiria. Pelo menos se tratando do vampiro romeno em sua frente, que a golpeara tanto naquele noite e compactuava planos com o Senhor das Sombras para a destruição de tudo e todos que se importava.

Talvez os resquícios sombrios não fossem da Descendente, e sim, dela própria.

 

— Posso ser bondosa, mas não tanto quanto os Cullen — disse Brooke, mirando Stefan nos olhos com raiva. Ela levantou a mão livre e a espada caiu das costas do romeno e voou para a mão dela. — Porque eu não sou uma Cullen. Eu sou uma Evern, a garota que vai matar você.

 

Sem delongas, assim que terminou de falar, Brooke moveu a espada e atravessou a lâmina na garganta de Stefan, cortando a cabeça, que rolou para o chão em um baque oco. O corpo sem cabeça pendeu para trás, caindo e sendo consumido pelas chamas em seguida, queimando como madeira. 
Livre das garras do romeno, a Evern puxou ar para os pulmões e se engasgou com a fumaça que naquela altura, já preenchia todo o laboratório. Só então lembrou que precisava sair dali. Com um último olhar para a cabeça decepada, ela engoliu a sensação mesclada de satisfação e pânico e se virou, procurando escapatória.

No entanto, não havia nenhuma.

Uma extensa cortina de fogo havia se formado em torno de toda a sala e as chamas em sua espada haviam cessado.  As labaredas não estavam mais do seu lado. O calor aumentava cada vez mais, assim como o rastro das chamas se aproximava dela, bloqueando o caminho até a porta.

  Irei morrer, assim como Stefan. Brooke pensou, sentindo os olhos arderem e inundarem na mesma proporção. Não!, ela recusou-se a aceitar a opção. Então, determinada a encontrar uma saída para o incêndio que começara, Brooke deslizou a espada para dentro das meias de seda, sentindo a lamina pressionar a pele de sua perna, e se pôs a pensar. 
Pense em algo. Vamos lá, pense. Rápido!

O calor cozinhando sua pele a fez gritar, no exato momento em que uma silhueta se materializou do lado de fora da porta. Os olhos de Alec estavam selvagens, como se ele tivesse sido guiado até ali através da determinação e da raiva. Ainda assim, apesar dos sentimentos que eles expressavam, a Evern sentiu-se terrivelmente aliviada e feliz por vê-lo, quase como se ele fosse seu bote salva vidas ou algo do tipo. 

 

— Você está viva. Grazie! — Ele gritou, soltando um palavrão enquanto seus olhos percorriam a cena: Brooke no meio do laboratório em chamas, próxima à cabeça decepada de Stefan. O Volturi deu um passo em frente, pondo um pé na soleira da porta.

— Não! — berrou Brooke, o mais alto que pôde com seus pulmões ardendo. — Se você entrar, queimará como Stefan. Por favor, Alec, fique aí.

 

Ela tossiu, mas se manteve firme diante da cortina de chamas e fumaça  que a separavam dele. E esperou desesperadamente que ele a ouvisse, pois realmente preferia ser queimada  viva do que ver aquilo acontecer com Alec.  
O Volturi a fitou, sem se mexer, o que a fez acreditar que ele não ousaria entrar. Aquilo a fez sorrir aliviada, mas então o sorriso desmoronou quando o viu se cobrir com o longo manto do clã e em seguida, se atirar para dentro do laboratório, correndo entre as chamas que pareciam persegui-lo, parecendo um anjo resgatando alguém dos portões do inferno.
Quando se deu conta, Alec já estava em sua frente, livrando-se do manto em chamas. E ele não estava pegando fogo. Brooke o olhou com os olhos estreitos, fulminantes

 

— Eu falei para você não entrar! — gritou, no rosto dele, que esbugalhou os olhos com a repreensão. A morena o socou no peito, as lágrimas deslizando pelo rosto sujo de sangue e fuligem enquanto espancava-o no peitoral, sentindo que agora tudo realmente estava ruindo: o laboratório em chamas, ela, eu coração, sua mente. — Deus! O que eu faria se você tivesse pegado fogo? Qual é o seu problema, seu idiota?

 

Alec a segurou pelos pulsos, interrompendo a sessão de socos e a obrigando a ouvi -lo. A Evern o encarou, contrariada, cheia de sangue e escoriações, mas ainda assim de pé, como a lutadora que era. E foi naquele momento que Alec Volturi teve a certeza sobre como se sentia à respeito dela.

 

— Eu tenho muitos problemas. E estar no meio de um incêndio por sua causa, é o menor deles! — Ele grunhiu entre os dentes, observando a garota separar os lábios que ele considerava tão atrativos para retrucar, coisa que o próprio não permitiu: — Você é o maior de todos. Mas, que se dane. Porque, você é uma dor de cabeça que vale a pena sentir, e ultimamente tenho sido meio masoquista. Porque... — Alec a soltou e moveu a mão até à nuca dela, a trazendo para mais perto. Ele inspirou fundo, sentindo o cheiro de seu sangue e da sua pele se misturarem com o de queimado. Seus olhos fitaram os bi colores dela, que era no novidade para ele, e o vampiro riu, como se estivesse diante de uma piada cômica. — Eu quero você. Eu quero você, e agora vejo isto. Então, não morra. Não corra perigo ou entre em incêndios.

— Fui eu quem começou este — balbuciou Brooke, olhando atônita para o Volturi.

— Bem, então não seja uma incendiária —  retorquiu ele. Então, muito brevemente, ele a rodeou com os braços em um abraço apertado e logo em seguida a afastou, depositando um beijo casto na testa dela. Quando a fitou novamente, parecia o mesmo Alec de sempre, embora agora carregasse uma delicadeza que antes não era visível. —  Eu realmente gostaria se beijar você agora, mas precisamos sair daqui antes que sejamos queimados. Inferno!

 

Brooke ouviu a própria risada, ainda que considerasse isso impossível, já que as lágrimas  teimosas continuavam a cair, embora num fluxo menor. 
Seu rosto estava grudento de suor e das lágrimas, e sua pele parecia estar cozinhando e derretendo em seus ossos. Contudo, seu coração estava aos saltos dentro de sua caixa torácica. E tudo era culpa do vampiro louro-acastanhado diante de si, que a levava do céu ao inferno em questões de segundos. E não importava se Alec havia dito aquelas palavras que a tocaram apenas pelo calor do momento e da situação; ela se recordaria delas por um longo tempo. Talvez, para sempre.

A Evern tossiu e se engasgou, deixando que Alec a apoiasse.

 

— Você confia em mim? - Ele perguntou, lhe oferecendo a mão, a fitando com uma sobrancelha erguida em arrogância, mesmo na situação em que estavam.

 

Brooke foi incapaz de não revirar os olhos ao aceitar a mão. Algo dentro dela gritava que não precisava pensar duas vezes quando o assunto era sobre sua segurança e Alec Volturi; ambos haviam ganhado o mesmo significado, o que deveria ser loucura.

 

— Alguma ideia de como saímos? - Indagou ela, percebendo os olhos fixos do vampiro na grande janela bloqueada pela cortina de labaredas. - Vamos pular a janela, não vamos?

 

Alec assentiu com a cabeça. Brooke estremeceu, sentindo os pulmões arderem com a inalação da fumaça.

 

— Por acaso você esqueceu que nenhum de nós é a prova de fogo, Volturi?

— Eu não me esqueceria de um detalhe tão importante quanto este, Evern. - retorquiu ele, a puxando para mais perto de si. - Aliás, você não me deixaria esquecer, já que a ideia de que eu seja consumido pelo fogo a atormenta tanto, certo?

Brooke se engasgou, e não era pela fumaça.

 

 

— Vamos logo pular aquela janela.

 

 O vampiro balançou a cabeça e a envolveu com os braços, fechando os olhos em seguida. A morena esperou, confusa, algo acontecer, mas decidiu esperar e confiar no Volturi. Então, alguns instantes depois, ela comprovou que havia tomado a decisão certa: a névoa negra e paralisante de Alec começou a se desprender dele, de todo seu corpo, com uma intensidade que ela nunca vira antes.

 Lentamente, a névoa foi envolvendo os dois, se transformando em uma espécie de escudo contra o fogo, o repelindo. Admirada, Brooke apertou o corpo contra o de Alec, ouvindo seu riso cínico, e antes que pudesse processar como tudo aquilo estava acontecendo, sentiu o vampiro puxá-la bruscamente e começar a correr em direção á janela, atravessando as labaredas impetuosamente, com sua visão completamente tomada pelas sombras.

O grito de espanto rompeu pela garganta da Evern antes que ela se desse conta, ao mesmo tempo que ela sentia a temperatura elevada das chamas se chocando contra a névoa de Alec. Ele gritou algo, mas a garota foi incapaz de ouvir. Provavelmente estava dizendo para ela se preparar para o impacto, coisa que ela não fez. Por isso, parecia que o mundo estava desmoronando sobre sua cabeça quando o Volturi se lançou contra a grande janela e o barulho dos estilhaços se fizeram ouvir, cravando-se alguns em sua pele. 

E então veio uma brisa fria. As sombras a abandonaram e a névoa se dissipou, liberando seu campo de visão e a permitindo se dar conta de três coisas. 

O céu estrelado foi a primeira coisa que ela viu. Estava lindo. 

A segunda, foi o rosto exausto de Alec em frente ao seu, com as pálpebras fechadas.

 O chão se aproximando de seu corpo, foi a terceira. Pois estava em queda livre, prestes a ir direto para uma morte terrível e esmagadora.

 Brooke berrou á plenos pulmões, sentindo a corrente de ar frio entrar em sua boca, e se agarrou á Alec, que continuava inerte. Ela o xingou em alto e bom som, culpando-o por aquele momento, e só não o chutou nas canelas porque o angulo em que os dois estavam caindo não a favorecia. Então, como não havia mais nada a se fazer, ela fechou os olhos e esperou pelo impacto dos seus ossos contra o asfalto, torcendo para ser uma morte mais rápida do que seria se fosse incinerada no laboratório.

 Entretanto, o impacto não aconteceu. Ela o sentiu, sim. Mas foi apenas um leve roçar em seus pés contra o cimento. E aquilo a fez abrir as pálpebras, procurando entender o que havia impedido sua queda fatal. 

 Os familiares olhos de Alec a fitavam de forma preocupada, e ambos estavam á salvos no estacionamento da escola, sentados no asfalto.

 

— Você está pálida, Evern. Não achou mesmo que eu iria deixá-la morrer de uma simples queda do terceiro andar depois de ter me atirado no fogo atrás de você, certo? - Indagou o Volturi, repuxando os cantos dos lábios levemente para cima.

 

Brooke piscou. Abriu a boca para retrucar, para xingar. Pensou em bate-lo, mas não conseguiu realizar nenhuma das alternativas. Apenas ficou a encara-lo, ouvindo seu coração acelerado e quase voando de sua caixa torácica, fitando o vampiro que havia salvo sua vida mais uma vez. Aí, sem ousar pronunciar nada, ela inclinou o corpo para frente e o abraçou, sentindo os olhos marejarem. 

 Alec não demonstrou resistência. Devolveu o abraço no mesmo instante, sentindo o corpo tremulo da morena enquanto esfregava suas costas, permitindo que ela afundasse a cabeça em seu pescoço, a ouvindo suspirar de alívio ao mesmo tempo que fungava. 

 Atrás deles, a fumaça se erguia do prédio da escola, alcançando o céu e se espalhando com o vento, sendo o maior sinal de desgraça que a cidade de Forks poderia ter.

 

***

 

 

As luzes das sirenes eram borrões e o burburinho não passava de um zumbido distante. Tudo estava meio sem forma ou sentido. As únicas coisas palpáveis na atmosfera para Brooke, sentada no banco de trás do Jaguar, era o sentimento de dor e luto pelas pessoas, além dos corpos inertes espalhados pelo chão cobertos por lençóis que ela observava através do vidro da janela e os corpos em movimento tentando alcançá-los e sendo impedidos pelos policiais. Eram as famílias dos mortos.

 

— Vamos. Não há mais nada que possamos fazer aqui – A voz séria de Alec soou no interior do carro, anunciando sua presença atrás do volante.

 

Brooke permaneceu em silencio, continuando a olhar para a tragédia do lado de fora. O Volturi, que a fitava pelo retrovisor, suspirou e virou o pescoço para encará-la.

 

— Pare de penar sobre isso, Evern. Já acabou. Você fez tudo o que podia para salvar as pessoas naquele baile. Não foi culpa sua algumas delas terem morrido.

— Mas não fiz o suficiente, Alec – respondeu ela, erguendo o olhar para ele. - Eu assumi a responsabilidade porque pensei que encontraria o Senhor das Sombras e o derrotaria, mas fui enganada. E pessoas morreram, como sempre. Então, sim. A culpa é minha.

 O Volturi soltou um grunhido impaciente.

— Não, não é. Todos nós assumimos a responsabilidade de vir ao baile e deter nosso inimigo em comum. Todos nós fomos enganados e todos nós falhamos. Se quer levar a culpa sozinha de algo que não é somente problema seu, sinto muito, mas este não é o caso - Alec bateu os dentes, estreitando os olhos encobertos pelas lentes azuis. - Porque se martirizar por ter fracassado hoje não vai consertar o que todos nós estragamos! Não vai trazer aquelas pessoas de volta ou derrotar o Senhor das Sombras! Então, para de se atormentar com os seus erros e ergue a cabeça, e aceita que suas mãos sempre estarão manchadas com sangue, mas isso não faz de você uma pessoa ruim. 

 

O vampiro calou-se, esperando uma refutação da morena. Porém, ela nada disse, apenas sustentou seu olhar consternado por longos segundos antes de virar a cabeça e apoia-la contra o vidro da janela, fechando os olhos em seguida. Contrariado, Alec voltou a virar a cabeça para frente e ligou o carro, sabendo que o certo a fazer era deixar a garota encolhida nos bancos de trás com seus pensamentos. Ele não queria ter soado grosseiro ou impaciente, principalmente depois de ter sido tão franco sobre a estranha relação que os dois haviam desenvolvido a a maneira estranha que se sentia á respeito dela, mas não conseguia mais vê-la se atormentando por algo que não estava em seu controle, coisa que era um hábito seu. 

 Em contrapartida, Brooke sabia que o Volturi estava certo. Contudo, não conseguia impedir o sentimento de impotência que comprimia seu peito e obstruía sua garganta enquanto mantinha-se quieta e Alec manobrava o carro para fora do estacionamento da escola que havia se transformado em um caos de pessoas: vítimas, familiares, paramédicos, policiais, bombeiros, repórteres de plantão... Os Cullens e os Quileutes ( estes que chegaram no meio da carnificina) não estavam inclusos, assim como Brooke e Alec, estavam indo embora. Exceto Carlisle, que ficaria para atender os feridos. 

 A cabeça da morena doía, resultado de uma concussão bem feia. Ela esfregou a testa e reabriu os olhos. Alec engatou a marcha e acelerou, indo em direção a saída dos domínios da Forks High School.

Ao cruzarem o portão, Brooke viu a silhueta de Courtney parada ao lado de uma viatura da polícia, abraçada á um oficial que deveria ser seu pai. Por um momento, o olhar das duas se encontraram através do vidro, e a mensagem que nele continha era clara: nenhuma das duas nunca falaria sobre o que havia acontecido naquele corredor mal iluminado dos armários. 

 

 

...

 

 A porta do carro foi aberta e Alec apareceu, estendendo a mão para ajudar Brooke. Ela aceitou e deixou que ele a trouxesse para o lado de fora, visto que todo seu corpo parecia estar ferido. Assim que pisou na grama do quintal dos Cullen, a morena respirou fundo e agradeceu ao Volturi, soltando-se dele em seguida. 

Olhou em volta, sentindo a ausência dos outros carros.

 

— Os Cullen devem estar chegando. Enquanto isso, entre e descanse. Irei estacionar meu carro do outro lado da rua para dar acesso á eles - disse o Volturi, a entregando a espada que ela havia deixado no Jaguar. - É melhor guardar isso. 

 

Brooke assentiu, sem forças para pedir que não a desse ordens. Virou as costas, sentindo a grama fria e macia em contato com seus pés descalços, e caminhou até a varanda. Uma garoa fina e gélida caía, a deixando arrepiada. Assim que alcançou a porta de entrada, esticou a mão para tocar a maçaneta, mas não foi preciso. A porta já estava aberta. 

Escancarada, na verdade.

A Evern apertou o cabo da escada com força, sentindo que algo estava errado. E, cautelosamente, ela adentrou a mansão, lembrando que Gaz havia ficado sozinho durante todas aquelas horas. 

Nada parecia fora do lugar; as luzes estavam acessas e tudo estava silencioso. Silencioso até demais. 

 

— Gaz? - Chamou Brooke, ouvindo a apreensão na própria voz.

 

 O Julions não respondeu, o que a fez avançar pelo hall de entrada. Brooke caminhou nas pontas dos pés, contando os passos. Um, dois três. A mão que continha a espada, começou a tremer. Quatro, cinco, seis. Ela virou o corredor, chegando até a sala de estar.

E finalmente encontrou o melhor amigo. 

De pé, parado de costas para ela no centro da sala, lá estava Gaz. Contudo, não foi ele quem Brooke focou a atenção. Foi nas duas garotas caídas aos pés dele, com os olhos abertos vidrados, os corpos retaliados e sem vida, sendo a origem do rastro de sangue que percorria todo o comodo da mansão. 

 A Evern levou as mãos á boca, deixando a espada cair. As lágrimas se formaram em seus olhos antes do Julions se virar e encará-la. O rosto dele estava banhado pelo sangue das garotas, assim como suas mãos, e o sorriso de satisfação em seus lábios não o faziam o Gaz que ela conhecia. Os olhos vermelhos meigos agora eram olhos vermelhos malignos, de um verdadeiro predador. Assassino. E a encaravam de uma forma que ela nunca antes vira: como se ela fosse a próxima presa. 

Ele deu um passo na direção dela, mostrando as presas.

 

— G-Gaz, sou eu. Brooke, s-sua amiga. Olhe para mim. Pare!

 

Mas ele não parou. Continuou avançando, rosnando como um animal zangado. A Evern recuou vários passos, mal sentindo as pernas. E, quando percebeu que o amigo realmente a atacaria, ela o deu as costas e correu na direção oposta, sentindo seu corpo cansado protestar. 

Mas, Gaz era um vampiro recém-criado. E levou questão de segundos até que ele a alcançasse e a segurasse feito uma boneca de pano.

 

— Por favor... Sou eu, Gaz! - Berrou, se debatendo contra ele. 

 

Foi inútil. Gaz a fitou indiferente, e sem delongas, afundou os dentes no pescoço da morena, a fazendo gritar de dor. 

A sensação instantânea do fogo queimando em suas veias era pior do que a do seu sangue sendo sugado. Brooke não soube quanto tempo aquilo durou, sua visão ficou desfocada e seus ouvidos pareciam abrigar uma colmeia de abelhas furiosas. Porém, ela sentiu quando Gaz a soltou e seu corpo caiu contra o chão. Também sentiu a presença de outra pessoa, e o pensamento de ser Alec, a confortou minimamente. Mas a dor não parou. Nem o fogo. Sua cabeça começou a girar e as sombras se aproximaram pela... ela havia perdido as contas daquele dia... e a envolveram, a deixando com uma certeza antes de a levarem para a inconsciência. 

Quando voltasse a acordar, teria perdido as duas coisas mais importantes para ela naquele momento: sua humanidade e seu melhor amigo. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão?

Habitualmente, atrasada. Eu sei. Porém, muito feliz por finalmente estar postando este capítulo que, para ser sincera, eu quis escrever desde o primeiro capítulo. Talvez ele tenha ficado um pouco confuso e um pouco dramático ( principalmente com esse final), mas aqui a gente não faz as coisas por acaso. Tudo sempre tem um motivo, e como a fanfiction está seguindo para a reta final, as coisas precisam acontecer.

Meu coração ficou aquecido com o momento #Broolec. E apertado com o acontecido com o Gaz. Algumas coisas rolaram e todo mundo vai descobrir no próximo capítulo, que se tudo der certo, não vai demorar muito.

É isto.

Espero que tenham gostado, que ainda estejam aí acompanhando e que comentem a opinião de vocês.

Até o próximo capítulo...

Bjs!