Sacrifício escrita por Mrs Moon


Capítulo 33
Novos e velhos amigos


Notas iniciais do capítulo

Mais um pouquinho sobre a vida da Melissa na Alameda dos Anjos e a visita de uma amiga.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/708982/chapter/33

O Colégio Hilton era uma antiga instituição da cidade, ele ficava nos limites da Alameda dos Anjos, desde a sua inauguração ficou famoso pelos professores renomados e por seus estudantes serem aceitos nas melhores universidades do país. Quando Kimberly era pequena seu pai queria que ela estudasse lá, mas a menina chorou tanto por ter que se separar dos amigos que ele a deixou no Colégio público da Alameda.

Durante, os ataques dos aliens o colégio acabou sendo expandido. Como o colégio público era constantemente atacado, muitos pais tiravam seus filhos de lá e os mandavam para o Hilton que abriu as suas portas para os adolescentes. Com o crescimento da cidade, eles precisaram ficar mais restritos, então davam preferência aos filhos da antiga Alameda dos Anjos e suas vagas eram muito concorridas com provas admissionais.  

A Sra. Kennedy, diretora do colégio, era uma antiga amiga do Sr. Hart, por isso, Kimberly conseguiu levar Melissa para fazer a prova no meio do semestre. Mesmo assim, a menina só conseguiu a vaga pelo seu desempenho, quando a diretora viu suas notas e percebeu que a garota falava italiano fluentemente, conhecia um pouco de espanhol e francês e tinha bom desempenho geral a matriculou imediatamente. Melissa pulou um ano e em seu cronograma aulas extras de italiano, francês e história da música foram incluídas.  

Todas essas novidades a deixaram super animada para o seu primeiro dia. Mel acordou cedo, colocou seu novo uniforme com a saia plissada verde preta, a camiseta branca e o casaco do uniforme. Kimberly sentiu o coração explodir de orgulho ao ver a filha toda arrumadinha colocando os sapatos de verniz. 

— Você fica linda de verde querida, posso arrumar o seu cabelo?

Melissa concordou e se sentou na frente da penteadeira, Kimberly pegou a escova e lentamente desembaraçou as madeixas da filha. Os cabelos da filha eram da mesma cor que os seus, mas eram bem mais finos e embaraçavam facilmente. 

— Agora, que você vai usar o uniforme temos que arrumar seus cabelos todos os dias - Kimberly comentou pegando umas presilhas e prendendo parte do cabelo. 

— Por quê?

— Para ficar mais bonita - Kimberly comentou. - Você vai colocar a mesma roupa todos os dias, então, para não ficar igual pode arrumar o seu cabelo de várias formas diferentes. Vou comprar algumas fitas da cor do uniforme. 

— Posso deixar o cabelo crescer mais? - Melissa perguntou tímida, ela sempre quis ter o cabelo longo, mas na Casa Verde eles só deixavam que ficasse até os ombros.

— Pode sim querida, mas vai ter que cuidar melhor dele - Kimberly terminou o penteado. - Só vamos cortar as pontinhas de vez em quando para ele ficar mais forte. O quê achou?

— Está bonito - Melissa comentou olhando no espelho.

— Sim, está linda. Vamos querida? 

Melissa concordou e as duas partiram para o colégio. 

—--------------------//—------------------------------//—----------------------------

Diferente das últimas escolas, Melissa não passou despercebida na nova escola. Uma aluna aceita no meio do semestre era novidade, principalmente se ela era a filha de Kimberly Hart e Tommy Oliver. Por isso, ela sentiu vários olhos sobre ela durante todo o dia. 

Os professores a receberam muito bem, mas não a pouparam de perguntas durante as aulas. Antes do almoço, ela já tinha mais dever de casa do que já tivera em toda a sua vida. Então, pulou o almoço e foi para biblioteca e ficou encantada com todos os livros a sua disposição. 

No segundo dia, ela teve aula de francês e de literatura, queria ir para a biblioteca novamente, mas uma menina loira a parou no corredor:

— Melissa? Melissa Oliver?

— Sim… - ela respondeu em dúvida.

— Meu nome é Maddie - a menina sorriu tímida. - Nós fazemos francês juntas. Eu te vi na aula, seu francês é incrível. Como você consegue?

— Obrigada - Melissa murmurou corando. - Eu fiz aulas antes, não é difícil quando você se acostuma.

— Eu acho bonito, mas não é nada fácil - Maddie brincou. - Eu sou ótima em matemática, não sou tão boa em línguas. Mas todas precisamos saber francês né?

— Acho que sim… - Melissa respondeu com um olhar confuso. 

— Eu não te vi no almoço ontem - a menina continuou animada. - Hoje, você precisa ir almoçar com a gente. Vou te apresentar as meninas.

— Ok… - Melissa concordou a seguindo. 

Maddie a levou para a cantina e enquanto pegavam a comida, tagarelava animada. Madelyne Stuart era um ano mais velha que Melissa, seus pais e avós eram da Alameda dos Anjos como os Hart e ela adorava fazer amigos. 

— Nossas avós eram amigas - pegando uma maçã continuou. - Mas a sua mãe estudou no Colégio da Alameda dos Anjos, já a minha estudou aqui. Elas não se conheceram, mas nós vamos ser amigas como as nossas avós.  

Maddie a levou até uma mesa onde tinha mais três meninas sentadas, uma era negra com cabelos cacheados, uma ruiva e a outra ainda mais loira que a primeira. 

— Meninas, essa é a Melissa - Karina apresentou sorrindo. - Essas são Aline, Mary e Charlotte.

Elas sorriram e Charlotte respondeu se levantando. 

—  Bem vinda a escola, nós temos aula de literatura juntas. 

— Obrigada… - Melissa respondeu um pouco tímida. 

— Você precisa se sentar com a gente todo dia - Mary, a menina com cabelos cacheados comentou. - Você é muito inteligente, respondeu todas as perguntas da professora ontem. Nós somos as mais inteligentes do colégio. 

— Eram perguntas fáceis… 

— Eu não sabia a questão de geografia - Aline comentou mordiscando um pedaço da pizza do seu almoço. - Detesto geografia.

— Eu também, prefiro os números - Maddie respondeu. - Ouvi dizer que você fala italiano é verdade?

— É sim… - respondeu Melissa tomando um gole do suco. - Como sabem disso?

— Você é a aluna nova Mel, posso te chamar assim né? - Mary perguntou. - Todo mundo só fala de você. 

— Sério? - Melissa fez uma careta irritada. 

— É… - Maddie respondeu. - Você é filha de Kimberly Hart e de Tommy Oliver né? Seus pais são bem famosos. 

— Sua mãe é uma celebridade na cidade - Mary continuou. - Minha irmã mais velha faz aulas com ela, quando ficou sabendo que você vinha para cá e me avisou.

— Para que?

— Para te chamarmos para a nossa mesa né? - Charlotte respondeu. - Você é uma de nós. Nossos pais e avós nasceram na Alameda dos Anjos, nós ficamos juntas. 

— Eu nasci na Flórida - Melissa comentou.

— Bobagem - Maddie respondeu. - Você é filha da antiga Alameda dos Anjos como nós. 

Melissa suspirou comendo um pedaço da sua pizza, aquelas meninas eram estranhas. Mas eram simpáticas e a incluíram no grupo, amigas estranhas eram sempre melhores que nenhuma amiga. 

—---------------------------//—--------------------------//—-------------------------

 

Jenny observou o avião aterrissar ansiosa no aeroporto da Alameda dos Anjos, estava morrendo de saudades de Melissa. Seus compromissos na Casa Verde atrasaram sua primeira visita, a menina já estava a três meses com os Olivers e ela conversava com a pupila três vezes por semana. Mas ansiava em vê-la pessoalmente. 

Ao descer no aeroporto parou admirada ao ver as estátuas dos Power Rangers na recepção. Tommy ficou de esperá-la, mas não o via em lugar algum. Parou em frente a estátua do Ranger vermelho e ficou observando o movimento.

— Senhorita Jenny! - Tommy chamou sem fôlego. - Me desculpe, eu me atrasei, esqueci o relógio em casa hoje. 

— Imagina, eu acabei de chegar - ela respondeu sorrindo. - Não precisava se preocupar, eu poderia ir de táxi para o hotel.

— De jeito nenhum - ele interviu. - Eu faço questão de pelo menos levá-la para o hotel já que não quis ficar em nossa casa.

— Infelizmente, eu não posso ficar em sua casa, mas amanhã poderei visitá-los - olhando em volta pelo aeroporto ela perguntou. - É sempre cheio aqui?

— Nem sempre, mas amanhã vai ter um  piquenique em comemoração da última aparição dos Power Rangers no parque. Isso atrai muitos turistas. 

— É esse o piquenique que Melissa falou tanto?

— É sim, ela está bem animada porque as amigas da escola também vão - Tommy sorriu. - Sabe como são as crianças, elas acham que vão ver algum Power Ranger.

— Isso é possível? - Jenny ficou vermelha de vergonha. - Eu via as reportagens sobre os Power Rangers na televisão.

— Não… - Tommy respondeu rapidamente. - Alameda dos Anjos não é atacada a mais de cinco anos, os Power Rangers só aparecem quando o planeta é atacado. 

— Isso é bom… - murmurou Jenny um pouco decepcionada.

— O piquenique vai ser muito divertido. Vai ter gincana para as crianças, bandas e apresentações de karatê - vendo a expressão cansada da moça ele parou de falar. - Mas vamos, amanhã vai ser um longo dia. 

—----------------------//—---------------------------------//—-----------------------

 

O parque principal da Alameda dos Anjos era o coração da cidade, em seu meio havia um grande lago cristalino, a grama era verdejante e as árvores ancestrais. Proteger a natureza, manter a água limpa e preservar a vegetação era o orgulho dos habitantes desde a criação da cidade. Percebendo esse detalhe, Rita fez questão de usá-lo como principal alvo para enviar seus bonecos. Ali, os rangers travaram tantas batalhas que até perderam as contas. Por isso, ele era o local escolhido para comemorar o Dia dos Power Rangers.

Quase toda a população de Alameda vinha para o parque comemorar o dia em que Alameda dos Anjos ficou livre das invasões alienígenas. O que eles não sabiam é que aquele era um dia triste para os Rangers, pois também era o dia em que Zordon tinha se sacrificado. 

Os antigos rangers jamais participavam das comemorações, então, foi com relutância que Tommy e Kimberly se preparam para o piquenique. Melissa não sabia de nada e estava ansiosa para brincar com as amigas, a chegada da Senhorita Jenny também fora providencial. Teriam muitas distrações para não lembrar da morte de seu mentor.

Kimberly encontrou uma mesa no centro do parque e com a ajuda da filha começou a arrumar a comida. Melissa estava agitada procurando pelas amigas e pela assistente social.

— Calma filha, eles já vão chegar. 

— Mas já são dez horas - reclamou Melissa. - A tia Trini não vem mesmo com o Charlie?

— Não querida, eles não vem. - Kimberly respondeu. - Mas seus avós vão vir. 

— Será que a vovó Cindy vai trazer o Pompom? - Melissa perguntou animada. 

— Com certeza - Kimberly revirou os olhos, ela definitivamente não entendia como a madrasta e a filha se davam tão bem.

— Ah, o papai e a Jenny chegaram! - Melissa exclamou correndo em direção a assistente social. 

A moça se abaixou e Melissa a abraçou calorosamente, Kimberly sorriu com lágrimas nos olhos. Seu coração batia forte de tanta emoção, era a primeira vez que a filha chamava Tommy de pai. Ao vê-la nos braços de Jenny sentia um pouco de ciúmes, a menina nunca correu para os seus braços daquele jeito. Tommy se aproximou dela e perguntou baixo:

— Tudo bem beatifull?

— Tudo… - Kimberly fungou. - Eu ando um pouco emotiva demais, ela te chamou de papai agora.

— Sério? 

— Sim… - Um grande sorriso se estampou no rosto da antiga ranger rosa. - Ela disse que o papai e a Jenny chegaram.  

Tommy deu um beijo no rosto da esposa e a abraçou, enquanto ambos observavam Jenny e Melissa abraçadas no meio do parque. 

— Que saudade Mel! - murmurou Jenny dando um beijo na menina. 

— Eu também senti a sua falta - Melissa sorriu olhando para a assistente social.

— Mas deixa eu te olhar… - a moça pediu e observou a menina. Ela tinha crescido um pouco e engordado, estava com o rosto mais corado, provavelmente passava mais tempo no ar livre agora. Usava roupas novas, sapatos confortáveis e seus cabelos estavam trançados. - Você está tão linda!

— Meu cabelo está crescendo - Melissa sorriu. - Jenny você vai ficar mais tempo né? Eu quero te mostrar o meu quarto, eu tenho um peixinho dourado.

— Eu vou ficar até terça-feira, vamos ter muito tempo para conversar. 

— Que bom - Melissa respondeu sorrindo e as duas foram até a mesa onde estavam Kimberly e Tommy.

— Senhorita Jenny - Kimberly cumprimentou-a com um abraço. - Que prazer em revê-la e como está a Sra. Mason?

— O prazer é todo meu Sra. Oliver, a Sra. Mason mandou lembranças a você. 

— Me chame de Kimberly por favor! Vamos nos sentar. Está com fome? Eu trouxe um monte de comida. 

— Estou faminta, não comi nada ainda. - Jenny respondeu educada. - Você já tomou café da manhã Melissa?

— Tomei sim - a menina respondeu. - Eu comi panquecas.

Os quatro se sentaram e Kimberly mostrou os sanduíches para Jenny. 

— Trouxe sanduíche natural, sanduíche com creme de amendoim e geléia, bolo e biscoitos. Também temos suco de laranja, leite e água de coco. 

Jenny pegou um sanduíche e se serviu de um suco. 

— Não tem sanduíche de queijo? - Melissa perguntou. 

— Sua avó vai trazer mais tarde - Kimberly respondeu lhe entregando um copo de suco de laranja 

— Eu não estou com fome mesmo - reclamou torcendo o nariz para as outras comidas. 

— Mas está com sede, tome o seu suco.

Melissa concordou e tomou um grande gole de suco.

— Nenhum salgadinho? - Tommy perguntou pegando um bolinho. 

— Meu pai vai trazer - Kimberly respondeu, olhando para Jenny ela comentou. - Os pais de Tommy e o meu pai vão se juntar a nós mais tarde.

— É bom conhecer a família toda - Jenny respondeu. - Você vai me apresentar seus avôs Melissa?

— Claro, eu acho que o Pompom também vem.

— Melissa! - uma menina chegou correndo na mesa. - Vem brincar com a gente.

— Maddie! - Melissa levantou de um pulo e olhou para a mãe.

— Pode ir querida… - Kimberly respondeu.  - Mas fique longe da água. 

— Já volto Jenny - ela disse e saiu correndo com a menina loura da sua escola.

— É uma das colegas de escola dela, as crianças estão animadas com as brincadeiras hoje - Tommy respondeu vendo a expressão surpresa da assistente social.

— Vocês mudaram ela de escola correto? - Jenny perguntou em um tom mais profissional. - Ela teve problemas na primeira escola?

— Mudamos sim, quando ela chegou nós a colocamos na mesma escola que frequentamos. - Kimberly explicou. - É uma boa escola, nós fomos muito felizes lá. Mas Billy, um amigo que estudou com a gente, é um gênio e veio conhecer ela. Ele nos contou como era frustrante ficar em uma  escola fácil, disse que só ficou ali por já ter amigos. Então, como Melissa ainda não tinha amigos, nos recomendou colocar no Colégio Hilton.

— Foi uma boa escolha - Tommy continuou. - Depois que foi para o novo colégio, ela fez amizades rapidamente e se sente mais estimulada intelectualmente. Está fazendo aula de piano, francês e tem dever de casa todos os dias.

— Ela está em uma turma avançada?

— Só um ano mais adiantada - Kimberly respondeu. - A escola é que exige mais dos alunos. Além disso, também tem muitas atividades extracurriculares e ela acaba ficando ocupada. Fazem testes de admissão, então os alunos têm gostos semelhantes aos de Melissa, então, ela se adaptou muito bem. 

— Interessante, Melissa sempre teve dificuldade em fazer amigos - Jenny comentou. - Ela sempre preferiu ficar com as crianças menores.

— Ah, as pessoas da Alameda dos Anjos são muito amigáveis - Tommy riu. - Quando eu cheguei na cidade, não tinha amigos, mas fui muito bem acolhido e nunca fiquei sozinho.

— Elas estão perto do lago - Kimberly interrompeu.

— Eu vou dar uma olhada - Tommy foi atrás da filha rapidamente.

— Ela ainda não sabe nadar - Kimberly tomou um gole de água. - Então, nós ficamos preocupados.

— Entendo, então as coisas estão bem? 

— Estão sim… - Kimberly mordeu os lábios e perguntou. - Agora, ela está em casa. 

Jenny suspirou feliz e relaxou no banco da praça. Os pais de Tommy chegaram trazendo um batalhão de comida, Melissa veio para dar um beijo nos avós e logo voltou para brincar com as amigas. Já na hora do almoço, o pai de Kimberly chegou com a esposa e o cachorrinho. 

O cachorro branco atraiu todo o grupo de meninas, que se sentaram na grama ao lado dele e ficaram brincando e lhe dando petiscos. Logo, cada uma das mães veio buscar as filhas para levá-las para almoçar direito. 

— Você também precisa comer Melissa - Kimberly reclamou pegando a filha no colo e a colocando na mesa. 

— Sua mãe está certa - Cindy comentou pegando o cachorro nos braços. 

Melissa ficou emburrada, mas deixou que Kimberly limpasse as suas mãos e arrumasse os seus cabelos.

— Eu não estou com fome… - ela reclamou. 

Kimberly ignorou os protestos da filha e lhe deu um copo de suco e colocou em seu prato uma maça cortada, um pedaço de bolo e um sanduíche de queijo. 

— Vovó trouxe o sanduíche de queijo do jeito que você gosta  - a Sra. Oliver sorriu para Kimberly conspirando. 

— Eu trouxe cachorro quente e batata - o Sr. Oliver falou. 

— Também tem salada de batata e torta de maça - Cindy comentou enquanto dava pedaços de carne para o cachorro. 

Jenny observava a interação da família, Melissa parecia totalmente ajustada, sendo mimada pelos avós. Ela só era um pouco hostil com a mãe, mas Kimberly ignorava e cuidava dela como se tivessem passado a vida inteira juntas. Ela parecia saber quando a menina estava com sede, o que queria comer, quando estava satisfeita.  Melissa reclamava, mas acabava comendo e aceitando os cuidados da mãe. 

Depois de comer, Melissa brincou um pouco mais com o cachorro e como os avós foram embora antes dos fogos saiu a procura das amigas. 

— Ela é apaixonada por esse cachorro… - Kimberly revirou os olhos comendo um morango.  

Tommy riu, Jenny percebeu a expressão irritada da moça e perguntou: 

— Você não gosta de cachorros?

— Eu gosto de cachorros - Kimberly protestou e em seu semblante se desenhou a mesma expressão emburrada da filha. - Eu só não gosto da dona do cachorro.

— Cindy, a madrasta de Kim é difícil… - Tommy respondeu. - Mas ela adora a Melissa, primeiro nem queria conhecê-la. Agora, ela quer que a chame de vovó. 

— Isso é verdade - Kimberly suspirou. - Minha mãe vai ficar doida quando descobrir.

Jenny riu da interação do casal, sabia como as famílias podiam ser complicadas.  

— Senhorita Jenny? - Tommy perguntou um pouco mais sério. - Quando teremos a guarda definitiva de Melissa?

— Normalmente, depois de um ano ou dois o juiz expede a guarda.

— Mesmo para os pais biológicos? - ele perguntou. - Não podemos adiantar as coisas?

— Sim, essas coisas são demoradas, mas tudo está correndo bem. Por que a pressa?

— O casamento de uma de nossas amigas é em apenas três meses, mas a cerimônia será em Londres e temos que ir com Melissa. 

— Podem pedir uma autorização especial - Jenny comentou. - Mas ela gosta dos avós e pode ficar com eles.

— Eu não me sinto segura em deixá-la… - Kimberly protestou.  - Eu não posso deixá-la sozinha de novo. 

— Entendo… - murmurou Jenny. - Eu vou ver o que eu posso fazer. 

Jenny voltou do parque com os Olivers, mas ao ver Melissa adormecida no banco de trás desistiu de conversar com a menina e voltou para o hotel. Foi um dia bem longo e estava cansada, mas feliz porque sua menina estava feliz. 

—--------------------------------//—-----------------------------//—-------------

No dia seguinte, Melissa pulou da cama e correu para a sala. Não acreditava que tinha dormido no carro de novo, queria tanto conversar com Jenny e não teve tempo no dia anterior. 

— Jenny! - chamou esperançosa de encontrar a amiga na casa.

Kimberly saiu da cozinha, ao ver a imagem da filha de pijama com os cabelos bagunçados suspirou e cumprimentou:

— Bom dia Mel!

— Bom dia… - a menina respondeu rapidamente. - A Srta Jenny não veio para casa com a gente?

— Nós a levamos para o hotel, ela estava cansada também, mas vai vir para o almoço mais tarde.

— Que bom! E o… - Melissa parou constrangida, não se sentia a vontade de chamá-los de pais. 

— Seu pai tomou café e saiu, ele foi olhar uma caminhonete com o seu tio - Kimberly sorriu. - O seu café da manhã está na cozinha, mas precisa se lavar primeiro. 

— Mas eu estou com fome… 

— Primeiro, você lava as mãos e depois come.

— Ok...

Melissa se sentou e Kimberly a serviu com waffle com morangos, um copo de leite e duas torradas. Deu um beijo em seus cabelos e continuou cortando legumes.

— Que horas a Srta. Jenny chega? – Melissa perguntou mordendo uma torrada.

— As 13:00 horas – Kimberly respondeu. – Vai ter tempo de arrumar o seu quarto e lavar o cabelo.

A menina balançou a cabeça concordando, Kimberly sorriu satisfeita, Melissa sempre dava trabalho para lavar o cabelo.

— A Srta. Jenny prefere molho branco ou molho vermelho?

— Não sei, na Casa Verde só tinha molho vermelho e macarrão com queijo. – A menina respondeu. – Mas o seu macarrão branco é mais gostoso que o vermelho.

— Branco então! – Kimberly decidiu e Melissa concordou sorrindo.

—-------------------------------//-------------------//-----------------------------

Jenny estava ansiosa para conhecer a casa dos Oliver 's, o dia anterior foi muito agradável. Ela se divertiu de verdade no piquenique. Alameda dos Anjos era uma linda cidade e ver Melissa feliz brincando com as amigas e se relacionando com a família a deixará muito feliz. 

Mel era a sua pupila preferida, desde que ela deixou a Casa Verde estava  preocupada com o seu bem estar. Depois de tantas experiências frustradas com pais adotivos, não conseguia relaxar deixando a menina com estranhos, mesmo sabendo que eles eram seus pais biológicos. Se dessa vez não desse certo e ela voltasse para o orfanato seu coração ficaria partido.

O dia anterior no parque com os Oliver 's foi uma revelação. Tudo estava perfeito, até o sol parecia brilhar mais forte na Alameda dos Anjos. Seu coração se aquecia vendo a menina brincando com as amigas no parque, sendo mimada pelos avós e cuidada pela mãe. Nem parecia ser verdade.

Ela mesma se sentiu seduzida pela atmosfera da cidade. Tommy e Kimberly tinham um magnetismo natural, os dois eram carismáticos e estavam obviamente apaixonados. Muitas pessoas paravam para cumprimentá-los. Os pais de Tommy eram igualmente calorosos e o pai de Kimberly também. Eles a incluíram nas conversas e a tratavam como se ela fosse parte da família, simplesmente por gostar de Melissa.

Agora, ela entendia porque ela nunca foi adotada. Melissa não se encaixava em nenhuma outra família porque a sua própria família a estava esperando. Ali, na Alameda dos Anjos ela se encaixava perfeitamente. 

Foi com dificuldade que juntou todo o seu profissionalismo para fazer uma avaliação fria e calculista e não se deixar envolver pelo charme dos Olivers. Precisava saber se sozinha com os pais, a menina estava tão feliz quanto no parque com os avós e amigos. Com essa disposição de espírito apertou a campainha da casa dos Olivers.

— Jenny! - a porta se abriu e Melissa abraçou  a assistente social, pega de surpresa a moça correspondeu o abraço. 

— Ela estava te esperando ansiosa. 

Kimberly estava ao lado da mesa de jantar. Usava um vestido rosa florido e estava com o cabelo escovado e preso com uma presilha. Seu sorriso era genuíno ao ver o quão feliz a filha ficava ao encontrar a antiga amiga. Jenny interrompeu o abraço, acariciou a menina e cumprimentou a antiga ranger rosa.

— Bom Dia, Sra. Oliver. A sua casa é muito bonita!

— Seja bem vinda senhorita - Kimberly se aproximou e as duas moças apertaram as mãos. - Posso lhe mostrar a casa?

— Não! - Melissa protestou. - Eu quero mostrar o meu quarto primeiro.

— Mel! - Kimberly a repreendeu calmamente. - A Srta. Jenny precisa conhecer a casa inteira, ela está aqui a trabalho. Depois que eu mostrar, vocês podem conversar no  seu quarto. 

— Sua mãe está certa Melissa, que tal me mostrar a casa toda. 

As três mulheres fizeram um pequeno tour, onde Kimberly mostrou o andar de baixo e o pequeno quintal, subiu para os quartos e mostrou tudo. Antes de parar em frente ao quarto de Melissa ela falou:

— E esse é o quarto de Melissa, posso deixá-las a sós enquanto termino o jantar. 

— Finalmente! - Melissa exclamou aliviada. 

Kimberly não conseguiu conter o riso e dando um beijo na filha falou:

— Quando seu pai chegar, venho buscá-las. Fique à vontade Srta. Jenny.

Melissa pegou a mão da assistente social e a levou para dentro do quarto. 

— Olha Jenny! Como é bonito, essa é a minha cama, meu peixinho dourado. 

Enquanto a menina falava, Jenny sentiu os olhos se encherem de lágrimas, o quarto de Melissa parecia um sonho. Todo o cuidado com as cores, a casa de boneca, a escrivaninha cheia de livros abertos e as bonecas obviamente brincadas.

— E o seu passarinho?

— Ele fica aqui na cama com a minha boneca preferida - Melissa pegou Jenny e a levou para a cama, a moça se sentou e falou:

— Sente-se um pouquinho aqui comigo Mel. 

Ouvindo o tom de voz mais sério da assistente social, ela se sentou obediente. 

— Seu quarto é lindo, querida! Você gosta muito dele, não é?

— Sim, é o melhor quarto de todos. Eu gosto dos livros, das bonecas, da casa e do peixinho que eu ganhei da Tia Aisha. 

— É irmã da sua mãe ou do seu pai?

— Não, ela só é amiga dele. Eles tem muitos amigos Jenny, são muitos tios - Melissa franziu as sobrancelhas e comentou admirada. - Todos eles queriam me conhecer quando eu cheguei, muitos não moram na cidade. Agora, eu vejo mais meus avós e a Tia Trini, Jason, Rocky e o Charlie. 

— Charlie ainda é um bebê não é? - Jenny ouviu falar muito do menino por telefone. - Eles que trabalham no mesmo ginásio que os seus pais.

— A Tia Trini gerencia tudo e às vezes leva o Charlie para o seu escritório. O tio Rocky e o tio Jason também dão aulas lá. Eles dão aulas de artes marciais.  

— E a escola nova? - Jenny desviou o assunto, ela iria visitar o ginásio antes de ir embora. 

— É um pouco mais difícil… - Melissa fez uma careta. - Tenho lição de casa de geometria todos os dias, mas tem matérias legais também e fiz várias amigas. Elas são inteligentes como eu, mas também gostam de brincar.

— E os seus pais? 

Nesse momento Melissa ficou quieta e olhou para Jenny séria. Ela tirou o medalhão do pescoço o abriu e mostrou para a moça:

— Eles são meus pais de verdade mesmo…

Jenny observou o retrato no medalhão, nele havia uma foto antiga dos Olivers. 

— São sim querida, eu te disse isso na Casa Verde. 

— Podia ser um engano… - murmurou Melissa.

— Kimberly e Tommy Oliver são meus pais Melissa biológicos - Jenny respondeu séria, ela conseguia ler nos olhos da menina a confusão. - A Sra. Mason te buscou no hospital quando você nasceu, Kimberly Hart assinou os papéis de adoção dias depois de dar à luz. Seu pai não estava lá, mas vocês dois fizeram exames de DNA e ele é o seu pai biológico. Essa é realmente a sua família. 

Vendo que a menina continuava calada, Jenny se aproximou dela e abraçou, Melissa descansou  a cabeça em seus braços e acariciando seus cabelos Jenny perguntou:

— Eu percebi que você gosta da sua casa nova, dos seus amigos, dos seus avós. Mas e os seus pais? Como você se sente, querida?

— Eu não sei… - Melissa murmurou. - Eles são diferentes dos outros pais adotivos, eles não tentam me agradar o tempo todo. Eles agem como se me conhecessem, como se eu tivesse passado a minha vida inteira aqui, mas eu não entendo.

— O quê você não entende querida?

— Eles são boas pessoas Jenny, todo mundo gosta deles na cidade e eles me querem em casa. Mas boas pessoas não abandonam os filhos. - Os olhos de Melissa brilhavam com as lágrimas não derramadas. - Se eles me amavam, por quê me deixaram lá?  

— Vocês nunca conversaram sobre isso?

— Não - a menina balançou  a cabeça em negativa. - É como se nunca tivesse acontecido, como se eu tivesse vivido aqui a vida inteira.  Ela cuida de mim como se me conhecesse, sabe quando eu estou com fome ou com frio. Ninguém fala da Casa Verde, nem meus avós, os tios e até na escola. Para todo mundo eu sou só a filha de Kimberly e Tommy Oliver e sempre estive aqui.

— Nem na escola? 

— Não, nenhum dos meus colegas me perguntou nada. Eles só sabem que eu sou filha de Tommy Oliver e Kimberly Hart. 

— Você não escutou nada? - Jenny perguntou conhecendo o hábito de Melissa de escutar os pais adotivos.

— Não, eles não falam do passado, só do futuro. 

Jenny suspirou sentindo a mesma frustração da menina. 

— Eu vou falar com eles Mel… vocês precisam conversar. 

As duas escutaram uma batida na porta, Kimberly entrou com uma expressão séria no rosto. Forçando um sorriso ela falou:

— O jantar já está pronto - olhando para Melissa, ela continuou. - Você pode ajudar o seu pai a colocar a mesa Mel.

— Posso sim… - a menina pulou da cama e desceu obediente. 

As duas mulheres ficaram um instante sozinhas, Kimberly fixou os olhos seriamente na assistente social, Jenny não desviou os seus e perguntou:

— Você escutou tudo? 

A antiga ranger rosa balançou a cabeça concordando, sua expressão era séria e calma. 

— Vocês precisam conversar com Melissa, explicar tudo para ela.

— Não posso, ela ainda é muito nova para saber a verdade. 

— Sra. Oliver - Jenny interveio séria - Melissa é uma menina muito sensível e inteligente, acredite, ela vai entender.

— Senhorita Jenny, você não nos conhece e nem conhece essa cidade. Alameda dos Anjos tem muitos segredos e Melissa ainda é uma criança, ela deve ser protegida deles. 

— Ela precisa de respostas. 

— Não, ela só precisa de amor - os olhos de Kimberly brilharam implacáveis. - Ela está em casa e é amada por sua família, o resto não importa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A história está acabando, parece que quando mais perto ela chega do fim, mais devagar eu escrevo. Queria ter postado no mês passado, mas demorei demais para revisar o capítulo.
Espero que gostem e ainda estejam por aqui.
O próximo capítulo tem um pouco de ação na Alameda dos Anjos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sacrifício" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.