Procura-se por Eadlyn Schreave! escrita por AndreZa P S


Capítulo 8
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/708970/chapter/8

—Doutor, ele não se lembra de mim! - Se lamentou Marlee, realmente frustrada. -O que aconteceu?

O médico estava a olhar para um prontuário, seu cenho levemente franzido. Quando ergueu os olhos para finalmente fitar a mulher aflita diante de si, ele se concentrou para manter a expressão tranquila para tentar acalmá-la.

—Senhora Temers, este tipo de amnésia pós coma não é incomum, muito pelo o contrário. É relativamente normal haver uma certa desorientação após acordar. Seu filho está com amnésia anterógrada, ou seja, fatos ocorridos anteriormente ao acidente está, por pelo menos algum tempo, inacessível ao seu consciente.

—Isso quer dizer o quê? - Marlee Indagou-o, nervosa. Suas mãos ainda estavam meio trêmulas. -Ele vai voltar ao normal?

—Não posso afirmar que ele voltará ao normal, mas existe uma ótima perspectiva de que sim, de que Kile irá se recuperar sem sequelas permanentes.

—Mas existe a possibilidade dele não... -ela suspirou e engoliu em seco. -De que ele não voltará a se lembrar de mim e nem da família?

O doutor repousou sua mão negra no ombro de Marlee, tentando reconfortá-la de alguma forma.

—Como eu disse, existem casos e casos, mas o mais comum é que ele se recupere dentro de algumas semanas. No entanto, sempre ocorre a possibilidade disso não acontecer.

Ela concordou com a cabeça, olhando fixamente para a madeira da porta do quarto 212.

—Entendo. Será que posso entrar e falar com ele um pouco?

—Bem, o ideal seria ele descansar um pouco...

O doutor parou de falar por um instante, analisando o rosto atordoado de Marlee. Soltou um suspiro e continuou:

—Mas acredito que você possa entrar e vê-lo por um momento, até que a enfermeira chegue.

Ela concordou com a cabeça firmemente.

—Obrigada - disse, antes de girar a maçaneta da porta e entrar. Kile estava deitado, de olhos fechados e, quando os abriu, deparou-se com a mesma mulher que estava emocionada por vê-lo cerca de 40 minutos atrás. 

Ele não falou nada enquanto observava a mulher elegante sentar-se em uma cadeira ao lado de sua cama. Ela segurou sua mão, acariciando os dedos do garoto de forma terna.

—Você realmente não se lembra de quem eu sou? - Marlee perguntou, olhando para o rosto do filho atenciosamente.

Kile queria se lembrar. Sua cabeça doía tamanho o esforço que estava fazendo para tentar resgatar alguma memória. Alguma memória antes de conhecer Eadlyn. Aquela mulher estava claramente preocupada com ele e, por mais que Kile não soubesse exatamente quem ela era, sabia que devia ser importante de alguma forma. 

—Não. - E suspirou. -Eu sinto muito... Eu queria realmente me lembrar de você.

Então ele levou a outra mão até a testa, como se assim pudesse se recorgar de algo.

—Minha cabeça não tá funcionando direito - falou, incomodado. Kile sentia como se estivesse perdido em alto mar, com uma imensidão de água ao seu redor, e sem ter nada para se manter à salvo ou um caminho para seguir de volta pra casa.

—Eu sou Marlee...

Ela esperou, torcendo para que quando ela finalmente dissesse o seu nome, Kile se lembraria. Mas ele não se lembrou, e balançou a cabeça de um lado para o outro e então apertou os lábios.

—Sou sua mãe - falou, com lágrimas ameaçando transbordar de seus olhos castanhos escuros.

Kile abriu a boca, havia se lembrado de alguma coisa.

—Minha mãe? - Perguntou, atordoado.

—Se lembrou? - Ela apertou ainda mais a mão do filho, esperançosa.

—Não lembro de você. Mas lembro da sua carta.

Marlee olhou em direção aos papéis desorganizados em cima da cômoda. 

—Você leu? - Questionou, um sorriso pequeno despontava em seu rrosto.

—Não li.

—Então como... ?

Kile fechou os olhos, como se assim pudesse ouvir a voz dela novamente.

—Eadlyn.

—Que Eadlyn? - Marlee ficou alerta, assustada até.

—Elá leu pra mim. Todas as suas cartas enquanto eu estava em coma.

Kile podia não lembrar-se da mãe, mas algo naquela mulher diante de si, que o segurava tão forte, como que se estivesse com medo de perdê-lo de novo, era importante pra ele. Sentimento não precisa de recordação, só precisa ser sentido.

Naquela noite, Kile esperou por Eadlyn, ansioso por ver como era o seu rosto, mas ela não apareceu. Nesta, e nem nas outras.


1 semana depois, Cafeteria do Conde, 14:13 PM

Kile não lembrava daquele lugar, mesmo que sua família lhe dissesse mais de uma vez que aquela era a sua cafeteria preferida; ele não conseguia se recordar de nada a respeito dela. Olhou com a testa franzida a construção um tanto imponente e rústica, vasos de barro circundavam um caminho sinuoso até a entrada, com flores coloridas e alegres. O vento soprou, fazendo com que seus cabelos claros fossem jogados para a frente dos olhos. Ajeitou os óculos de armação semelhante a metal, soltou um longo e pesado suspiro e então entrou no ambiente. Lá dentro o ar estava quente, e um aroma delicioso de doces e café invadiram suas narinas, mas não teve nenhuma memória ativada. Queria ir sozinho lá, Jackeline, sua noiva, se ofereceu para ir junto, mas Kile negou veementemente. Não queria se sentir inválido, e nem doente. Era são como qualquer outro rapaz de sua idade, e poderia fazer isso sem babá. O médico o aconselhou a ir nos lugares que costumava a frequentar e a seguir uma rotina já estabelecida antes do acidente, para estimular as suas lembranças a voltar de seu próprio coma particular.

Vagueou um tanto perdido pelo estabelecimento, correndo os olhos para os lugares vazios onde poderia se sentar, até que decidiu que iria tomar seu café no balcão. Se acomodou em uma banqueta e cruzou as duas mãos sobre a madeira escura, fitando disperso um quadro pendurado acima de algumas garrafas antigas, numa parede bege escuro. Perguntou-se se já havia, por um acaso, parado naquele mesmo lugar e admirado aquele quadro outrora.

—Tem cliente, novata! - Avisou uma mulher gordinha e morena, seus cabelos estavam presos em um coque firme e baixo. Kile ouviu um gemido de frustração e irritação antes de virar seu rosto para o lado e deparar-se com ela.

Seu cabelo caia perfeitamente pelo os ombros, ondulados e brilhosos. Seus olhos verdes estavam muito abertos, sua pele das bochechas pareciam pegar fogo, enquanto seus lábios franzidos e delineados tremiam de leve. Estava chocada e paralisada. No entanto, essa sua reação não durou mais do que dois segundos, e então sua compostura voltou ao normal. Eadlyn engoliu em seco antes de atendê-lo.

—Olá? -Kile murmurou com as sobrancelhas juntas, fitando a garota com atenção. -Você está bem?

Eadlyn abriu um sorriso pra ele. O melhor sorriso que conseguiu dar, e ele foi convincente. Limpou as mãos no seu avental e então pigarrreou antes de responder:

—Claro. O que gos-staria? - Gaguejou ela, aumentando seu constrangimento. Ela se xingou por dentro, enquanto Kile estava curioso.

O garoto olhou para as fibras da madeira.

—Hum, o que eu sempre peço?
Eadlyn franziu o cenho e jogou o peso de uma perna para a outra. Ergueu uma sobrancelha.

—O que você sempre pede?

Kile fixou seu olhar no dela.

—Sim.

—Eu... Eu não sei. Sou nova aqui - confessou.

Ele concordou com a cabeça, pensativo e frustrado. Eadlyn o observou em silêncio; olhou para o Sr. Misterioso sem perder um detalhe sequer. Ela mal podia acreditar que ele havia acordado!

Claro que a menina torcia por isso, mas não imaginava que seria agora, e muito menos que ela o encontraria depois disso. Ela não estava conseguindo raciocinar direito.

—Bem... Então o que você... -Ele parou de falar de repente. E então a sua sensação de estar perdido à deriva no mar voltou, e aquilo lhe era sufocante. -Já nos conhecemos?

Eadlyn arregalou os olhos.

—O quê? Não... Porque -ela desviou o olhar brevemente para o lado. -Porque acha isso?

Ele a analisava agora. Qualquer pessoa que lhe ajudasse a encontrar suas lembranças, seria bemvinda.

—Bom, você não para de me olhar com uma cara estranha.

—Nada, é só que você tem os olhos bonitos - respondeu sem pensar, se amaldiçoando por dentro. Ela dá um sorriso descrente para si mesma e escora as duas mãos na bancada, fechando os olhos com força por um instante.

Kile forçou a vista, olhando para cada detalhe do rosto de Eadlyn, mas nada lhe veio em mente. Suspirou, cansado.

—Qual seu nome? -Perguntou a ela.

"E agora, o que eu digo?  Puta que pariu", pensou, atordoada.

—Helena -murmurou, algo dentro de si pediu para que dissesse apenas o seu nome do meio.

—Então, Helena, obrigado pelo o elogio. Mas meus olhos são normais.

Automaticamente, ela se aproximou dele para poder enxergá-lo melhor. Kile não soube como reagir, apenas franziu a testa e se manteve tão parado quanto uma estátua.

—São castanhos. Nessa luz, eles ficam um pouco esverdeados.

Então se afastou e abriu um sorrisinho de lado, dando um breve dar de ombros.

—Claro, não são verdes como os meus, mas também tem sua beleza - e aí lhe lançou uma pescadinha.

Kile não respondeu por um momento, tentando decidir se achava a sua intimidade precoce para com ele petulante, ou interessante.

—Nossa.

—Nossa o quê?

—Você sempre mantém sua autoestima elevada assim?

—Sou realista. Falo verdades.

Kile concordou com a cabeça.

—Seria bom você ter me conhecido um tempo atrás, então. Poderia me dar algumas informações.

—Do tipo?

Ele abriu um sorriso divertido.

—O que eu costumo comer e beber quando venho aqui. Alguém sincero iria ser útil. Para várias áreas da minha vida, ouso dizer.

Houve uma pausa silenciosa.

—Sinto muito - ela falou, dando-se conta de que ele estava chateado com algo, e que provavelmente tinha a ver com o seu acidente.

Kile ergueu as sobrancelhas, um pouco desconfiado.

—Sente muito?

Eadlyn suspirou, cogitando a possibilidade de que talvez tenha falado demais.

—Bem... Você parece meio pra baixo... Só fui solidária.

—E você é sempre assim? - Perguntou em tom provocativo.

—Tenho um bom coração -respondeu ao estreitar os olhos e colocar uma mão sobre o peito de forma dramática.

Kile riu.

—Se você tivesse me dito que já me viu por aqui antes, diria que frequento esse lugar porque as funcionárias são divertidas.

Eadlyn fechou a expressão.

—Entendo - respondeu, séria.

—Algum problema? - Kile quis saber, percebendo a mudança de humor da garota.

—Nenhum.

Ele ficou a olhando por alguns segundos, antes de abrir um sorriso zombeteiro e perguntar:

—Tem certeza de que não nos conhecemos?

A morena o fuzilou com o olhar e revirou os olhos.

—Você não tem outra pergunta pra fazer não?

Kile ergueu as mãos na altura dos ombros, achando graça de sua reação.
Joanete, a gerente, percebeu um clima tenso e interveio na conversa.

—Algum problema? -Indagou, olhando para Eadlyn. Em seguida, voltou seus olhos para o cliente. -Está sendo bem tratado, garoto?

O Woodwork cruzou os braços e, antes de responder, lançou um olhar maroto para a Eadlyn, que estava emburrada.

—Não poderia ser melhor.

Joanete assentiu com a cabeça vagamente.

—Querida, pode ir atender aquele rapaz que acabou de entrar?
Eadlyn concordou apressada, sentindo-se grata. Segundos depois, ela já estava, de bom grado, a metros de distância de Kile, mas seus olhos volta e meia vagavam para onde ele se encontrava.

—Já fez o se pedido? - Joanete Indagou, sorridente.

—Não - respondeu, meio irritado consigo mesmo.

—Você sumiu, pensei que tivesse nos trocado - contou Joanete, com uma risada. Kile ergueu o rosto para a mulher, esperançoso.

—Mesmo?

—Sim, e você sempre falou que a comida daqui era a sua preferida! Estranhei seu sumiço.

—E o que eu costumo pedir?

Waffes e capuccino com canela. Seus prediletos.

—Mesmo?

—Sim. Não se lembra?

Kile deu um sorriso vago.

—Eu quero Waffes e Capuccino com canela, então. E uma torrada com hortelá, quero experimentar coisas novas hoje.

—É pra já! -E abriu um sorriso grande, pegando brevemente nas mãos de Kile, de forma terna. -Estava com saudades de você, garoto.

Kile queria dizer "eu também", mas não podia. Ele não lembrava dela.

Ao longe, Eadlyn observou enquanto Kile mordiscava uma torrada com punhados de hortelã. Seu coração estava indeciso, não sabia se batia erradicamente ou se batia devagar demais para o seu gosto.

"Então ele se lembra? Será? E se isso for real, do que ele se lembra exatamente? De mim?"

Eadlyn, enquanto pensava se existia a possibilidade de Kile gostar de torradas com hortelã tanto quanto ela e Ahren, ou se ele havia lhe ouvido e, pior, lhe entendido, acabou deixando cair a xícara de café do cliente no chão. A cêramica se partiu ao meio assim que encontrou o piso amadeirado. 

—Me desculpe - murmurou, agitada, para o homem que aguardava seu café. -Vou preparar outro. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu li A Coroa...
Fiquei meio impressionada em como a Eadlyn de A Herdeira mudou, de como ela, que antes menosprezava a Neena, depois passou a considerar ela como amiga, no melhor estilo América e Marlee... enfim, mas as pessoas mudam, né.. eheuheueheuhe

Se alguém quiser comentar sobre a fic (em primeiro lugar, obrigada u.u) e sobre o último livro da Kiera, me digaaaaaaa! Preciso comentar sobre esse livro com alguémmmm!!! ahsuhasuhasua obrigada u.u ♥

ah, é... espero que tenham gostado do capítulo :3