Procura-se por Eadlyn Schreave! escrita por AndreZa P S


Capítulo 6
Capítulo 5




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Eadlyn desceu do ônibus vestindo uma sapatilha, um cropped branco e uma saia midi azul marinho colada ao corpo. No rosto, um gloss e um lápis pra destacar os olhos azuis. Só não se maquiou mais, porque não gastava dinheiro com maquiagem; ela já se achava bonita ao natural. Ahren está ao seu lado, com uma camisa branca e lisa, calças jeans skinnys e um tênis antigo, mas em bom estado. Os dois caminharam até a entrada da festa em um silêncio de expectativa e desânimo. Ambos não eram muito baladeiros. Avistaram Samara em seguida, usando um vestido vermelho sangue super justo e saltos tão altos que, pelo menos uma vez na vida, ela conseguiu ficar tão alta quanto Eadlyn e Ahren.

—Eai, vadios - cumprimentou ela toda animada ao agitar as mãos. Seu sorriso só sumiu de seu rosto bem maquiado, quando ela fitou a amiga de alto a baixo. - Que merda é isso aí? - Indagou a garota enquanto revirava os olhos e apontava com sua unha para as sapatilhas azuis da morena.

 Eadlyn seguiu seu olhar e quase revirou os olhos.

—Um sapato.

—Que merda, hein - falou novamente ao dar um tapa em sua própria testa.

Eadlyn estourou uma bolha de chiclete.

Ahren abriu um sorriso de lado.

—Sapatilhas, normal - a Schreave murmurou enquanto dava um breve dar de ombros. - Qual o problema?

—Estamos em uma festa. - Samara gesticulou ao seu redor, dando uma volta inteira em seu próprio eixo. - Se ligou, vagabunda? Não tinha uma coisa melhorzinha?

—Pelo o menos não estou parecendo uma prostituta - resmungou Eadlyn, dessa vez revirando os olhos sem cêrimonias.

"Mas tá bem gata", Ahren pensou, enquanto olhava para os lados e fingia não prestar atenção na conversa das meninas.

—Querida, eu estou gostosa e sexy. Quem tem mais chance de conseguir um boy rico? Eu, claro. A próxima vez vem de descalça, pra chinelagem ficar completa.

Eadlyn estreitou os olhos e levantou a mão.

—Olha aqui, vadia, cala essa boca senão vou dar na sua cara!

Finalmente Ahren interveio, abrindo a boca pela a primeira vez desde que saira de casa.

—Odeio barraco, se querem fazer barraco, eu vou embora! - Ele se voltou para a irmã com o cenho franzido. - Você nem gosta de gastar seu dinheiro, por que estamos aqui mesmo?!

Samara pigarrreou, abriu um sorriso de lado, e colocou as duas mãos na cintura.

—Porque eu paguei, ou você acha mesmo que a sua irmã iria gastar o precioso dinheiro dela da viagem pra se divertir?

Eadlyn jogou os cabelos pra trás.

—Pra que gastar, se eu tenho quem pague pra mim? - E então lançou um beijo e uma piscadinha no ar para a amiga.

Samara apertou a ponte do nariz dramaticamente.

—O que seria de você sem mim? Hein, vagabunda?

Ahren massageou as têmporas.

—Para de chamar os outros de vadios e vagabundos.

—É com todo o respeito, claro. Seu pivete.

—Pivete? Sério? - Ahren olhou de Samara para Eadlyn, meio exaltado. - Sou quase maior de idade!

—Foda-se, pivete.

—Não me chama de pivete!

Samara gesticulou para Eadlyn, erguendo as duas sobrancelhas enquanto falava:

—Trouxe a cinta? Acho que vou ter que dar na bunda de alguém hoje.

—Vou deixar ele de castigo hoje quando chegarmos em casa - falou Eadlyn, fazendo com que o irmão a fuzilasse com o olhar, extremamente furioso.

—Até você, Eady? Puta merda, sacanagem - resmungou irritado, dando passadas largas até ao segurança e entregando a ele o seu ingresso.

As duas ficaram fitando-o com um ar de riso por alguns segundos, antes de Samara dizer:

—Até que seu irmão é bonito.

—Claro que é, tem o mesmo sangue que o meu, queria que fosse feio? - Bufou.

—Eu pegava.

Eadlyn semicerrou os olhos.

—Não ouse.

—Relaxa, invisto em homens a partir dos 30. Sabe como é? Já tem condições pra me levar pra sair sem precisar rachar a conta.

—Falando em conta, obrigada por hoje, por ter pago o meu ingresso - agradeceu a moça, meio sem jeito. Eadlyn não sabia muito bem expressar seus sentimentos.

Samara sabia disso, já se conheciam há anos.

—Não precisa agradecer, porque eu vou cobrar. Quando você ficar rica.

As duas caminharam rapidamente até o segurança, entregaram o ingresso e adentraram à balada. Lá dentro, luzes coloridas piscavam de segundo em segundo e o som de música eletrônica retumbava pelo o corpo dos jovens presentes.

—Pelo o andar da carruagem, acredito que eu não vá ficar rica.

—Você é inteligente, poderia estar estudando ou algo do tipo, mas nem sequer quis terminar o último ano do ensino médio. Até eu me formei.

—Minha mãe sumiu, então eu tinha que focar no trabalho. Além do mais, eu preciso do dinheiro pra ontem, e como dinheiro não cai do céu, precisava de um emprego que pagasse bem, e isso só é possível, se for em horário comercial.

Samara faz uma careta.

—Começa a estudar agora. Você não desenhava roupas ou algo do tipo? Você é muito ansiosa, poderia ter terminado o colegial antes, você é jovem e tem muito tempo pela a frente.

Eadlyn não queria mais conversar sobre aquilo por dois motivos. O primeiro era que a sua garganta já começava a doer por ter que projetar a voz muito alto pra se fazer ouvir através da música, e segundo porque não gostava que contestassem suas escolhas. Para a garota, ela estava certa até mesmo quando estava errada. 

—Porque eu sou ansiosa, nasci na geração Quero Tudo Aqui e Agora, e não gosto de esperar. As coisas tem que ser como eu quero, na hora que eu quero. E, além do mais, trabalhamos em um hospital e você deveria saber que, pra morrer, basta estar vivo. Tenho 20 anos hoje, mas posso morrer amanhã, e aí? O que que valeu minha vida?

—Sua nojenta, você é pessimista. Sai daqui com essa nuvem negra - mumurou Samara, fazendo o sinal da cruz em seguida.

Eadlyn achou graça.

—Sou realista, Samis, realista.

 

Depois de uma hora mais ou menos, Eadlyn estava conversando com um moreno alto, forte e sexy. Ele tinha olhos verdes e não parava de falar um minuto sequer. Às vezes, o pensamento dela ia até o hospital, se perguntando se os olhos do Sr. Misterioso também seriam verdes magnéticos.

—Ei, você está me ouvindo? - O cara perguntou.

Eadlyn não sabia do que ele estava falando, mas gesticulou com as mãos e abriu um sorriso pra ele.

—Claro que estou.

—Sobre o que eu estava falando, então? - testou ele.

Ela pensa por um segundo.

—Que você nasceu em Carolina e tem 25 anos...

O sujeito faz uma careta, parecendo frustrado.

—Não, isso foi há meia hora atrás.

—Ok, estava brincando. Você falou que.... Colecionava... Ahn, que seus pais são bem... Hum... Legais?

—Nossa, eu sou tão chato assim que não consigo manter uma garota interessada no que digo? - Murmurou o cara, se sentindo ofendido e levantando-se do banquinho de frente para o bar, decidido a ir realmente embora.

—Eeii, camarada, calma aí - Eadlyn disse, segurando o braço do jovem enquanto ela se levantava também.

—Que foi? - Resmungou, decidindo se fazer de difícil.

—Eu prestei atenção em você.

—Sério? - ele bufou, seu rosto debochado. Cruzou os braços. - Última chance. O que eu falei?

No fundo, no fundo, Eadlyn estava achando-o muito dramático pro seu gosto, mas como o achou extremamente atraente, acabou por dizer isso, embora não fosse 100 por cento verdade, também não era mentira:

—Que podiamos estar nos beijando agora ao invés dessa discussão desnecessária. O que acha? - Indagou ao arquear uma de suas sobrancelhas bem definidas.

 

A alguns bancos de distância, Ahren e Samara estavam sentados lado a lado.

—Olha ali a sua irmã, só tem cara de santa mesmo, dando altos amassos no carinha - falou a garota antes de dar um gole na bebida vermelha e adocicada.

—O que você acha da gente se beijar também? - Ahren tentou a sorte.

Ele cruzou os dedos atrás das costas.

—Depois que você sair das fraldas.

O garoto bufou.

—Tenho 17 anos, vou fazer 18 dentro de duas semanas.

—E eu com isso? Te conheço há 5 anos, pivete. Sei disso.

Ahren respirou fundo.

—Quantos anos você tem mesmo?

—Tenho 23 aninhos.

—São só 5 anos de diferença! Porque as mulheres têm essas palhaçadas com idade? Já vi você saindo com caras até 15 anos mais velhos, e não parecia ter problema - argumentou, meio irritado e bem contrariado.

Samara suspirou, tomou o último gole de seu Martine e bateu o copo sobre o balcão.

Revirou seus olhos escuros.

—Escuta aqui, vagabundo. Tenho algumas coisas pra te ensinar, e a primeira é: a sociedade é machista. O homem que sai com mulher mais nova é o rei da caralhada toda, já a mulher que sai com o boy mais novo, é carente ou qualquer outro adjetivo cretino. Em segundo lugar, meu bebezinho, é que eu tô pouco me lixando pra essa merda, eu saio com quem eu quiser, da idade que eu bem entender. Ninguém tem nada a ver com a minha vida. Se você tivesse 40 anos, eu não precisaria estar explicando isso - balbucia ao revirar os olhos novamente.

—Então por que você não fica comigo? - Insistiu Ahren.

Ahren sempre foi um garoto calmo, e extremamente romântico. Não era difícil deixá-lo apaixonado. E, quanto mais negativas ele recebia, mas encantado ficava.

—Você ainda não é maior de idade, seria tipo pedofilia ou algo assim - murmurou ela, apelando para a lei pra se livrar da situação.

Ahren abriu um sorriso satisfeito antes de se levantar.

—Tudo bem, espero que você cumpra o prometido.

Samara arqueou uma sobrancelha.

—Qual? Não prometi nada, cê tá louco?

—Que depois do meu aniversário iremos nos casar - falou com cconvicção. Ele sabia que Samara não havia dito nada daquilo, mas, só de ver a sua cara irritada, já valeu a pena. - Vou ao banheiro, com licença. - E partiu em retirada.

—Tá repreendido - falou ela quanto fitava Ahren sumir entre a multidão.

Poucos segundos se passaram, quando Samara sentiu um toque em suas costas. Calmamente, virou-se em direção a um rapaz louro e de cabelos cacheados. Ela sorriu.

—Posso me sentar aqui?

Ela deu de ombros.

—Fica à vontade.

—Está acompanhada? - Ele perguntou.

—Sim - falou ela de forma educada, mas claramente evitando o flerte.

—Qual seu nome?

—Hanna Montana.

—Sério? Você está me zoando.

—Você é bem bonito, mas vem cá, quantos anos você tem?

Ele pareceu surpreso com a pergunta.

—Tenho 22.

—Muito novo, não tô afim.

—O quê? Você nem...

—Vai insistir? - Perguntou, séria.

Ele piscou algumas vezes e então abriu um sorriso tímido.

—Sim, quando acho que vale a pena.

—Nuss, essa foi bem clichê.

Ele quase riu.

—Meu nome é Jared.

"Ótimo, ninguém perguntou", pensou ela.

—Tá vendo aquela menina ali?

O cara olhou na direção que ela indicou.

—Minha namorada. - Mentiu com tranquilidade.

—Você é gay?

—Lésbica. Agora sai daqui logo.
Ahren avistou a cena de longe e, quando se aproximou o suficiente, colocou os braços ao redor dos ombros de Samara.

—Algum problema, amor? - Perguntou.

Jared franziu o cenho, confuso.

—E esse quem é?

—Meu namorado.

—Mas você acabou de...

—Amigo, eu tenho quantos namorados eu quiser.

O garoto ficou em silêncio. Ele abria e fechava a boca sem parar, mas nada saia.

Segundos depois, virou as costas e partiu. Ahren sentou ao seu lado, sorrindo vitorioso.

—Sou seu namorado agora? Podemos nos beijar?

—Cala a boca, garoto.




Hospital de Illea, 00:02h

 

Eadlyn estava com olheiras abaixo dos olhos e bocejou alto, mas ela estava sorrindo. Chegou apressada ao quarto, queria contar como tinha sido a sua folga da semana e o que aconteceu na festa depois de determinada hora. Samara flertou com um homem de uns 35 anos de idade, mas o cara estava com a esposa, e ela não reparou. Teve briga, a mulher queria bater em Samara e Eadlyn teve que intervir. No final, Ahren, Samara e Eadlyn foram expulsos da festa.

—Precisava de te contar - ela murmurou, ainda entre risos. - Por sorte não sai de lá com um olho roxo, seria péssimo. - Eadlyn deu uma mordida em uma torrada que havia trazido de lanche, mastigou vagarosamente e continuou: - Bem, se ela continuasse xingando Samara, eu teria que bater nela de verdade, mas se pelo o menos a Samis não a tivesse chamado de vagabunda! Poderíamos ter evitado a confusão... Em partes, pelo o menos. - Deu mais uma mordida na sua torrada. - Mudando de assunto, eu amo torrada com hortelã. Meu irmão e eu amamos, mas nunca conhecemos ninguém que colocasse folhas de hortelã no pão. Quando você acordar, espero que tenha a oportunidade de comer. É bom.

A garota ficou em silêncio por um tempo, antes de ponderar em voz alta:

—Sabe, eu estava ansiosa pra vir contar essas coisas pra você, sr. Misterioso, o que é patético, não acha? Eu considerar uma pessoa sem atividade cortical, ou quase sem atividade cortical como um amigo é estranho. Essa coisa de atividade cortical foi o que eu ouvi o médico dizendo pra um enfermeiro esses dias, mas não sei se está certo. Se não estiver, desconsidere.... Enfim, preciso dormir agora... Estou cansada hoje. - Eadlyn levantou-se da cadeira e inclinou-se um pouco para baixo. - Posso beijar sua bochecha?

Ela sorriu.

—Claro que posso. Que sorte a sua ser beijado por mim.

E então, encostou seus lábios na bochecha do rapaz e se jogou, finalmente, no seu sofá de sempre.

Para a soneca de  sempre.


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