Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 21
Chapter 19: Efeito Borboleta


Notas iniciais do capítulo

Came to you with a broken faith
Gave me more than a hand to hold
Caught before I hit the ground
Tell me I'm safe, you've got me now
Would you take the wheel
If I lose control?
If I'm lying here
Will you take me home?


— Jess Glynne (Take Me Home)



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Gaz Julions

 

Ser vampiro é mais fácil do que ser humano. Gaz descobriu isso assim que abriu os olhos e o impossível sumiu de seu vocabulário. Porque agora era um vampiro, e não havia nada que não pudesse fazer. Força, sentidos aguçados, beleza, equilíbrio, vida eterna. Tinha tudo aquilo agora.
  Mal dava para acreditar. Na verdade, dava sim. Mas não com ele. Ele, que realmente acreditava em lendas míticas e em heróis de quadrinhos e até era fanático por The Vampire Diaries, mas nunca imaginou que se transformaria em um Damon Salvatore loiro. A versão 2.0 dele.
A versão sem Elena, é claro.
 Mas, ali estava ele: vivendo como vampiro em uma casa com outros vampiros. E ainda por cima, os Cullen. O grupo descolado e foda da escola. E agora ele fazia parte desse grupo, tecnicamente. Era um novo integrante, afinal, também era um sanguessuga. Um sanguessuga em treinamento e com uma alimentação diferente dos Cullen, mas ainda assim, um integrante. E aquilo com certeza era a melhor coisa que já aconteceu em sua vida.
Tudo bem que não podia dizer que não sentia falta de algumas coisas de quando era humano, porque com certeza ele sentia. Como por exemplo, seus pais. Se pudesse voltar no tempo e mudar uma coisa no dia em que saiu de casa e foi procurar Brooke na loja, com certeza seria o fato de não ter se despedido de seus pais, coisa que não fez e talvez nunca vá ter a oportunidade de fazer. Gaz tinha uma relacionamento complicado com seus progenitores, porque o casamento deles era uma merda e eles brigavam o tempo todo, mas mesmo assim, deveria ter se despedido e se sentia mal por fazê-los sofrer com seu desaparecimento ou suposta morte que vez ou outra aparecia nos noticiários.
Não tinha como mudar as coisas.
  A comida era outra coisa da qual sentia falta; agora sua fonte de alimento era bolsas de sangue do hospital local. E a garganta seca de um vampiro é trinta vezes pior do que um estômago vazio de um humano. No entanto, conseguia suportar, e estava recebendo ajuda naquilo. Edward era um bom instrutor. E agradecia a ele, pois não queria ser um vampiro descontrolado que ataca pessoas e as mata. Gaz não queria atacar nem matar ninguém. Sendo assim, ele estava se saindo bem. A mansão Cullen era luxuosa e confortável o suficiente para ele não se sentir em uma prisão, o controle remoto da TV ficava à sua disposição, não tinha que ir para a escola — coisa que não entrava para a lista de coisas que sentia falta —, estava ganhando músculos e ficando com a barriga sarada como sempre quis em seus tempos de humano magricelo e, não estava sozinho.
E também não se referia aos vampiros que o rodeavam.
  Estava se referindo à Brooke, sua Brooke. Sua amiga, que mesmo que não soubesse, era bem mais do que isso para ele. Porque Gaz gostava de Brooke, e não de um jeito fraternal. Ele gostava mesmo dela, só não sabia como demonstrar isso. A verdade era que tinha medo de declarar seus sentimentos e ser rejeitado, e mais medo ainda de estragar a amizade dos dois e acabar com tudo. Por isso era melhor silenciar seus sentimentos, ficar na sombra e esperar que ela o notasse. Se nada disso acontecesse, então o loiro se conformaria e continuaria ao seu lado.
Como amigo, é claro.
 

Gaz suspirou, jogando a cabeça para trás, e recomeçou a brincar com a grama em suas mãos. Estava nos fundos da mansão, sentado na grama do quintal após uma sessão de treinamento físico com Edward. Seu cabelo que algum tempo não via uma tesoura estava grudado em sua testa, e sua camisa estava embolada aos seus pés, resultado do ar abafado de ultimamente. Conseguia escutar algumas risadas e ruídos de dentro da mansão, e se se concentrasse o suficiente, poderia ouvir os animais na floresta ao redor. Sua audição era ótima. Tão ótima, que até escutou alguém se aproximando com passos suaves e quase silenciosos.
 Gaz levantou a cabeça e viu Esme se aproximando, um sorriso caloroso no rosto em formato de coração e uma bolsa de sangue em uma das mãos. Ela tinha os cabelos presos atrás da cabeça, vestia um avental por cima do vestido elegante e o encarava afetuosamente. E naquele momento, Gaz enxergou sua mãe ali, lhe estendendo seu sanduíche preferido, e seu estranho coração de vampiro, se apertou. Mas ele ignorou isso.

 

 

— Edward me contou que hoje vocês treinaram duro. Então achei que você poderia estar com sede — disse Esme, assim que parou em sua frente e o estendeu a bolsa de sangue.

 

Gaz quase a puxou para um abraço agradecido.

 

— Você acertou — ele sorriu, pegando a bolsa e inspirou. Aí cerrou os olhos.
A+?

 

— Você acertou — Esme riu. — Soube que é o seu tipo preferido.

 

Aquilo o fez sorrir, um pouco emocionado.

 

— Obrigado Esme, de verdade.

 

 

A vampira assentiu e se despediu, virou as costas e voltou para dentro da casa.
   Gaz ficou a observando, e depois de um tempo, olhou para a bolsa de sangue em suas mãos. Sua comida. A garganta dele ardeu, junto com seus olhos.

 

 

— Credo, por que eu estou tão emotivo hoje...? — murmurou, balançando a cabeça e levou a bolsa de sangue aos lábios.

 

 

Gaz apreciou cada gota. O engraçado de sua nova condição era que quanto mais sangue bebia, mais queria. Como se fosse uma abstinência em pequenos intervalos. Nunca imaginou que vampiros passavam por aquilo, mas agora que era um, estava descobrindo algumas coisas.
  Quando por fim sugou a última gota, amassou a bolsa de sangue vazia e a deixou de lado, pensando em ir ver Brooke. Ele apanhou a camisa e começou a se levantar, mas antes de ficar totalmente de pé, seus ouvidos capturaram um crocitar alto, e seus instintos dispararam. Gaz ergueu cabeça, e com sua visão periférica, observou um corvo grande vindo em sua direção, o bico abrindo fechando, as garras de movimentando, as penas reluzindo. Ele ficou parado no lugar, e acompanhou a ave se aproximando, vindo em sua direção. Sabia que se quisesse, desviaria com facilidade, mas não se moveu. Esperou o corvo se aproximar o suficiente, ainda que não soubesse o motivo, e no último segundo, antes do animal cravar as garras em seu rosto, Gaz sentiu um tremor interno e levantou apenas uma mão. Então uma corrente de energia invisível o percorreu até as pontas de seus dedos e se expandiu para além, fazendo por um segundo, o mundo oscilar.
  Gaz fechou os olhos, e quando voltou a abri-los, encontrou o corvo a poucos centímetros de distância de seu rosto, parado no ar. Imóvel. Como se estivesse congelado no tempo.
  O loiro piscou atordoado e recuou um passo, ainda fitando o corvo e o que fizera com ele. Ele olhou para sua mão, que estava a mesma de sempre, e voltou a olhar para a ave. Repetiu o processo diversas vezes, até que se convenceu que não estava alucinado.
Ele fizera aquilo.
Mas como?

 

 


Brooke Evern

 

 

— É uma galinha.

 

— Não é, não.

 

— Parece uma galinha.

 

— Pela milionésima vez, isso NÃO é uma galinha! Por que eu pintaria uma galinha na parede do meu quarto? Não faz sentido. E isso é um girassol.

 

— Ainda assim parece uma galinha.

 

 

Brooke lançou um dos seus melhores olhares mortais para Renesmee, que encolheu os ombros com um sorriso no rosto que dizia algo como Você sabe que estou certa: isso é uma galinha. Brooke tinha certeza que não tinha pintado alguma.
  As duas estavam em seu quarto que no momento se encontrava livre da mobília, deitadas lado a lado, no chão, sujas de tinta. Estavam decorando o antigo quarto de Edward — ideia de Renesmee —, e após três horas de trabalho duro e uma guerra de tinta, estavam mortas de cansaço. Mas no fim, o quarto estava pronto. As paredes tinham uma nova cor (azul pastel) e o laranja e amarelo dos girassóis que Brooke havia desenhado — ou galinhas, ou quer que fosse aquilo que parecia patas e pétalas embutidas — dava um ar fofo ao cômodo. Então, o trabalho estava feito.

 

 

— Sabe o que eu estou pensando agora mesmo? — A ruiva soou risonha.

 

— Hum? — Brooke instigou, virando a cabeça para olha-la.

 

— Como é que você conseguiu passar em artes todos esses anos.

 

A morena revirou os olhos.

 

— Gostaria de ter um ótimo argumento como resposta, mas a verdade é que me faço a mesma pergunta.

 

 

A híbrida riu, prolongando a risada por algum tempo, até se calar. As duas ficaram em silêncio, fitando o teto do quarto, lado a lado, cada uma com seus próprios pensamentos.
  A luz do dia iluminava o cômodo, uma brisa suave vinda da sacada, proporcionava uma atmosfera refrescante. Brooke respirou fundo, fechando os olhos brevemente, e aproveitou o momento raro de tranquilidade. Gostava disso, de tranquilidade. Da paz. Gostava de deitar no chão, fechar os olhos, os cabelos caídos terrivelmente em todas as direções, de sentir a luz batendo contra seu rosto, de respirar fundo e levar oxigênio para seus pulmões. Aquilo tudo a fazia sentir viva. Humana. Alguém normal.

 

 

— Sabe que outra coisa estou pensando agora? — A voz de Renesmee soou em seus ouvidos.

 

Ainda de olhos fechados, Brooke murmurou:

 

— Espero que ainda não seja sobre meu girassol carente de talento artístico.

 

— Não, não é sobre isso — A híbrida soltou uma risada fraca. — Estou pensando... como serão as coisas no futuro... com você.

 

 

Brooke abriu os olhos, surpreendida, e se virou para a amiga, apoiando a cabeça na mão. Ela pensou sobre o assunto, permitindo-se cavar fundo suas opiniões e perspectivas, já que estava mentalmente protegida pelo escudo de Bella, embora fosse fazer o mesmo se não estivesse. Não se importava de Renesmee saber a verdade sobre como se sentia sobre aquele assunto.
Por isso, ela sorriu levemente.

 

 

 

— Francamente? Não tenho certeza como serão as coisas depois que eu me transformar. Mas também não sei quando isso vai acontecer, então resolvi não pensar muito no assunto — respondeu.

 

— Mas você não tem medo disso? De não saber como as coisas serão? Quero dizer... Você tem só dezessete anos, Broo. Está no segundo ano do colegial e acho que deve ter coisas que você ainda quer fazer na vida como humana, não?

 

— É claro que tenho medo, eu seria uma estúpida masoquista se não tivesse. Mas acho que está tudo bem, Nessie. Porque foi o que eu escolhi. E sim, eu tenho só dezessete anos. Ainda estou no segundo ano do colegial e com certeza ainda há muitas coisas que quero fazer como humana. Mas você não imagina quantas coisas eu já fiz, coisas das quais me arrependo e não me arrependo, mas fiz. Como disse antes, foi escolha minha, e, sei que minha situação é aparentemente ruim, mas há pessoas no mundo passando por coisas piores. Nada que envolva vampiros e lobos e dons estranhos, mas há muita desgraça no mundo normal. E há pessoas as superando todos os dias.
Minha mãe costuma falar isso sempre que uma dificuldade aparece

 

— Ainda assim... é um pouco injusto — Insistiu a ruiva, abaixando os olhos. — Desde o início, nunca contestei o destino que os Volturi e a minha família decidiram para você, embora nunca tenha concordado. Por isso você ainda está presa aqui, não que eu não goste de te ter aqui, fazendo coisas que você não gosta e lidando com a grosseria dos Voltei e os dilemas da minha família. E eu... eu sinto muito. Sinto muito por nunca ter interferindo por você, Broo. Muito mesmo.

 

 

O brilho nos olhos de Renesmee era um alerta para as lágrimas que estavam prestes a cair, assim como o tom culpado e melancólico que a menina usava, também era.
  Quando notou isso, Brooke sentiu as camadas de emoção envolvendo seu peito, e sentiu carinho e afeto pela ruiva em sua frente, igual costumava sentir com Penny, quando a garotinha mexia em suas coisas sem permissão e depois começava a chorar quando era descoberta.
Mas talvez fosse aquilo. Talvez Renesmee fosse uma irmã mais nova postiça, afinal, na realidade ela tinha apenas sete anos. Talvez ela tivesse se transformado em sua irmã mais nova de coração. Não. Ela não tinha se transformado, ela era.

 

 

— Você já ouviu falar do efeito borboleta, Renesmee Cullen? — A garota negou com a cabeça. — Então deixe-me explicar. O efeito borboleta está associado à teoria do caos, que diz, basicamente, que uma pequena mudança no início de algum evento qualquer pode trazer consequências enormes e desconhecidas no futuro, sendo elas caóticas. Assim é a teoria do caos. Já o efeito borboleta diz algo parecido. Diz que o simples bater das asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas. Resumindo: tudo que fazemos ou escolhemos, sempre terá uma reação e consequência, seja com nós mesmos ou com outra pessoa próxima. Tudo que fazemos e escolhemos no início de qualquer coisa, nos afetará de alguma maneira mais tarde, e assim é o meu caso, Renesmee. Eu não vou repetir, por isso se certifique de ouvir bem — disse Brooke, repentinamente séria. Ela esperou a outra levantar a cabeça e olha-la. Então prosseguiu: — Não há nenhum motivo para você estar falando essas coisas. E sabe por quê? Porque não foram os Volturi, muito menos a sua família quem decidiu meu destino. Ninguém pode fazer isso além de mim. Eu escolhi a forma como viveria com base nas opções que me deram. Fiz isso pela minha mãe, e faria mais mil vezes se necessário. Também é verdade que ainda estou presa aqui, mas se quer saber, é melhor do que ficar presa num porão escuro como os filmes mostram, ou ficar sozinha na minha casa. Você já viu o tamanho dela? É fria e solitária. Aqui pelo menos eu tenho mordomia e as piadas do Emmet — ela deixou os cantos da boca subirem em um meio sorriso. — Quanto os Volturi... eu realmente posso lidar com eles. Os ataques histéricos da Jane tem lá sua diversão, e os dilemas dos Cullen... Qual família não tem seus dramas? Está tudo bem, sério. Você não precisava e não precisa interferir por mim, ruiva. Eu sei me defender sozinha, e se precisar, defendo você também. Portanto pare de pensar dessa forma e pare de se preocupar com o futuro. Vamos nos focar no presente e aproveitar o máximo que der, ok?

 

— Ok — fungou a híbrida, virando o rosto para o lado para esconder as lágrimas que lhe escapavam dos olhos.

 

 

Brooke gargalhou e estendeu a mão, bagunçando o cabelo avermelhado da outra, que resmungou. Ambas se encararam por mais algum tempo, e explodiram em gargalhadas.

 

 

— Então... Você disse que já fez muitas coisas. Alguma delas inclui... — Começou Renesmee, quando pararam de rir. Ela hesitou, e lentamente, mudou de posição, se sentando e abraçando os joelhos. Seu tom de voz não passava de um sussurro quando completou: —... namorar?

 

— Hum, sim. Eu já namorei — respondeu Brooke, distraída, voltando os olhos para o teto.

 

 

Conversar sobre seus relacionamentos não era algo que a agradava muito.

 

— E como é?

 

— Namorar?

 

— Ter um namorado!

 

— Oh. Isso. Como é ter um namorado...? É algo normal, eu acho. Nunca parei muito para pensar. É legal, mas um pouco complicado. Na verdade, acho que deveria explicar como é ter um relacionamento, mas isso também é complic... Espera aí! — A morena se interrompeu, dando-se conta do que estavam falando. Se virou, desviou os olhos do teto, os fixando na ruiva à sua frente, que estava tão vermelha quanto a cor do próprio cabelo, e ergueu o tronco, ficando sentada e imóvel. — Renesmee Carlie Cullen! Por que você está me perguntando sobre relacionamento amoroso? As pessoas perguntam isso quando estão apaixonadas! Não me diga que você... VOCÊ ESTÁ GOSTANDO DE ALGUÉM?!

 

— Shiiiii! Fale baixo, por favor! — A cullen implorou, se jogando em cima da Evern e tapando sua boca com a mão, enquanto esticava o pescoço e olhava para a porta aberta.

 

Brooke a olhou escandalizada.

 

— Eu conto tudo se você prometer falar baixo. Você promete?

 

 

A morena assentiu, aceitando a negociação. Renesmee se afastou vagarosamente.

 

 

— É O JACOB, NÃO É? — Foi a primeira coisa que Brooke exclamou quando se viu com a boca livre.

 

— Brooke!

 

— Tá bom, tá bom. É o Jacob, não é? — ela se corrigiu, cochichando as palavras.

 

— Não! Quer di-dizer... eu não sei. Não... não tenho certeza dos meus sentimentos para com ele. Mas como você sabe?

 

— Como eu não saberia? Você tá tão vermelha que eu poderia te confundir com uma pimenta. E eu tenho olhos, Renesmee, olhos. E os uso. Sempre soube que entre vocês dois rolava um clima...

 

— Não há clima nenhum! — murmurou a garota escondendo o rosto nas mãos. — Jake sempre foi meu melhor amigo. Ele até trocou minas fraldas, Broo. Você pode imaginar isso, ou o quão envergonhada eu fico ao pensar sobre essa bizarrice? — ela ergueu a cabeça, aparecendo com as bochechas coradas. — Ele não gosta de mim, sem chance. Para ele sou como uma irmã mais nova, pequena e desajeitada... De qualquer forma, também não sei se gosto realmente dele, por isso é melhor deixar quieto.

 

 

Com um suspiro triste, Renesmee cruzou os braços, fitando o chão. Brooke a observou em silêncio, organizando os pensamentos e formulando sua opinião sobre a situação. E bom, ela não levou muito tempo na tarefa.

 

 

— Ele sempre foi seu melhor amigo? E daí? Ele trocou suas fraldas? E daí? Isso é realmente importante? — Argumentou, fitando a ruiva com as sobrancelhas arqueadas e o dedo indicador estirado no ar. — Quantas pessoas se apaixonam por seus melhores amigos? Muitas. Quantas pessoas têm suas fraldas trocadas pelo seu melhor amigo e paixão? Somente você. Mas irei repetir: e daí? Você é uma híbrida metade humana, metade vampira, Nessie. E Jacob é um lobo alfa. Tudo isso é bizarro, e embora eu não entenda sobre relacionamentos de espécies sobrenaturais, tenho a certeza que é quase parecido com um relacionamento mundano. Como? Simples. Vocês se apaixonam, se declaram, se beijam, transam antes ou depois do casamento, têm filhos e escolhem se morrem juntos ou se o divórcio rola antes disso. — Respirou fundo e observou a expressão boquiaberta da Cullen. Então emendou: — Mas não sei se deveria estar falando esse tipo de coisa para uma híbrida de sete anos, por isso, esqueça a parte final, por favor. — Ela limpou a garganta. — O que estou querendo dizer aqui é que você tem que parar de procurar por motivos que a impeçam de ser feliz. Não sabe seus sentimentos por Jacob? Tudo bem, vá lá e descubra-os.

 

 

Renesmee pestanejou.

 

— Então... você está dizendo que há uma possibilidade do Jake gostar de mim?

 

Brooke assentiu.

 

— E o que... o que isso quer dizer?

 

Brooke estalou a língua.

 

— Isso quer dizer que você — Apontou o dedo erguido para ela. — tem que tomar a iniciativa e mandar a real para ele. Confessar seus sentimentos — Acrescentou quando a expressão confusa da outra apareceu. — Se ele sentir o mesmo que você, o que na minha opinião é bem óbvio, bom. Se não, você vai erguer a cabeça e bola pra frente. Se tem algo que aprendi com meus relacionamentos fracassados, minha querida, é que ninguém morre por um coração partido.

 

— Mas e se nossa amizade mudar depois disso? — perguntou Renesmee, tentando esconder o pequeno sorriso esperançoso em seus lábios.

 

— Não creio que vá acontecer; Jacob parece valorizar a amizade de vocês mais do que tudo. Mas se acontecer, então ele será um babaca. E eu vou quebrar o nariz dele.

 

— Ele é um lobo, seus ossos são fortes. Você com certeza vai quebrar a mão.

 

— Eu uso um taco de basebol. Vocês tem um taco, não tem? — Brooke olhou em volta, fazendo a ruiva gargalhar. Ela sorriu ao ouvir o som.

 

— Brooke, você é incrível — disse Renesmee, pulando em cima da morena e a abraçando apertando.

 

 

As duas caíram no chão e começaram a rir. Cada uma rolou para um lado e sem dar tempo para se recuperar, a híbrida começou a fazer cócegas na Evern, que se contorceu no chão enquanto não conseguia parar de rir.
  Elas não perceberam quando a figura baixinha e sorrateira de Alice apareceu na porta; um enorme sorriso no rosto e uma Polaroid na mão, que disparou várias vezes e registrou o momento das duas amigas em fotografias que durariam para sempre se assim fosse o caso, tal como a amizade entre a morena e a ruiva, risonhas e sujas de tinta naquele momento.

 

 

[...]

 

 

Com o passar dos dias, a rotina tomou conta da vida de Brooke. E aos poucos, ela começou a se parecer mais com uma garota normal. Com alguma dificuldade, se habituou ao estilo de vida confortável e luxuoso dos Cullen — as roupas de grife, os carros caros, e muito mais —, estabeleceu um cronograma diário que seguia simplesmente para se organizar na escola e caiu de cabeça nos estudos. Sua ausência na escola durante um mês lhe rendeu muitas matérias perdidas, testes e trabalhos, e com as provas finais chegando, os professores estavam a sufocando com o conteúdo atrasado. Quando percebeu isso, Brooke decretou para si mesma que iria correr atrás do tempo perdido e mandar bem nas avaliações, pois se fosse para encerrar sua vida acadêmica ali, ela encerraria com honras.
 Ela só não esperava que fosse ser tão difícil.
 As fórmulas de química, de matemática, os verbos de inglês, as datas de história e as localizações de geografia se confundiam e se perdiam em sua cabeça, que andava ocupada com pensamentos que não estavam relacionados as disciplinas escolares.
E sim ao mundo sobrenatural.
Não que fosse novidade.
 Por mais que tentasse, os dois mundos que conhecia sempre se colidiam. Não conseguia se concentrar nos estudos porque estava ocupada demais pensando nos sonhos estranhos e nas visões macabras que tinha e continuava escondendo dos vampiros com quem convivia. Porque sim, não conseguia esquecer ou ignorar nenhum nem outro: o sonho do armazém e a visão em que estava morta continuavam a assombrando. O sonho se repetia todas as noites, e a visão ainda estava fresca em sua memória. E ambas estavam a consumindo e lhe tirando o sossego.
 Brooke queria apenas que por um curto espaço de tempo, mesmo que fosse mínimo, que ela conseguisse esquecer de tudo. Uma amnésia viria a calhar. Se esquecesse de tudo, não se preocuparia. Não se sentiria ansiosa, e daí poderia viver bem.
Apenas sabia que estava presa naquele labirinto de problemas e frustrações que a vida se tornara, e que mesmo que procurasse, não conseguia sair. E ninguém parecia querer salva-la. Então o que restava a se fazer era suportar; mesmo já estando no limite, ela suportaria. Suportaria vivendo um dia após o outro, tal como fora instruída a fazer por todos os psicólogos e médicos do passado.
  Ela suspirou, massageando as têmporas com bolsas escuras que demonstravam as noites insones.

 

 

— Anda tendo problemas com o sono? — Amália, que estava sentada na carteira ao seu lado, perguntou baixinho, não desgrudando os olhos de um objeto retangular que tinha nas mãos, algo parecido com um chaveiro.

 

 

Brooke assentiu com a cabeça, abaixando os olhos para o caderno aberto e com as linhas preenchidas por garranchos tortos que sua letra estava naquele dia, enquanto abria a boca em um bocejo.

 

 

— Passe na enfermaria depois e peça para a enfermeira te receitar algumas pílulas para dormir, ou talvez você devesse matar a última aula de educação física e tirar um cochilo lá — A voz da amiga voltou a soar, um pouco preocupada, mas a morena apenas acenou e abriu um meio sorriso.

 

 

Não que fosse seguir o conselho. Já tomava pílulas para dormir, mas não podia dizer isso. Conhecendo a personalidade curiosa de Amália, a garota iria querer saber desde quando Brooke as tomava e o motivo de não estarem fazendo efeito; e tudo isso tinha uma explicação que a Evern não queria dar.
  Logo, o assunto morreu. E depois daquilo, as aulas se arrastaram até os últimos dois tempos de aula, sendo eles de educação física. Brooke dispensou a ideia de matar aula e ir dormir na enfermaria, e arrastou Amália e ela própria até o ginásio, onde encontraram Renesmee, que tinha os horários diferentes na quarta-feira, saindo do lugar com o uniforme de educação física e uma bolsa de treino da Nike pendurada no ombro. Ela sorriu para as duas, gesticulando com a mão que estava com pressa para ir ao banheiro, e virou as costas, seguindo apressada na direção dos sanitários. E ainda assim estava bela e graciosa como sempre, ao contrário das outras garotas, que saiam pelas portas com os cabelos frisados e os rostos corados e suados — incluindo Courtney, que parecia até mais humana com o rímel borrado.

 

 

— Vê se sai do caminho, crente esquisita — Latiu Courtney, esbarrando no ombro de Amália e seguiu em frente pisando duro.

 

Amália limpou o ombro acertado.

 

— Alguém está de mau humor hoje

.

— Ela precisa mesmo ser tão babaca? — Disse Brooke, irritada. Quando percebeu, já estava com as mãos fechadas em punhos e o tom subindo. Sabia a história de Amália, como sempre tinha idiotas usando o fato dela ser evangélica como gozação, e sabia o quanto isso a chateava. — Ela deveria voltar e pedir desculpas à você...

 

— Ei, ei, ei! Fica fria, Broks — Amália a segurou, passando o braço por seus ombros. — Tá tudo bem, deixe-a para lá. Você ir atrás dela não vai mudar nada; sabemos que Courtney Jones é uma cadela. — ela riu. — E além do mais, eu passo por isso todos os dias. Sempre terá pessoas assim. Porque fala sério, você já viu minhas roupas? Todas elas têm a palavra Jesus Cristo e um coração escrito. Mas eu gosto disso, assim como gosto de ler a bíblia e ir aos cultos. E também sou negra. Isso tem importância? Não. Mas existe gente racista? Sim. Mas não posso mudar isso, assim como você também não pode. Então podemos apenas ignorar ou lançar um feitiço neles, que tal?

 

— Pode ser um Avada Kedavra? — Brooke perguntou, cerrando os olhos ao fazer a citação do universo de Harry Potter. 

 

 

Amália riu, encostando a cabeça na dela.

 

— Pode. Só não conte para ninguém, porque sabe como é né. O ministério da magia está de olho, e como uma boa cristã, matar alguém vai contra o mandamento de amar o próximo.

 

 

As duas acabaram caindo na gargalhada, e sentindo a raiva ceder, Brooke acompanhou a amiga para dentro do ginásio, onde encontraram os outros alunos e a professora sisuda de educação física já ditando ordens com seu apito na boca e boné azul marinho como marca registrada.

 

 

— Espero que as aulas anteriores tenham sido boas e tranquilas para vocês, porque é melhor se prepararem. Hoje vocês vão correr em volta da escola, e não quero ouvir uma reclamação, desculpa ou choramingo. O primeiro corpo mole que eu ver vai correr em dobro! — exclamou a professora. — Vão se trocar!

 

 

Se deslocando junto com a leva de alunos com caras emburradas, Amália e Brooke se entreolharam.

 

 

— Eu sei. Eu deveria ter te ouvido — murmurou Brooke, bufando, enquanto a Young dava-lhe tapinhas consoladores nas costas.

 

 

 Meia hora depois, as duas estavam resfolegantes e transpirando dentro dos uniformes gigantes de educação física. Encostadas no tronco grosso de uma árvore afastada do campo limite da escola, na entrada da floresta que a rodeava, e longe da agitação dos colegas, recuperavam o fôlego e as forças depois das trinta voltas dadas.

 

— Cara... — suspirou Brooke, estendendo a mão para receber a garrafinha de água na mochila de Amália. — essa professora quer nos matar.

 

 

Amália a entregou a garrafinha, bufando enquanto assentia com a cabeça.

 

 

— Não sinto minhas pernas.

 

— Eu não sinto muitas partes do corpo, querida. As pernas também estão inclusas.

 

 

Uma careta apareceu no rosto de Amália, fazendo Brooke rir e se arrepender logo em seguida por conta do corpo dolorido.
 Céus! Tinha perdido mesmo o jeito da coisa. Nem parecia a menina que a um ano atrás fazia exercícios físicos em curtos intervalos de tempo. Flexões, agachamentos, abdominais... Tudo fazia parte do programa de exercícios excessivos para emagrecer que Brooke mantinha. Um programa que contribuiu para os eventos do passado acontecerem...
  Ela balançou a cabeça, se recusando a trazer aqueles pensamentos para o presente. Não era mais a mesma; isso era evidente pelo seu estado momentâneo após correr trinta vezes. Muitas coisas haviam mudado, e sua resistência física era uma delas.
 Jogando a cabeça para trás e a encostando no tronco da árvore, Brooke suspirou mais uma vez. Um suspiro cansado. Seus olhos fitaram as copas da árvore, as folhas que balançavam com a força do vento que refrescava o dia abafado, e entre elas, visualizou um pedacinho do céu cinzento e carregado de nuvens que há muito tempo anunciavam uma tempestade.

Brooke percebeu uma movimentação ao seu lado com o canto do olho, e ao girar a cabeça, observou enquanto Amália procurava algo na mochila trazida sob muita insistência com elas. Após alguns segundos, a menina pescou um objeto retangular, o mesmo que estava na aula de física, e o girou entre os dedos, mordendo o lábio e franzindo a testa.
Quando percebeu que Brooke encarava, ergueu a vista e piscou.

 

 

— Você gostou? — perguntou Amália, erguendo o objeto no ar, e o aproximando do rosto de Brooke.

 

 

Era um retângulo de madeira, entalhada nas laterais e com duas iniciais gravadas com uma letra torta e redonda: J.Y./ L.Y. E, com um olhar mais detalhado, deu para notar que era um chaveiro, mas com a corrente quebrada.

 

 

— É bonito — murmurou Brooke, correndo com os dedos pelas iniciais que pareciam ter um significado maior do que ela podia compreender. — De quem são essas iniciais?

 

— Joseph Young e Lilian Young, mas conhecidos como meus pais — Amália abriu um sorriso, mas logo o desfez. — Este é o presente de aniversário de casamento de Lucy para eles; ela que o fez com tanto capricho e dedicação. Mas eu fui dar uma de curiosa e acabei quebrando a corrente do chaveiro, como você pode ver. Agora estou tentando consertar antes que Lucy perceba que estraguei seu presente e fique triste — A expressão em seu rosto se anuviou. — Não que esteja conseguindo.

 

 

Brooke abriu um sorriso solidário.

 

 

— Eu queria muito poder ajudar, mas não sou boa consertando nada. Mas tenho certeza que você vai conseguir devolver o chaveiro novinho em folha.

 

— Deus te ouça.

 

 

As duas piscaram e riram. Então sentiram os primeiros pingos caírem do céu, em uma chuva que de repente se transformou em tormenta e fez Amália e Brooke levantarem como se tivessem fogo nas calças e resmungarem pelos músculos doloridos. Enfim estava chovendo.

 

— Merda!

 

— Vamos correr. A que chegar por último e se molhar mais, é a mulher do padre!

 

 

Soltando uma gargalhada, Brooke se apressou a apanhar a mochila e sair correndo, mas na pressa de ganhar a brincadeira boba e desviar da chuva, acabou tomando a direção errada e indo na direção oposta da escola: para dentro da floresta.
  Ela só percebeu o engano quando o verde predominou em seu campo de visão, que começava a ficar embaçado por conta das gotículas que já a encharcavam. Se enfiou debaixo da folhagem de outra árvore, só que maior, e ouviu os passos de Amália se aproximando com rapidez, mas segundos depois, eles desapareceram, e a garota não se manifestou. Brooke esperou, abraçando a mochila e tentando diminuir o estrago em seus cadernos, mesmo sabendo que não iria adiantar muita coisa. Foi então que ouviu, abafada e cortando o silêncio na floresta a não ser pelas gotas de chuva que chegavam ao chão com agressividade, a voz da amiga:

 

 

— B-Bro-oke?

 

 

A morena virou para trás, sorrindo levemente e pronta para gracejar com Amália, mas não foi o que aconteceu. Quando se virou, Brooke encontrou com o que tanto temia. Ela encontrou o envolvimento de Amália Young com o mundo sobrenatural, em um encontro que fez o coração da morena falhar algumas batidas.
  À sua frente, em uma distância curta, Amália estava paralisada, os olhos escuros arregalados de medo enquanto uma mão enorme, branca feito cera e com unhas longas em formato de garras a segurava pela garganta, em uma imagem distorcida pela chuva causticante. Brooke nem precisou olhar nos olhos vermelhos do dono da mão para saber que se tratava de um vampiro, contudo ela fez assim mesmo.
Ele era imenso e seu rosto era horrível, não perfeito como estava acostumada a reparar em um vampiro. Tinha as mesmas feições distorcidas do que os recém-criados que a atacaram pela primeira vez na loja de sua mãe, embora esse estivesse encharcado e com um sorriso medonho no rasgão que tinha como boca, que a fez tremer.

Seu alerta de perigo disparou, e seu instinto lhe disse para correr, mas não podia obedece-lo.
Não podia deixar Amália para trás.
E mesmo que não soubesse como explicar tal coisa, ou o motivo daquele vampiro ter aparecido ali, Brooke se manteve enraizada no lugar, sem saber como reagir. Ela nem respirava. Seus olhos estavam grudados no rosto apavorado da amiga, e seu coração batia tão alto, vibrava tão forte dentro do seu peito, que Brooke temeu desmaiar.
Mas, antes que isso acontecesse, ela ouviu algo ecoar dentro de sua cabeça, algo muito parecido com uma mensagem, a qual ela já escutara antes:

 

Não irei machucar você, minha senhora. Apenas venha comigo, venha comigo e ocupe seu lugar, evitando a morte daqueles que mais ama.

 

Brooke ofegou, liberando e puxando o ar finalmente. O vampiro a fitava fixamente, parecendo estar a espera de uma mensagem. Ela negou com a cabeça, sem pensar, e se arrependeu de o ter feito, quando a voz voltou a soar em seu interior:

 

Então que assim seja feita a sua vontade.

 

Ela entendeu na mesma hora, e seus olhos se arregalaram.

 

— NÃO! — gritou, mas já era tarde demais.

 

 

Em um único movimento, preciso e mortal, o vampiro deslizou as garras pela garganta de Amália, a cortando.
 Brooke deixou cair a mochila em seus braços, dando um passo à frente, enquanto observava o corpo da amiga escorregar das mãos do recém-criado e chegar ao chão enlameado em um baque surdo.
 Um soluço a escapou, e cambaleando, ela correu até Amália, se jogando de joelhos ao seu lado. Brooke a alcançou, verificando a pulsação fraca de seu pulso, e pressionou as mãos no pescoço dela, tentando conter o fluxo de sangue que escorria livre, manchando a camisa do uniforme de educação física da amiga.
A voz tornou a ecoar em sua mente uma última vez:

 

Você está avisada, minha senhora.

 

Brooke levantou o rosto molhado pela chuva e pelas lágrimas que agora derramava, olhando para todos os lados, mas não encontrou o vampiro em lugar nenhum. Ele se fora.
 A mão gelada de Amália se fechou em seu antebraço, chamando sua atenção, e ela voltou a olhar para a amiga que começava a agonizar no chão.

 

 

— L-Lucy... — sussurrou Amália, se esforçando para dizer as palavras.

 

Brooke soluçou.

 

— Por favor, não fale — ela pressionou mais forte o corte na garganta. — Você tem que se poupar.

 

Uma lágrima solitária escorreu pelo canto do olho da Young, se juntando as gotas da chuva que salpicavam seu rosto embaixo da copa da árvore.

 

— V-v-você te-tem... q-que entregar... o... pres-sente... Lucy... — ela mostrou o chaveiro na outra mão.

 

— Do que está falando? V-você mesma vai fazer isso — A voz de Brooke tremeu, e ela cerrou os olhos, tentando ler a expressão da amiga e tentar entender o que ela estava sentindo. — Está me entendendo, Amália? Você mesma vai fazer isso. Apenas aguente... aguente um pouco mais. Fique c-comigo.

 

— Lucy — Foi a resposta de Amália, e então, lentamente, o brilho de seus olhos desapareceu, os tornando opacos.

 

 

Sua cabeça pendeu para o lado e a mão que segurava Brooke, escorregou, caindo ao lado do corpo imóvel.
  Brooke arfou. Seu coração estremeceu, e ela começou a tremer, assim como o mundo todo ao seu redor. De repente, respirar era impossível, e ela sentiu a garganta queimar.

 

— Não! Não, não, não, não! Vamos lá Amália, fale comigo — Brooke abandonou o pescoço da garota, e começou a balança-la. Ela não voltou, não se mexeu. Apenas continuou inerte, os olhos fixos no céu acima delas. Então a constatação que ela se fora, acertou Brooke, que não tentou mais conter os soluços e abraçou o corpo da amiga. — Por favor... N-não se vá...

 

 

A morena afundou o rosto nos cachos de Amália, e se deixou balbuciar pedidos de desculpas e palavras incoerentes, debaixo do dilúvio.
Nada mais poderia ser feito. Amália se fora. O olhar vidrado e sem vida fixado no céu nebuloso acima de suas cabeças, comprovava isso. E ali, naquele cenário, com o cadáver da amiga, com o sangue dela sujando suas mãos e suas roupas, largadas na lama imunda, debaixo da copa daquela imensa árvore, Brooke notou, cheia de raiva, a familiaridade daquilo tudo. Porque já vira aquela cena antes, no mesmo lugar, nas mesmas condições, mas apenas com um personagem adicionado.
Aquela era a cena de seu último sonho, a realização dele. Só que, nele, ela perdia a vida, não Amália. E no sonho, ela não sentia a dor que estava sentido naquele momento, como se seu peito tivesse sido rasgado ao meio e seu coração dilacerado. Mas, aquela era a dor da perda, e a cada vez que a experimentava, mas insuportável ficava continuar a sentindo.
  Ainda gritou por ajuda, mesmo sabendo que não seria ouvida, e após muito tempo naquele estado, percebeu que precisava da ajuda de alguém. Não sabia o que fazer.
Por aquele motivo, se afastou de Amália e olhou em volta, colocando o cérebro para trabalhar. Não podia ir até a escola próxima dali e deixar o corpo sem vida da amiga para trás — Não sabia se o vampiro voltaria —, assim como não podia ficar ali e esperar que alguém as encontrasse.
Mas também não tinha um celular.
  Os olhos de Brooke pousaram na mochila largada de Amália, alguns metros à frente. Reunindo forças, ela se arrastou até lá, e procurou pelo aparelho telefônico que torcia para a Young ter guardado na mochila. Após alguns segundos, Brooke encontrou o celular, e o pegou com as mãos tremendo.
  Apertou o único botão que tinha e suspirou quando percebeu que o celular não tinha senha. Foi logo para a discagem rápida, e digitou o número da polícia, pronta para fazer a ligação. Entretanto, se interrompeu. Se ligasse para a polícia local, e disesse onde estava, o que diria a eles quando chegassem?
Um vampiro rasgou a garganta da minha amiga porque me recusei a ir com ele.
Ninguém acreditaria nela.
 Brooke apagou o número, e então ficou a encarar a tela acessa. Não tinha mais para quem ligar. Não tinha ninguém. Não sabia o número de nenhum dos Cullen, não tinha como entrar em contato.
 As lágrimas continuavam escorrendo por seu rosto quando ela olhou em volta de onde estava, e sua mochila entrou em seu campo de visão. Então ela se lembrou de um detalhe.
 Existia sim, alguém para quem poderia ligar.
 Alguém que tinha o número telefônico rabiscado em um papel em algum lugar dentro de sua mochila.
 E foi para esse alguém que ela ligou após encontrar a folha de papel com os números e fazer a ligação. Brooke aproximou o celular da orelha, tremendo dos pés à cabeça, e após cinco toques, ele atendeu.

 

 

— Alô?

 

A morena segurou o choro.

 

— A-Alec? Preciso de a-ajuda.

 

 


Alec Volturi

 

 

O sangue quente e espesso da garota presa em seu braços descia por sua garganta, doce e revigorante. A humana estava com a boca entreaberta, enquanto ele tinha as presas cravadas em sua jugular, mas nenhum grito escapava por eles, graças a sua névoa paralisante.
 O Volturi estava em algum beco imundo de Seattle, onde resolvera se alimentar. A ruiva em seus braços já era sua segunda refeição do dia.
 O tempo estava horrível; um temporal caia, fazendo com que as gotas de chuva chegassem ao chão do beco em ruídos irritantes. Em algum lugar perto dali, abafado pela tempestade, tocava uns rock's anos oitenta que Alec apreciou enquanto terminava de se alimentar. Quando sugou a última gota de sangue no corpo da garota, a soltou, a deixando cair sem vida no chão alagado, e recolheu sua névoa, pronto para limpar a bagunça que fizera.
  Então seu celular tocou. Alec revirou os olhos, mas levou a mão ao bolso porque poderia ser importante. Quando pôs os olhos na tela do celular, que recebeu alguns respingos de chuva, e não reconheceu o número, franziu o cenho. Contudo, resolveu atender.

 

 

— Alô?

 

Houve um ruído.

 

— A-Alec? Preciso de a-ajuda — A voz do outro lado da linha soou chorosa, uma voz que ele reconheceu imediatamente.

 

Evern? — perguntou surpreso, ainda que soubesse se tratar dela. — Por que está me ligando?

 

Ele ouviu um soluço.

 

— A-apenas venha... Venha at-até a floresta d-a e-escola... Por favor — E então, ela caiu no choro, e a ligação foi encerrada.

 

 

Alec abaixou o celular, olhando para a tela acessa onde indicava os minutos de duração da chamada. Ele não tinha entendido nada. Por que a Evern o ligou? Por que estava chorando? Por que queria que ele fosse até a escola, mais especificamente na floresta que a rodeava?
  Não tinha reposta para nenhuma de suas perguntas, mas sabia que não receberia uma ligação da Evern a menos que fosse uma emergência. Tinha deixado isso claro quando colocou o papel com seu número na mochila dela, para caso ela viesse a precisar.
 Aparentemente, aquele dia havia chegado.
 Uma sensação ruim o penetrou, e quando percebeu, já estava correndo como uma sombra até a esquina, onde estacionara seu carro. Alec nem se importou com o corpo da garota deixado para trás ou com o fato de estar sendo irresponsável por não escondê-lo. Porque agora ele tinha algo mais urgente para resolver.
 Ele tinha que ir até alguém que estava precisando dele, e porque fazia isso, nem mesmo ele sabia.

 

 

Os pneus do Jaguar derraparam no final da estrada de cimento e no início de terra, quando Alec freou bruscamente. Ele nem se preocupou em desligar o carro, apenas empurrou a porta ao lado e saltou para o lado de fora, sentindo a chuva molha-lo rapidamente. Seus olhos perscrutaram a floresta alguns metros à frente, local que a Evern pediu para ir checar, e sem perder tempo, o Volturi adentrou mata a dentro, em velocidade vampírica. Com seus sentidos aguçados, ficou atento a qualquer som, e enquanto corria para o sul da floresta, seus ouvidos captaram um ruído diferente, abafado pela chuva e pelos galhos das árvores balançando.
  Um ruído muito parecido com um choro.
Inesperadamente alarmado, Alec correu na direção em que o som vinha. Levou segundos para chegar até lá, e, quando chegou, encontrou o que procurava.   Embaixo das copas de um enorme carvalho, a Evern abraçava os joelhos, encolhida, os olhos vidrados em um ponto fixo, a blusa branca de mangas compridas que deveria ser um uniforme com grandes manchas de sangue seco, as mãos no mesmo estado.
 Alec arregalou os olhos, se aproximando lentamente, examinando-a mais um pouco enquanto isso. Percebeu pelo cheiro que o sangue não era da Evern, antes de parar a alguns centímetros em sua frente, e soltou um suspiro aliviado, ainda que não soubesse o motivo para tal reação.
Ele limpou a garganta, antes de chamar a morena:

 

— Estou aqui, Evern.

 

 

Se ela o escutou, ou se tinha reparado em sua presença, isso ele não sabia. Mas pela falta de resposta, Alec percebeu que não, e por isso respirou fundo, se abaixando na frente dela e erguendo a mão, tocando-a no ombro.
Os imensos olhos castanhos se viraram para ele, cheios de lágrimas que escorriam pelas bochechas pálidas, e reconhecimento os tingiu.

 

 

— Alec — sussurrou a Evern, o olhando inexpressivamente enquanto derramava mais lágrimas. Havia um vazio dentro de seus olhos, algo que o vampiro nunca presenciara antes nela. — V-você veio...

 

 

O Volturi assentiu lentamente, precisando de alguns segundos para se acostumar com aquele olhar. Quando enfim conseguiu, se encheu de cautela para continuar o diálogo.

 

 

— Sim, eu vim. Mas preciso que me explique porque exatamente estou aqui, e o que aconteceu — respondeu, fixando os olhos nas manchas de sangue.

 

— Não é meu. O sangue não é meu — falou Brooke, desviando o olhar para o mesmo ponto fixo de antes. — É dela. — Alec seguiu seu olhar e, a pouca distância, encontrou o corpo imóvel de uma garota embaixo de outra árvore maior. A garganta tinha sido rasgada e pela falta de batimentos cardíacos, estava morta. Os olhos tinham sido fechados, e ele achou que a Evern tivesse feito isso. Ele a reconheceu imediatamente: era a garota negra e bonita que vira nas fotos tiradas por Demetri, a que sempre estava com a Evern. Foi aí que Alec entendeu tudo; a gravidade da situação e o motivo das lágrimas de sua cantante. E ele não sabia como reagir aquilo, ainda mais quando Brooke voltou a encara-lo e engoliu em seco: — Está mo-morta. Amália.... Ela... Am-máli-a está morta...

 

 

Alec assistiu enquanto Brooke rompia em lágrimas, soluços e balbucios incoerentes.

O corpo dela dava solavancos e tremia, encharcado e imundo de lama e sangue. Mechas de cabelo se grudavam em seu rosto, testa e pescoço, a fazendo parecer uma figura miserável e frágil como porcelana. Uma porcelana que Alec teve medo de quebrar se tocasse. Por isso esperou, agachado em sua frente, embaixo da chuva, observando o momento de fraqueza da Evern, que parecia outra pessoa naquele momento.
Estava tão acostumado a vê-la sendo insolente e audaciosa, que se esquecera que ela ainda continuava sendo uma simples humana. Uma simples adolescente. Uma simples pessoa que acabara de perder uma amiga importante ao que parecia. E o olhar que ela tinha naquele momento... Aquele olhar ele reconhecia. Ele mesmo usara aquele olhar há quase um milênio atrás, uma única vez, quando ainda era um jovem humano, e presenciara os aldeões de sua vila executarem seus pais diante de seus olhos. Aquele semblante vazio, frágil, perdido, morto, lhe era conhecido. E Ele sabia o quão doloroso era possui-lo.
  Foi por essa razão que Alec não fez perguntas. Não procurou saber quem tinha matado Amália, ainda que desconfiasse de algum vampiro da nova espécie. Não mandou Brooke engolir o choro e se apressar para saírem da chuva. Alec não fez nada disso. Ao contrário, ele suspirou profundamente, e tentou colocar em prática toda a gentileza que deveria restar em um vampiro, ainda que não soubesse se teria algum resultado positivo nisso.

 

 

— Temos que sair daqui — disse, soando o mais gentil e suave possível.

 

Brooke ergueu a cabeça dos braços, o encarando com os olhos vermelhos.

 

— Não posso deixar Amália aqu-aqui — O lábio inferior dela tremeu, e ela tratou de morde-lo.

 

 

Alec ergueu a mão inconscientemente, querendo toca-la em um gesto reconfortante, mas desistiu no último instante e a abaixou. Os olhos da Evern acompanharam tudo, ainda muito desfocados.
O Volturi afastou um mecha do próprio cabelo molhado que grudava em sua testa.

 

 

— Eu sei que não quer deixá-la sozinha, mas você precisa fazer isso. Mais cedo ou mais tarde alguém irá encontrar este lugar, e ligará para a polícia. Se ainda estivemos aqui, se você ainda estiver aqui, terá que explicar. E do jeito que está, duvido muito que consiga fazer isso sem ser presa. E, seja quem for que fez isso com sua amiga, com certeza vai voltar para finalizar o trabalho, e embora eu esteja aqui, não sabemos se ele trará amigos. Então não dificulte as coisas, Evern, principalmente para você mesma.

 

 

Eu sei, foi o que Alec leu na expressão dela, que dirigiu mais um olhar para o corpo de Amália e derramou mais algumas lágrimas.
  O vampiro percebeu que seria impossível receber uma decisão rápida, e a muito custo segurou o grunhido que pretendia soltar. Entendia que a Evern estava sofrendo, mas estavam a vinte minutos no meio daquela floresta, molhados até os ossos, com um cadáver nada oculto a pouca distância e correndo o risco de serem atacados.
Ele precisava, sem sombra de dúvida, agilizar as coisas.

 

 

— Precisamos ir, Brooke — Alec se ouviu pronunciar, experimentando pela primeira vez dizer o nome de batismo da garota em voz alta. Ela o fitou, e ele se forçou a acrescentar: — Agora... Por... favor.

 

 

Os dois se encararam entre as gotículas de chuva que pareciam cortinas transparentes por segundos que pareceram minutos, minutos que pareceram horas, e horas que pareceram anos. As íris vermelhas espelhadas nas íris castanhas, em um confronto frio e silencioso que guardava expectativas e desesperanças.
  Por fim, o Volturi viu a morena balançar a cabeça imperceptivelmente, em um assentir, que o fez abrir um pequeno sorriso que ele esperava que fosse solidário, e se levantar, ficando imenso em comparação a garota assustada encolhida no chão.

 

 

— Vamos. Vou tirar você daqui — Alec estendeu a mão para Brooke.

 

 

Ela aceitou, mas antes de se levantar, apanhou algo no chão ao seu lado e fechou em sua mão, a pousando sob o peito. O vampiro a puxou delicadamente para cima e mostrou o caminho para fora da floresta, mas ela não se moveu.
Brooke trilhou o olhar novamente até o cadáver de Amália, intacto no mesmo lugar onde caíra, e balançou a cabeça, secando as lágrimas com a palma da mão ensanguentada.

 

 

— Sinto muito Amália. Me desculp-pe por não poder protegê-la... E nã-não se preocupe... Farei o que me pediu — O sussurro dela soou como uma despedida, que foi interrompida por um soluço.

 

 

Alec a sentiu amolecer em seus braços, e ele percebeu que ela estava debilitada demais para caminhar.
Suspirando — ele achou que estava suspirando muito para um ser não vivo —, o Volturi a pegou no colo, ignorando seu resmungo e correu até a saída da floresta, onde foi até o carro e a colocou no banco do carona, a colocando o cinto de segurança por convenção. Conhecia muito bem o histórico com carros da Evern.
Em seguida, entrou no Jaguar, ligando o aquecedor no máximo e ligou o carro, o manobrando para longe dali.

 

 

— Quero ir pra casa — A voz de Brooke soou baixinha, rouca e controlada quando pegaram a estrada.

 

— Os Cullen não devem estar na mansão ainda, mas posso li...

 

— Quero ir para casa. A minha casa verdadeira — ela o interrompeu, virando a cabeça e o olhando suplicante. — Por fa-favor.

 

 

Alec queria discordar, mas acabou concordando com a cabeça. Aquele dia estava mais surpreendente do que ele poderia imaginar, ao que parecia.

 

...

 

A pior parte após um episódio traumático é o choque em que a pessoa entra. E era daquele jeito que a morena sentada no sofá da sala
estava. Em choque.
  Após chegarem até a casa das Evern, Alec encontrou a chave reserva por instrução de Brooke e a acomodou no sofá da espaçosa sala, onde ela mergulhou no silêncio e começou a encarar o nada à frente sem piscar. Ela já estava assim a meia hora.
E, mesmo que ele custasse a acreditar ou admitir, estava preocupado. Uma preocupação genuinamente profissional — ainda era o responsável pela Evern, isso era, física e mentalmente. E ela não parecia estar bem, em nenhum dos dois aspectos.
  Alec coçou a sobrancelha, secando uma gota d'água que pingou de seu cabelo molhado. Na verdade, estava todo molhado. Totalmente. A poça de água no chão aonde estava denunciava isso. Não tivera tempo para se secar e se trocar — nem tinha como —, assim que chegara até ali dera um telefonema para Edward, contando a situação e recebendo notícias. O corpo de Amália já havia sido encontrado por uma denúncia anônima — que ele mesmo fizera o favor de fazer, baseado na estratégia que montara para estarem um passo à frente da investigação irritante da Polícia — e por isso, a Forks High School havia entrado em confinamento, mantendo todos os alunos e funcionários presos dentro da escola, até o caos das primeiras horas passar. Naturalmente, os Cullen também estavam presos, para não levantarem suspeitas. Edward ainda o pedira para cuidar de Brooke.
 Como se Alec não já estivesse fazendo aquilo.
 Assim, o Volturi ligou para Carlisle, mas esse também se mostrou inútil, pois estava no meio de uma cirurgia emergencial que duraria horas. Perdendo as esperanças, ele tentou Esme, mas ela não atendeu.
Ainda restavam os seus para telefonar e pedir ajuda, mas Alec logo percebeu que chamar Jane, Félix e Demetri, que eram Volturi tanto quanto ele próprio, não era uma boa ideia. Principalmente depois de uma tragédia ocorrida com outra pessoa, tinha quase certeza que sua irmã adoraria rir da situação.
  Então ali estava ele: parado em pé, pingando gotas de água que chegavam ao chão com plocs que faziam ecos, fazendo esforços absurdos para esconder sua falta de jeito enquanto fitava a garota encolhida no sofá, que mais parecia uma sombra.

Que se dane!

Alec suspirou, pela quinquagésima vez no dia. Ele já estava se preparando para virar as costas e ir embora daquela casa, quando seus olhos flagraram o momento que Brooke começou a tremer por baixo de todo aquele tecido ensopado que usava. O Volturi a encarou por um momento, percebendo seus lábios roxos, e com os dentes rangendo, desistiu do que ia fazer.
Ao invés disso, bufou e arrancou o sobretudo encharcado que usava, o largando no chão, e arregaçou as mangas da camisa social que vestia e que se colava ao seu peito, dando alguns passos na direção do sofá.

 

 

— Vamos — ele disse, muito baixo, muito bruscamente, parado em frente a Evern. — Você precisa trocar essas roupas ou vai pegar um resfriado.

 

 

Sem esperar por reposta alguma, Alec se inclinou e pegou Brooke no colo, tão hábil e rápido que a fez arregalar os olhos e sair de seu torpor.

 

 

— O que pensa que está fazendo... — resmungou ela, a voz fraca, a mão se agitando contra o peito dele.

 

— Pare de falar e fique quieta. Sei onde fica o seu banheiro.

 

 

Sem a olhar, ele subiu as escadas até o segundo andar em velocidade humana. Depois, seguiu pelo corredor e entrou na última porta, onde sabia ser o quarto dela.
Brooke o olhou enquanto adentravam seu antigo quarto, e mesmo que sua expressão vazia não demonstrasse, ela se pegou curiosa com o que estava acontecendo ali; por que o Volturi estava a carregando no colo e fazendo todas aquelas coisas gentis. Sem resposta, a morena logo tratou de desviar o olhar e concentra-lo ao redor, em seu antigo quarto. Nem a onda de nostalgia que a acertou foi capaz de sobrepor a dor que preenchia seu peito e a engolia aos poucos. Ela sentiu os olhos arderem, e os fechou.
  Alec caminhou diretamente até a porta ao fundo do cômodo, a abrindo e entrando. Procurou o interruptor e após encontra-lo, acendeu as luzes, revelando um banheiro de azulejos azuis e frio. Ele relanceou a morena em seus braços, que tinha os olhos fechados, e pigarreou.

 

 

— Vou deixa-la tomar o banho em paz. Volto depois com roupas secas — Informou Alec, a colocando no chão ao mesmo tempo.

 

 

Brooke balançou a cabeça que sim, e quando abriu os olhos, estava sozinha no imenso banheiro, os pés descalços pisando no chão gelado e os pelos dos braços arrepiados.

 

Cerca de quinze minutos depois, o único som proveniente em toda a casa era das botas de Alec andando de um lado para o outro no quarto e do chuveiro ligado no banheiro.
 Ele estava impaciente. Já faziam quinze malditos minutos que esperava que a Evern terminasse o maldito banho, com um conjunto de roupas nas mãos e as peças íntimas dela. Já não aguentava mais esperar!
 Proferindo um xingamento em italiano, ele jogou as mãos para o alto e foi até a porta do banheiro, onde ergueu o punho e tentou bater sem socar.

 

 

— Evern, abra. Você já está há muito tempo aí dentro. Vai gastar a água do planeta todo ou o quê? — trovejou Alec. — Está me ouvindo, Evern?

 

 

Quando não recebeu resposta, ele parou de insistir. O vampiro abaixou o punho, parando de bater, e se concentrou no som da água caindo do chuveiro, som que se repetia há muito tempo.
Os olhos dele se estreitaram.
Alec hesitou, mas após se decidir, pegou na maçaneta e a puxou, a arrancando fora e abrindo a porta. Com cautela, entrou no banheiro, e a primeira coisa que viu foi as roupas ensanguentadas que Brooke usava, jogadas em uma pilha perto do vaso sanitário. Então trilhou o olhar até o boxe, onde imaginou o que encontraria atrás das cortinas...

 

 

— Evern? — Chamou, mas ela não respondeu.

 

 

Calmamente, Alec depositou as roupas secas que trazia nas mãos em cima da pia de mármore e seguiu em passos firmes até a entrada do boxe, onde segurou as cortinas... e então as puxou, revelando uma imagem que o paralisou.
  A água quente do chuveiro caía como cascata nas costas nuas da Evern, fazendo com que a região ficasse avermelhada e com certamente dolorida, e a garota estava encolhida no chão, abraçada aos joelhos, de costas para Alec, soluçando alto. Ao seu redor, a água que escorria para o ralo se tingia com a cor do sangue que era lavado de seu corpo.

O vampiro passou as mãos pelo rosto, descrente com a situação que se metera. Ele balançou a cabeça, resignado, e se adiantou até o suporte de cabide na parede ao lado do boxe, onde pegou a toalha branca felpuda pendurada e em seguida entrou na área onde Brooke permanecia.

 

 

— Vai acabar se afogando — disse ele, gravemente, ao parar ao lado dela e se esticar para desligar o registro do chuveiro. Com o canto do olho, ele viu a Evern se encolher ainda mais, em uma tentativa de tampar a maior parte do corpo, o fazendo arquear as sobrancelhas. Alec se inclinou em sua direção, abrindo a toalha, e tratou de completar: — Prometo não olhar nada.

 

 

E assim, ele olhou para a parede oposta, ao mesmo tempo que jogava a toalha sob os ombros de Brooke e a alçava para cima, vagarosamente. Ainda sem olhar, o Volturi deslizou o tecido felpudo e envolveu todo o corpo da morena, e só então a encarou.
  Ela nem piscava. Muito menos parecia estar ciente que ele estava a ajudando após o banho. Estava mergulhada num estado catatônico, fitando o nada à frente, com grossas lágrimas retidas nos olhos e com o lábio tremendo, assim como o restante do corpo arrepiado.
 Alec intercalou olhares entre a muda de roupa em cima da pia de mármore e o corpo enrolado em uma toalha da Evern. Então ele grunhiu.

 

 

— Acha que consegue se trocar sozinha antes que morra congelada por falta de roupa? — ele questionou, mas como não ganhou resposta, rosnou. — Certo. Só espero que não me acuse de assédio depois.

 

 


 Alec conduziu Brooke até o vaso sanitário, e a sentou na tampa abaixada do mesmo. Depois, buscou a muda de roupa e se posicionou na frente dela, ergueu a mão e a levou até a toalha, onde cautelosamente para não assusta-la, a puxou e deixou cair aos pés de ambos. Ele fixou os olhos no rosto apagado da garota e, mentalmente, riu de si próprio.
 Era irônica e vergonhosa a forma como se encontrava agora: ele, Alec Volturi, um dos vampiros mais temidos do mundo todo, vestindo uma mera humana, sua cantante mais especificamente, como um servo, enquanto não se atrevia nem a olha-la diretamente. Ele se perguntou o motivo. Já vira mulheres — vampiras e humanas — nuas em todos aqueles séculos, mais do que podia se lembrar. Muitas delas, precisamente a maioria, ele que desnudara. E agora estava ali: mantendo os olhos longe de uma. Estava correto que era a Evern, a quem desprezava tanto, mas ela não deixava de ser mulher. E não era que não quisesse olhar — ele queria, por alguma maldita razão que não sabia explicar, olha-la completamente em sua natural versão, como o diabo quer almas para torturar —, mas por algum motivo, não se atreveu a fazê-lo.
 Se sentiria um nojento pervertido, e pior, sentiria estar passando dos limites, palavra que nunca existiu em seu vocabulário em todos aqueles mil anos. Mas como sempre, tudo que estava relacionado a ela, a Brooke Evern, parecia quebrar parâmetros e alterar os sentidos das coisas.
  Assim, Alec a vestiu, tomando o maior e todo o cuidado que não sabia ter em si. Ele deslizou primeiro as peças íntimas pelo corpo dela, garantindo não tocar onde não devia, e depois foi a vez da calça de moletom e do blusão folgado que achara dentro do seu armário , que era composto por peças grandes e largas como aquelas.
Em nenhum momento Brooke gritou ou o fez parar o que estava fazendo. Ela apenas se manteve imóvel na tampa da privada, o corpo rígido, silenciada.
  Antes de terminar a tarefa, foi impossível Alec não perceber, pelo canto dos olhos, várias cicatrizes nos braços e pulsos da morena, cicatrizes muito parecidas com cortes que maculavam a pele alva e se espalhavam até os pulsos, que o dava uma nítida ideia da origem delas. O Volturi lembrou das clínicas de reabilitação e hospitais que constavam no histórico dela, e franziu o cenho, examinando brevemente o corpo da Evern antes de abaixar o blusão. Ele procurou por mais cicatrizes ou cortes, mas tudo que viu foram algumas marcas que aparentavam serem estrias na barriga dela e alguns ossos que demarcavam a cintura fina e o tórax. Isso o fez franzir o cenho mais ainda, a magreza dela, não as estrias.
 No final, Alec apenas terminou de vesti-la e em um último ato de caridade, secou seus longos cabelos, deixando as madeixas castanhas arrepiadas e emaranhadas, pois não se ofereceu para escova-las e nunca iria se oferecer. Ao término de tudo, apanhou a toalha no chão e a devolveu ao suporte de cabide. Então colocou as mãos na cintura e se virou para Brooke, lançando a pergunta, em um tom tão sereno que poderia ter soado engraçado acompanhado de sua postura no momento:

 


— Que tal um chá?

 


 Brooke pestanejou com a pergunta e o olhou, e aí, pela primeira vez desde que chegaram em sua casa, esboçou uma reação, assentindo com a cabeça. Alec quase jogou as mãos para o alto e agradeceu aos céus pela reação obtida.
  À vista disso, ele voltou a pega-la no colo e correu para fora do banheiro, chegando na cozinha no segundo seguinte. O Volturi sentou a morena em um banquinho perto da bancada de madeira, e foi até os armários na outra extremidade da cozinha, onde procurou e achou uma leiteira de alumínio, que encheu de água da torneira da pia e levou até o fogão para esquentar.

 

 

— As folhas de chá devem estar em algum lugar — murmurou para si mesmo, andando pelo cômodo e abrindo as gavetas dos armários.

 


 Concentrado em sua procura pelas folhas de chá, Alec nem notou os olhos de Brooke se fixando nele e o tremor que se apoderou de suas mãos, fazendo-a fecha-las em punhos e comprimir os lábios quando uma sensação de sufocamento a invadiu e as palavras lhe vieram como uma enxurrada. Logo, muito abruptamente, Brooke as soltou:

 


 — É minha culpa, não é? A... morte de Amália — As palavras ecoaram pela cozinha enquanto ela engolia em seco e prendia os olhos nos do vampiro que parou o que estava fazendo e a encarou surpreendido. — É minha culpa.

 


 — Você não deveria se culpar desse modo — Foi a resposta inteligente de Alec, que cruzou as mãos atrás das costas e se cobriu de cautela e atenção com o tema levantado. A água no fogão foi esquecida.

 

 

Brooke balançou a cabeça, soltando uma estranha risada desdenhosa e inesperada.

 

 

— Não precisa agir desse modo comigo, Alec. Consigo suportar a verdade — replicou ela, estreitando os olhos. — Vá em frente e faça a pergunta que você quer fazer desde o momento que me encontrou na floresta, não há necessidade de considerar meus sentimentos ou respeitar meu luto — O vampiro continuou a encarando, e não fez a menor menção de abrir a boca. — Não? Então deixe que eu responda assim mesmo. Estávamos no campo da escola depois de uma exaustiva aula de educação física, e aí começou a chover. Amália estava rindo quando começamos a correr e por azar ou não, eu corri na direção errada e acabei me embrenhando na floresta. Procurei por minha amiga e foi aí que a vi sendo segurada por um vampiro, um daqueles que você diz ser de espécie diferente. — Contou Brooke, raiva se moldando a voz enquanto as palavras deixavam sua boca. — Então ele falou dentro da minha cabeça, e eu não sei como e nem porque, me disse para ir com ele, assim como o outro vampiro da loja da minha mãe me disse naquele dia em que Gaz foi transformando, e ainda me avisou que isso pouparia as vidas daqueles que amo... e eu não o escutei. Eu disse não, Alec, eu me recusei a ir com ele, como uma covarde, e isso custou a vida de Amália. Eu o vi rasgar a garganta dela, e a assisti cair enquanto a vida em seus olhos se extinguia. Então isso é minha culpa! Ela poderia estar viva agora se eu tivesse dito sim! — ela se interrompeu, lutando contra o bolo na garganta. Só percebeu que chorava quando um soluço a escapou e secou o rosto com a manga do blusão rapidamente. Respirou fundo e focalizou o Volturi antes de prosseguir: — E o pior de tudo? O pior de tudo é que eu sabia que isso aconteceria. Eu vi, Alec. Eu vi em meus sonhos. Sonhos que tenho e acontecem na vida real. Não sei porque os tenho ou o que significam, mas os tenho. E há esses vampiros... eles ficam dizendo que sou a senhora deles... ficam invadindo minha cabeça... Há também as visões.... Não sei o que faço com elas... Não sei como fazer tudo isso parar!

 

 

Alec se mostrou espantado com a confissão que ouviu. Ele só conseguiu fitar paralisado a Evern, que voltara a chorar, os olhos confusos e repletos de cólera que a transformavam em uma pintura macabra. Porém, nada o fez recuar.

 


— Por que não disse nada disso antes? — perguntou ele, sério.

 


Os olhos castanhos se levantaram e se fixaram nele.

 

— Porque me achariam louca se contasse. Mas se soubesse que isso talvez salvasse Amália... — Brooke passou a mão pelo rosto, e saltou da cadeira, a chutando e caminhando até Alec. Parou em sua frente, a poucos centímetros de distância e o encarou diretamente nos olhos, a expressão perturbada, as mãos tremendo. — Sou uma filha da puta insana que fode com a vida de todos. Penny, minha irmã mais nova. Minha mãe. Gaz. Amália... destruí a vida de todos eles. Edward faz bem em não me querer perto de Renesmee, na certa irei arruiná-la também — Uma risada a escapou, mas logo ela fungou. — Eu sou um caos, Volturi. Olhe para mim. A morte me acompanha. Eu quero morrer, mas não morro. Ao invés disso, as pessoas que me rodeiam morrem, e eu sobrevivo... Irônico, não? Mas esse é o efeito borboleta, afinal. Uma ação errada e tudo dá errado, afetando a todos... Eu... eu não quero mais viver assim. Não consigo mais suportar. Apenas quero que pare, que tudo isso pare.

 

 

Sem razão nenhuma, Brooke começou a socar o peito de Alec, o empurrando para trás. No entanto, ele não saiu do lugar, o que aumentou a raiva da garoa e a fez começar a estapeá-lo desesperadamente. O Volturi a segurou pelos pulsos, a detendo e a fazendo encara-lo. Ele a olhou com os olhos vermelhos carmesim em chamas, queimando com um sentimento desconhecido que o inflou em seu peito ao escutar as palavras dolorosas saídas dos lábios daquela quem odiava e tinha que cuidar na mesma medida.

 

 

— Escute-me, Evern. Mas escute com atenção pois só vou falar uma vez — disse Alec, aumentando o aperto em seus pulsos até ter sua atenção. A voz perigosamente baixa e séria. — Você está sendo fraca. Um alvo fácil para seus inimigos. Está sofrendo pela morte de sua amiga? Ok, eu entendo. Mas você não precisa sofrer para sempre. Pessoas morrem todos os dias, especialmente aqueles que amamos, mas esse é o preço a ser pago por estar envolvida nesse mundo que você chama de sobrenatural. Não vou mentir para você e dizer que essa será a última vez que você terá perdas, pois não será. Mas precisa seguir em frente, está me ouvindo? — ele a sacudiu. — Lembre que você está em um campo minado no território inimigo, sendo uma presa frágil e fácil de matar. Então levante a cabeça e faça a única coisa que pode fazer pela Amália. Revide.

 

 

O rosto de Brooke foi mudando ao passo que as palavras de Alec a alcançavam e ela as compreendia.
Ela abriu a boca e seus olhos se iluminaram.

 

 

— Você está certo — sussurrou. — Eu tenho que revidar — Ergueu os olhos para o vampiro e soltou as mãos de seu toque, secando as últimas lágrimas que derramaria. — e você irá me ajudar.

 

— Como?

 


— Quero que me treine, Alec Volturi. Quero que me ensine a lutar. Tentei com todas as minhas forças não me envolver mais em seu mundo, mas parece que isso é imprescindível. Porque agora é pessoal, e eu juro que vou matar todos aqueles vampiros que feriram ou ferirem as pessoas que amo. O que me diz?

 

 

A Evern tinha enlouquecido. Alec estava certo disso, mas reconheceu o brilho em seus olhos e viu aquele semblante selvagem se apossando dela, um semblante digno de um descendente de Vlad. E aquilo o preocupou.
Tinha muitas razões para não ensina-la a lutar, muitas delas para seu próprio bem. Então não podia fazer aquilo, mesmo que os olhos dela queimassem ao desejar o pedido.

 


— Não irei fazer isso — Sentenciou ele, dando um passo para trás com toda sua altivez, pronto para virar as costas. — Então esqueça essa ideia agora.

 


— Por que não? — indagou Brooke, sem dispensar um confronto, o segurando pelo braço.

 


Alec se voltou para ela, observando a pequena mão tremelicante em contato com sua pele, e devolveu o olhar, posteriormente. Teve uma súbita vontade de explicar seus motivos e razões, mas se recriminou no processo e apertou o maxilar, antes de responder:

 

— Não perco o meu tempo com coisas que sei que não terão sucesso. E, caso não tenha percebido, já fiz muito por você hoje. Poupe-me dos agradecimentos, eles costumam me deixar entediado.

 

 


A reação da morena foi como esperada: ela o largou no mesmo instante e quem recuou um passo daquela vez foi ela.

 


— Saia da minha cozinha. Saia da minha casa — falou Brooke, a voz tremendo, em um claro sinal que ela iria explodir a qualquer momento. Sua mão estava erguida, o indicador apontando para a porta do cômodo enquanto suas orbes fitavam o vampiro com visível mágoa. — Quero que você saia daqui. E, já que não pode me ajudar, é melhor não se meter em meu caminho, Volturi, se não o destruirei também. Agora saia. AGORA!

 

 

Com as mãos fechadas em punho, Alec a olhou uma última vez — a cabeça erguida, os olhos apertados decididos, a boca em unha linha dura e fina, a postura rígida, a roupa grande demais para seu tamanho — e virou as costas, aceitando a expulsão e evitando mais dores de cabeça para aquele dia.
 Ele passou pela sala e recolheu o sobretudo ensopado no chão e as chaves do carro e o celular na mesa de centro, e se dirigiu até a porta. Antes de abri-la, escutou o grito enfurecido vindo da cozinha, e logo em seguida os barulhos das coisas sendo arremessadas e se partindo. Estancou no lugar, ouvindo atentamente o choro baixinho que veio a seguir, e antes que desse meia volta e fizesse uma loucura, como se livrar de seu orgulho, rodou a maçaneta, dando de cara com uma figura do lado de fora.
 Apesar do boné preto e dos óculos escuros, ele reconheceu Gaz Julions o encarando com os cantos da boca para baixo. Ele parecia nervoso.

 

 


— O que está fazendo aqui? — A pergunta escapou de sua boca, mesmo ele já tendo a resposta.

 

— Vim ficar ao lado da Brooke — Gaz respondeu, e deu um passo em frente. — Se me der licença.

 


Alec deu um passo para o lado, dando espaço para o outro passar. Gaz se precipitou em adentrar a casa, e ignorando a presença do Volturi, o deu as costas, pronto para seguir o barulho vindo da cozinha.

 

— Não acha que está um pouco atrasado? — discordou Alec, um sorriso enviesado surgindo em seus lábios quando o outro vampiro parou e se virou.

 

 

Gaz retirou os óculos escuros, revelando o par de olhos vermelhos escarlates que relampejaram nos carmesins de Alec.

 

 

— Acho. Mas agora estou aqui e é isso que importa, principalmente para Brooke.

 

 

Com isso, virou as costas, desaparecendo da sala. A mandíbula de Alec trincou e fazendo um lembrete mental de ensinar uma lição sobre como tratar seus superiores ao Julions, ele saiu para a noite que já caía com um céu estrelado e uma lua brilhante. O tipo de noite ideal para uma caçada que o distrairia de alguns pensamentos que não deveriam semear em sua cabeça.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão?
Apareci com tudo!
Nesse finalzinho de ano as coisas estão uma loucura! Escola, família, emocional... Tudo está uma bagunça que estou tentando controlar, e por isso esse capítulo não saiu antes. Mas enfim, a gente vai tentando lidar com tudo com muito jogo de cintura, não é mesmo?

Sobre o capítulo de hoje... Eu tenho que confessar que foi um baita desafio de escrever. E, se não me engano, o maior capítulo de todos da fic e que eu já escrevi! Mas, voltando aos motivos dele ter sido um desafio, posso dizer que é muito complicado desenvolver uma cena e uma situação que desencadeie a "aproximação" do casal protagonista ou expor o outro lado de um personagem que se mostra constantemente indiferente aos outros, ainda mais quando essas circunstâncias se baseiam em personagens de outra pessoa com personalidades já formadas, mas que em uma fanfiction sempre serão alteradas.
Foi esse o grande desafio.
Mas, embora eu seja um pouquinho suspeita para falar, acho que mandei bem hahahaha!
Senti muito amor pela Bike e pelo Alec durante a cena do banho e meu coração está partido pela morte de Amália... ME DESCULPEM!
E, só para finalizar rapidinho, deixo avsado que daqui para frente veremos uma Brooke diferente. Mais durona, vingativa e séria. A morte da amiga mexeu muito com ela, é acontecerá outros fatores que contribuíram para tal mudança. Também sei que alguns poderão acha-la ingrata com o Alec no final do capítulo, mas o que posso dizer é que essa era a única reposta esperada, porque ela é Brooke, e eu não mando mais em nada por aqui hehhehe.

Enfim, encerramos por aqui.

Espero que tenham gostado do capítulo de hoje tanto quanto eu gostei, e que comentem ao máximo para eu ler e ficar emocionada!

Até o próximo capítulo... Bjs!


Ps: Para quem quiser saber mais sobre o efeito borboleta, sugiro que pesquise no Google. E que preste atenção, pois esse termo está bastante relacionado com a história.



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